terça-feira, 28 de junho de 2011

Fontes de Energia no Brasil

Indústria no Brasil

Agropecuária no Brasil

Extrativismo no Brasil

Movimentos Migratórios no Brasil

População Brasileira

Clima e Domínios Morfoclimáticos no Brasil

Vegetações e Hidrografia no Brasil

Relevo do Brasil

Desmatamento do Cerrado

DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA

Epopéia Euclydeacreana Parte 2 - Documentário Amazônia

Epopéia Euclydeacreana Parte 1 - Documentário Amazônia

sexta-feira, 24 de junho de 2011

História e crise do welfare state

Renato Cancian*

O Estado do Bem-estar também é conhecido por sua denominação em inglês, Welfare State. Os termos servem basicamente para designar o Estado assistencial que garante padrões mínimos de educação, saúde, habitação, renda e seguridade social a todos os cidadãos.

É preciso esclarecer, no entanto, que todos estes tipos de serviços assistenciais são de caráter público e reconhecidos como direitos sociais. A partir dessa premissa, pode-se afirmar que o que distingue o Estado do Bem-estar de outros tipos de Estado assistencial não é tanto a intervenção estatal na economia e nas condições sociais com o objetivo de melhorar os padrões de qualidade de vida da população, mas o fato dos serviços prestados serem considerados direitos dos cidadãos.

Antecedentes históricos
Em diferentes épocas e períodos históricos, é possível identificar vários tipos de políticas assistenciais promovidas por inúmeros Estados. No transcurso do século 18, por exemplo, países como Áustria, Rússia, Prússia e Espanha colocaram em prática uma série de importantes políticas assistenciais. Porém, esses países desenvolveram ações desse tipo nos marcos da estrutura de poder não-democrático.

Os países citados acima ainda apresentavam uma estrutura social tradicional baseada na reconhecida divisão entre súditos e governantes. As políticas assistenciais desenvolvidas por esses países se situavam no campo da justiça material, ou seja, eram consideradas pelos súditos como dádivas ou prebendas ofertadas pelo governante. É possível traçarmos um paralelo da situação descrita acima com as políticas assistenciais criadas no âmbito do governo ditatorial de Getúlio Vargas (1930-1945), que ficou conhecido por extensos segmentos das populações pobres como o "pai dos pobres".

Origens do Estado do Bem-estar
O Estado do Bem-estar, tal como foi definido, surgiu após a Segunda Guerra Mundial. Seu desenvolvimento está intimamente relacionado ao processo de industrialização e os problemas sociais gerados a partir dele. A Grã-Bretanha foi o país que se destacou na construção do Estado de Bem-estar com a aprovação, em 1942, de uma série de providências nas áreas da saúde e escolarização. Nas décadas seguintes, outros países seguiriam essa direção.

Ocorreu também uma vertiginosa ampliação dos serviços assistenciais públicos, abarcando as áreas de renda, habitação e previdência social, entre outras. Paralelamente à prestação de serviços sociais, o Estado do Bem-estar passou a intervir fortemente na área econômica, de modo a regulamentar praticamente todas as atividades produtivas a fim de assegurar a geração de riquezas materiais junto com a diminuição das desigualdades sociais.

Capitalismo e democracia
Com base nessas considerações, é possível afirmarmos, portanto, que numa perspectiva mais ampla as origens do Estado do Bem-estar estão vinculadas à crescente tensão e conflitos sociais gerados pela economia capitalista de caráter "liberal", que propugnava a não-intervenção do Estado nas atividades produtivas.

As crises econômicas mundiais presenciadas nas primeiras décadas do século 20 (da qual a crise de 1929 é o caso mais conhecido) provaram que a economia capitalista livre de qualquer controle ou regulamentação estatal gerava profundas desigualdades sociais. Essas desigualdades provocavam tensões e conflitos, capazes de ameaçar a estabilidade política.

Direitos sociais
Os direitos sociais surgem, por sua vez, para assegurar que as desigualdades de classe social não comprometam o exercício pleno dos direitos civis e políticos. Assim, o reformismo do Estado do Bem-estar tornou possível compatibilizar capitalismo e democracia. No âmbito do Estado do Bem-estar, o conflito de classes não desapareceu, mas se institucionalizou. A extensão dos direitos políticos e o sufrágio universal possibilitaram canalizar os conflitos de classe para as instituições políticas, transformando demandas sociais em direitos.

O grau e a extensão do intervencionismo estatal na economia e a oferta de serviços sociais variou enormemente de país para país. Os países industrializados do Primeiro Mundo construíram Estados de Bem-estar mais extensos do que os países de economia socialista e os países subdesenvolvidos. Porém, entre os países de Primeiro Mundo também há variações. Certamente, o Estado de Bem-estar francês é mais extenso do que o inglês; e este último é mais extenso do que o americano.

Auge do Estado do Bem-estar
O modelo de Estado do Bem-estar que emergiu na segunda metade do século 20 na Europa Ocidental e se estendeu para outras regiões e países chegou ao auge na década de 1960. No transcurso dos anos 70, porém, esse modelo de Estado entrou em crise.

Uma tese amplamente comprovada é a correlação que existe entre o crescimento econômico e a extensão das ofertas de serviços sociais à população. Com base nessa tese, torna-se irrelevante o fato de a economia ser socialista ou capitalista e se o regime é democrático ou ditatorial, pois as estruturas do Estado de Bem-estar estão relacionadas ao grau de desenvolvimento econômico de um determinado país.

Crise
A crise do Estado de Bem-estar é um tema complexo para o qual não há consenso entre os estudiosos. Nos países industrializados ocidentais, os primeiros sinais da crise do Welfare State estão relacionados à crise fiscal provocada pela dificuldade cada vez maior de harmonizar os gastos públicos com o crescimento da economia capitalista. Nessas condições, ocorre a desunião entre "capital e trabalho". As grandes organizações e empresas capitalistas e as massas trabalhadoras já não se entendem e entram em conflito na tentativa de assegurar seus próprios interesses.

Na Grã-Bretanha, a eleição da primeira-ministra Margareth Thatcher (do Partido Conservador; que governou de 1979 a 1990) representou o marco histórico do desmonte gradual do Estado de Bem-estar inglês a partir da política de privatização das empresas públicas. Outros países adotaram a mesma política.

E o Brasil?
O Brasil nunca chegou a estruturar um Estado de Bem-estar semelhante aos dos países de Primeiro Mundo. Não obstante, o grau de intervenção estatal na economia nacional teve início na Era Vargas (1930-1945) e chegou ao auge durante o período da ditadura militar (1964-1985). Paradoxalmente, os mais beneficiados com os gastos públicos em infra-estrutura (nas áreas de telecomunicações, energia elétrica, auto-estradas etc) e construção de grandes empresas públicas foram, justamente, os empresários brasileiros e estrangeiros.

Na década de 1970, porém, setores mais influentes da classe empresarial começaram a dirigir críticas ao intervencionismo estatal. Na época, a palavra mais usada pelos empresários paulistas em sua campanha contra o intervencionismo estatal na economia era "desestatização". Quando ocorreu a transição para a democracia, os partidos políticos de esquerda e os movimentos populares acreditavam que tinha chegado o momento do Estado brasileiro saldar a imensa dívida social diante das profundas desigualdades sociais e pobreza extrema reinantes no país. Não obstante, todos estes anseios foram frustrados.

Os governos democráticos que se sucederam a partir de 1985 adotaram inúmeras políticas, chamadas de neoliberais, cujos desdobramentos mais evidentes foram as privatizações de inúmeras empresas estatais. Atualmente, o debate em torno da reforma da previdência social é o centro da política de desmonte (ou reestruturação, como preferem os políticos de direita) do Estado do Bem-estar brasileiro.
*Renato Cancian é cientista social, mestre em sociologia-política e doutorando em ciências sociais. É autor do livro "Comissão Justiça e Paz de São Paulo: Gênese e Atuação Política - 1972-1985".

Teoria Keynesiana


Conjunto de idéias que propunham a intervenção estatal na vida econômica com o objetivo de conduzir a um regime de pleno emprego. As teorias de John Maynard Keynes tiveram enorme influência na renovação das teorias clássicas e na reformulação da política de livre mercado. Acreditava que a economia seguiria o caminho do pleno emprego, sendo o desemprego uma situação temporária que desapareceria graças às forças do mercado.

O objetivo do keynesianismo era manter o crescimento da demanda em paridade com o aumento da capacidade produtiva da economia, de forma suficiente para garantir o pleno emprego, mas sem excesso, pois isto provocaria um aumento da inflação. Na década de 1970 o keynesianismo sofreu severas críticas por parte de uma nova doutrina econômica: o monetarismo. Em quase todos os países industrializados o pleno emprego e o nível de vida crescente alcançados nos 25 anos posteriores à II Guerra Mundial foram seguidos pela inflação. Os keynesianos admitiram que seria difícil conciliar o pleno emprego e o controle da inflação, considerando, sobretudo, as negociações dos sindicatos com os empresários por aumentos salariais. Por esta razão, foram tomadas medidas que evitassem o crescimento dos salários e preços, mas a partir da década de 1960 os índices de inflação foram acelerarados de forma alarmante.

A partir do final da década de 1970, os economistas têm adotado argumentos monetaristas em detrimento daqueles propostos pela doutrina keynesiana; mas as recessões, em escala mundial, das décadas de 1980 e 1990 refletem os postulados da política econômica de John Maynard Keynes.
http://www.economiabr.net/

O continente afogado

Uma equipe internacional de pesquisadores descobre que um grande planalto submerso, o Kerguelen, entre a Austrália e a África, já foi um continente de verdade, povoado por dinossauros e samambaias.
Por Ivonete D. Lucírio

Era um belo pedaço de terra no extremo sul do Oceano Índico. Tinha uns 2 milhões de quilômetros quadrados, um pouco menos que o território da Argentina. A vegetação verde e os rios eram ideais para dinossauros. Seria um paraíso se não fossem os vulcões que jorravam toneladas de lava, cobriam a região de névoa e gases e alteravam sua geografia. Três catástrofes vulcânicas fizeram emergir rochas de diferentes eras geológicas, a primeira há 110 milhões de anos, depois há 83 milhões e, finalmente, há 40 milhões de anos.
Veio, então, a calmaria e, com ela, o fim. Eram os jorros de lava, subindo das entranhas da terra, que sustentavam a plataforma continental acima do nível do mar. Sem eles, há 20 milhões de anos, a crosta esfriou e se contraiu, levando o continente inteiro para debaixo d’água. Adeus. Passaram-se muitos milênios. Só em fevereiro passado, afinal, os cientistas do navio americano Joides Resolution descobriram a história de Kerguelen.

Um passado escrito por pólen e lascas de madeira
As ondas chegavam a 15 metros de altura em fevereiro, no sul do Oceano Índico. Os pesquisadores do Joides Resolution passaram um mau bocado para manter a estabilidade do navio e lançar sua broca até o fundo, 1 quilômetro abaixo. Desde 1984, o barco vasculha oceanos coletando amostras do chão para o Programa de Escavação dos Oceanos, um projeto de pesquisa mantido por dez universidades e instituições norte-americanas e canadenses e dezenas de outras de quinze países da Europa, mais Japão, China, Coréia do Sul e Austrália. O navio abriga 28 cientistas e sete andares de laboratórios e dispõe de uma broca capaz de perfurar até a 9 quilômetros de profundidade. Já participou de oitenta expedições e fez mais de 1 400 perfurações.
O Planalto de Kerguelen estava na mira dos cientistas da Universidade do Texas desde 1980, mas a chegada do Joides Resolution acelerou a investigação. Na primeira escavação a broca puxou pedaços de rocha de 9 metros de comprimento. Foram feitas dezenas de perfurações. Em sete amostras encontraram-se pólen e lascas de madeira. "Descobrimos que Kerguelen, com certeza, já tinha estado fora d’água", relata a geofísica Katherine Ellins. "O pólen das samambaias e os pedaços de árvores misturados aos sedimentos provam isso."

Missão de varredura
Ao todo, foram sessenta dias em alto-mar. "Enfrentamos frio, geleiras e tempestade de neve", conta o geólogo Fred Frey, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. "O único alívio eram as instalações de pesquisa das ilhas McDonald e Heard, dois raros pontos do planalto Kerguelen ainda emersos", lembra-se ele. "Mas eram inóspitas."
Quando a análise dos sedimentos acabou, tornou-se claro que o continente servira de ponte para espécies animais que migraram entre o sul da Ásia, a África e a Austrália, como alguns tipos de dinossauros. Kerguelen começou a se erguer depois que esses continentes — que até há 110 milhões de anos estavam unidos em um bloco — se afastaram uns dos outros. "A descoberta é importante para a Paleontologia, para a Geologia, para a Zoologia e diversas ciências", diz Katherine Ellins. Mas os estudos apenas começaram. Os dados ainda terão de ser investigados e analisados durante muitos meses.
Enquanto isso, o Joides Resolution mudou de endereço, para alegria dos pesquisadores. Agora, o barco está na costa norte do Japão, estudando os terremotos submarinos da região. Pelo menos, não faz tanto frio.

Para saber mais
NA INTERNET: www.ig.utexas.edu

Há 70 milhões de anos

O fogo
Havia muitos vulcões. As erupções constantes lançavam gases, como dióxido de carbono, e vapores d’água na atmosfera.

As águas
Havia vários cursos de água doce. Um deles descia de uma grande montanha.

O verde
A vegetação era formada por samambaias e coníferas, como pinheiros. A prova são os resíduos de pólen e os pedaços de tronco localizados pelos pesquisadores.

Os animais
Não foram encontrados vestígios de bichos. Mas acredita-se que o continente era habitado por espécies da Austrália e da África, como o multituberculado, um mamífero extinto, e dinossauros.

Hoje
O fundo
Hoje, a massa de terra submersa está no leito sul do Oceano Índico, a uma profundidade que varia de 1 a 2,5 quilômetros. A temperatura lá embaixo é de cerca de 4 graus Celsius e pouco mais de 20 graus Celsius na superfície.
O continente faz parte do chamado Planalto Kerguelen, uma plataforma submarina de 2 milhões de quilômetros quadrados. 1. Pluma fervendo
Uma massa de rochas quentes vindas da parte mais baixa do manto terrestre, a pluma, subiu até a crosta, rompendo-a. Formou-se um vulcão. Em contato com a água, a lava resfriou rapidamente, constituindo a parte mais antiga do continente.

2. Viagem para o sul
O pedaço de crosta sobre a qual o continente se apoiava não estava parado. Deslizava sobre a pluma na direção sul. Assim, a emersão de lava fez surgir vulcões em outras regiões, mais ao norte. O continente aumentou de tamanho.

3. Esfriou e afundou
A viagem da crosta para o sul continuou. Mas, agora, a força da pluma era menor. Sem fonte de calor, as rochas da base resfriaram e se contraíram. O continente desceu.

4. De volta à tona
Em fevereiro, o Joides Resolution arrancou do fundo do mar pedaços de rocha e sedimentos (à esquerda) do Planalto Kerguelen. Neles descobriram-se restos de pólen e madeira. Prova de que o continente já esteve na superfície.
Revista Superinteressante

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O que é lavagem de dinheiro?

Érica Montenegro

É o procedimento usado para disfarçar a origem de recursos ilegais. Quando alguém ganha dinheiro de forma ilícita – por exemplo, com crimes como tráfico de drogas, contrabando, seqüestro e corrupção – não pode simplesmente sair torrando a grana. Tem de armar estratégias para justificar a fonte e, assim, evitar suspeitas da polícia ou da Receita Federal.
A expressão "lavar dinheiro" surgiu nos Estados Unidos para designar um tipo de falsificação de dólares que incluía colocar as notas na máquina de lavar para que adquirissem aparência de gastas. De lá para cá, a "lavanderia" sofisticou seus métodos. A integração do sistema financeiro mundial permite que os recursos viajem entre contas bancárias de diferentes países em questão de segundos e, assim, o dinheiro sujo acaba incorporado à economia formal.
De acordo com o FMI, de 2,5% a 5% do PIB (produto interno bruto) de cada país no mundo têm origem ilícita. No Brasil, isso equivale a um montante de 37,5 bilhões a 75 bilhões de reais.

Empresas de fachada
Criminosos abrem uma empresa em nome de um laranja, num ramo que lida com bastante dinheiro em espécie, como bingo ou restaurante. O dinheiro sujo entra na conta corrente da empresa como tendo sido obtido com os serviços e, por isso, fica limpo
Vantagem: A movimentação na conta bancária de uma empresa não costuma levantar suspeitas
Pista: Movimentar somas incompatíveis com a natureza do negócio pode chamar a atenção

Empréstimos faz-de-conta
Um integrante da quadrilha pede empréstimo no banco e usa, como garantia, imóveis, investimentos ou ações obtidos com dinheiro sujo. O banco concede o empréstimo e limpa, sem querer, os recursos ilegais
Vantagem: O dinheiro originário de um banco pode ser reinvestido sem levantar suspeitas
Pista: Sucessivos empréstimos, e facilidade para saldá-los, podem levantar suspeitas

Compra de jóias, pedras preciosas ou obras de arte
Método bastante usado, já que vendedores de objetos valiosos não costumam questionar sobre a origem do dinheiro. Para limpar a grana, basta revender os quadros ou jóias
Vantagem: Em caso de fuga, esses objetos são transportados facilmente
Pista: Várias compras e revendas de objetos caros, feitas por pessoas que não podem comprovar a fonte do dinheiro

Paraísos fiscais
Criminosos compram empresas em paraísos fiscais – como são conhecidos os países que guardam sob sigilo todas as informações financeiras de quem tem conta em banco. Assim, é difícil ligar o dinheiro da empresa ao criminoso que detém as ações. Depois, basta reinvesti-lo através de bancos no Brasil
Vantagem: É muito difícil encontrar o verdadeiro dono do dinheiro
Pista: Nenhuma

Conto do bilhete premiado
Alguém com acesso ao nome dos premiados da loteria informa o criminoso, que procura o sortudo e oferece uma quantia ainda maior para comprar o bilhete
Vantagem: É um método simples, mas não pode ser usado abusivamente. Afinal, ninguém (além do ex-deputado João Alves) ganha 200 vezes na loteria
Pista: O nome de sortudos repetidos costuma ser enviado ao Ministério da Fazenda

Fontes consultadas: Paulo Falcão, delegado-chefe da Divisão de Repressão a Crimes Financeiros da Polícia Federal, e Antônio Gustavo Rodrigues, presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, Ministério da Fazenda

Paraísos fiscais
Países onde a tributação de renda é inferior a 20% do patrimônio. As frouxas regras bancárias atraem muitos criminosos.

Empresas offshore
São empresas de investimento - proibidas de produzir qualquer coisa no território do país onde estão - localizadas quase sempre em paraísos fiscais.

Laranja ou testa-de-ferro
Alguém que empresta/aluga seu nome para que outra pessoa movimente contas bancárias, abra empresas ou compre imóveis.
Revista Superinteressante

terça-feira, 21 de junho de 2011

Peritos concebem cenário para usina de Fukushima

Tipo de acidente ocorrido no Japão resulta de uma perda de corrente alternada fora da usina e de uma subsequente falha da energia de emergência do próprio local. Engenheiros trabalham para evitar a fusão do núcleo.

CORTESIA DA MARINHA DOS ESTADOS UNIDOS, ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO DE MASSA MARINHEIRO STEVE WHITE
ÁGUA DO MAR: Destroços flutuam no Oceano Pacífico, ao largo da costa do Japão, depois que um terremoto de magnitude 9,0 e um subseqüente tsunami atingiram o país em 11 de março

Por Steve Mirsky

Primeiro veio o terremoto, com o epicentro ao largo da costa leste do Japão, perto da ilha de Honshu. O horror adicional do tsunami veio em seguida. Agora o mundo espera que não ocorra a fusão do núcleo no reator da estação Daichi de Fukushima.

Em 12 de Março, peritos americanos reuniram-se para oferecer um resumo da situação à mídia pelo sistema call-in. Vários participantes discutiram as ramificações para a política do setor provocadas pela crise; o físico Ken Bergeron forneceu a maior parte das informações relativas ao reator.

“Analistas gostam de caracterizar acidentes potenciais com reatores em grupos”, explicou Bergeron, que pesquisou simulações de acidentes com reatores nucleares no Laboratório Nacional de Sandia, no Novo México. “E o tipo de acidente que está ocorrendo no Japão é conhecido como station blackout (apagão de estação). Significa perda de energia por corrente alternada fora do local – as linhas de transmissão caem –, seguida de falha da energia de emergência no local. Isso é considerado extremamente improvável, mas o apagão da estação tem sido uma das maiores preocupações há décadas.

“A probabilidade de isso acontecer é difícil de calcular, principalmente devido à possibilidade do que se costuma chamar de “acidentes de causa comum”, nos quais a perda de energia fora do local e no próprio local é provocada pela mesma coisa. Nesse caso, a causa foi o terremoto. Então, estamos em território não mapeado, estamos em uma terra onde a probabilidade diz que não deveríamos estar. E temos esperança de que nem todas as barreiras para liberar a radiatividade funcionem.”

Bergeron abordou aspectos básicos do superaquecimento em uma usina por fissão nuclear. “As varetas de combustível são longas hastes de urânio cobertas com revestimento da liga de zircônio. Elas ficam dentro de uma estrutura cilíndrica toda coberta com água. Se a água desce abaixo do nível do combustível, então a temperatura começa a subir, e o revestimento se rompe, liberando parte dos produtos da fissão. Depois de algum tempo o núcleo começa a fundir. Algo muito semelhante a isso aconteceu na usina de Three Mile Island, na Pensilvânia, mas o vaso de pressão não falhou.”

Peter Bradford, ex-membro da Comissão Regulatória Nuclear dos Estados Unidos, acrescentou: “Outra coisa que acontece é que o revestimento, que está bem perto, no lado de fora do tubo, a alta temperatura, interage com a água. É essencialmente oxidação em alta velocidade, pela qual o zircônio se transforma em óxido de zircônio, e o hidrogênio é liberado. E hidrogênio em uma certa concentração na atmosfera é inflamável ou explosivo”.

“A combustão do hidrogênio não aconteceria necessariamente no prédio de confinamento”, detalha Bergeron, “que é inerte – não tem oxigênio algum –, mas eles tiveram de desafogar o confinamento, porque a pressão ganha força a partir de todo esse vapor. Assim, o hidrogênio está sendo desafogado com o vapor e está entrando em alguma área, algum prédio, onde há oxigênio, e é aí que a explosão aconteceu.”

Bergeron discutiu especificamente a usina nuclear em questão, a BWR Mark 1, projetada pela General Electric. “Trata-se de um reator de água fervente. Foi um dos primeiros projetados para reatores comerciais nesse país, e é amplamente usado também no Japão. Em comparação com outros reatores, se você examinar estudos da Comissão Regulatória Nuclear, de acordo com os cálculos, esse tem uma frequência de danos ao núcleo relativamente baixa. Em parte, isso acontece porque tem variedade maior de maneiras de fazer entrar água no núcleo. Assim, eles têm uma porção de opções – e estão recorrendo a elas agora mesmo – com o uso dessas turbinas a vapor, por exemplo. Não há necessidade de eletricidade para fazer funcionar essas turbinas a vapor. Mas elas ainda precisam de eletricidade de bateria para operar as válvulas e os controles.”

“Assim, há algumas vantagens oferecidas pela BWR em termos de acidentes graves. Mas uma das desvantagens é que a estrutura de confinamento é uma couraça de aço em forma de lâmpada que mede apenas 12 metros de lado a lado – feita de aço espesso, mas relativamente pequena, em comparação com confinamentos grandes e secos, como os de Three Mile Island. Ela não proporciona camada extra de defesa contra acidentes com reatores. Por isso, há uma grande dose de preocupação de que, se o núcleo fundir, o confinamento não será capaz de sobreviver. E, se o confinamento não sobreviver, teremos pior cenário possível.”

O que exatamente essa situação de pior cenário possível? “Estão desafogando, para impedir que o vaso de confinamento falhe. Mas, se um núcleo derreter, ele cairá bruscamente para o fundo do vaso do reator, provavelmente fundirá e passará através do vaso do reator para o piso de confinamento. É possível que ele se espalhe como uma poça em ponto de fusão – parecida com lava – até a borda da couraça de aço, derreta e atravesse-a. Isso resultaria numa falha de confinamento em questão de menos de 1 dia. Ainda bem que se trata de um sistema de confinamento melhor que o de Chernobyl, mas não é tão forte quanto o da maioria dos reatores dos Estados Unidos.”

Bergeron resumiu os eventos até agora: “Com base no que entendemos, o reator foi fechado, no sentido de que todas as varetas de controle foram inseridas – e isso significa que não há mais reação nuclear. Contudo, o que deve nos causar preocupação é o calor que ainda está no núcleo – isso vai durar por muitos dias”.

“Para impedir que esse calor faça o núcleo fundir, é preciso manter água nele. Além disso, as fontes convencionais de água e a eletricidade que fornece energia para as bombas falharam. Por isso, estão usando alguns métodos muito incomuns para fazer chegar água ao núcleo, estão usando turbinas a vapor – que operam com energia fornecida pelo próprio reator.”

“Mas até mesmo esse sistema necessita de eletricidade na forma de baterias. E as baterias não são projetadas para durar tanto assim, por isso elas acabaram falhando. Assim, não sabemos exatamente como estão fazendo chegar água ao núcleo ou se estão colocando água suficiente nele. Acreditamos, devido à liberação de césio, que o núcleo ficou exposto acima do nível da água, pelo menos durante algum tempo, e superaqueceu. O que realmente precisamos saber é por quanto tempo eles conseguirão manter aquele fluxo d´água. E isso precisa acontecer durante vários dias, para impedir a fusão do núcleo.”

“Acredito que o confinamento ainda esteja intacto. Porém, se o núcleo de fato fundir, a estrutura provavelmente não aguentará o dano, e o vaso de confinamento falhará. Tudo isso aconteceria em questão de dias. O crucial é restabelecer a energia por corrente alternada. Eles têm que devolver a energia por corrente alternada à usina para conseguir controlá-la. Tenho certeza de que estão trabalhando para isso.”

À medida que a situação na usina nuclear de Fukushima piora – quatro dos seis reatores em ponto de fervura foram danificados por explosões ou incêndios, e começou a vazar radiação para a atmosfera –, funcionários continuam a bombear água do mar nos reatores, tentativa desesperada de resfriar as varetas de combustível e evitar uma fusão completa. A iniciativa da Tokyo Electric Power Co. (Tepco), que opera a usina Daiichi, de usar água do mar misturada com boro (que absorve nêutrons) nos vasos de pressão dos reatores tem a contrapartida de que eles nunca mais vão funcionar adequadamente, danificando permanentemente uma das 25 maiores usinas nucleares do mundo.
Tais medidas extremas foram necessárias porque os sistemas de resfriamento normal e auxiliar, que fazem circular água purificada para evitar a fusão das varetas de combustível, falharam. O tsunami não só cortou o fornecimento de energia elétrica normal à Daiichi como também inundou e desativou os geradores a diesel de reserva. Três dos seis reatores da usina estavam desligados para manutenção quando o tsunami induzido pelo terremoto aconteceu. A falta de água suficiente para cobrir essas varetas levou a explosões de três reatores em operação, provavelmente devido a um acúmulo de gás hidrogênio.

O quarto reator, um dos que tinham sido desligados antes de 11 de março, houve um incêndio que ameaçou evaporar a água num tanque de armazenamento de combustível nuclear irradiado.

A perspectiva de arruinar meia dúzia de reatores nucleares não é nada em comparação com a alternativa: a fusão completa, que contaminaria o solo abaixo do complexo com material radiativo e depois seria espalhado pelo vento, chuva e águas subterrâneas, com potencial para causar doenças provocadas por radiação em milhares de pessoas.

Scientific American falou com Pavel Tsvetkov, professor assistente de engenharia nuclear na Texas A&M University, para saber por que a água do mar é o último recurso para resfriar reatores nucleares comprometidos, e quais as opções da TEPCO para as próximas etapas.


Por que uma instalação nuclear normalmente usa água purificada para resfriar seus reatores? Até que ponto ela é purificada?

Vou lhe dar um exemplo. Se você tem uma panela fervendo e a sua água tem minerais em excesso, então haverá condensação dentro dessa panela. Quando isso acontece num reator, interrompe as propriedades dos elementos do combustível. Empresas energéticas não querem pôr em risco o desempenho dos materiais de seu reator, por isso usam água purificada, normalmente de uma instalação especial de purificação no local.

Em que circunstâncias uma usina usaria água do mar para resfriar seus reatores?

Usar água não purificada não é prática normal – aliás, nunca se fez isso. Usinas não pegam água de rio ou mar para suplementar sua própria água interna, que fica em sistemas de circuito completamente fechado. É claro que elas colocam uma quantidade de água nova periodicamente para compensar a evaporação e outras perdas parecidas, mas essa água passa por purificação antes de ser usada.

Os reatores da Tepco ficaram abaixo da condição normal de operação devido a falta de água, por isso tiveram de colocar água adicional para o resfriamento. A água salgada obviamente contém uma porção de minerais e, se for tirada diretamente do mar, também tem todo tipo de materiais flutuando nela. Mesmo que tudo seja filtrado, a química da água salgada não é realmente compatível com o que normalmente circula no reator. Ela é corrosiva demais para os elementos do combustível. Acho que, depois que essa água foi introduzida nos núcleos do reator, eles ficaram completamente inutilizáveis. Isso acontece porque qualquer material na água vai “colar” na superfície das varetas de combustível e fazer com que a transferência de calor se torne imprevisível.

Que papel desempenha o boro na água do mar?

O boro pode ser injetado em sistemas de refrigeração por água para controlar a atividade do núcleo do reator porque ele é um forte absorvedor de nêutrons, especialmente de nêutrons térmicos. Mas o boro não é usado habitualmente em reatores de água fervente, como os da estação Daiichi em Fukushima, porque o boro também exerce efeito corrosivo sobre os elementos do combustível. Em casos de emergência, no entanto, boro e água do mar podem ser usados para suprimir as reações em cadeia por fissão nos elementos do combustível.

Então, o uso de água do mar e boro é um último recurso para resfriar um reator?

Provavelmente, se tivessem mais tempo, eles teriam tentado restaurar os geradores diesel, que acionavam o sistema de resfriamento substituto, e assim fariam circular a água que já estava lá. Porém, com a água no núcleo evaporando devido a altas temperaturas, eles precisaram acrescentar cada vez mais água para poder suprimir rapidamente as condições de fervura.

Dado que a construção de um novo reator custaria vários bilhões de dólares, não há maneira alguma pela qual eles poderiam limpar os elementos do combustível?

Uma alternativa seria tentar explorar se dá para restaurar o reator, porque é um investimento significativo. Mas não tenho lembrança de alguém usar água do mar por período de tempo prolongado em seus reatores como eles estão fazendo agora.

Scientific American Brasil

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Importar trabalhadores - Ajuda de fora

Crescimento do país e investimento no pré-sal levam empresas a importar trabalhadores

MIGUEL NÍTOLO


Arte PB
Era apenas uma questão de tempo. As empresas sabiam e o governo tinha consciência do que nos aguardava caso o país engatasse de fato um crescimento sustentado ou chegasse perto disso. Faltaria mão de obra qualificada – e a carência é tal que ameaça travar a expansão dos mercados e reter o avanço da economia. Esse é um problema que aflige basicamente todas as nações emergentes e anos atrás começou a afetar duro o Brasil, festejado hoje como um dos portos mais seguros para o capital. O fato é que a privação de pessoal habilitado não está causando dores de cabeça a apenas alguns segmentos, mas a numerosos ramos de atividade, colocando em estado de atenção as agências de recrutamento e mesmo os departamentos de recursos humanos de grandes corporações.

Na realidade, em nosso país a questão é ainda mais delicada devido a um importante detalhe: o pré-sal, uma porção do subsolo alguns quilômetros abaixo do leito do mar que guarda um enorme reservatório de óleo à espera de ser bombeado para cima. A extração dessa riqueza, numa faixa que se estende de Santa Catarina ao Espírito Santo e chega a alcançar 200 quilômetros de largura, vai exigir da Petrobras e das empresas privadas envolvidas na extraordinária tarefa um esforço gigantesco, em termos de investimentos, tecnologia e pessoal capacitado.

Então, se o Brasil já vinha carecendo de mão de obra especializada para atender a suas necessidades nos mais variados campos, com o pré-sal a situação ganha ainda maior proporção. Isso sem falar, é claro, do boom da construção civil e das grandes obras de infraestrutura que se tornaram prementes em razão da realização da Copa do Mundo de Futebol em solo brasileiro, em 2014, e das Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes e vice-presidente da Força Sindical, chama também a atenção para os pesados desembolsos nos setores automotivo, siderúrgico, eletroeletrônico, têxtil, químico e de papel e celulose. Ele relata que o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estima para os próximos quatro anos investimentos totais da ordem de R$ 3,3 trilhões. “Diante desse ciclo virtuoso de crescimento, é natural que a demanda de mão de obra especializada ganhe as alturas, notadamente nos segmentos de ponta”, diz.

Sinal de avanço

O que fazer? A trilha aberta pelas grandes economias aponta para a importação de mão de obra especializada. De certa forma, o Brasil já vem fazendo isso, só que ainda moderadamente, ao contrário do que recomendam alguns especialistas ouvidos pela reportagem, na opinião dos quais essa prática devia ser acelerada sem constrangimentos. De 2005 até o final de 2010, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) teria concedido perto de 190 mil autorizações de trabalho a estrangeiros. Apenas nos seis primeiros meses do ano passado, entraram legalmente no país 22,1 mil trabalhadores de vários pontos do planeta, especialmente dos Estados Unidos, Reino Unido, Filipinas, Colômbia, Argentina e Venezuela. “A escassez de mão de obra é sinal de que avançamos”, destaca Alfredo Behrens, professor de Liderança e Gestão Intercultural da Fundação Instituto de Administração (FIA). “E a solução passa, necessariamente, pela importação da mão de obra que nos faz falta”, prega.

O divulgado apagão de recursos humanos não aconteceu por acaso, longe disso. “Nas últimas duas a três décadas houve um verdadeiro desestímulo às carreiras científicas e técnicas”, observa Otavio de Mattos Silvares, reitor do Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), de São Paulo, interpretando o atual momento. “Esse desestímulo, aliás, é semeado já na formação básica de nossas crianças”, sustenta.

Silvares lastima a escassez de professores do ensino fundamental e médio nos campos das ciências, matemática, biologia e química. Além disso, explica, como eles nem sempre estão suficientemente preparados e equipados para o bom desempenho didático, não levam as crianças e jovens a se encaminhar para o estudo das ciências. “O decrescente número de brasileiros que ingressam nas escolas de engenharia e nos institutos de física, química, biologia e matemática é consequência direta disso”, pondera o reitor do IMT. É sabido que o Brasil forma, anualmente, em torno de 30 mil engenheiros, mas a demanda a cada período giraria em torno de 60 mil profissionais.

De seu lado, o sindicalista Miguel Torres acentua que o sistema educacional não reage na velocidade que o novo padrão de desenvolvimento exige. “Por tudo isso são imprescindíveis investimentos pesados, públicos e privados, em educação geral e formação profissional. Para nós, trabalhadores, esse tema deve ser estratégico e prioritário”, diz. Na realidade, as providências terão de vir de todos os lados. “O governo terá de entrar com sua parte, melhorando o nível de qualificação, e as empresas terão de fazer a sua, contribuindo para o desenvolvimento e a capacitação desses profissionais”, sustenta Elaine Saad, vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH).

O professor Behrens lembra que o Brasil já enfrentou outros apagões de mão de obra, como nos casos da energia elétrica, do tráfego aéreo e dos portos, segundo ele em decorrência de décadas perdidas em virtude da baixa produtividade e dos desequilíbrios macroeconômicos que desestimulavam investimentos. “Mas apagões têm solução; do contrário, como a Índia e a China conseguem crescer mais do dobro que nós?”, pergunta.

O fato é que o emprego bate à porta, e a lista de ocupações que hoje faz a diferença no processo de crescimento da economia é extensa. “Os geólogos estão sendo caçados ainda nas universidades, além de vir aumentando a procura por petrólogos, petrofísicos e geofísicos. E se acham na mesma situação os profissionais especializados em perfuração e os técnicos capazes de avaliar o retorno financeiro dos projetos de exploração”, relata Adriano Bravo, CEO da Petra Executive Search, uma consultoria de recrutamento e seleção com atuação nas áreas de óleo e gás, mineração, energia, indústria de transformação, construção pesada e construção civil.

Segundo Bravo, as oportunidades também se abriram para os oficiais da marinha mercante, operadores de robôs submarinos e especialistas em processos petroquímicos, profissionais experientes em bombeio de produção e contadores com inglês fluente.

Ponta do iceberg

Também é esperado um intenso movimento no mercado de sondas nos anos vindouros por conta dos investimentos das petroleiras. Entretanto, diz Bravo, não haverá mão de obra capacitada em número suficiente para operar todos os equipamentos. “Essas sondas são de última geração e, portanto, a grande maioria dos profissionais brasileiros não tem especialização técnica para manuseá-las.” O titular da Petra Executive Search destaca que muitas outras áreas do setor petrolífero também estão exigindo pessoal habilitado, tais como os navios de apoio, de lançamento de linhas e de mergulho, assim como as unidades de produção, helicópteros e portos de apoio e fábricas de equipamentos com conteúdo nacional, para citar somente alguns exemplos. “As sondas são apenas a ponta do iceberg”, adverte. De fato, são. Monica de Mello, da Welcome Expats, de Macaé, no litoral do Rio de Janeiro, empresa de realocação criada com o objetivo de auxiliar expatriados, destaca que operadores de guindastes e plataformistas também estão sendo bastante requisitados, bem como especialistas em recursos humanos e TI (tecnologia da informação).

O investimento da Petrobras para o período que vai de 2010 a 2014, da ordem de R$ 224 bilhões, dá uma ideia do que vem por aí. “A ampla carteira de projetos da empresa vai movimentar toda a cadeia produtiva do setor de óleo, gás e energia, passando pela construção civil e pelos estaleiros”, ressalta a assessoria de imprensa da estatal. “Garantir que não falte mão de obra para cumprir esse planejamento e assegurar que a economia brasileira continue crescendo é um dos grandes desafios dos próximos anos”, completa.

Macaé, onde a indústria petrolífera cresce a olhos vistos, é o município com o maior número de estrangeiros em atividade. “Segundo a prefeitura, eles representam 10% da população local, de quase 200 mil habitantes”, destaca Monica. Ela arrisca dizer, contudo, que esse percentual é bem maior. “Não estão computadas as tripulações das plataformas e das sondas de perfuração, que alternam 28 dias a bordo e outro tanto nos países de origem. Na troca de turno desse pessoal a cidade acaba recebendo milhares de estrangeiros em trânsito.” Monica acentua que uma coisa é certa: a presença da mão de obra internacional vai aumentar ainda mais, e muito. “Há empresários determinados a trazer do exterior até mil pessoas ou mais”, conta.

Segundo o dirigente sindical Miguel Torres, em 2010 aproximadamente 53,4 mil estrangeiros foram autorizados a trabalhar no país e, mesmo considerando o fato de que esse número tenha crescido muito nos últimos cinco anos, a esmagadora maioria das concessões (95,4%) se destinou a trabalho temporário de até dois anos. “As autorizações permanentes representaram apenas 4,6% do total, e quase a metade delas foram concedidas a supervisores, administradores, diretores e gerentes. Por outro lado, a maioria das autorizações temporárias (52%) relacionou-se aos segmentos de estaleiros, embarcações e plataformas petrolíferas e de gás.”

Sem xenofobia

Ainda não se ouviram vozes contra a chegada da mão de obra estrangeira porque, explicam os especialistas, ela é muito bem-vinda. “O conhecimento que os trabalhadores de fora trazem deve facilitar a geração de empregos não só no ramo em que eles prestam serviço, mas em basicamente todos os segmentos”, pontifica o professor Behrens, da FIA. Ele assinala que a cadeia lógica de raciocínio é a seguinte: a falta de trabalhadores capacitados limita o crescimento. Em contrapartida, a importação de mão de obra especializada facilita a expansão que, por sua vez, cria empregos tanto para brasileiros quanto para estrangeiros.

O que pensam sobre isso o operário brasileiro e suas entidades de classe? “É preciso registrar que defendemos para os trabalhadores imigrantes, independentemente de nacionalidade e qualificação, as mesmas prerrogativas que preservamos para a mão de obra brasileira e que dizem respeito, por exemplo, às condições de trabalho, ao direito à informação e à proteção social e à igualdade de direitos”, sustenta o dirigente sindical Miguel Torres.

E o que pensa o imigrante sobre o Brasil? “Eles revelam grande ansiedade no tocante à segurança e à moradia”, relata Vivian Manasse Leite, sócia-diretora da Goingplaces, empresa de consultoria intercultural que dá assessoria tanto a empresas quanto a estrangeiros que vêm trabalhar no Brasil e a brasileiros que vão atuar no exterior. O desconhecimento da língua portuguesa e a burocracia também têm atrapalhado a vida dessa gente. Vivian comenta que, como em geral os estrangeiros não dominam nossa língua e muitos brasileiros com quem eles se relacionam falam um inglês apenas mediano, é comum ocorrerem sérios problemas de comunicação. A sócia-diretora da Goingplaces diz que essas dificuldades são de parte a parte, já que os brasileiros também reclamam dos trabalhadores de fora. Ela conta que as queixas nesse caso residem, conforme alegam, “na aparente falta de interesse pela vida pessoal dos funcionários daqui (a priori, a aproximação se daria apenas entre os estrangeiros) e no isolamento dentro do ambiente de trabalho”.

Um dia os conflitos derivados da falta de pessoal qualificado serão – se não no todo – pelo menos em parte solucionados com a ampla disponibilidade de mão de obra local. Para isso, o país deverá investir mais e melhor em educação, especialmente na formação de quadros técnicos, necessários em qualquer nação em fase de crescimento.
Revista Planeta

Para onde vai Cuba?

Único país socialista das Américas, à deriva no mundo, sem acesso à internet, Cuba fez do turismo sua tábua de salvação, mas isso já não basta. O governo quer implantar uma economia de mercado, demitir 500 mil funcionários e acabar com a Libreta de Abastecimiento, a caderneta que raciona a alimentação subsidiada dos cubanos desde 1962. É hora de mudança na ilha revolucionária

Texto e fotos: Silvia e Heitor Reali, de Havana

O tempo está suspenso em Havana, onde todos aguardam as reformas que serão anunciadas, em abril, no congresso do Partido Comunista. Tudo indica que será referendado o plano do presidente Raúl Castro para reestruturar a economia ineficiente mediante a demissão de 500 mil funcionários públicos, a abertura de pequenos negócios privados em 178 atividades, a abolição da Libreta de Abastecimiento e a libertação de dezenas de prisioneiros políticos. Os ares são de mudança. Há ansiedade na ilha. Uma visita a Cuba revela mais nuvens escuras no horizonte do que mar azul, ritmos caribenhos e sonhos revolucionários.
A Libreta de Abastecimiento em ação numa venda em Havana. Embaixo, os táxis-cocos. Na página oposta, operária de fábrica de charutos.

"Como se pode viver com um salário médio de US$ 20 ao mês (R$ 32)?", dispara Ivone T., uma jovem estudante de medicina, em Havana. Apesar das conquistas socialistas na educação e na saúde públicas, nos últimos anos a penúria cresceu de tal forma que hoje quase toda a renda familiar cubana é dedicada à alimentação racionada pelas cotas mensais de gêneros registradas na Libreta. A caderneta é um documento fundamental da vida cubana, mas as rações mensais só garantem 12 dias de comida. Para complementar a dieta, só há uma saída: "Vire-se." Para Ivone, a ilha caiu na armadilha da esperança fantasiosa. "Acreditamos muito em mañana, no futuro que justificaria os sacrifícios do dia a dia, e só nos restou a sobrevivência", afirma. Uma jornada por onde pulsa o coração de Havana, longe dos roteiros turísticos, revela feridas na alma cubana.

Cereja de bolo
O táxi-coco, uma espécie de lambreta com três rodas e teto, próprio para transportar turistas, é o veículo ideal para percorrer a capital. A viatura roda a 40 quilômetros por hora, permitindo observar os detalhes arquitetônicos, sentir a brisa e o aroma da maresia. É bom ver tudo de perto. Um roteiro alternativo ao turismo oficial poderia começar pela zona tranquila e silenciosa do Parque Metropolitano, no lado oposto à Havana Vieja. Banhada pelo Rio Almendares, a área abriga uma vegetação de hera que sobe pelas árvores, se espalha pelos galhos, criando verdadeiros mantos verdes. É fácil pressentir "entidades" misteriosas no cenário, pois o Parque Metropolitano é o palco de rituais da santeria, a umbanda cubana, cultuadora de Santa Bárbara, São Judas e a Virgem da Caridade do Cobre, a padroeira de Havana (Oxum, nos cultos sincretistas).

Quase toda a renda familiar cubana é gasta com a alimentação racionada pelas cotas de produtos da Libreta de abastecimiento

Daniel C. é motorista de um desses táxis-cocos. Vivaz, inteligente, rápido nas respostas, ao nos aproximarmos dos bairros de Kholy, Miramar e Siboney, onde vivem os militares, os políticos e El Comandante Fidel, avisa de forma categórica: "Não fotografem nada daqui para a frente, senão vamos passar oito horas desagradáveis na polícia." Ao entrarmos no bairro de Vedado, antigo reduto dos cubanos ricos que fugiram ao se deflagrar a revolução, lembramo-nos de uma passagem do livro Memórias da Filha de Fidel, escrito por Alina Castro, a filha ilegítima de El Comandante, hoje dissidente em Miami. Alina conta que havia dólares emparedados em muitas casas, pois os moradores imaginavam voltar assim que o regime caísse. Várias foram demolidas, mas não se encontrou nenhum money.

Sacada de hotel em Havana. Embaixo, um dos inúmeros músicos de rua. Acima, as montanhas de calcário do Vale dos Vinales, o terroir das melhores plantações de fumo do mundo.

Saindo dos bairros chiques o asfalto desaparece e surgem casas simples, com pequenos jardins. Não há cachorros. "A comida não dá nem para nós", ironiza Daniel. Com o anunciado fim da Libreta de Abastecimiento a insegurança aumentou na ilha. Não se sabe como será feita a parca distribuição de alimentos. Sem a Libreta, restam as bancas e mercadinhos com nomes sugestivos como La Fortuna, La Generosa, La Speranza, que quase não têm o que oferecer, e as lojas especiais reservadas aos turistas e a quem paga o peso conversible (igual ao dólar), devidamente abastecidas de produtos importados. Só quem recebe dinheiro de parentes no exterior pode encarar esses gastos, ou quem exerce atividades ilegais. Um quilo de carne de porco custa 27 pesos no mercado privado.

A paisagem continua a mudar e o ar torna-se poluído, tomado pela fumaça de ônibus em estado lastimável. Os raros táxis-cocos que passam pela periferia transitam sob o olhar desconfiadíssimo dos moradores. Aqui, as oficinas mecânicas são capazes de restaurar um Chevrolet 1949 como se fosse uma obra de arte. Daniel para na casa do irmão, que nos prepara um forte, aromático e encorpado café cubano. Percebemos casas em lenta construção, em geral dependentes do dinheiro enviado por familiares na Flórida, ímã dos que preferem enfrentar peripécias no mar, equilibrados em um pneu de trator, chutando tubarões, a ficar na ilha. A propósito, para reconhecer as mudanças positivas em curso, em janeiro o presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, facilitou a licença para qualquer residente enviar remessas trimestrais de US$ 500 a Cuba.

Após um banquete de simpatia e de cultura sem censura, no final da excursão o visitante não deve se surpreender nem se decepcionar se alguém lhe oferecer sem constrangimento "a cereja do bolo". "Qual é?", perguntamos ingenuamente. "Depende. É cara, porque embolso 30%", admite Daniel, sem rodeio. "A escolha é sua: uma bela jovem ou um rapaz sarado. To have fun, entiendes?" Na surpresa se aprende que a "cereja do bolo" não é malandragem, é puro desespero de causa - questão de sobrevivência.

É a quarta vez que visitamos Cuba. Conhecemos seus extremos e paradoxos, da harmonia ao caos. Percorremos a ilha de ponta a ponta, de Vuelta Abajo, no extremo oeste, a Santiago de Cuba, na ponta leste. Em Vuelta vimos o Vale de Vinãles, berço das plantações de tabaco envolvidas pelas mongotes, montanhas calcárias iguais às do Vietnã, que sustentam um solo e uma umidade únicos - o terroir, como dizem os aficionados. Elas contribuem para a excepcional qualidade das folhas responsáveis pelos melhores charutos do mundo. Santiago faz limite com a Sierra Maestra, local de decisivas batalhas da revolução cubana. Conhecemos também a cidade de Santa Clara, onde está o monumento dedicado a Che Guevara.

Os mecânicos cubanos são capazer de restaurar um Chevrolet 1949 como se fosse uma obra de arte. Na página ao lado, acima, a joia barroca da Praça da Catedral, em Havana; abaixo, um pouco da musicalidade dos cubanos.

Já passamos por Sancti Spiritus e Cienfuegos - fundada por franceses - e pela histórica e bela Trinidad. Visitamos Camaguey, Holguin e Matanzas, terra natal da abastada família de Andy Garcia, que emigrou para os EUA e virou astro de cinema. Garcia apareceu em público vestindo uma guayabera, a tradicional camisa cubana de linho, com pregas verticais e quatro bolsos, usada para fora da calça, e converteu-a em peça cult. Mergulhamos entre peixes coloridos de baías transparentes e, por supuesto, regalamo-nos com o legendário rum dos divinos mojitos - a caipirinha cubana feita com limão e hortelã. Na famosa praia de Varadero sentimos a fúria dos furacões que em setembro atormentam a ilha.

Dessa vez, entretanto, há outros tormentos. As feridas estão expostas num passeio a pé por Havana. A escassez de bens de consumo obriga as pessoas, cada vez mais, a importunar os turistas para adquirir jeans, camisetas, tênis, xampus e assim por diante. Cansamos de ser abordados porhttp://www.blogger.com/img/blank.gif alguém "boa-pinta", muy simpático, muy amigo, que oferece charutos puros e rum produzido em fundo de quintal - ou se prostitui. No mercado negro circulam até produtos furtados nos hotéis. Isso sem contar os músicos passando chapéu. "Entonces, usted yá ès cubana", diz Esteban, um desempregado com quem puxamos conversa na Praça do Teatro, "Usted siente y conosce el país mucho más que los cubanos". Não é verdade. Cuba barroca, surreal e miserável é tão vibrante quanto indecifrável.

As ruas de Havana parecem as de Salvador, na Bahia, congeladas em 1950. Abaixo, a vida de rei dos turistas na Praia de Varadero. Na página oposta, os famosos cortiços de Havana, nos quais não há energia elétrica na maior parte do dia.

Vocação natural

Não é de hoje que os turistas afluem. Depois de 1898, quando os EUA apoiaram a independência do país da Espanha, os norte-americanos entraram com os dois pés na ilha e a converteram em seu quintal. Reflexo dessa situação, o beisebol acabou eleito o esporte preferido dos cubanos. Com a revolução de 1959, a elite cubana, proprietária de engenhos e de fábricas de rum, abandonou os palacetes à beira-mar. A revolução restaurou a dignidade do país e abriu as portas para uma multidão que subdividiu quartos, seccionou andares, repartiu sacadas, fechou varandas, emendou "puxadinhos", improvisou paredes e implantou todo tipo de rede de "gatos". Assim sugiram as quarterias, os cortiços que se veem por toda parte em estado lastimável. Democratizaram a miséria, mas não socializaram a riqueza.

Em 1990, depois do fim dos tratados econômicos anulados pelo colapso da ex-União Soviética, Fidel converteu o turismo em tábua de salvação. Há motivos de sobra para a ilha ser uma nova Cancún e muito mais, sobretudo no litoral dos cayos de ensueño, no norte, com suas ilhas e ilhotas coralinas bordejadas por uma areia que parece feita do mais puro alabastro moído. Há também a atração das construções em estilo colonial espanhol que durante séculos foram se "acriolando" até se tornarem cubanas.

Pode-se ler Cuba como uma partitura: uma batida afro mesclada ao flamenco espanhol e à contredance francesa
A arquitetura de Havana Vieja ocupa um lugar de destaque. Realmente, não há nada igual nas Américas. Há números que justificam a afirmação: são 40 quadras com 150 edificações dos séculos 16 e 17, 200 do século 18 e 460 do século 19. Nesse leque não estão incluídos interessantes templos, fortalezas e vilas em estilo liberty.

Em pleno centro histórico ergue-se a Praça da Catedral, datada de 1770, rodeada por palácios como o dos Marqueses de Arcos, do conde Lombillo e dos Marqueses de Águas Claras. A igreja é de uma beleza barroca transbordante. Todo o complexo arquitetônico vem sendo caprichosamente restaurado pela Oficina del Historiador, capitaneada pelo historiador Eusebio Leal, desde 1967. Leal sabe que, além de ser o motor do turismo, a arquitetura é preciosa para a alma de Havana.

Os colonizadores espanhóis construíam palacetes, solares, templos e edifícios públicos com a pedra calicia, um coral retirado do mar. Porosa, ela guarda madrepérolas incrustadas, o que explica o misterioso cintilar das paredes à luz do sol no centro histórico - um efeito singular. Para driblar o calor e a luminosidade, as janelas ganharam vitrais coloridos e os pátios internos, refrescantes fontes. Não à toa que, em 1982, o centro histórico foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

Outra peculiaridade, hipnótica, é a música. É impossível não sentir inveja e admiração pela ginga e o requebro das mulheres e homens que rodopiam com o mambo, a rumba, o bolero, o chá-chá-chá, o danzón, a guajira e o guaguancó. Na vitalidade da dança, nas ruas, nos salões, cabarés ou teatros, está uma das essências da cubanidad. Pode-se ler Cuba como se lê uma partitura: uma pulsação da matriz afro, regida pelos tambores de Xangô, mesclada ao flamenco espanhol e à contredance trazida pelos latifundiários franceses, fugidos do Haiti. A música e a dança nutrem a alma do povo, já que o corpo mal se mantém. Elas garantem a alegria de viver e permitem aos cubanos fabricar outra realidade, uma vez que não conseguem conhecer o próprio país.

Sabe usted por que? Porque viajar é um privilégio inacessível. Está reservado aos gringos. A não ser que se trabalhe como guia de viagem, garçom, camareira ou cozinheira. Em todo lugar ouve-se a ladainha: "el cubano no está autorizado... no se puede... no passe..." Parece haver entusiasmo apenas nos empregos dos setores dolarizados da economia. Mas isso não é compartilhado. Faltam possibilidades de desenvolvimento para as cidades do interior e as praias também ganharem com o turismo.

Após 20 anos de reinado absoluto, o turismo não salvou a Revolução e o futuro tornou-se mais sombrio. Como os cubanos receberão as reformas e as demissões em massa num país onde mais de 90% das pessoas são funcionários do Estado? Nem a entrega de terras ociosas, nem as novas propostas ao congresso do PC, ou mesmo a libertação de presos políticos, diminuem as filas em frente às embaixadas para aqueles que se recusam a deixar a vida em compasso de espera. Uma frase da blogueira Yoani Sánchez - que no ano passado foi impedida de vir ao Brasil para o lançamento de seu livro De Cuba, com Carinho - resume tudo: "As reformas de Raúl estão sendo vistas com tanta falta de entusiasmo que não convencem nem os compatriotas a ficar na ilha."

Revista Planeta

domingo, 12 de junho de 2011

A era pós nuclear


Fukushima marca, em matéria de energia atômica, o fim de uma ilusão e o começo da era pós-nuclear. Agora classificado como de nível sete, o mais alto na escala de acidentes nucleares, o desastre japonês já é comparável ao de Chernobyl, por seus “efeitos radioativos consideráveis na saúde das pessoas e no meio ambiente

por Ignacio Ramonet


O tremor de magnitude nove e o descomunal maremoto que castigaram o Noroeste do Japão com inaudita brutalidade no dia 11 de março deste ano não só originaram o desastre na central de Fukushima como dinamitaram todas as certezas dos partidários da energia nuclear civil.

A indústria nuclear, com a construção de dezenas de centrais atômicas prevista em inúmeros países, vivia curiosamente sua época mais idílica, essencialmente por duas razões. Primeiro, porque a perspectiva de “esgotamento do petróleo” antes do fim deste século e o crescimento exponencial da demanda energética por parte dos gigantes emergentes (China, Índia, Brasil) a convertiam em energia de substituição por excelência.1 Segundo, porque a tomada de consciência coletiva diante dos perigos das mudanças climáticas, causadas pelos gases do efeito estufa, conduzia paradoxalmente à opção por uma energia considerada “limpa”, não geradora de CO2.

A esses argumentos recentes, somavam-se os já conhecidos: o da soberania energética e menor dependência em relação aos países produtores de hidrocarbonetos; o baixo custo da eletricidade forjada nas usinas nucleares; e, por mais insólito que pareça no contexto atual, o da segurança, com o pretexto de que, das 441 centrais nucleares espalhadas pelo mundo (a metade na Europa ocidental), apenas três foram cenário de acidentes graves nos últimos cinquenta anos. Todos esses argumentos – não forçosamente absurdos – foram por água abaixo depois da descomunal dimensão do desastre de Fukushima. O novo pânico, de alcance mundial, fundamenta-se em várias constatações.

Em primeiro lugar, e contrariamente à catástrofe de Chernobyl – atribuída, em parte por razões ideológicas, ao descalabro de uma vilipendiada tecnologia soviética –, essa nova calamidade ocorreu no centro hipertecnológico do mundo e onde se supõe (pelo Japão ter sido, em 1945, o único país vítima do inferno atômico militar) que os técnicos tomaram todas as precauções possíveis para evitar um cataclismo nuclear civil. Logo, se os mais aptos não conseguiram evitar o desastre, seria razoável permitir que os demais sigam brincando com fogo atômico?

Em segundo lugar, as consequências temporais e espaciais do desastre de Fukushima são aterrorizantes. Em razão da elevada radioatividade, as áreas que circundam a central ficarão desabitadas por milênios. As zonas mais afastadas, por séculos. Milhões de pessoas serão definitivamente deslocadas em direção a territórios menos contaminados e terão de abandonar para sempre suas propriedades e explorações industriais, agrícolas ou pesqueiras. Para além da própria região mártir, os efeitos radioativos terão repercussão na saúde de dezenas de milhões de japoneses. E, sem dúvida, de numerosos vizinhos coreanos, russos e chineses. Sem mencionar outros habitantes do hemisfério boreal2 – o que confirma que um acidente nuclear nunca é local, mas sempre planetário.

Em terceiro lugar, Fukushima demonstrou que a questão da pretendida “soberania energética” é muito relativa, já que a produção de energia nuclear supõe uma nova sujeição: a “dependência tecnológica”. Apesar do enorme avanço técnico, o Japão precisou recorrer a especialistas estadunidenses, russos e franceses (além de especialistas da Agência Internacional da Energia Atômica) para controlar a situação. Por outro lado, os recursos do planeta ricos em urânio,3 combustível básico das centrais, são muito limitados. Calcula-se que, no ritmo atual de exploração, as reservas mundiais desse mineral se esgotarão em oitenta anos – ou seja, o mesmo tempo previsto para o desaparecimento do petróleo.

Por essas e outras razões, os defensores da opção nuclear devem admitir que Fukushima modificou radicalmente o enunciado do problema energético. Nesse cenário, quatro medidas urgentes impõem-se: parar de construir novas centrais; desmantelar as existentes no prazo máximo de trinta anos; ser extremamente econômico com o consumo de energia; e apostar a fundo em todas as energias renováveis. Só assim, talvez, salvaremos o planeta. E a humanidade.

Ignacio Ramonet

é jornalista, sociólogo e diretor da versão espanhola de Le Monde Diplomatique.



Ilustração: Luciano Feijão

1 Antes do acidente de Fukushima, estimava-se que o número de centrais nucleares no mundo aumentaria em 60% até 2030. A China, por exemplo, tem hoje treze centrais atômicas em atividade responsáveis pela produção de apenas 1,8% da eletricidade do país; em janeiro passado, decidiu-se construir, entre 2011 e 2015, 34 novas centrais, ou seja, uma a cada dois meses.

2 Partículas radioativas procedentes de Fukushima caíram sobre a Europa ocidental alguns dias depois da catástrofe. Apesar das autoridades terem declarado que “não constituíam uma ameaça à saúde”, vários especialistas ressaltaram que a radioatividade pode se acumular nas hortaliças, em particular nas folhas grandes, como as da alface, e o consumo desses alimentos apresenta riscos.

3 Um reator nuclear nada mais é do que um sistema de aquecer água. Para isso, utiliza a fissão do átomo de urânio 235 (U235), que, ao romper-se, ao fissionar-se mediante a denominada “desintegração nuclear”, produz uma enorme liberação de energia térmica. Vale lembrar que, para cada tonelada de mineral de urânio, é necessário explorar 156 toneladas de pedra. Dessa tonelada de mineral de urânio recolhida, faz-se apenas 1 quilo de urânio enriquecido. Desse quilo, apenas 0,7% é U235, o elemento usado nas centrais. Ou seja, para 7 gramas de U235, é preciso remover mil quilos de mineral e 156 toneladas de pedras! Ver Eduard Rodríguez Farré e Salvador López Arnal, Casi todo lo que usted desea saber sobre los efectos de la energía nuclear en la salud y en medio ambiente [Quase tudo o que você deseja saber sobre os efeitos da energia nuclear na saúde e no meio ambiente], El Viejo Topo, Barcelona, 2008. E também Paco Puche, “Adiós a la energía nuclear” [Adeus à energia nuclear], Rebelión (www.rebelion.org), 18 de abril de 2010.
Le Monde Diplomatique Brasil

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Como é contido um vazamento nuclear?

daveeza/ Creative Commons
O vazamento em Fukushima liberou uma radiação oito vezes maior que a exposição máxima sofrida pelos trabalhadores da usina em um ano todo!

Depois de desocupar a área, é preciso resfriar o reator até que se possa fazer um "remendo" na estrutura afetada. Caso contrário, ele funcionaria como uma panela de pressão lacrada, que acabaria explodindo
Natália Daumas
Revista Mundo Estranho - 05/2011

Foram essas as medidas adotadas pelos japoneses para lidar com o vazamento na usina de Fukushima, a 250 km de Tóquio. O drama ocupou manchetes no mundo todo desde que o terremoto de 11 de março afetou a edificação e permitiu a liberação de material radioativo na atmosfera, ameaçando a população do Japão e de nações próximas.

OPERAÇÃO TAPA-BURACO
Principal obstáculo ao conserto é o aquecimento descontrolado do reator

1. Em uma usina nuclear, usa-se o potencial energético do urânio, plutônio, césio, tório ou cobalto. Quando os átomos do elemento químico se separam, num processo conhecido como fissão nuclear, a energia aquece a água ao seu redor no reator. Isso gera vapor, que faz as turbinas se moverem. E o giro das turbinas é convertido em energia pelos geradores

2. O terremoto japonês afetou os reservatórios de água, que ajudam a controlar o aquecimento provocado pelo urânio. A temperatura subiu intensamente, derretendo as barras metálicas que concentram os elementos radioativos. Esse calor prejudicou as camadas de blindagem da usina, que servem justamente para evitar um vazamento

3. Em casos como este, a primeira medida é desocupar a área contaminada. O tamanho dessa área depende da quantidade de material lançado no ar e das condições climática de cada país - como a velocidade e a direção do vento. No Japão, a evacuação começou com um raio de 3 km e depois subiu para 20 km

4. As usinas contam com equipes preparadas para atuar em situações de emergência. Seu equipamento inclui máscaras para a filtração do ar e roupas impermeáveis, que evitam a contaminação de pele. Além disso, o tempo de exposição à radiação deve ser controlado em turnos de, no máximo, cinco horas diárias

5. A primeira providência efetiva para conter o vazamento é resfriar o reator. A temperatura da água em contato com o urânio precisa ficar abaixo dos 100 oC para interromper o processo de ebulição. É por isso que se joga mais água no reator. No Japão, foram usados caminhões-pipas, bombas de pressão e até helicópteros

6. Enquanto a temperatura não for controlada, é impossível "remendar" as fissuras na blindagem do reator. O conserto é feito com aço e concreto. Mas, mesmo assim, a usina jamais poderá funcionar novamente, devido ao risco de novos acidentes. O material radioativo também não pode ser passado para outra usina

• Parte da água usada para resfriar Fukushima foi bombeada para áreas de contenção. Mas uma grande parcela ainda contaminada voltou ao mar

• Parte da água usada para resfriar Fukushima foi bombeada para áreas de contenção. Mas uma grande parcela ainda contaminada voltou ao mar

• Nas proximidades de Fukushima, uma hora sem proteção poderia causar náuseas e mudanças nas células sanguíneas dos agentes

• A radiação também reduz o número de anticorpos em até 50%, o que aumenta o risco de infecções

MAL INVISÍVEL
Radioatividade provoca mutações celulares graves

Os elementos radioativos liberados na atmosfera se misturam no ar, na água e na terra e são absorvidos pelo homem sem serem notados. Eles podem alterar a estrutura das células, destruindo seu núcleo e causando doenças graves. Confira algumas delas abaixo. Há alguns tratamentos de emergência. Comprimidos de iodeto saturam a glândula tireoide com iodo natural, evitando que as partículas se fixem ali e provoquem um câncer. E o remédio conhecido como azul da prússia absorve o elemento radioativo, fazendo-o ser eliminado nas fezes e na urina

RADIOATIVIDADE DO BEM
Em doses controladas, ela pode ser útil na medicina e na indústria

Em quantidades muito menores do que a liberada em acidentes nucleares, a radiação pode ser uma aliada da nossa saúde. Ela é empregada pela radioterapia, por exemplo, para destruir células de um tumor cancerígeno. Nas radiografias, os ossos absorvem a radiação e permitem que os médicos descubram possíveis fraturas. E, nas indústrias, ela pode ser usada para medir a vazão de líquidos e a espessura de materiais

FONTES Matias Puga Sanches, supervisor de proteção radiológica do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen); Luís Antônio Albiac Terremoto, pesquisador do Ipen; Agência Internacional de Energia Atômica; Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN); Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD)

MUNDO AFOGADO


Cena do filme Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos
Pelo controle da água
Há pelo menos 50 anos a gestão da água está na agenda internacional (e doméstica), mas avançamos pouco e o cenário está longe de ser auspicioso. O descaso é geral: está no consumo frenético e irresponsável da água por boa parte da humanidade, no desejo de controle pelas corporações, na falta de saneamento básico, na maciça urbanização e na pavimentação de recursos naturais, na predação do agrobusiness e na barafunda de legislações, acordos e tratados. Já vivemos tensões e estamos sujeitos, até, a guerras: mais pelo controle da água do que por sua escassez
No filme Vidas Secas, de 1963, dirigido por Nelson Pereira dos Santos e baseado em obra homônima de Graciliano Ramos, um casal, seus dois filhos, uma cadela e um papagaio vagam por uma desértica paisagem nordestina – um cenário exacerbado pela magnífica fotografia crua e esbranquiçada de Luiz Carlos Barreto. Eles perambulam em busca de água e de dignidade, esquecidos pelo mundo, privados dos mais mínimos direitos – os diálogos quase não existem e, no limite onde os homens secam junto com a falta de água, a cachorra Baleia parece mais gente que as pessoas.

A situação da região sofreu importantes alterações de lá para cá, com grande avanço na distribuição de recursos hídricos e obras de saneamento básico – que ocorreu também em grande parte dos países subdesenvolvidos. Mas que tipo de água se está consumindo, e a que preço? Quanto tempo levará para que ela se esgote novamente pela utilização ambiental e socialmente irresponsável? E mais: quando o esgotamento deste recurso natural começará a levar países ao recurso da força para obtê-lo, num cenário onde estes conflitos principiam a se esboçar?

Cidadãos comuns entendem a utilização da água em sua forma mais palpável e imediata, ou seja, aquela usada nos lares para limpeza, higiene e cozinha. Pouca gente se dá conta de que um litro de suco de laranja, comprado ontem no supermercado, consumiu 3.700 litros para sua produção. Ou que 1/2 quilo de carne para o almoço significou um consumo de 9.250 litros. Que o jornal lido pela manhã gastou 550 litros e, mais, que o carro que leva alguém ao trabalho necessitou de 148.000 litros até chegar à concessionária. E, ainda, que um litro de etanol preciso de outros 7.700 litros de água. Ou seja, seres humanos têm sede, mas quase tudo aquilo que consomem também tem.

O consumo de água pela humanidade, para suas necessidades básicas e para o supérfluo; a ação de grandes corporações e instituições financeiras internacionais por seu controle crescente e consequente precificação acima do poder de compra de partes significativas da população mundial; a maciça urbanização e pavimentação de recursos naturais; a predação do agrobusiness e a barafunda de legislações, acordos e tratados sobre o assunto ajudam a compor um panorama que não é nem de longe auspicioso.

“Para o bem-estar das populações, bem como para o seu desenvolvimento, os recursos hídricos vêm, a cada dia ganhando importância, seja nos cenários domésticos, seja no cenário internacional. Não que essa preocupação seja nova. Em 1960, há 50 anos, o Clube de Roma discutiu a criação de uma política acerca dos recursos hídricos e de seu controle”, observa Gustavo Korte, advogado especialista em direito regulatório e administrativo.

“Hoje, um coordenado e altamente eficaz movimento internacional pela justiça na questão da água está lutando contra o poder das empresas privadas de água e o abandono governamental da responsabilidade por cuidar de recursos hídricos nacionais e por oferecer água limpa ao povo”, diz Maude Barlow, conhecida ativista canadense, co-fundadora do *Blue Planet Project e autora de 12 livros sobre o tema (Leia a reportagem Maude Barlow alerta sobre a causa da água, publicada quando ela visitou o Brasil, e a resenha do livro Água: Pacto Azul).

Serão necessários esforços titânicos e muita vontade política para reverter um quadro assombroso. De acordo com a *Organização Mundial de Saúde, 1.2 bilhão de pessoas no mundo não têm acesso a água potável, e 2.6 bilhões não têm serviços sanitários adequados. A *ONU – Organização das Nações Unidas estima que cerca de 2.8 bilhões de pessoas em 48 países viverão em situação de escassez de água até 2025.

O tema é vasto e complexo, e a intenção desta reportagem é de tentar despertar preocupação para o problema pela exemplificação de alguns de seus componentes mais visíveis. Um deles, que certamente ilustra claramente um desvio no uso da água é seu engarrafamento em embalagens plásticas para o consumidor final. Foi um produto de consumo luxuoso de início, mas, já em 1970, eram vendidos cerca de um bilhão de litros de água engarrafada em todo o mundo. Em 2006, este consumo chegava a 200 bilhões de litros e, hoje, o crescimento do mercado é de cerca de 10% ao ano. Sem contar o dano ambiental causado pelo polietileno tereftalato (PET), de que são feitas as garrafas (que ainda despejam 18 toneladas de dóxido de carbono no ambiente para cada milhão de litros), parte substancial desta água é extraída de fontes privatizadas, em projetos de financiamento bancados por dinheiro público.

“Há que se estabelecer um acordo de comércio que importe em regras claras para os fluxos e volumes de bens e commodities, como a água, que na ordem atual de produção e exportação, estão destruindo regiões do planeta”, afirma Gustavo Gazzinelli, do Movimento pelas Serras e Águas de Minas.

ÁGUA INVISÍVEL
Estes fluxos incorporam o que se convencionou, recentemente, chamar de água virtual – ou seja, se são necessários cerca de 100 litros de água para produzir uma banana, significa que uma dúzia delas, exportada, tira do país produtor 1200 litros (O mapa encartado na Edição Azul da revista National Geographic, nas bancas em 22/03, explica como funciona a circulação dessa água no mundo). Fora a transferência de água desta forma, a questão do desperdício é gritante. No momento, cerca de 30 a 50% dos alimentos que produzimos – com a água virtual embutida neles – são desperdiçados antes de chegar ao consumo, diz Daniel Zimmer, diretor-executivo do *Conselho Mundial de Água, com sede em Marselha, na França. Estas perdas se dão durante a colheita, produção, o processamento, transporte e estocamento.

Por isso, Zimmer aconselha: “Carne consome cerca de 10 vezes mais água para ser produzida do que vegetais. Mude de dieta e economize até 3 mil litros de água por dia”.

No caso da água virtual, por ser um indicador recente, as informações são controvertidas. O Worldometers – World Statistics Updated in Real Time acaba de me informar, em seu site, que, até o presente momento, foram consumidos este ano 905 bilhões de litros em todo o mundo. Se você pesquisar agora, encontrará outro número. Outro site muito interessante, o Virtual Water, fornece medidas mais detalhadas no caso da água virtual, assim como a ONG Virtual Water, a Water Footprint, o The Global Development Research Center e, ainda, o site de conteúdo Tree Hugger.

A discrepância de informações se deve à falta de um padrão mínimo comum de medição, além de fontes que podem ser influenciadas por lobbies corporativos ou governos locais. Aqui mesmo - no site do Planeta Sustentável e no Especial Água -, você pode encontrar números diferenciados, como é o caso do painel sobre Água Virtual (apresentado no evento Planeta no Parque, no Ibirapuera, em janeiro), que teve como fonte a Sabesp e o post, de mesmo título.

Neste caso, o mapa da Edição Azul da National Geographic, que já comentei acima, é uma ótima fonte para se aprender mais sobre a água virtual: explica, por exemplo, quanta água é utilizada em cada fase da criação de uma vaca, durante três anos.

UMA NOVA ÉTICA PARA LIDAR COM A ÁGUA
“O ser humano demora muito para mudar sua atitude”, diz Cláudio Bedran, advogado e gestor ambiental ligado à ONG *Planeta Verde. O que faz lembrar das pessoas que vemos cotidianamente a usar mangueiras para limpar folhas ou cocos de cachorros da calçada ou para lavar seus carros. É óbvio que não se pode culpá-las por atitudes que decorrem da simples falta de informação (sem esquecermos – claro! – daqueles que não se importam com o desperdício). Na maior parte dos casos, a água é um problema cultural e de administração, mais do que de recursos. É preciso uma nova ética para o recurso, e que os governos se envolvam mais em projetos para beneficiar as populações, do que as populações em projetos de governos.

“A excessiva centralização das ações relativas ao gerenciamento de recursos hídricos que alija e aliena os setores usuários da gestão, vem sendo apontada também como um dos fatores que impedem uma maior proteção dos recursos e uma alocação mais racional”, lembra Marilene Ramos, secretária estadual do Ambiente do Rio de Janeiro.

No limite, mas por enquanto ainda no território da ficção, a humanidade poderá estar sujeita a guerras, mais pelo controle de água que propriamente por sua escassez. Tensões já são observadas entre Israel e países vizinhos, entre índia e Paquistão, dentro do Sri Lanka (onde um grupo rebelde desviou um importante canal), na passagem noroeste da região polar norte do Canadá (que os EUA querem internacionalizar) e em diversos países dependentes do rio Nilo, no norte, leste e centro da África. O deslocamento de milhões de pessoas de seus habitats naturais pela fuga da seca causa também um clima de animosidade em fronteiras e países hospedeiros (O Dossiê Terra, publicado pela National Geographic em 2009 – que ainda é vendido na *Loja Abril -, trata dessa questão). De acordo com Maude Barlow, em todo o mundo, mais de 215 grandes rios e 300 bacias de água subterrânea e aquíferos são compartilhados por dois ou mais países.

Alguns outros dados referentes à situação dos recursos hídricos no mundo convidam à reflexão. Um ser humano médio deixa por ano no planeta uma “pegada de água” de 885 mil litros de água – isto inclui tudo para cozinhar, para roupas e outros produtos que consumimos que dependem dela. Na China, a pegada média é de 686 mil litros. Nos Estados Unidos, de 2,4 milhões, o maior consumo per capita do planeta. E o acesso à água encanada é de 85% para 20% da população mundial mais rica.

“Todo ser humano tem o direito a um padrão de vida adequado... a seu bem estar e de sua família, incluindo alimentação, roupa, moradia, cuidado médico e serviços sociais necessários.” Esta é parte das *Declaração Universal dos Diretos Humanos das Nacões Unidas, divulgada em 10 de dezembro de 1948. Exatamente dez anos antes, no romance de Graciliano Ramos, Fabiano, Vitória, o filho mais velho, o filho mais novo e a cadela Baleia empreendiam sua travessia num mundo crestado e sem promessa.

*Conselho Mundial da Água – World Water Council
*Organização Mundial de Saúde
*ONU
*Planeta Verde
*Declaração Universal dos Direitos Humanos
http://planetasustentavel.abril.com.br

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