quinta-feira, 29 de março de 2018

O Grafeno e sua importância

rt

Vidas Brasileiras: Vida Urbana e Sustentabilidade

O Sistema Solar



Um documentário sobre os astros,planetas, luas e sistema solar

A Hisória Da Pobreza - Porque Pobreza?




A pobreza sempre fez parte de nossas vidas, mas nossas atitudes em relação a ela mudaram. Iniciando no período Neolítico, o filme de Ben Lewis, narrado por Shaun Parkes e animado pela empresa holandesa Submarine, nos leva a diferentes momentos da miséria no mundo. Se você sonhasse que ficou pobre ao longo dos tempos, ao acordar, qual seria sua visão da pobreza? Claro que ainda existem pessoas muito pobres, mas a pobreza atual está mais relacionada à desigualdade...

Director Ben Lewis
Producer Femke Volting & Bruno Felix
Produced by Subma­rine & Steps International

quarta-feira, 28 de março de 2018

Caminhando Sobre a Terra - Uma viagem a 10 lugares ameaçados no Planeta ...




Com textos, direção e pesquisa científica de Thiago Cóstackz, é um dos poucos documentários do tipo que já foram produzidos no Brasil. Exibe, em 1h17min., através de ricas imagens e de humanos sempre caminhando, que jamais encararam a câmera, um resumo poético desta aventura que percorreu mais de 60 000km ao redor do mundo, visitando: Groenlândia, Islândia, Rússia, Itália, Oceano Glacial Ártico, os corais do Atlântico Sul, Holanda e diversas regiões do Brasil como: Caatinga, Mata Atlântica, Floresta Amazônica e a cidade de São Paulo, mostrada aqui como um lugar onde o modelo de cidade e estilo de vida nocivo, colocam em risco sua própria existência. Foi, portanto a 1º Expedição Artística e Cientifica já realizada ao redor do mundo que se tem conhecimento.

O filme começa contando uma breve história, da formação da Terra até a chegada do homem, com seu impacto, que mudou para sempre nosso Planeta. Depois, a narradora Jacqueline Dalabona cita cada um dos lugares percorridos, contando de forma precisa, forte, real e até mesmo dura em alguns momentos a complexa situação encontrada pela equipe S.O.S Terra nestes locais. Uma sequência de impressionantes imagens apresentam ao observador alguns dos “espetáculos macabros” que acontecem no Planeta e que são fruto da interferência humana e das mudanças climáticas que acontecem em nível global. Um retrato atual do mundo em que vivemos, em que o observador é colocado como grande protagonista desta história.

Créditos Filme:
Cinegrafistas em São Paulo: Juscelino Brasílio Gonzalis, Fernando Vitolo e Ramon Nascimento
Direção geral, pesquisa e realização: Thiago Cóstackz
Edição e Finalização: Fernando Vitolo / Younik
Exibição: Reserva Cultural
Narração: Jacqueline Dalabona
Mixagem e Masterização: Thiago Lima
Trilha sonora: Hjörvar, José Fernandez e Tim Snider
Edição de Imagens: Ramon Nascimento e Fernando Vitolo
Gravação de locução: Duo Estúdio
Assistente de Edição: Ariel Velloso
Revisor de língua inglesa: Lucas Hoeffel
Tradução e Legenda de língua inglesa: André Lazzari
Revisor de língua portuguesa e editor de texto: Antônio Amoedo
Cinegrafistas das imagens da Expedição: Thiago Cóstackz e Equipe S.O.S Terra
Equipe S.O.S: André Lazzari, Felipe Cavalheiro, Katia Zucolotto e Patrícia Alves
Faça algo hoje pelo Planeta! Não espere por governos, faça algo hoje.

"É completamente proibida a venda ou comercialização deste vídeo. Todas as imagens são protegidas por direitos autorais e só podem ser divulgadas para promoção da causa ambiental e sem fins lucrativos"

terça-feira, 27 de março de 2018

A Terra perde biodiversidade em ritmo alarmante, diz a ONU


Estudos mostram que nenhuma região do planeta está a salvo da perda de flora e fauna. Cientistas apontam estilo de vida humano como principal causa

Pixabay
Até 2100, mais da metade das aves e mamíferos da África pode desaparecer

A Terra tem perdido plantas, animais e água limpa em um ritmo alarmante, revelaram na sexta-feira 23 quatro relatórios sobre a biodiversidade divulgados pela ONU. Os estudos abrangentes mostraram que nenhuma região do planeta está em boas condições e que essa tendência de destruição é causada, principalmente, pela atividade humana.

Durante três anos, mais de 500 especialistas de mais de 100 países, reunidos na Plataforma Intergovernamental sobre Serviços de Ecossistemas e da Biodiversidade (IPBES), analisaram o estado da fauna e da flora no mundo.

"A biodiversidade, a variedade essencial de formas de vida na terra, continua a diminuir em todas as regiões do mundo. Essa tendência alarmante coloca em risco a qualidade de vida dos seres humanos em todo lugar", destacaram os pesquisadores.

Os estudos mostraram ainda que as mudanças climáticas se tornarão uma ameaça cada vez maior para a biodiversidade a partir de 2050, somadas aos danos provocados pela poluição e o desmatamento para abrir espaço à agricultura.

A atual tendência de destruição da biodiversidade coloca em risco economias, meios de subsistência, a segurança alimentar e a qualidade de vida, destacou a ONU.

Segundo o presidente do IPBES, Robert Watson, a redução da biodiversidade é um efeito colateral de um mundo cada vez mais rico e cada vez mais populoso. O pesquisador destacou que a maneira como a sociedade tenta conseguir mais comida, água potável, energia e terra está provocando essa diminuição. Watson ressalta que as mudanças climáticas e o aquecimento global, causados também pelo homem, são outros fatores que contribuem para esse cenário.

Para as Américas, o relatório indica que, se a tendência de destruição seguir o ritmo atual, em 2050 haverá 15% menos plantas e animais do que agora. Em relação ao período anterior à colonização do continente, a redução será de 40%. Quase 25% das espécies conhecidas da região estão ameaçadas.

Os pesquisadores estimaram ainda que o valor da biodiversidade do continente é de 24,3 trilhões de dólares, valor superior ao do Produto Interno Bruto dos Estados Unidos.

A previsão para a região da Ásia-Pacífico indica que, em 2048, não haverá mais reservas de peixes para pesca comercial. Essa área perderá ainda 45% de sua biodiversidade e 90% de seus corais.

A África pode perder mais da metade de suas espécies de aves e mamíferos até 2100. Mais de 20% das espécies da região estão ameaçadas ou foram extintas.

Até mesmo na Europa e na Ásia Central, região que, segundo Watson, é a que está no melhor caminho para a proteção das espécies, cerca de 28% de animais e plantas estão ameaçados. A expansão da agricultura convencional e da silvicultura são os principais problemas da região.

Para reverter essa tendência destrutiva, os pesquisadores destacam que governos e a sociedade precisam mudar seu modo de governar e seus estilos de vida. Watson afirma que economizar água e energia, além da diminuição do consumo de carne vermelha são ações individuais para salvar o planeta.

"Algumas espécies estão ameaçadas de extinção. Outras vão diminuir em número. A Terra será um lugar mais solitário. Trata-se de uma questão moral. Nós humanos temos o direito de extingui-los?", pergunta Watson.
Revista Carta Capital

Carne alemã contribui para desmatamento na América do Sul


Milhares de hectares de floresta são desflorestados para cultivo de soja, que alimenta gado no país europeu, aponta relatório

CARL DE SOUZA / AFP
Segundo o estudo, parte do Pantanal brasileiro é desflorestado para o cultivo de soja


A produção de carne na Alemanha está diretamente ligada ao desmatamento na América do Sul, aponta um relatório da organização de proteção ambiental Mighty Earth.

Segundo o estudo, milhares de hectares do Gran Chaco – região na fronteira entre Argentina, Bolívia e Paraguai e que inclui parte do Pantanal brasileiro – são desflorestados para o cultivo de soja, planta que serve de alimento para o gado na Alemanha e em outros países da Europa.

Além do desmatamento, a organização acusa o uso de "enormes quantidades de fertilizantes químicos e pesticidas tóxicos, como o produto fitossanitário glifosato".

Segundo a Mighty Earth, três quartos da soja produzida mundialmente são transformados em alimentos para animais. Em 2016, a Europa importou um total de 27,8 milhões de toneladas de soja da América Latina – grande parte, ou 3,7 milhões de toneladas de grãos e farinha de soja por ano, teve a Alemanha como destino.

"Assim que a soja chega à Alemanha, é comprada por produtores de ração para animais ou de carne e usada para criação de animais. De lá [dessas empresas], a soja chega a supermercados e restaurantes e é comprada pelos consumidores", alerta a organização.

De acordo com a Mighty Earth, redes de supermercado na Alemanha com frequência vendem salsichas, Schnitzel e hambúrgueres como sustentáveis e de origem local. "[Mas] enquanto o frango e a carne suína e bovina vendidos por eles [supermercados] normalmente são criados na Alemanha, os alimentos desses animais costumam ser comprados a milhares de quilômetros de distância e, assim, têm consequências muito mais amplas para o meio ambiente", diz a organização em um texto publicado em seu site.

Além do mercado alemão, a Holanda, a França e a Espanha estão entre os países que mais importam soja latino-americana, aponta a organização ambiental.

Desmatamento evitável

As pesquisas da Mighty Earth documentam como a soja plantada para a ração animal alemã faz avançar o desmatamento nos dois principais países produtores de soja na América do Sul, a Argentina e o Paraguai.

"Os resultados batem com o nosso estudo anterior sobre o desmatamento em grande escala para a produção de soja no Cerrado brasileiro e na Bacia Amazônica na Bolívia. Somados, esses quatro países são responsáveis pela maior parcela da produção de soja latino-americana", constata a Mighty Earth.


O que é trágico no quadro pintado pelos ambientalistas americanos é que a destruição poderia ser "completamente" evitada. "Há mais de 650 milhões de hectares já desmatados só na América Latina, onde se pode cultivar soja ou criar gado sem ameaçar os ecossistemas nativos", explica o texto.

"Especialistas que conseguiram praticamente eliminar o desmatamento para a soja na região amazônica do Brasil estimam que a ampliação do sistema de vigilância da floresta a outras regiões produtoras de soja latino-americanas – incluindo o Gran Chaco – custaria apenas entre 750 mil e um milhão de dólares", afirma a Mighty Earth, citando a chamada "Moratória da soja", pacto ambiental firmado em 2006 por ongs ambientais e empresas produtoras de soja, como a Cargill e a Bunge.

"Infelizmente, essa iniciativa se restringe apenas à região amazônica brasileira, possibilitando a continuidade do amplo desmatamento na Argentina, no Paraguai, na Bolívia e no Cerrado brasileiro", acusa a organização.

Tina Lutz, consultora da Mighty Earth para florestas tropicais, afirma que, respostas dadas por empresas alemãs cujas cadeias produtivas ou de fornecimento incluem a soja evidenciaram que "não existe um sistema exato o suficiente para que as empresas reconheçam a origem da soja que utilizam ou para que constatem se os seus produtos contribuem para a destruição do meio ambiente".

A Mighty Earth e outras organizações pedem que os produtores de soja ampliem o sistema da Moratória da Soja a outras áreas de produção do grão na América Latina, incluindo o Gran Chaco, a região amazônica da Bolívia e o Cerrado no Brasil.

Além disso, a organização também pede que empresas alemãs compradoras de soja aumentem o controle que têm sobre a origem do grão, contribuindo assim para a preservação das florestas.

"Já que 97% da soja usada para a produção de ração na Europa são importados, é responsabilidade da Europa exigir que essa soja não contribua para o desmatamento das florestas e [a destruição] dos ecossistemas locais", diz a Mighty Earth.
Revista Carta Capital

sexta-feira, 23 de março de 2018

Como a Linguagem Modela o Pensamento


Diferentes idiomas afetam de maneiras distintas a percepção do mundo

Lera Boroditsky
Estou diante de uma menina de 5 anos em pormpuraaw, uma pequena comunidade aborígene na borda oeste do Cabo York, no norte da Austrália Quando peço para ela me mostrar o norte, ela aponta com precisão e sem hesitação. A bússola confirma que ela está certa. Mais tarde, de volta a uma sala de conferências na Stanford University, faço o mesmo pedido a um público de ilustres acadêmicos, ganhadores de medalhas de ciência e prêmios de gênios. Peço-lhes para fechar os olhos (para que não nos enganem) e apontem o norte. Muitos se recusam por não saberem a resposta. Aqueles que fazem questão de se demorar um pouco para refletir sobre o assunto, em seguida apontam em todas as direções possíveis. Venho repetindo esse exercício em Harvard e Princeton e em Moscou, Londres e Pequim, sempre com os mesmos resultados.

Uma criança de cinco anos de idade em uma cultura pode fazer algo com facilidade que cientistas eminentes de outras culturas lutam para conseguir. O que poderia explicar isso? Parece que a resposta surpreendente é a linguagem.

A noção de que diferentes idiomas possam transmitir diferentes habilidades cognitivas remonta a séculos. Desde 1930, essa associação foi indicada pelos linguistas americanos Edward Sapir e Benjamin Lee Whorf, que estudaram como as línguas variam, e propuseram maneiras pelas quais os falantes de idiomas distintos podem pensar de forma diferente. Na década de 70, muitos cientistas ficaram decepcionados com a hipótese de Sapir-Whorf, e ela foi praticamente abandonada. Mas agora, décadas depois, um sólido corpo de evidências empíricas demonstrando como os diferentes idiomas modelam o pensamento finalmente emergiu. As evidências derrubam o dogma de longa data sobre a universalidade e rendem visões fascinantes sobre as origens do conhecimento e a construção da realidade. Os resultados têm implicações relevantes para o direito, a política e a educação.

Ao redor do mundo, as pessoas se comunicam usando uma deslumbrante variedade de idiomas – mais ou menos 7 mil ao todo –, e cada um deles exige condições muito diferentes de seus falantes. Suponha, por exemplo, que eu queira dizer que vi a peça Tio Vânia na Rua 42. Em mian, língua falada em Papua, Nova Guiné, o verbo que usei revelaria se o evento acabou de acontecer, aconteceu ontem ou em passado remoto, enquanto na Indonésia, o verbo não denotaria sequer se o evento já aconteceu ou ainda está para acontecer. Em russo, o verbo revelaria o meu gênero. Em mandarim, eu teria de especificar se o tio do título é materno ou paterno e se ele está relacionado por laços de sangue ou de casamento, porque há vocábulos diferentes para todos esses tipos diferentes de tios e assim por diante (ele é irmão da mãe, como a tradução chinesa claramente expressa). E em pirarrã, língua falada no Amazonas, eu não poderia dizer “42”, porque não há palavras que expressem números exatos, apenas vocábulos para “poucos” e “muitos”.

Pesquisas em meu laboratório e em vários outros vêm descobrindo como a linguagem molda até mesmo as dimensões mais fundamentais da experiência humana: espaço, tempo, causalidade e relacionamentos com os outros.
Voltemos a Pormpuraaw. Ao contrário do inglês, o kuuk thaayorre, idioma falado em Pormpuraaw não usa termos relativos ao espaço como esquerda e direita. Em vez disso, os falantes de kuuk thaayorre conversam em termos de pontos cardeais absolutos (norte, sul, leste, oeste, e assim por diante). Claro que, em inglês também há termos designando os pontos cardeais, mas apenas em grandes escalas espaciais. Não diríamos, por exemplo: “Eles colocaram os garfos de sobremesa a sudeste dos garfos grandes.” Mas em kuuk thaayorre os pontos cardeais são usados em todas as escalas. Isso significa que acaba se dizendo coisas como “o copo está a sudeste do prato” ou “o menino em pé ao sul de Mary é meu irmão”. Em Pormpuraaw, deve-se estar permanentemente orientado, apenas para conseguir falar corretamente.

Além disso, o trabalho inovador realizado por Stephen C. Levinson, do Instituto Max Planck de Psicolinguística, em Nijmegen, na Holanda, e John B. Haviland, da University of California em San Diego, durante as duas últimas décadas têm demonstrado que falantes de idiomas que se valem de direções absolutas são especialmente bons em manter o registro de onde estão, mesmo em paisagens desconhecidas ou no interior de edifícios estranhos. Eles fazem isso melhor que quem vive nos mesmos ambientes, mas não falam essas línguas.

Pessoas que pensam de modo diferente sobre o espaço também são suscetíveis a pensar de forma diferente sobre o tempo. Por exemplo, minha colega Alice Gaby, da University of California em Berkeley e eu demos aos falantes de kuuk thaayorre conjuntos de fotos que mostravam progressões temporais: o envelhecimento de um homem, o crescimento de um crocodilo, uma banana sendo consumida. Em seguida, pedimos que organizassem as imagens embaralhadas no chão para indicar a sequência temporal correta.

Testamos cada pessoa duas vezes, cada vez elas olhavam para um ponto cardeal diferente. Os falantes de inglês que recebem esta tarefa vão organizar as cartas de modo que o passar do tempo seja da esquerda para a direita. Os de língua hebraica tenderão a colocar as cartas da direita para a esquerda. Isso mostra que a direção da escrita em uma linguagem influencia a forma como organizamos o tempo. Os kuuk thaayorre, porém, rotineiramente não organizam as cartas da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda. Eles as arrumaram de leste para o oeste. Isto é, quando estavam sentados de frente para o sul, as cartas ficaram da esquerda para a direita. Quando encaravam o norte, as cartas ficaram da direita para a esquerda. Quando olhavam para o leste, as cartas vinham na direção do corpo, e assim por diante. Nunca dissemos a ninguém que direção eles estavam encarando – os thaayorre kuuk já sabiam disso e espontaneamente usaram essa orientação espacial para construir suas representações do tempo.
As representações do tempo variam de muitas outras maneiras pelo mundo. Por exemplo, os falantes de inglês consideram que o futuro fica “adiante” e o passado “para trás”. Em 2010, Lynden Miles da University of Aberdeen, na Escócia, e seus colegas descobriram que os falantes de inglês, inconscientemente, balançam seus corpos para a frente, ao pensar no futuro, e, para trás, ao considerar o passado. Mas em aimará, um idioma falado na cordilheira dos Andes, dizem que o passado está à frente e o futuro atrás. E a linguagem corporal dos falantes de aimará corresponde ao seu modo de falar: em 2006, Rafael Núñez, da University of Califórnia em San Diego e Eve Sweetser, da mesmo universidade, no campus de Berkeley, descobriram que os aimarás gesticulam na frente deles quando falam do passado, e atrás deles 
quando discutem o futuro.

Lembrando “quem fez o quê?”
Os falantes de línguas diferentes também diferem na forma como descrevem os eventos e podem se lembrar bem de quem fez o quê. Todos os acontecimentos, mesmo os acidentes ocorridos em frações de segundos, são complexos e exigem que analisemos e interpretemos o que aconteceu. Tomemos, por exemplo, o caso do ex-vice- presidente Dick Cheney na caça de codornas, na qual, ele atirou em Harry Whittington, por acidente. Pode-se dizer que “Cheney atirou em Whittington” (em que Cheney é a causa direta), ou “Whittington foi baleado por Cheney” (distanciando Cheney do resultado), ou “Whittington levou um bom chumbinho” (deixando Cheney totalmente de fora). O próprio Cheney disse: “Resumindo, eu sou o cara que puxou o gatilho que disparou a bala que atingiu Harry”, interpondo uma longa cadeia de ações entre ele e o resultado. A fala do então presidente George Bush: “Ele ouviu um movimento de pássaro, virou-se, puxou o gatilho e viu seu amigo se ferir”, foi uma desculpa ainda mais magistral, transformando Cheney de agente a mera testemunha em menos de uma frase.

Minha aluna Caitlin M. Fausey e eu descobrimos que diferenças linguísticas influenciam o modo pelo qual as pessoas analisam o que aconteceu e exercem consequências na memória de testemunhas. Em nossos estudos, publicados em 2010, falantes de inglês, espanhol e japonês assistiram a vídeos de dois rapazes estourando balões, quebrando ovos e derramando bebidas intencionalmente, ou sem querer. Mais tarde, passamos aos participantes um teste de memória pelo qual tinham de dizer qual sujeito havia feito a ação, exatamente como numa fileira diante da polícia. Outro grupo de falantes de inglês, espanhol e japonês descreveu os mesmos acontecimentos. Quando olhamos para as informações da memória, encontramos exatamente as diferenças na memória de testemunhas oculares previstas pelos padrões de linguagem. Os falantes de todos os três idiomas descreveram as ações intencionais usando o agente, dizendo coisas como “Ele estourou o balão”, e todos os três grupos lembraram igualmente bem de quem fizera essas ações intencionais. Entretanto, quando passaram para os acidentais, surgiram diferenças interessantes. Os falantes de espanhol e japonês foram menos propensos a descrever os acidentes que os que falavam inglês. E, da mesma forma, lembraram- se menos do agente que os que falavam inglês. Isso não aconteceu por terem pior memória global – eles se lembraram dos agentes de eventos intencionais (para os quais seus idiomas naturalmente mencionariam os agentes), da mesma forma que fizeram os indivíduos de língua inglesa.
Não apenas as línguas influenciam o que lembramos, mas as estruturas dos idiomas podem facilitar ou dificultar o nosso aprendizado de coisas novas. Por exemplo, pelo fato de as palavras correspondentes a número em alguns idiomas revelarem a base decimal implícita mais claramente que em inglês (não há adolescentes problemáticos, com 11 ou 13 anos, em mandarim, por exemplo), as crianças que aprendem essas línguas são capazes de interiorizar mais rapidamente a base decimal. E, dependendo de quantas sílabas as palavras relativas a números têm, será mais fácil ou mais difícil memorizar um número de telefone ou fazer cálculo mental. A linguagem pode até afetar a rapidez com que as crianças descobrem se pertencem ao sexo masculino ou feminino.

O QUE MODELA O QUÊ?
Essas são apenas algumas das fascinantes descobertas das diferenças translinguísticas em cognição. Mas, como saber se as diferenças na linguagem criam diferenças em pensamento, ou se é o contrário? Parece que a resposta inclui os dois: a maneira como pensamos influencia a maneira de falar, mas a influência também age na direção contrária. Durante a década anterior, vimos uma infinidade de demonstrações engenhosas estabelecendo que a linguagem realmente desempenha papel causal na formação da cognição. Estudos demonstraram que ao mudar o modo de falar, mudamos a maneira de pensar. O ensino de novas denominações de cores, por exemplo, muda a capacidade de as pessoas as discriminarem. Pessoas bilíngues mudam o modo de enxergar o mundo dependendo do idioma que falam. Duas descobertas publicadas em 2010 demonstram que mesmo algo tão fundamental quanto de quem você gosta e não gosta depende do idioma em que é feita a pergunta.

Esses estudos, um de Oludamini Ogunnaike e seus colegas de Harvard e outro de Shai Danziger e seus colegas da Universidade Ben-Gurion de Negev, Israel, observaram bilíngues nos idiomas árabe e francês em Marrocos, espanhol e inglês nos Estados Unidos, e árabe e hebraico em Israel, em cada caso foram testadas as tendências implícitas dos participantes. Por exemplo, pediram às pessoass bilíngues em árabe e hebraico que apertassem rapidamente botões em resposta a palavras, mediante várias situações. Em uma delas, foram instruídos para, ao verem um nome hebreu como “Yair”, ou uma característica positiva como “bom” ou “forte”, pressionarem “M”; se vissem um nome árabe como “Ahmed” ou um aspecto negativo como “mesquinho” ou “fraco”, deveriam pressionar “X”. Em outra situação, a paridade foi revertida, de modo que os nomes judaicos e características negativas partilhavam um botão e nomes árabes e aspectos positivos correspondiam a um só botão. Os pesquisadores mediram a rapidez com que os indivíduos foram capazes de responder nas duas condições. Essa tarefa tem sido amplamente utilizada para medir tendências involuntárias ou automáticas – com que naturalidade coisas como características positivas e grupos étnicos parecem se corresponder na mente das pessoas.
Surpreendentemente, os pesquisadores verificaram grandes mudanças nessas tendências involuntárias automáticas em indivíduos bilíngues, dependendo do idioma em que foram testadas. Os bilíngues em árabe e hebraico mostraram atitudes implícitas mais positivas em relação aos judeus quando testados em hebraico que quando testados em árabe.

A linguagem também parece estar envolvida em muitos mais aspectos de nossa vida mental que os cientistas previamente supunham. As pessoas confiam na língua, mesmo quando fazem coisas simples como distinguir manchas de cor, contar pontos em uma tela ou se orientar em uma pequena sala: meus colegas e eu descobrimos que, ao limitar a capacidade de acesso às faculdades linguísticas fluentes de um indivíduo, dando-lhe uma tarefa verbal que exige competição, como repetir uma notícia, prejudica a capacidade de executá-la. Isso significa que as categorias e as distinções que existem em determinados idiomas interferem amplamente em nossa vida mental. O que os pesquisadores vêm chamando de “pensamento” esse tempo todo na verdade parece ser uma reunião de ambos: processos linguísticos e não linguísticos. Assim, pode não existir grande quantidade de pensamento humano adulto quando a linguagem não desempenha um papel significativo. 

Uma característica marcante da inteligência humana é a sua adaptabilidade, a capacidade de inventar e reorganizar os conceitos do mundo de modo a se adequar às mudanças de metas e ambientes. Uma consequência dessa flexibilidade é a enorme diversidade de idiomas que surgiu ao redor do mundo. Cada um oferece o seu próprio conjunto de ferramentas cognitivas e engloba o conhecimento e a visão de mundo desenvolvidos ao longo de milhares de anos dentro de uma cultura. Cada um tem uma forma de perceber, classificar e fazer sentido no mundo, um guia inestimável desenvolvido e aperfeiçoado por nossos antepassados. A investigação sobre a forma como o idioma que falamos molda a nossa forma de pensar está ajudando os cientistas a desvendar o modo como criamos o conhecimento e construímos a realidade e como conseguimos ser tão inteligentes e sofisticados. E essa percepção ajuda- nos a compreender exatamente a essência daquilo que nos faz humanos.
Revista Scientific American Brasil

Notícias Geografia Hoje


Fases da Lua não favorecem ocorrência de terremotos, diz pesquisa
Estudo analisou mais de 200 eventos para desmentir crença popular


Existe um "mito" antigo de que grandes terremotos tendem a acontecer durante certas fases da lua ou certas ocasiões durante o ano. Contudo uma nova análise publicada na revista Seismological Research Letters confirma que essa “sabedoria” sobre os terremotos está incorreta.

Depois de combinar datas e fases lunares de 204 terremotos de magnitude igual ou maior que 8, Susan Hough, da Pesquisa Geológica dos EUA, concluiu que não há evidência de que as taxas de ocorrência de grandes terremotos seja afetada pela posição da terra em relação à Lua ou ao Sol.

Na verdade, os padrões que alguns observaram para conectar os grandes terremotos com momentos específicos do ciclo lunar “não são diferentes dos tipos de padrões que se teria se os dados fossem completamente aleatórios,” notou Hough

Para afirmar isso, Hough observou tanto os dias do ano quanto às fases lunares de 204 grandes terremotos do catálogo dos terremotos globais desde 1600. Para evitar a detecção de aglomerados de terremotos que estejam relacionados a outros fatores, ela escolheu focar sua pesquisa apenas nos dados de grandes terremotos, porque eles são menos propensos de serem um eco de um terremoto maior anterior.

Observar apenas grandes terremotos permitiu a Hough diminuir a lista a um número melhor de ser manejado, para poder associá-los às informações sobre as fases lunares encontradas em bancos de dados online.

Em sua análise, apareceram alguns aglomerados de terremotos em certos dias. Mas para testar se havia algum significado nos padrões que observava, ela selecionou aleatoriamente os dados dos terremotos para descobrir que tipo de padrões iriam aparecer. O padrão desses dados acidentais não foi diferente do tipo de padrão que apareceu no conjunto de dados originais, ela descobriu.

Isso não é uma descoberta incomum, notou Hough. “Quando se tem dados aleatórios, pode-se obter todos os tipos de sinais aparentes. É como quando se joga uma moeda: às vezes se pode obter cinco “caras” seguidas.”

Hough viu alguns “sinais” incomuns nos dados originais; por exemplo, o maior número de terremotos (16) que ocorreram no mesmo dia aconteceram sete dias depois da lua nova. Mas esse sinal não foi estatisticamente significante. “As marés lunares estariam em seu ponto mínimo nesse momento, então não há nenhum sentido físico”, ela notou.

Hough disse que a Lua e o Sol causam pressões de maré consistente na Terra - as quais resultam em ondulações através da própria Terra, não afetando as águas costeiras - e poderia ser possível que uma dessas pressões contribuísse de forma pequena para a formação dos terremotos.

Alguns pesquisadores mostraram antes que “em alguns casos há um pequeno efeito, nos locais onde há mais terremotos as pressões de maré costumam estar altas,” ela disse. “Mas se você ler esses artigos, você perceberá que os autores são muito cuidadosos. Eles nunca afirmam que os dados podem ser usados para a predição, porque a modulação é sempre muito pequena.”

A ideia de que a posição do Sol e da Lua no céu possa modular as taxas de terremotos existe há muito tempo na história, ela disse. “Eu li os arquivos de Charles Richter, os preditores escreviam para ele aos montes, porque ele era o único que as pessoas conheciam para escrever sobre isso...se você lê as cartas, elas são similares ao que as pessoas dizem atualmente, são as mesmas ideias”.

“Mais cedo ou mais tarde haverá outro terremoto durante a lua cheia e essa sabedoria aparecerá de novo ,” disse Hough. “Minha esperança é de que esse estudo sólido dará às pessoas algo para se basear, ele mostrará que ao longo do tempo, não há um histórico de grandes terremotos que aconteceram em luas cheias.”

Sociedade de Sismologia da América
Revista Scientific American Brasil

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