domingo, 4 de janeiro de 2015

Por que a Grécia volta a assustar a Europa?

Laurence Peter
BBC

Partido de esquerda Syriza é favorito para ganhar as eleições na Grécia, apontam pesquisas

A instabilidade política está de volta à Grécia após eleições antecipadas terem sido convocadas para o próximo dia 25 de janeiro. E a Europa acompanha atentamente a sucessão de acontecimentos no pequeno país mediterrâneo.

O partido de esquerda Syriza é o favorito para ganhar as eleições, apontam as sondagens.

A sigla, liderada por Alexis Tsipras, rejeita as medidas de austeridade impostas pela União Europeia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), culpados, em sua visão, pelo aumento do desemprego e da pobreza no país.

Mas por que a Grécia voltou a assustar a Europa? A BBC enumerou cinco perguntas para entender como o pequeno país mediterrâneo pode colocar novamente em risco o futuro do euro e do bloco comum europeu.
1. Por que a Grécia está em uma situação tão complicada?

Na sequência da adoção do euro em 2002, o governo grego aumentou a dívida pública aproveitando que a estabilidade da moeda única europeia permitia a tomada de empréstimos mais baratos.

Mas o aumento da dívida não foi acompanhado das medidas necessárias para combater a evasão fiscal e a ineficiência dos gastos da administração pública.

Assim, o déficit do país aumentou e, após a eclosão da crise financeira de 2008, o mundo ficou sabendo que a dívida grega era, na verdade, muito maior do que as autoridades divulgavam oficialmente.

Sem alternativas, a Grécia precisava de uma linha de crédito emergencial para evitar a moratória.

Em 2010, a União Europeia (UE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) concederam à Grécia um pacote de resgate de mais de US$ 130 bilhões (R$ 350 bilhões).

Em 2012 verificou-se que esses fundos não eram suficientes e um resgate adicional foi anunciado, desta vez no valor de mais de US$ 150 bilhões (R$ 404 bilhões). A contrapartida para a concessão do novo empréstimo era que o governo grego adotasse medidas rigorosas de austeridade para reduzir os gastos com saúde, educação e outros áreas.

O custo dessas medidas tem sido enorme, com cerca de um terço dos gregos em risco de pobreza e exclusão social e uma taxa de desemprego superior a 25%.
2. Mas as reformas não estavam funcionando?


Depois de seis anos de recessão, em 2014, a economia grega conseguiu crescer modesto 0,6%.

No entanto, a instabilidade política no país ameaça a frágil recuperação econômica.

As eleições tiveram de ser convocadas porque o primeiro-ministro Antonis Samaras não conseguiu que seu candidato – o ex-comissário europeu Stavros Dimas – fosse eleito presidente em três diferentes votações parlamentares.

Essa incerteza fez com que o custo do endividamento grego aumentasse e a bolsa de Atenas afundasse.

Nas pesquisas de intenção de voto, o Syriza aparece 3% à frente da coalizão de centro-direita Nova Democracia, encabeçada por Samaras.

Para ganhar a eleição, o Syriza disse que pretende renegociar o resgate grego, para que a dívida do país seja reduzida à metade.

As autoridades da UE e do FMI afirmam, no entanto, que Atenas deve continuar a implementar medidas de austeridade.

O resgate grego só deve continuar por mais dois meses, deixando o governo grego em uma encruzilhada.
3. A situação agora é tão grave quanto as crises gregas anteriores?


Provavelmente não. Em 2012 falava-se de uma saída da Grécia da moeda única, o que poderia contagiar e causar instabilidade em outras economias da zona do euro.

Muitos analistas acreditam que a UE tem feito o possível para evitar os piores cenários previstos há dois anos.

A UE tem agora o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), com um financiamento de mais de US$ 1,6 trilhão, podendo desembolsar assistência financeira, se necessário.

Além disso, na memória dos investidores, estão as palavras do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, que disse, em 2012, que iria fazer "o que fosse necessário" para salvar o euro.

Por outro lado, algumas das economias mais afetadas da zona do euro, como a Irlanda e a Espanha, parecem ter ultrapassado os piores momentos da crise e estão crescendo.

A própria Grécia conseguiu equilibrar seu orçamento, embora tenha uma enorme dívida de mais de US$ 350 bilhões (R$ 941 bilhões).
4. O que podemos esperar das eleições de janeiro?


A política grega está muito volátil neste momento e os eleitores mais receptivos a declarações antiausteridade.

O Syriza pode ganhar eleições, mas seria necessário formar uma coalizão para governar, o que poderia suavizar sua oposição à austeridade.

Por outro lado, uma vitória do Syriza poderia inspirar outras coligações de esquerda que já vem ganhando força na Europa, como o partido ‘Podemos’, na Espanha ou o ‘Die Linke’, na Alemanha.

As coalizões de extrema direita Frente Nacional, da França, e UKIP, no Reino Unido, também poderiam sair beneficiadas.

A instabilidade política pode atrasar o crescimento econômico que a Europa precisa desesperadamente para reduzir o desemprego e aumentar o investimento.
5. É possível que a Grécia abandone o euro?

O Syriza já disse que quer a permanência da Grécia no euro e, nos últimos anos, as principais economias da zona do euro, com a Alemanha à frente, têm investido muito tempo e dinheiro para que os países que adotam a moeda única se mantenham unidos.

Ainda assim, teme-se que haja uma crise de confiança na economia grega. No pior cenário, os gregos poderiam correr aos bancos para retirar suas economias, como aconteceu em 2012 no Chipre, país que teve de ser resgatado.

O temor de que um governo liderado pelo Syriza se recuse a pagar a dívida poderá levar o país para a moratória, minando a confiança dos investidores.

O BCE pode rejeitar outro resgate, o que forçaria o Banco Central grego a socorrer os bancos do país, uma situação que culminaria no abandono do euro.

Analistas acreditam que uma saída desordenada da moeda única europeia seria catastrófica para a Grécia, levando a inflação às alturas e prejudicando ainda mais a vida dos cidadãos do país.

No longo prazo, entretanto, uma saída do euro deixaria a economia grega mais competitiva, apesar de que o custo imediato seria muito alto para a estabilidade da zona do euro.
BBC Brasil

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