terça-feira, 6 de janeiro de 2015

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Projeto imobiliário quer lotear 20% da Ilha de Boipeba

DIEGO ZANCHETTA

Boipeba se mantém como um dos paraísos pouco explorados na costa sul baiana, ao contrário das vizinhas Morro de São Paulo e Trancoso, onde o turismo de resorts e grandes hotéis já impera desde o final dos anos 1990. A entrada de carros é vetada na ilha. O acesso, feito apenas por meio de lanchas voadoras que partem de Valença, também ajudou a frear a chegada do turismo predatório.

Um dos últimos paraísos no litoral brasileiro que preserva características típicas de vila de pescadores e um turismo ainda sustentável, a Ilha de Boipeba, no sul da Bahia, está prestes a receber um loteamento que vai ocupar 20% de sua área, considerada de preservação permanente pelo Ibama. O Projeto Turístico-Imobiliário Fazenda Ponta dos Castelhanos, em licenciamento no Inema (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos), prevê criar casas de veraneio, pousadas e campos de golfe na intocada Praia dos Castelhanos, hoje com acesso feito apenas por barcos e sem nenhuma pousada.

Boipeba se mantém como um dos paraísos pouco explorados na costa sul baiana, ao contrário das vizinhas Morro de São Paulo e Trancoso, onde o turismo de resorts e grandes hotéis já impera desde o final dos anos 1990. A entrada de carros é vetada na ilha. O acesso, feito apenas por meio de lanchas voadoras que partem de Valença, também ajudou a frear a chegada do turismo predatório.

Agora, porém, ambientalistas e nativos temem que o avanço do turismo de luxo que acabou com a áurea de praia hippie de Morro de São Paulo se repita em Boipeba. O projeto do loteamento, da empresa Mangaba Cultivo de Coco Ltda, prevê a construção na Praia dos Castelhanos de 69 lotes para residência fixa ou veraneio, condomínio com 32 casas, três pousadas, aeroporto, um pier para 153 embarcações, campo de golf de 18 buracos, além de parques de lazer, estradas e infra-estrutura de água e telefonia.

Além do empreendimento em Castelhanos, uma empresa tenta licenciar um outro condomínio na Praia da Cueira, uma das principais de Boipeba. Nesta virada de ano, por exemplo, a praia vai receber uma festa de música eletrônica para 5 mil pessoas – a ilha tem cerca de 6 mil habitantes.

Moradores criaram um abaixo-assinado para tentar barrar as obras em licenciamento no Inema. O Movimento Boipeba Viva também fez um apelo à 2013 Secretaria do Desenvolvimento Sustentável da Bahia para que o projeto seja barrado. Comunidades de pescadores artesanais, marisqueiras e quilombolas da Ilha de Boibepa também reivindicam um redesenho do projeto, com maior preservação da área de restinga. A previsão é de que a quantidade de lixo na ilha aumente em 260% com a chegada do loteamento.

Outro lado. A empresa que tenta fazer o loteamento na Praia dos Castelhanos diz ter o compromisso de fazer a conservação ambiental da ilha. “O empreendimento terá baixa ocupação e privacidade, harmonizando-se com a paisagem e o patrimônio natural insular, além de promover uma inserção regional positiva, gerando emprego e renda na comunidade de São Sebastião”, argumenta a empresa em seu estudo de impacto ambiental enviado aos órgãos ambientais baianos.

“O compromisso com a conservação ambiental traduz-se de diversas maneiras, sobretudo na manutenção de grandes áreas verdes com florestas, campos de mangaba, restingas, manguezais e áreas úmidas, bem como na recuperação das áreas degradadas e na proteção dos sítios de desova de tartaruga”, acrescenta a empresa Mangaba Cultivo de Coco Ltda.


A Praia Boca da Barra, em Boipeba: paraíso ameaçado pelo avanço do turismo de luxo
Jornal O Estado de S. Paulo

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