terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Supervulcão de Yellowstone é 2,5 vezes maior que se pensava, diz estudo

Rebecca Morelle
Repórter de Ciência da BBC


Lagos de água quente são provas da magma quente que está abaixo da superfície em Yellowstone

Um "supervulcão" que está abaixo do solo no Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, é muito maior do que se pensava inicialmente, segundo um estudo.

A pesquisa mostra que a câmera de magma é 2,5 vezes maior do que o apontado por um levantamento anterior. A caverna teria 90 quilômetros de largura e algo entre 2 e 15 quilômetros de altura, com 200 a 600 quilômetros cúbicos de rocha fundida.

Os dados foram apresentados durante um encontro da Sociedade Americana de Geofísica, de São Francisco.

"Nós estamos trabalhando lá há muito tempo, e sempre pensamos que ele poderia ser maior. Mas esta descoberta é estarrecedora", diz Bob Smith, pesquisador da Universidade de Utah.

Caso o supervulcão de Yellowstone entrasse em erupção, as consequências poderiam ser catastróficas. Na última vez que isso aconteceu – há 640 mil anos –, ele espalhou cinzas por todo o continente da América do Norte, afetando o clima do planeta.
Próxima erupção

Os cientistas acreditam que, com o novo estudo, passam a ter informações mais precisas sobre o supervulcão.

Eles usaram uma rede de sismógrafos espalhados pelo Parque Nacional para tentar mapear o conteúdo da câmera de magma.

"Nós registramos terremotos no Yellowstone e arredores e medimos as ondas sísmicas na medida em que passam pelo solo. As ondas viajam mais lentamente por material quente e fundido. Assim conseguimos medir o que está abaixo do solo", diz o pesquisador Jamie Farrell, também da Universidade de Utah.

Smith explica que apesar de o tamanho ser muito maior do que o medido em outros estudos, isso não aumenta os riscos para a fauna no Parque Nacional.

Ele disse também que não há forma de prever quando o supervulcão voltará a entrar em erupção.

Alguns acreditam que o vulcão deveria entrar em erupção a cada 700 mil anos, mas Smith acredita que é preciso coletar mais dados para sustentar essa teoria. Até agora, os cientistas só têm informações sobre três erupções passadas do supervulcão, ocorridas há 2,1 milhões, 1,3 milhão e 640 mil anos.

É apenas com base nestes registros que eles estimam esse intervalo de cerca de 700 mil anos entre erupções.
BBC Brasil

Notícias Geografia Hoje


Destituição de presidente agrava turbulência na Ucrânia; entenda

BBC BRASIL

A destituição, pelo Parlamento, do presidente Viktor Yanukovych aumentou, neste sábado, a turbulência sociopolítica na Ucrânia, após uma semana de sangrentos protestos na capital Kiev.

Yanukovych recusou-se a abandonar o governo e afirmou que a medida do Parlamento - que prevê eleições em maio - é um "golpe de Estado". Na prática, porém, a administração presidencial e a própria Kiev já estão fora de seu controle.

Ao mesmo tempo, a líder opositora e ex-premiê Yulia Tymoshenko foi libertada (após ter sido condenada, em 2011, a sete anos de prisão, por abuso de poder) e discursou a uma multidão na Praça da Independência, em Kiev, pedindo a continuação dos protestos.

Protestos na Ucrânia

Os desdobramentos deste sábado se seguem a três meses de protestos antigoverno. Em 18 de fevereiro, a violência dos enfrentamentos entre manifestantes e forças de segurança chegou a níveis inéditos - até o momento, o governo calcula 88 mortos na onda de confrontos.

A crise coloca em xeque o futuro dos 45 milhões de habitantes da Ucrânia, que ficam no meio de uma disputa de poder estratégica entre Rússia e o Ocidente.

A BBC Brasil fez um guia para explicar o que está em jogo:

O que motiva os protestos?

Os protestos começaram quando Yanukovych rejeitou, em novembro, um acordo com a União Europeia, preferindo uma aproximação comercial com a Rússia.

Milhares de pessoas - favoráveis à integração com a Europa - deram início a manifestações pacíficas e à ocupação da Praça da Independência.

Desde então, houve repressão policial aos protestos, a aprovação de leis restringindo as manifestações e a prisão de ativistas - fazendo com que as demonstrações antigoverno se intensificassem.

Muitas pessoas começaram a protestar menos por causa da integração à Europa e mais por temer que Yanukovych estivesse tentando servir aos seus próprios interesses e aos de Moscou.

O que causou a violência de fevereiro?

O derramamento de sangue de 20 de fevereiro foi o mais grave até o momento. Acredita-se que 77 pessoas tenham sido mortas e 600 feridas em 48 horas.

Vídeos mostram franco-atiradores disparando contra manifestantes. Os dois lados se culpam mutuamente, mas ainda não está claro quem atirou a primeira pedra ou disparou o primeiro tiro.

Governo e oposição fizeram, então, um acordo, que previa anistia a manifestantes presos e a desocupação, por parte dos opositores, de prédios estatais.

A oposição também pedia que o Parlamento discutisse mudanças na Constituição para reduzir os poderes presidenciais. Como isso não foi aceito, opositores promoveram manifestações diante do Legislativo.

Quem são os manifestantes?

Os protestos são mais fortes na região de Kiev e no oeste ucraniano (onde é maior a afinidade com a Europa e o Ocidente) do que no leste e no sul, onde fala-se russo graças à imigração durante o período soviético.

Os líderes de três partidos da oposição - Vitali Klitschko, do movimento Udar, pró-UE; Arseniy Yatsenyuk, do Fatherland, maior grupo opositor; e Oleh Tyahnybo, da extrema direita Svoboda- estão na Praça da Independência, tentando direcionar os protestos e angariar apoio.

Mas parte da população mantém sua desconfiança quanto a eles. O partido Fatherland, em especial, é criticado por seus anos recentes no governo e considerado como parte do establishment político.

Alguns grupos de extrema direita estão na dianteira dos confrontos com a polícia, mas não está claro se eles têm apoio de grande parte dos ucranianos.

O que está em jogo?

A crise na Ucrânia faz parte de um cenário maior. O presidente russo, Vladimir Putin, quer fazer de seu país uma potência global, que rivalize com EUA, China e UE. Para isso, ele está criando uniões aduaneiras com outros países e vê a Ucrânia como parte crucial disso - inclusive pelos profundos laços históricos e culturais entre ambos.

Já a UE defende que a aproximação com a Europa e eventual entrada no bloco europeu trariam bilhões de euros à Ucrânia, modernizando sua economia e dando-lhe acesso ao mercado comum europeu.

No leste, muitos ucranianos que trabalham em indústrias (fornecedoras da Rússia) temem perder seus empregos se Kiev se aproximar da Europa. Mas, no oeste, muitos anseiam pela prosperidade e pelo estado de direito que, acreditam, podem ser alcançados com acordos com a UE.

O país será dividido em dois?

Muito se fala das divisões linguísticas e culturais entre leste e oeste da Ucrânia.

Mapas mostram que áreas onde grande parte da população fala russo votaram em massa por Yanukovych em 2010. Para alguns analistas, isso indica que o país pode rachar ao meio, de forma violenta, caso não se negocie uma saída para a crise.

Outros alegam que essa divisão é improvável - e que, mesmo no leste pró-Rússia, muitos se identificam como ucranianos.

O que aconteceu com Yanukovych?

O presidente havia assinado um acordo com líderes da oposição, após conversas com chanceleres de três países europeus (França, Alemanha e Polônia).

Ele ofereceu eleições antecipadas (em dezembro) e a formação de uma nova coalizão de governo, dizendo-se preparado para reformar a Constituição e devolver mais poderes ao Parlamento.

Mas na noite deste sábado, a guarda armada ao redor dos escritórios governamentais sumiu; o destino de Yanukovych também se tornou incerto.

Aparentemente, ele deixou a capital, mas deu uma entrevista de TV insistindo que ainda está no poder.

Só que sua arquirrival Yulia Tymoshenko foi libertada e levada a Kiev, cidade que Yanukovych parece não mais controlar. Muitos de seu partido também parecem desertá-lo.

Qual o papel da Rússia?

A Rússia claramente tem uma forte influência sobre Yanukovych, o qual foi apoiado por Moscou durante a Revolução Laranja de 2004 - quando sua eleição foi considerada fraudulenta.

A Rússia suspendeu empréstimos quando o governo ucraniano renunciou e restringiu o comércio bilateral quando a Ucrânia flertou com o Ocidente. A UE chamou isso de pressão econômica "inaceitável".

Moscou acusa a UE de tentar fazer o mesmo ao oferecer acordos de livre comércio a Kiev.

Nos bastidores, acredita-se que esteja operando também a grande força de ricos oligarcas ucranianos. O mais rico deles, Rinat Akhmetov, emitiu comunicado apoiando protestos pacíficos. Outros oligarcas parecem apoiar Yanukovych. 

Folha de S.  Paulo

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Por que a crise na Ucrânia é importante?

Natalio Cosoy
BBC Mundo



Depois da trégua entre governo e oposição durar menos de um dia, manifestantes voltaram às ruas

Ao mesmo tempo que ameaçam a Ucrânia com sanções, Estados Unidos e União Européia pedem paz e diálogo. Enquanto isso, o presidente russo Vladimir Putin liga para o presidente ucraniano Viktor Yanukovych enquanto lhe envia dinheiro e baixa o preço do gás vendido ao país. Por fim, o vice-presidente americano, Joe Biden, também chama Yanukovych para que pedir que ele não reprima os manifestantes. O que é que a Ucrânia tem para que todos esses atores da cena política global estejam tão dispostos a agir?

Para muitos, o país é o vértice geográfico onde se disputa uma nova versão da Guerra Fria.

O conflito na Ucrânia já deixou ao menos 40 mortos e centenas de feridos nos últimos dias. Os choques entre manifestantes e a polícia se tornaram constantes, especialmente na capital, Kiev. E uma recente tentativa de trégua fracassou.

Tudo começou em novembro, quando Yanukovych decidiu recusar um acordo que aprofundaria os laços do país com a União Europeia (UE) e era negociado havia três anos. Em troca, o presidente preferiu se aproximar da Rússia. Ou tudo teria começado antes?
Pescoço paralisado

Durante quase todo o século 20, a Ucrânia fez parte da União Soviética, até sua independência em 1991.

Desde então, o país passou a olhar em uma outra direção, do Oriente para o Ocidente, da Rússia para a União Europeia, tendo os exemplos de Polônia, Eslováquia e Hungria - todos membros da União Europeia – em seu horizonte.

Mas a Ucrânia não completa esse movimento porque duas forças contrárias o paralisam.

De um lado, está a parte ocidental do país, onde vivem as gerações mais jovens e de onde partiu o movimento de aproximação da UE.

Do outro, está a parte oriental e sul, mais próxima da Rússia, onde se fala russo e não ucraniano e prevalece um sentimento de nostalgia dos anos de integração soviética.

Por fim, de cada um desses lados, existem os interesses e pressões de grandes potências mundiais.
O gás

Datas importantes

21 de novembro de 2013: a Ucrânia suspende as preparações de um acordo comercial com a União Européia; Começam os protestos.
30 de novembro de 2013: a polícia de choque age contra os manifestantes, deixando dezenas de pessoas feridas e intensificando a tensão no país.
17 de dezembro de 2013: a Rússia concorda em comprar títulos do governo da Ucrânia e em baixar os preços do gás vendido ao país.
25 de dezembro de 2013: há novos protestos depois que a jornalista e ativista contrária ao governo Tetyana Chornovol fica ferida.
19 de janeiro de 2014: os protestos ficam mais violentos; Manifestantes colocam fogo em ônibus da polícia e lançam coquetéis molotov, enquanto os policiais respondem com balas de borracha, gás lacrimogênio e canhões d’água; Vários morrem nos dias seguintes.
18 de fevereiro de 2014: o dia mais sangrento dos protestos, com a morte de vários manifestantes e policiais.
A Ucrânia depende da Rússia para abastecer-se de gás. Além disso, por seu território passam dutos que transportam os gás russo para a União Europeia.

Muitos analistas acreditam que a crise do gás ocorrida entre 2006 e 2009 foi uma consequência das tensões políticas que já existiam na época na Ucrânia, em razão da divergência quanto a aproximar-se da União Europeia ou da Rússia.

Essas tensões estavam no coração da Revolução Laranja de 2004, na qual o atual presidente Viktor Yanukovych perdeu poder enquanto líderes mais favoráveis ao Ocidente, como os políticos Viktor Yaschenko e Yulia Tymoshenko, subiram ao poder.

Mas esse políticos não conseguiram satisfazer as expectativas populares, o que levou Yanukovych a ganhar as eleições de 2010.

“Eram corruptos, incompetentes. Então as pessoas votaram em Viktor Yanukovych”, disse Edward Lucas, editor internacional da revista The Economist e autor do livro “A Nova Guerra Fria: a Rússia de Putin e sua ameaça ao Ocidente”, ao programa PM da Rádio 4 da BBC.

“Infelizmente, isso abriu a porta para a Rússia, e a Rússia forçou a Ucrânia a recusar o acordo comercial com a União Europeia e levou a Ucrânia para o seu lado”, acrescentou Lucas.

Em uma reunião em 17 de dezembro de 2013 entre Putin e Yanukovych, a Rússia se comprometeu a comprar o equivalente a R$ 36 bilhões em títulos do Estado ucraniano e a reduzir o preço do gás vendido ao país.
Parceiros comerciais


Vladimir Putin (dir.), presidente da Rússia, vê na Ucrânia do presidente Yanukovych uma parceira estratégica

A Rússia é o principal parceiro comercial da Ucrânia. Em 2012, segundo informações oficiais, as exportações do país para a Rússia foram de R$ 165 bilhões, enquanto as importações vindas da Rússia somaram R$ 203 bilhões.

Ao mesmo tempo, a UE representa um terço do comércio exterior da Ucrânia.

Em 2012, o país exportou R$ 48 bilhões para o bloco, do qual comprou produtos e serviços num valor total de R$ 78 bilhões, segundo números da Comissão Europeia.

A maioria das exportações ucranianas para o bloco são beneficiadas por um sistema de isenções tarifárias.
Esferas de influência

Mas, para Mark Mardell, editor da BBC para a América do Norte, o assunto vai além do comércio exterior. “A batalha pela Ucrânia é sobre a influência e o alcance do Ocidente no mundo”, diz.

“Desde a queda da União Soviética, a Rússia se enfraqueceu perante o Ocidente”, afirma Mandell. “Não apenas ex-aliados como Polônia ou República Tcheca hoje são parte da UE, mas também ex-membros da URSS, como Lituânia e Letônia, se uniram ao bloco. E agora um aliado histórico russo, a Sérvia, decidiu fazer o mesmo.”


O chanceler russo criticou a "interferência" do Ocidente na crise da Ucrânia

A Rússia não pretende dar o braço a torcer em relação à Ucrânia. O chanceler russo Sergei Lavrov disse nos últimos dias: “Muitos países ocidentais tentam interferir de todas as formas, encorajam a oposição a agir ilegalmente, até mesmo flertam com os militantes, dão ultimatos, ameaçam com sanções”.

Já em 2010, a Ucrânia firmou com a Rússia um acordo que determinou um desconto de 30% no gás russo vendido ao país. Em troca, a Ucrânia estendeu por 25 anos o arrendamento da cidade de Sebastopol, no Mar Negro, onde a Rússia tem uma importante base naval.

Os manifestantes contrários a Yanukovych acreditam além de tudo que o presidente está encaminhando o país rumo à sua inclusão na União Euroasiática, uma união alfandegária impulsionada por Putin, da qual fazem parte a Bielorrússia e o Cazaquistão.

Tanto Putin quanto Yanukovych negam essa acusação.
Fraqueza Ocidental

Lucas, da The Economist, acredita que Putin e sua equipe no Kremlin “nunca aceitaram os termos do acordo de 1991, após o colapso da União Soviética”.

“Eles querem recuperar uma parte da Europa que eles acreditam pertencer a eles, ser parte de sua esfera de influência”.

Se isso acontecesse, isso “pode abalar o fornecimento de gás e petróleo da Europa”, diz.

“O oeste do país não aceitará o mando de Moscou ou de Kiev, se for em nome de Moscou; eles travaram uma disputa de guerrilha por dez anos entre 1945 e 1955, que foi esmagada brutalmente por Stalin”.

Tanto Lucas quanto Mardell, da BBC, enxergam uma falta de firmeza nas posturas da União Europeia e dos EUA.

Para Mardell, a “Europa exibe fraquezas”, e “Barack Obama dá a entender que não se interessa pelo que acontece no exterior”.
Silêncio

“O som mais inquietante nas ruas de Kiev não é o dos tiros ou das explosões, mas o do silêncio”, disse Steve Rosenberg, enviado da BBC à Ucrânia, na última quarta-feira no rádio.

No centro da cidade, não havia automóveis, apenas pessoas caminhando pelas calçadas.

Era como se as coisas estivessem em suspenso, o ar parado, à espera de uma definição, se o país irá pender para o leste ou para o oeste.
BBC Brasil

Entenda a negociação entre Irã e Ocidente

Começa a 'parte difícil' de negociações entre Irã e Ocidente

Jonathan Marcus
Analista diplomático da BBC



Em novembro, P5+1 e Teerã chegaram a um acordo provisório

O Irã deu início nesta terça-feira, em Viena (Áustria), aos diálogos com seis potências mundiais, em busca de um acordo definitivo a respeito de seu programa nuclear.

É, agora, que começa a parte difícil.

Em novembro, o grupo P5+1 (China, França, Alemanha, Rússia, Reino Unido e EUA) e o Irã firmaram um acerto provisório, que limitava alguns aspectos do programa nuclear iraniano em troca de alívio às sanções internacionais.

O acerto estava longe do ideal, segundo muitos especialistas nucleares, por não suspender, por exemplo, o enriquecimento de urânio iraniano (antiga exigência do Conselho de Segurança da ONU). Mas o acordo conseguiu aumentar o acesso de inspetores internacionais e conter as atividades nucleares do país persa.

Só isso já é um progresso. No entanto, há pouco otimismo e muita desconfiança dos dois lados da mesa de negociação.

Ainda há incertezas quanto às intenções reais de Teerã. O país está preparado para reduzir seu programa nuclear a um nível mínimo para que todas as sanções sejam extintas, sua economia se levante e seu governo volte a ser um agente "comum" no mundo da política externa?

Ou o Irã quer apenas aliviar as sanções mas sem perder seu status de país nuclear, capaz em algum momento de avançar na busca pela bomba atômica (intenção negada por Teerã)?

Muito tem de ser resolvido para que se chegue a um acordo de longo prazo - desde complexas questões técnicas a fatores políticos e problemas internos. Confira alguns desses empecilhos:
Capacidade de enriquecimento

Muitos acreditam que o Irã tenha os conhecimentos técnicos para construir uma bomba - e nisso não há como voltar atrás.

Sob a ótica do Ocidente, o ideal seria que o Irã interrompesse totalmente o enriquecimento de urânio. É nisso que insistem autoridades israelenses.

Mas poucos dos analistas consultados pela BBC acreditam que essa interrupção vá acontecer.

Para eles, a meta de um acordo de longo prazo é estabelecer um nível de enriquecimento proporcional às necessidades práticas do Irã, sob supervisão internacional capaz de identificar com o máximo de tempo possível qualquer movimento iraniano em direção à bomba.

A meta seria reduzir a escala e escopo da capacidade iraniana de enriquecimento, reduzindo seu número de centrífugas para garantir que esse espaço de tempo seja o maior possível.
O reator de Arak


Reator de Arak está entre os entraves para um acordo entre Irã e potências globais

O reator de Arak, ainda em construção, é outra preocupação.

Quando entrar em operação, ele daria plutônio ao Irã, uma segunda rota possível em direção a uma arma nuclear.

Teerã alega não ter intenção de construir uma usina de reprocessamento para extrair o material necessário para tal, mas Arak permanece despertando desconfiança.

Para o Ocidente, o ideal seria que Arak fosse fechado ou substituído por um reator leve, de menor risco de proliferação nuclear.

O Irã já citou a possibilidade de fazer algumas alterações (não especificadas) no reator. Mas, novamente, seriam necessárias mais inspeções externas para averiguações.
Fatores em jogo

Essa inspeção ficaria a cargo da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que já expressou preocupações quanto a prévias pesquisas nucleares iranianas.

Dada a complexidade desses temas, é improvável que o avanço nas negociações seja rápido.

Existe a possibilidade de o acordo interino ser estendido por mais seis meses (ou mais) se necessário.

É possível chegar a um meio-termo que agrade tanto iranianos (mantendo um programa nuclear pacífico) e a comunidade internacional (assegurando que não haverá uma bomba atômica iraniana).

Mas muito depende de fatores externos: relações comerciais que desafiem as atuais sanções contra o Irã, por exemplo, podem estimular o Congresso americano a aprovar restrições mais duras - na contramão das atuais negociações e causando profundo descontentamento em Teerã.

Além disso, há a resistência interna dos ultraconservadores iranianos, bem como o papel de Teerã na guerra civil síria.

Em contrapartida, o fracasso das negociações poderia trazer novamente à tona insinuações de um ataque militar israelense contra o Irã.

E as consequências disso seriam sérias e imprevisíveis.
BBC Brasil

Corte de Haia põe fim a disputa histórica entre Chile e Peru

BBC Mundo
Governo do Chile e do Peru prometeram acatar a decisão da Corte de Justiça de Haia

A Corte Internacional de Justiça de Haia, na Holanda, colocou fim nesta segunda-feira a uma disputa marítima entre Chile e Peru que se arrastava havia mais de cem anos.

A nova delimitação diz respeito a uma faixa marítima de 38 mil km² de extensão, em uma região rica em recursos pesqueiros no oceano Pacífico.

A determinação do tribunal seguiu, até certo ponto, uma linha proposta pelo Chile, 80 milhas (128 quilômetros) mar adentro. Após esse ponto, foi estabelecida uma linha equidistante ao sudoeste, como haviam solicitado autoridades peruanas. Assim, o Peru recebeu uma região marítima que até então estava em mãos chilenas.

Em 2008, Lima apresentou à corte um processo exigindo a soberania em relação à área, argumentando que os limites marítimos nunca foram delimitados. Já o Chile alegava que estes limites foram especificados em dois tratados firmados nos anos de 1952 e 1954.

Muito importante na pesca de anchovas, a área vem sendo alvo de disputa desde a Guerra do Pacífico, que envolveu os dois países entre 1879 e 1883.
Anchovas

"A Corte estabelece que a fronteira siga uma linha paralela até as 80 milhas e, a partir de então, siga em direção sul até um ponto B, baixando (em linha reta e na altura das 200 milhas) até um ponto C", explicou o presidente da Corte Internacional de Justiça de Haia, Peter Tomka.

Apesar de a decisão ter sido vista como favorável ao Peru, muitos analistas chilenos ouvidos pela correspondente da BBC afirmaram que o setor pesqueiro do país não será afetado, já que a pesca de anchova seria realizada nas primeiras 12 milhas (cerca de 20 km) a partir da costa.

Ainda assim, a Confederação De Pescadores do Chile lamentou que o país tenha perdido "um terço de seu mar", por onde passava uma importante rota de recursos pesqueiros.


 
"A Corte estabelece que a fronteira siga uma linha paralela até as 80 milhas e, então, siga em direção sul até um ponto B, baixando (em linha reta e na altura das 200 milhas) até um ponto C"
BBC Brasil

Notícias Geografia Hoje


O valor da política industrial

Mauro Borges
 A política industrial brasileira, sintetizada no Plano Brasil Maior (PBM), é efetiva. Com objetivos claros, contribui para sustentar os resultados da indústria, coordenando decisões e expectativas. Como disse o ministro Fernando Pimentel, a quem tenho a honra de suceder, sem ela, "a nossa indústria teria mergulhado em grave recessão".

Do ponto de vista técnico, é impossível uma avaliação de efetividade, já que a breve série histórica não viabiliza análises sobre o que teria acontecido na ausência do PBM. Os números do desempenho industrial do último triênio são preocupantes. Por isso, o governo da presidenta Dilma implementou um vigoroso conjunto de medidas. É preciso destacar, porém, que o Brasil não está sozinho.

A fase recessiva da indústria é generalizada em economias desenvolvidas e emergentes. No terceiro trimestre de 2013, o crescimento da indústria de transformação brasileira foi de 2% em relação ao mesmo período de 2012. O crescimento médio mundial foi de 2,4%, enquanto o dos países desenvolvidos e emergentes (exceto China) foi de 0,9% e 2%, respectivamente. Na América Latina, os resultados também não foram animadores: no México, 1,3%; no Chile, -0,2%; na Colômbia, -3,5%; e na Argentina, 1,4%.

Em que consiste a política industrial brasileira para enfrentar esse contexto? Construímos três eixos estruturantes, tendo como alvo a produtividade: (i) redução de custos e incentivo à formalização; (ii) fortalecimento de cadeias produtivas e da inovação; e (iii) defesa do mercado interno e das exportações.

O primeiro eixo privilegia a redução do custo do trabalho e do capital. A desoneração da folha de pagamentos para setores manufatureiros intensivos em trabalho, construção civil, comércio e serviços contribuiu para a manutenção do emprego. A ampliação dos limites do Simples Nacional e do Microempreendedor Individual, por sua vez, resultou em menores custos tributários e maior formalização, elevando o número de optantes para 8,4 milhões de empresas e 3,8 milhões de microempreenderores.

A redução do custo do capital foi marcada pelo Programa de Sustentação do Investimento (PSI) e pela desoneração do IPI de bens de capital. Entre 2011 e 2013, o PSI desembolsou R$ 83,3 bilhões a juros negativos, em 82,3 mil operações industriais. Em favor do corte do custo dos insumos, destaque-se ainda a redução das tarifas de energia elétrica.

O segundo eixo estrutura-se em três blocos: (i) criação de regimes tributários especiais, que mitigam os efeitos do oneroso sistema tributário; (ii) programa Inova Empresa, que direciona R$ 32 bilhões para atender a uma demanda de mais de R$ 60 bilhões; e (iii) Pronatec Brasil Maior, que já qualificou mais de 90 mil trabalhadores industriais –a demanda para 2014 supera 500 mil.

O terceiro eixo, por fim, abrange instrumentos de isenção tributária e crédito às exportações, além de ações contra práticas desleais e ilegais de importações. Nesse sentido, inclui medidas para o aumento da eficácia dos mecanismos de defesa comercial em conformidade com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), aumentos tarifários seletivos e instrumentos tributários pró-exportação.

Sabemos que os desafios da competitividade industrial vão além do "chão de fábrica". Por meio do amplo programa de concessões, estamos enfrentando os gargalos de infraestrutura e logística.

Também sofremos com o processo de valorização das moedas dos países emergentes, do qual o Brasil foi um dos campeões. Entre 2002 e 2013, o real valorizou-se 58,1%, contra 41,3% do yuan e 7,8% do peso mexicano. Agora, o movimento de reposicionamento do câmbio é de longa maturação.
Ao longo do tempo, os efeitos da política industrial se tornarão mais nítidos e robustos, adequando-se ao processo de ajuste cambial. É preciso consistência e perseverança.

MAURO BORGES, 59, economista, é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior 
Folha de S. Paulo

Notícias Geografia Hoje

Análise: Violência 'consentida' abre caminho para racha da Ucrânia

DANIEL SANDFORD
DA BBC NEWS, EM SOCHI

O gatilho da recente violência em Kiev parece ter sido a sessão parlamentar da última terça-feira.

O porta-voz da Rada (parlamento), Volodymyr Rybak, se recusou a permitir o debate sobre a movimentação da oposição em prol de emendas à Constituição. Milhares de manifestantes foram à Rada para a sessão e, ao pressionarem a polícia de choque que protegia o Parlamento, o conflito começou.

O que veio a seguir foi impiedoso de ambas as partes. Ao menos 25 pessoas morreram e mais de 200 foram parar no hospital.

Isso não parece mais ser um debate democrático sobre a relação da Ucrânia com a Rússia. É uma violenta luta pelo poder. A violência foi contida - e acontece principalmente em uma área de 4 km2 no centro de Kiev -, mas a determinação dos manifestantes mais ativos não deve ser subestimada, assim como a determinação do Presidente Viktor Yanukovych de sobreviver.

É improvável que algum líder democrático da Europa Oriental ainda estivesse em seu posto se eventos semelhantes ocorressem nestes países. Mas, apesar dos manifestantes violentos, muitos deles inspirados pela política de extrema direita e agora focados na revolução, eles são poucos. Sozinhos não poderiam derrubar o governo.

Mas o que torna a crise tão séria é o apoio silencioso que muitos da Ucrânia oriental, particularmente em Lviv, estão dando à violência.

Isso significa que uma separação entre a Ucrânia oriental e a Ucrânia ocidental está sendo discutida abertamente, apesar de poucas pessoas afirmarem querer isso. Essa separação permitiria que aqueles ao leste continuassem próximos da Rússia e permitiria à Rússia tomar de volta a Crimeia, o que é muito importante para ela historicamente e estrategicamente.

Mas uma separação tranquila sem mais derramamento de sangue é improvável. Não está claro onde as fronteiras seriam. Então, há fortes razões para evitar uma separação já que ela pode levar a uma guerra civil.

Para essa guerra ser evitada, a oposição parlamentar e o governo precisarão em algum momento negociar um acordo, mas os líderes da oposição, Vitaly Klitschko e Arsenity Yatsenyuk, sabem que, se eles fizerem muitas concessões, isso seria visto como uma traição por manifestantes linha-dura.

Tudo isso se parece a um violento jogo de xadrez, e ninguém consegue enxergar muitos movimentos à frente para saber qual será seu resultado. 
Folha de S. Paulo

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

As projeções sobre o futuro da água

Entre as soluções ao aumento do consumo, está a precificação. Mas será que ela é a mais eficiente e adequada?

Fred Seifert*, em Ideia Sustentável

Apenas 2,5% da água existente em todo planeta é potável. Deste percentual, cerca de dois terços existem na forma de geleiras, o que nos deixa com menos de 1% disponível para consumo (Foto Wikipedia)

Há uma crescente preocupação com a disponibilidade da água nas próximas décadas. A apreensão tem sentido, já que grande parcela da população mundial ainda vive sem acesso à água potável e ao saneamento básico, situação que tende a piorar com o aumento populacional esperado. Entre as soluções propostas está a da precificação dos recursos hídricos, o que poderia implicar em custos significativos para diversos setores da indústria. Mas será esta solução puramente econômica é a definitiva?

Água: um recurso cada vez mais escasso


As Nações Unidas definiram 2013 como o ano mundial da cooperação pela água. A preocupação com o tema não é de forma alguma infundada. De acordo com dados da própria ONU, pelo menos 780 milhões de pessoas vivem sem acesso à água potável, enquanto 2,5 bilhões não possuem saneamento básico adequado.

As projeções para o ano de 2050 também são alarmantes. Enquanto a população mundial vai saltar dos atuais 7 bilhões para 9 bilhões, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que o aumento na utilização de água será da magnitude de 55%. Dessas pessoas, em torno de 40% viverão em regiões de severo estresse hídrico. Embora espera-se que um dos Objetivos do Milênio seja alcançado, reduzindo o número de pessoas sem acesso à água mais do que pela metade – de 780 milhões para 240 milhões, outro muito provavelmente não será. Em 2050, ainda serão 1,4 bilhão de pessoas sem saneamento básico.

Segundo informações da OCDE, as principais atividades responsáveis pela utilização dos recursos hídricos são a agricultura e a produção de alimentos (70%), seguidas pela indústria (20%), o que inclui a geração de energia. Os 10% restantes são gastos através do uso doméstico. O aumento populacional gerará uma pressão considerável na produção de alimentos e espera-se um crescimento de demanda na casa de 90% até 2050. A produção industrial não deve ficar muito atrás e só a geração de energia através da hidroeletricidade e outras fontes renováveis deve subir em torno de 60%.

A água doce é um dos ativos ambientais de valor inestimável para a vida humana e já a utilizamos em um nível superior ao que a natureza consegue repor. Apesar de nosso planeta ser, em grande parte, coberto por água, 97% desta está na forma de água salgada nos oceanos e apenas 2,5% é potável. Deste menor percentual, cerca de dois terços existem na forma de geleiras, o que nos deixa com menos de 1% de toda a água existente no globo disponível para consumo. Para piorar a situação, a maior parte dessa água potável se apresenta disponível em momentos inoportunos: monções e alagamentos. Além disso, 20% está localizada em locais muito remotos, longe do nosso alcance.

O resultado final é que apenas 0,2% dos recursos hídricos mundiais está efetivamente em uso, distribuído de modo bastante desigual, e um valor ainda menor, 0,13%, é renovável – precipitação em direção ao solo e posterior evaporação. A utilização a níveis atuais é insustentável e as previsões futuras, com aumento no consumo, tornam o cenário ainda mais preocupante. Para garantir a disponibilidade da água serão necessários mecanismos de controle e o desenvolvimento de tecnologias para aumento de eficiência.

A precificação da água no Brasil

Entre os mecanismos desenvolvidos para promover o uso eficiente dos recursos hídricos, talvez seja o da precificação aquele que ganhou maior popularidade. Muitos especialistas assumem que a determinação de um preço justo para a água é etapa necessária para garantir o consumo racional desse ativo ambiental. A ideia reside na teoria de que, havendo um preço, o usuário tem maior noção do valor do recurso e agirá de maneira mais prudente, aumentando sua eficiência e produtividade.

No Brasil, a água, de maneira geral, é tratada como bem público. De qualquer maneira, indústrias, agricultores, empresas de saneamento e qualquer pessoa que utilize a água proveniente de rios, lençóis freáticos e lagos precisa de uma outorga da Agência Nacional de Águas (ANA) para garantir o direito de uso. É através da gerência de outorga que, segundo a ANA, a agência realiza o controle qualitativo e quantitativo do uso da água.

Entretanto, já existem casos de cobranças pela utilização de recursos hídricos no país. De acordo com a Agência Nacional de Águas, o recolhimento está em vigor em alguns rios sob domínio da União e em rios, lagos e baías de responsabilidade estadual em Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e no Distrito Federal. O método utilizado é o volumétrico: o usuário paga de acordo com a quantidade utilizada, existindo um valor determinado em R$/m³.

Considerando uma universalização dessa cobrança em território nacional, o que parece ser uma tendência para os próximos anos, é possível a realização de alguns cálculos exploratórios para se determinar a magnitude do impacto dessa precificação no custo operacional e no valor de mercado de empresas de determinados setores:


(Gráfico: Ideia Sustentável)



Para a elaboração das contas, foram consideradas como variáveis: o volume médio de água utilizado pelas empresas nos últimos anos; o preço da água, baseado nos valores já cobrados no país e de acordo com a região de atuação da companhia; as porcentagens de água captada e reutilizada; e o horizonte temporal para a cobrança efetiva pelo uso de recursos hídricos, variando conforme o nível de estresse hídrico do local onde as plantas industriais se encontram. Não foi levado em conta a possibilidade de contaminação de nascentes e seu impacto reputacional. O resultado final foi dividido pelo valor de mercado das empresas (número de ações x valor das ações).

Conforme pode-se observar pelo gráfico, o impacto da precificação da água no market cap das empresas dos setores de alimentos, bebidas, energia, mineração, papel e celulose e siderurgia do IBOVESPA, que são intensivos no uso do recurso, varia entre 0,1% e 5,3%.

As diferenças intrassetoriais se explicam, basicamente, por uma melhor gestão hídrica e investimento em tecnologias para a redução do consumo e reaproveitamento da água. O caso mais expressivo é na indústria de alimentos processados, onde a empresa menos impactada, nas condições atuais, poderia ter seu valor reduzido em 0,6% após a imposição de um valor para água, enquanto que a que sofreu abalo teve seu market cap reduzido em 5,3%.

O caso do setor de bebidas é atípico. Embora seja uma indústria que utilize consideravelmente os recursos hídricos, a empresa listada no IBOVESPA é bastante eficiente tanto no uso quanto no reuso desse ativo. E, principalmente, o seu valor de mercado é tão alto que minora a extensão do impacto da precificação.

De qualquer modo, o preço da água pode ter um custo significativo para as corporações desses e de outros setores, aumentando custos operacionais, reduzindo margens e, consequentemente, afetando o seu valor de mercado. A eficiência na utilização dos recursos hídricos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento podem ser fatores de diferenciação consideráveis em um futuro próximo.

Precificação e mercado de água: solução inteligente ou saída mais fácil?

Como dito anteriormente, a determinação de um preço para a água se baseia no racional de que, ao se determinar um valor para esse recurso, ele seria utilizado com maior precaução, aumentando a eficiência no consumo, melhorando sua alocação e reduzindo seu uso. Contudo, ao se colocar o preço como único determinante da viabilidade de exploração de um ativo natural, todas as questões socioambientais são subjugadas pelas considerações econômicas. Dessa maneira, os valores estéticos, éticos e até mesmo, em alguns casos, espirituais dos rios, lagos e outras fontes são deixados de lado.

Em questões práticas de mercado, a criação do sistema de preços para a água e um subsequente mercado pode ter outros efeitos perniciosos. Nesse cenário, regiões abundantes em recursos hídricos e, por esse motivo, historicamente desenvolvidas, possuirão maior acesso à água a um preço mais baixo do que regiões de estresse hídrico, exatamente as que precisariam de água em valor mais baixo para se desenvolver. Ao mesmo tempo, empresas que acumularam maior capital financeiro e tecnológico, talvez até mesmo através da exploração abusiva de recursos naturais, possuirão enorme vantagem competitiva sobre companhias em desenvolvimento, seja na venda dos “créditos” para uso adicional de certos ativos quanto na obtenção desses ativos.

É muito improvável que lançando mão apenas de artifícios da mesma natureza daqueles que levaram à contínua depredação dos recursos naturais é que o problema do uso excessivo desses recursos seja resolvido. Faz-se necessária uma profunda revisão da questão do hiperconsumo e da ideia de desenvolvimento ilimitado, não condizente com um planeta de recursos finitos, o que envolve uma mudança de cultura e educação importantes. Além disso, é vital a criação de instrumentos que tragam considerações éticas, morais e estéticas para a determinação dos uso dos recursos naturais, incluindo a imposição de limites, definidos após extensa análise dos impactos em comunidades locais, fauna e flora.

A solução deve ir além dos simples incentivos econômicos que têm se provado, em sua maioria, insuficientes.

* Fred Seifert é economista pela UFRJ, consultor da SITAWI – Finanças do Bem desde agosto de 2011 e vencedor do Prêmio Itaú de Finanças Sustentáveis 2012 (fseifert@sitawi.net | www.sitawi.net).
Revista Fórum

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Notícias Geografia Hoje

Interesses econômicos e a energia nuclear no Brasil

Corporação estatal russa que engloba mais de 250 empresas e instituições científicas realizou, em junho de 2013, seminário sobre a sua experiência global no desenvolvimento e aplicação de tecnologias nucleares

 Heitor Scalambrini Costa, em Ecodebate
Planta nuclear da Rosatom na Rússia
Foto: WikiCommons

Em artigo na seção Debates do Jornal Folha de S.Paulo (14/01/2014), com o sugestivo título “Uma saída para o aquecimento”, o diretor do Instituto de Segurança Nuclear da Academia Russa de Ciências, Leonid Bolshov, aconselha o Brasil a construir usinas nucleares em seu território, para atender à crescente demanda por energia elétrica, devido ao crescimento econômico.

O Dr. Bolshov partiu de uma premissa polêmica, controversa e, para alguns, falsa: a ideia de que usinas nucleares não produzem gases de efeito estufa e, portanto, contribuem para refrear o aquecimento global. Ele comete um “deslize” técnico ao não considerar que uma usina nuclear, para funcionar, precisa do elemento combustível. E, para se chegar a esse elemento combustível, o minério de urânio passa por um conjunto processos industriais, do momento em que é encontrado em estado natural até a sua utilização em uma usina. É nesse ciclo do combustível nuclear que ocorre a emissão de gases de efeito estufa, em particular de CO2 (gás carbônico). Estudos internacionais mostram que é elevada a emissão desses gases por kWh produzido em uma usina nuclear.

O que nos chama mais a atenção nesse artigo de opinião do Dr. Bolshov é a “coincidência” desse “aconselhamento técnico” acontecer poucos meses após a visita ao Brasil, em junho de 2013, de representantes da Rosatom – a corporação estatal do setor nuclear russo.

A Rosatom engloba mais de 250 empresas e instituições científicas, incluindo todas as empresas civis nucleares da Rússia, as instalações do complexo de armas nucleares, organizações de pesquisa e a única frota de propulsão nuclear do mundo. E ocupa posição de liderança no mercado mundial de tecnologias nucleares.

No Brasil, em junho de 2013, a Rosatom, realizou um seminário sobre a sua experiência global no desenvolvimento e aplicação de tecnologias nucleares, que contou com a presença de executivos da Rosatom e de grandes empresas brasileiras, de autoridades da área nuclear, de representantes dos Ministérios das Minas e Energia e da Ciência e Tecnologia do Brasil, entre outros.

A mensagem da empresa foi clara: caso haja interesse por parte do governo brasileiro, a Rosatom está disposta a construir, operar e financiar investimentos em usinas atômicas no país, através de acordos do tipo BOO (sigla do inglês “construa, seja o dono e opere”, cuja pronúncia é “búu” – seria um alerta?). Por esses acordos, a empresa russa receberia ações da companhia dona das usinas, proveria expertise técnica e a maior parte do financiamento, construiria as unidades e operaria as instalações. Claro, desde que haja mudanças na Constituição Federal de 1988, pois os art. 21, inciso XXIII, e 177 garantem o monopólio da União para toda a cadeia do urânio – da mineração à geração de energia elétrica.

A cooperação russo-brasileira na esfera nuclear é regulada pelo Acordo Bilateral, assinado em 1994, entre o Governo da Federação da Rússia e o Governo da República Federativa do Brasil, o qual prevê uma parceria para usos pacíficos da energia nuclear. Em julho de 2009, os dois países concluíram um memorando de entendimentos para cooperação nuclear. E, em dezembro de 2011, a Rosatom Overseas, subsidiária da Rosatom, aderiu à Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan).

Bem, está se falando aqui de negócios bilionários, pois cada usina de 1.000 MW custa a bagatela de cinco bilhões de dólares (e o Plano Nacional de Energia 2030 prevê a construção de quatro dessas usinas). Cabe perguntar: será apenas coincidência a proximidade do artigo do Dr. Bolshov e a visita de negócios da Rosatom ao Brasil? Ou, mais uma vez, a “ciência” se subordina a interesses econômicos (e políticos)?

* Heitor Scalambrini Costa é professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco. Graduado em Física pela UNICAMP. Doutor em Energética na Univ. de Marselha/Comissariado de Energia Atômica-França
Revista Fórum

Notícias Geografia Hoje

Escassez de água pode comprometer absorção de CO2 na Amazônia, aponta estudo

Artigo divulgado pela revista Nature indica a hipótese. Cientistas estudaram a região por 2 anos
Redação
Em 2010, período de seca na Amazônia, emissão de carbono atingiu nível recorde: 510 milhões de toneladas (Foto: Wikipedia)

A Amazônia ganhou a capa da última edição da conceituada revista Nature. O motivo: um estudo inédito aponta que, em períodos de seca, a floresta tende a absorver quantidade menor de dióxido de carbono (CO2).

O artigo, produzido em conjunto por autores brasileiros, americanos e europeus, ligados a dez instituições de pesquisa, foi publicado na edição de quinta-feira (6). Ele se baseia em observações realizadas durante os anos de 2010 e 2011. Durante esse período de tempo, os pesquisadores sobrevoaram 80 vezes a área da Bacia Amazônica (uma média de duas por mês em cada uma de suas quatro regiões).

Em 2010, a Amazônia sofreu um período de seca. Nesse ano, por conta das queimadas, seu nível de emissões de CO2 atingiu a casa das 510 milhões de toneladas, um recorde. Em contrapartida, apenas 30 milhões de toneladas do gás foram absorvidas. Isso significa que as 480 milhões restantes acabaram na atmosfera.

Já em 2011, a situação variou bastante. Choveu mais do que a média prevista e 250 milhões de toneladas de CO2 foram absorvidas. O “superávit” constatado ficou entre os 50 e 60 milhões de toneladas. Nesse caso, a floresta funcionou como “sumidouro” do principal gás causador do efeito estufa.

Apesar dos fortes indícios da ligação entre quantidade de água disponível e absorção de carbono na Amazônia, os especialistas explicam que ainda é cedo para trabalhar com certezas. “É muito difícil com apenas dois anos de observação traçar uma relação precisa”, disse Luciana Vianni Gatti, química da USP e coautora do estudo, em entrevista à Deutsche Welle Brasil. As análises prosseguirão por mais um década. 
Revista Fórum

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Notícias Geografia Hoje


Mudanças climáticas ameaçam produção de alimentos

JUSTIN GILLIS
DO 'NEW YORK TIMES'


Para ter uma visão do que a mudança climática poderá causar ao suprimento alimentar no mundo, considere o que aconteceu na Europa em 2003, depois que uma onda de calor cortou a produção de algumas colheitas em até 30% e fez os preços dispararem.

Vários pesquisadores concluíram que a onda de calor europeia se tornou mais provável devido à mudança climática causada pelos seres humanos. Os cientistas ainda discutem sobre um período de calor e seca em 2012 nos EUA que reduziu a safra de milho. Sejam quais forem suas origens, ondas de calor como essas nos dão uma prova do que pode nos aguardar no futuro com o aquecimento global.

Entre os que estão ficando nervosos, há pessoas que passam a vida pensando de onde virá nossa comida. "Os impactos negativos da mudança climática global sobre a agricultura só deverão piorar", disse um relatório feito no início deste ano por pesquisadores da Escola de Economia de Londres e um grupo de pensadores de Washington, a Fundação para a Tecnologia da Informação e Inovação.

O relatório citou a necessidade de "colheitas e sistemas de produção agrícola mais resistentes do que os que possuímos hoje no mundo".

Esse talvez seja o maior temor isolado em relação ao aquecimento global: que a mudança climática possa desestabilizar de tal modo o sistema alimentar do mundo que haja o aumento da fome ou até a penúria em massa.

O esboço de um relatório vazado da comissão do clima da ONU, conhecida como Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática, sugeriu que as preocupações do grupo aumentaram e que esse relatório, marcado para lançamento em março em Yokohama, Japão, provavelmente incluirá uma firme advertência sobre os riscos ao abastecimento alimentar.

O tom é notadamente diferente do de um relatório do mesmo grupo de 2007, que discutia alguns riscos, mas via o aquecimento global como algo que provavelmente beneficiaria a agricultura em importantes regiões de plantio.

Desde então, novas pesquisas contiveram essas suposições.

Um grupo de cientistas desenvolveu maneiras mais sofisticadas de analisar a relação entre a agricultura e o clima. Seu trabalho sugere que o aumento do calor em algumas áreas de plantação já está causando uma redução da produção, e cresce a possibilidade de efeitos muito mais sérios conforme o aquecimento global continua.

Os cientistas há muito tempo esperavam que o efeito do calor e da água sobre as colheitas pudesse ser compensado pelo o que gera o aquecimento global: o aumento acentuado de dióxido de carbono no ar. Esse gás é o principal suprimento alimentar para as plantas, e um grande corpo de evidências sugeria que o aumento atual de CO2 poderia incentivar a produção das colheitas.

Mas muitas dessas evidências vieram de testes em ambientes artificiais como estufas. Cientistas mais jovens, que insistiram em testar as colheitas em condições naturais, mais parecidas com o mundo real, descobriram que o aumento da produção, embora real, não era tão grande quanto se esperava e talvez não fosse suficiente para compensar os outros estresses do aquecimento global.

O maior temor alimentar deste século ocorreu em 2007 e 2008. Vários anos de produção agrícola ineficiente, causados em parte por extremas condições climáticas, chocaram-se com a demanda crescente. Os preços dos principais cereais mais que duplicaram, países inteiros fecharam a porta das exportações alimentícias, houve pânico de compras em muitos mercados e tumultos em mais de 30 países.

A boa notícia é que a agricultura tem uma tremenda capacidade de se adaptar a novas condições, incluindo um clima mais quente. As colheitas podem ser plantadas mais cedo e novas variedades mais resistentes ao estresse climático podem ser desenvolvidas.

Mas especialistas dizem que a pesquisa necessária para fazer tudo isso acontecer está recebendo pouco estímulo. "Sucessos do passado na agricultura deram uma falsa sensação de segurança a muitos dos que estão em cargos de decisão", disse L. Val Giddings, membro adjunto do grupo de pensadores de Washington e coautor de seu relatório. "Faz muito tempo desde que algum deles realmente sentiu fome." 
Folha de S. Paulo

Notícias Geografia Hoje


União Europeia freia ambições em prol da energia limpa

STANLEY REED
STEPHEN CASTLE
MELISSA EDDY
"NEW YORK TIMES"

A União Europeia, que durante anos procurou liderar o mundo no combate às mudanças climáticas, estuda a possibilidade de converter suas metas obrigatórias de energia renovável em simples propostas não compulsórias.

E é provável que o bloco também não imponha restrições à exploração de gás de xisto com a técnica conhecida como fraturamento hidráulico (fracking), contestada por seu alto impacto ambiental.

O desaquecimento econômico profundo e de longa duração, os preços persistentemente altos das fontes de energia renováveis e os anos de negociações internacionais inconclusivas estão levando autoridades europeias a repensar como reformular agressivamente os setores de produção energética da Europa.

Os detalhes ainda estão sendo negociados em Bruxelas, mas autoridades dizem que a proposta energética e climática da Comissão Europeia provavelmente vai incluir uma meta compulsória de redução de emissões de 35% a 40% até 2030. Mas as metas seriam aplicadas à União Europeia como um todo, não a cada país individualmente, segundo um representante.

Gordon Welters/The New York Times

Parque eólico na Alemanha, onde autoridades estão decepcionadas com a ausência de metas compulsórias para a energia renovável


Alguns membros da Comissão queriam tornar não compulsórias as novas metas de energia renovável. Está em curso um esforço intenso de lobby, com defensores de diversos setores estudando detalhadamente os diferentes aspectos do pacote.

Jens Tartler, porta-voz da Federação Alemã de Energia Renovável, que representa o setor de energia solar e eólica, descreveu a ausência de metas compulsórias para as fontes de energia renováveis como "uma decepção total" e disse que isso irá "contribuir para uma forte desaceleração no ritmo de crescimento das energias renováveis".

Apesar disso, mesmo algumas fontes do setor de energia renovável dizem que o pacote que está emergindo é o melhor pelo qual se podia esperar, em vista do ambiente econômico difícil.

"Claro que as pessoas dizem que deveríamos estar fazendo mais, mas estamos avançando no rumo certo", diz Tom Murley, que administra fundos com US$ 1,15 bilhão em renováveis na HG Capital, em Londres.

As preocupações ambientais perderam espaço na agenda política. Os políticos estão tentando dar uma resposta às queixas do setor industrial e dos consumidores em relação aos custos da eletricidade na Europa, que subiram cerca de 40% desde 2005, enquanto nos EUA diminuíram no mesmo período.

A revolução do gás de xisto nos EUA suscitou um debate sobre se a Europa deve ou não explorar suas próprias reservas potenciais de xisto.

A Comissão Europeia parece tender a recomendações não compulsórias que governos de países como Reino Unido e Polônia, os mais ativos na busca do gás de xisto, poderão diluir ainda mais.

As propostas estão sendo influenciadas por discussões acirradas sobre o papel da energia nuclear na Europa. O plano da Alemanha de fechar suas usinas nucleares e ampliar seu setor de energia renovável vem enfrentando problemas. Os consumidores alemães enfrentam contas de eletricidade mais altas, e as empresas receiam que os custos da energia as estejam deixando em desvantagem.

Mesmo assim, políticos alemães expressaram receios quanto às propostas. Barbara Hendricks, a ministra do Meio Ambiente, disse: "A Europa precisa continuar a ser líder na proteção climática. Para isso, precisamos de metas inequívocas."
Folha de S. Paulo

Notícias Geografia Hoje


Países desenvolvidos exportam emissões de carbono


  "NEW YORK TIMES"

Durante sua vida útil, o iPhone 5S emite o equivalente a 70 kg de dióxido de carbono. A boa notícia: isso é 4 kg a menos do que o iPhone 5.

Seja como for, cerca de três quartos desse dióxido de carbono são considerados de responsabilidade não dos Estados Unidos, mas de lugares como China, Taiwan, Coreia do Sul e Mongólia Interior (região autônoma da China), onde o telefone e seus componentes são fabricados.

A globalização –a qual, no processo de "exportar" produção e emprego dos países ricos para os pobres, "exportou" também o dióxido de carbono emitido para a fabricação dos produtos- adiciona um novo aspecto à alocação das responsabilidades pela emissão de carbono na atmosfera: será que essas emissões devem ser de responsabilidade dos países fabricantes ou dos países para os quais os produtos se destinam?

Dois anos atrás, algumas das localidades mais ambientalmente corretas dos EUA solicitaram à seção americana do Instituto Ambiental de Estocolmo que calculasse suas emissões de carbono. Em vez de contabilizar o carbono que produziam, elas queriam um inventário das emissões geradas na fabricação, no transporte, na utilização e na eliminação do que é consumido nesses lugares.

O resultado surpreendeu. San Francisco, por exemplo, gerou em 2008 apenas 8 milhões de toneladas de CO2 ou equivalente. O consumo da cidade, por outro lado, acrescentou quase 22 milhões de toneladas de carbono à atmosfera. Usando medições baseadas no consumo, as emissões do Oregon saltaram em 2005 de 53 milhões para 78 milhões de toneladas. "As pessoas que nos contrataram se viam como muito 'verdes' e inovadoras", disse Frank Ackerman, que na época chefiava o Grupo de Economia Climática da entidade nos EUA. "Eles achavam que, por terem boas iniciativas em andamento, teriam um resultado menor, apesar de muitos dos produtos industriais por eles consumidos serem fabricados no exterior."

O foco no consumo faz sentido. Compreender o seu impacto sobre a mudança climática é um primeiro passo necessário para que as pessoas e as cidades, grandes ou pequenas, tomem medidas concretas para reduzir as emissões de carbono. Este novo tipo de cálculo, no entanto, pode ter um efeito imprevisto sobre a política internacional de mudança climática, deslocando a responsabilidade em escala global.

Enquanto a concentração de CO2 disparou no primeiro semestre de 2013 para o seu maior nível desde que os mastodontes vagavam pela Terra, há 3 milhões de anos, as Nações Unidas, contrariando todas as probabilidades, esperam que 2014 finalmente traga os avanços necessários para que as grandes nações cuspidoras de carbono cheguem a um acordo sobre um plano climático até 2015.

"Desafio os senhores a trazer promessas ousadas para a cúpula", disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ao convidar líderes mundiais para uma reunião em setembro próximo, em Nova York.

Um estudo publicado há dois anos na revista "PNAS", da Academia Nacional de Ciências dos EUA, observou que, entre 1990 e 2008, a globalização exportou o equivalente a 1,2 bilhão de toneladas de emissões de carbono por ano do mundo desenvolvido para nações em desenvolvimento.

Cálculos com critérios estritamente geográficos dão a impressão de que os países industriais avançados conseguiram estabilizar suas emissões de carbono.

Mas eles apenas transferiram o aumento para fora das suas fronteiras. As emissões de carbono criadas pelo consumo dos americanos são cerca de 8% superiores às emissões produzidas nos EUA, de acordo com os cientistas do Projeto Global do Carbono. Por outro lado, cerca de um quinto das emissões da China são de produtos consumidos fora de suas fronteiras.

A União Europeia, satisfeita com seus resultados ambientais nos cálculos habituais, com base no lugar onde o carbono é emitido, parece menos virtuosa sob uma lente baseada no consumo. Em 2011, os europeus emitiram apenas 3,6 bilhões de toneladas de CO2, mas 4,8 bilhões de toneladas foram jogados na atmosfera para a produção das coisas que os europeus consumiram.

Aqui está o dilema. A abordagem habitual, a qual está sendo considerada para contabilizar o custo do carbono "comercializado", consistiria em taxar as emissões registradas nas fronteiras. Não surpreende que países exportadores, como a China, não gostem dessa abordagem.

Um estudo recente corroborou a imposição de um imposto de carbono sobre as importações. Mas "a China tem tudo a perder", disse Glen Peters, do Centro para o Clima Internacional e a Pesquisa Ambiental, em Oslo. "Se a China trouxesse isso para as negociações, estaria permitindo que os EUA e Europa regulamentassem as exportações chinesas."

Outra pesquisa concluiu que a imposição de uma penalidade na fronteira incentivaria a China e outros países em desenvolvimento a tributarem suas próprias emissões de carbono –ficando com o dinheiro– em vez de deixar que outros as tributem. Mas, se o mundo quiser evitar uma mudança climática catastrófica, alguém –em algum lugar– deve arcar com o custo de consumir menos carbono. E ninguém está se voluntariando. 
Folha de S.Paulo

Notícias Geografia Hoje

Afeganistão luta contra desnutrição infantil

ROD NORDLAND
DO "NEW YORK TIMES" 


Lashkar Gah, Afeganistão


No hospital Bost, em Lashkar Gah, Bibi Sherina estava sentada num leito da enfermaria de desnutrição grave e aguda com seus dois filhos. Com apenas três meses de idade, Ahmed parecia maior que seu irmão Mohammad, que tinha um ano e meio e pesava menos de cinco quilos.

Outro leito era ocupado por Fatima, com menos de um ano de idade e tão desnutrida que seu coração estava entrando em falência. Os médicos disseram que a menina morreria em pouco tempo, a não ser que seu pai conseguisse dinheiro para levá-la a Cabul para uma cirurgia.

Hospitais afegãos como o Bost, na capital da província de Helman, vêm registrando forte aumento nos casos de desnutrição infantil grave.

Em todo o país, segundo cifras da ONU, o número desses casos cresceu 50% ou mais comparado a 2012.

Mesmo a capital registrou aumento. "Em 2001 a situação foi ainda pior, mas hoje estamos no pior momento desde aquele ano", disse Saifullah Abasin, diretor da enfermaria de desnutrição do hospital infantil Indira Gandhi, em Cabul.
Daniel Berehulak/The New York Times
Samiullah, de 8 meses, possui desnutrição crônica; ele está sendo tratado em hospital do Afeganistão


As razões do aumento ainda não estão claras. A maioria dos médicos e funcionários humanitários concorda que a guerra contínua e o deslocamento de refugiados estão contribuindo para a desnutrição. Para alguns, o número crescente de pacientes infantis pode ser um bom sinal, pelo menos em parte, pois indicaria que mais afegãos pobres estão ouvindo falar que há tratamento disponível.

Quase todas as vias de suprimento de alimentos sofrem problemas ou estão rompidas. Os esforços para informar a população sobre nutrição e saúde, com frequência, são dificultados por tradições conservadoras que mantêm as mulheres enclausuradas, sem acesso a qualquer pessoa de fora da família. A agricultura e as fontes tradicionais de apoio social foram prejudicadas pela guerra e pelo êxodo de refugiados para as cidades. Os programas de alimentação terapêutica foram comprometidos, na medida em que o fluxo de ajuda foi obstruído por tensões políticas ou violência.

Em nenhum lugar a situação parece ser tão obviamente grave quanto na enfermaria de desnutrição do hospital Bost, que vem recebendo 200 crianças por mês com desnutrição grave e aguda -quatro vezes mais que em janeiro de 2012, segundo a organização Médicos Sem Fronteiras, que fornece verbas e profissionais ao hospital, administrado por afegãos.

Um paciente, o garoto Ahmed Wali, de dois anos, apresentava kwashiorkor, condição resultante de deficiência de proteínas, com cabelos alaranjados, abdome distendido e pés inchados. Samiullah, bebê de oito meses, sofria de marasmo (desnutrição crônica), em que o rosto da criança parece o de um idoso enrugado.

No final do ano passado, a Médicos Sem Fronteiras ajudou o hospital Bost a quase dobrar o número de leitos na ala pediátrica, mas ainda não há leitos suficientes. Entre 40 e 50 crianças recebem tratamento a cada dia; cada leito geralmente é ocupado por duas crianças, pelo fato de elas serem tão pequenas. Quase 300 outras crianças seguem um programa de alimentação para pacientes ambulatoriais. O pediatra Mohammad Dawood disse que, entre junho e agosto, o hospital perdeu sete a oito pacientes infantis por mês por desnutrição, número que caiu para cinco em setembro.

Diferentemente das crises de desnutrição vistas em outros lugares do mundo, esta não está vinculada à escassez de alimentos específicos ou ao fracasso de safras. Além disso, os pais não aparecem subnutridos, mesmo quando seus filhos estão.

Os médicos que tratam das vítimas propõem muitas explicações. "Há minas terrestres nos campos, e eles não têm como chegar às suas plantações", disse Dawood. Para o médico Yar Mohammad Nizar Khan, diretor de pediatria do hospital Bost, a causa está na falta de aleitamento materno.
Daniel Berehulak/The New York Times
Noor Ahmad, 4, foi trazido ao hospital Bost para tratamento contra desnutrição


O acesso à água potável é difícil no país, e a maior parte do leite consumido é leite em pó. É uma receita para diarreia e outras condições que agravam a desnutrição.

Os casos de desnutrição aguda já chegam a mais de cem por mês no hospital infantil Indira Gandhi, em Cabul, com entre cinco e dez mortes mensais. Os casos dobraram desde 2012, disse o médico Aqa Mohammad Shirzad, encarregado dos programas de desnutrição pediátrica do hospital.

Cada um dos 17 leitos que o hospital tem para pacientes gravemente desnutridos está ocupado por pelo menos dois pacientes. A UTI contra desnutrição possui uma incubadora que não funciona, uma bomba de sucção e tubos de oxigênio (para máscaras respiratórias) utilizados sem suportes ou conexões adequadas. Recentemente, um garoto de cinco anos estava sendo tratado sobre um banco, porque o tubo de infusão não chegava até o leito. Faltavam duas vidraças na janela ao lado.

Este é o melhor hospital pediátrico do país, aquele para o qual o pai da menina Fatima foi orientado a levá-la para passar por cirurgia cardíaca. 
Folha de S. Paulo

Notícias Geografia Hoje



Flatulência de vacas provoca explosão na Alemanha


DA BBC BRASIL

O gás metano expelido por vacas provocou uma explosão em um celeiro na Alemanha na segunda-feira.

A explosão feriu um dos animais e danificou o teto do celeiro no vilarejo de Rasdorf, na região central do país.

O gás acumulou-se com a flatulência e arrotos expelidos por cerca de 90 vacas, que se acumulou no local. A polícia disse à agência de notícias Reuters que um foco de "energia elétrica estática provocou a explosão do gás".

Os serviços de emergência que visitaram à fazenda realizaram medições de gás metano no local.

Cada vaca é capaz de emitir 500 litros de gás metano por dia. O impacto ambiental da pecuária é alto, já que o metano é nocivo ao meio ambiente.

As vacas também expelem amônia, que pode danificar solo e água, devido ao nível tóxico de acidificação. 
Folha de São Paulo

Geografia e a Arte

Geografia e a Arte
Currais Novos