terça-feira, 5 de agosto de 2014

Buracos na Sibéria associados a mudanças climáticas

Derretimento do permafrost pode ter provocado aumento de pressão nas camadas sob a superfície do solo
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Um buraco siberiano apareceu misteriosamente e foi relatado em julho de 2014.


Tanya Lewis e LiveScience 

Um trio de misteriosos buracos no norte da Sibéria deu origem a muitas teorias, mas cientistas sugerem algumas explicações concretas.

De acordo com o jornal Siberian Times, em meados de julho pastores de renas encontraram uma cratera com aproximadamente 80 metros de largura, na Península de Yamal, cujo nome significa “fim do mundo”. Desde então, dois outros fenômenos – uma cratera de 15 metros no distrito de Taz e uma de 60 a 100 metros na Península de Taymyr – também foram relatados.

Nem alienígenas nem meteoritos provocaram essas estranhas cavidades, como alguns especulavam, mas a verdadeira explicação poderia ser igualmente empolgante. Cientistas russos investigaçam para descobrir mais.

Imagens aéreas do primeiro buraco mostram o local cercado por montes de terra solta que parecem ter sido removidos do buraco.

“Em minha opinião pessoal, isso é um tipo de sumidouro”, declarou Vladimir Romanovsky, geofísico que estuda o permafrost na University of Alaska Fairbanks. Sumidouros são buracos formados no chão quando a água não consegue ser drenada.

A água provavelmente veio do derretimento do permafrost ou de gelo, observa Romanovsky, que já falou com os cientistas russos que investigam o local. Mas enquanto a maioria dos sumidouros suga o material colapsado, “esse acabou entrando em erupção”, contou ele à LiveScience. “Isso sequer existe na literatura científica. Estamos lidando com algo completamente novo”, adicionou ele.

A princípio, o cientista polar Chris Fogwill da University of New South Wales, na Austrália, sugeriu que o primeiro buraco tivesse sido criado pelo colapso de um “pingo”, um grande aglomerado de gelo coberto por terra que normalmente se forma em regiões árticas e subárticas.

“Grandes buracos começaram a aparecer na Sibéria, e cientistas acreditam que o clima é a causa: http://t.co/4mExye7BR9 pic.twitter.com/bix07TBEka” – Sean Breslin (@Sean_Breslin), 29 de Julho de 2014

Kenji Yoshikawa, cientista ambiental da University of Alaska Fairbanks, também declarou acreditar que uma poça drenada e colapsada de “pingo” seja a explicação mais provável para a cratera da Península de Yamal. No Alaska existem “pingos” semelhantes no norte da Península Seward, e perto da cidade de Nuiqsut.

Mas Romanovksy declarou que o buraco não parece um “pingo” típico colapsado; esses fenômenos normalmente se formam a partir de montes maiores que colapsam após décadas, com todo o material caindo para dentro.

A partir da foto da cratera de Yamal, “é óbvio que parte do material foi ejetado pelo buraco”, aponta Romanovsky. Seus colegas russos que visitaram o local lhe disseram que a pilha de areia tinha mais de um metro de altura ao longo das bordas do buraco.

A formação da cratera provavelmente começou de maneira semelhante à de um sumidouro, onde a água (nesse caso, gelo ou permafrost derretido) se acumula em uma cavidade subterrânea, explicou Romanovsky. Mas em vez de o teto da cavidade colapsar, algo diferente ocorreu. A pressão aumentou, possivelmente oriunda do gás natural (metano), e acabou lançando lama para todos os lados quando o chão afundou. Anna Kurchatova, cientista do Centro de Pesquisa Científica Subártico da Rússia, fez uma observação semelhante ao Siberian Times.

A foto da borda da cratera mostra uma vegetação que não parece recente, o que sugere que o buraco talvez tenha vários anos de idade, observa Yoshikawa. Romanovsky acredita que a cratera possa ser mais recente, mas pesquisadores precisarão examinar imagens de alta resolução obtidas por satélites para descobrir exatamente quando a cratera apareceu.

E ainda restam muitas outras perguntas: se um sumidouro lançou material para fora, porque sua borda é tão redonda e regular? Será que havia gás suficiente para provocar uma erupção? E de onde veio esse gás?

De acordo com Romanovsky, essa parte da Sibéria contém campos profundos de gás, além de vários lagos pequenos que se formaram entre quatro e 10 mil atrás atrás, quando o clima era mais quente. Talvez esses estranhos buracos tenham se desenvolvido da mesma maneira que os sumidouros, expandindo-se mais tarde.

Domos de gás natural também existem nos Estados Unidos, localizados a leste do Rio Sagavanirktok, no norte do Alaska.

O desenvolvimento de sumidouros de permafrost poderia ser uma indicação do aquecimento global, alerta Romanovsky. “Se esse for o caso, provavelmente veremos isso acontecer com mais frequência”.
Scientific American Brasil

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