quarta-feira, 28 de maio de 2014

A indústria do fast-food faz seus trabalhadores passar fome

Recentemente, o presidente Obama elegeu a redução da desigualdade como o principal objetivo de seu segundo mandato. Em razão disso, ele deverá aumentar o salário mínimo, cuja estagnação de sete anos conduziu os funcionários de fast-food a lançar um movimento grevista que já atingiu mais de cem cidades norte-americanas
Thomas Frank


O motorista que, na saída de Durham, na Carolina do Norte, pega a estrada para Hillsborough penetra no coração de um estranho território. Mal deixou de ver no retrovisor as nobres torres da Universidade Duke e já se apresentam diante de seus olhos um McDonald’s, um Cracker Barel, um Wendy’s, um Chick-fil-A, um Arby’s, uma Waffle House, um Bojangles, um Biscuitville, um Subway, um Taco Bell e um Kentucky Fried Chicken (KFC) − todos os grandes nomes do fast-food enfileirados como num desfile em um trecho de quase 1,5 quilômetro. Se subirmos a pé essa ruidosa artéria de concreto e calorias, perceberemos que suas margens estão recobertas de papéis engordurados e copos de papelão. Mas a verdade é que a paisagem ali normalmente só é apreciada através de um para-brisa e com o som do rádio ao fundo. A presença de pedestres na beira da estrada tem o poder de confundir os motoristas, razão pela qual o jornalista que por lá passeia quase foi esmagado duas vezes.

Mas não foi um carro o que realmente me atingiu com toda a força; na verdade, foi uma visão: a compreensão espontânea daquilo que confere ao fast-food sua implacável eficácia. Uma rápida passagem pela Waffle House é suficiente para experimentar o que está em jogo nessa indústria. A construção modular, a produção de waffles em cadeia, as panelas de fritura duplas, os alinhamentos dos distribuidores de condimentos e mesmo a engenhosa tampinha de plástico sobre o copo de café, com seu bico derramador dobrável, concebido para que o cliente deguste sua bebida sem medo de derramar uma gota na camisa: muitos testemunhos da engenhosidade humana diante dos quais só podemos nos admirar. E, no entanto, esse concentrado de eficiência é obtido ao preço de um enorme desperdício – de combustível, ar condicionado, terra, dejetos. Em uma face, um responsável em engenharia industrial; na outra, uma profusão de recursos e de mão de obra explorados sem dó.

Pensamos com emoção no prodigioso esforço nacional que foi necessário despender para chegar a essa revolução da gastronomia de massa: as subvenções para a agricultura, os trabalhos de irrigação, os programas de construção de vias rápidas... Mas todos esses grandes canteiros de que o país se orgulha há oitenta anos não teriam servido no fim das contas apenas para construir uma nação de fábricas de comida abundante e de má qualidade, em suma, uma estrada de Hillsborough ampliada em escala continental? Tal impulso coletivo para permitir que alguns acumulem toneladas de dinheiro enquanto outros se esfalfam por um salário irrisório?

No verão norte-americano passado, em Durham, um evento excepcional sacudiu o setor de fast-food: uma greve. Uma ação ainda mais inesperada pelo fato de ter ocorrido num estado, a Carolina do Norte, conhecido por sua hostilidade visceral aos sindicatos e que se vangloria também de ser uma espécie de berço do fast-food, já que três gigantes do setor – o Hardee’s, o Bojangles e o Krispy Kreme – nasceram em seu solo.

O movimento partiu de um Burger King. Situado numa interseção viária no meio de lugar nenhum, o estabelecimento evoca mais um pequeno forte do Deserto dos tártaros que um restaurante. Uma manhã, às 6 horas, um punhado de empregados se alinhou diante da entrada do estabelecimento e começou a entoar: “Os direitos do trabalhador fazem parte dos direitos do homem!”. A essa hora da manhã, as mentes demoram para esquentar, então um novo slogan foi tentado: “Não dá para sobreviver com US$ 7,25!”, alusão ao salário mínimo por hora praticado no setor.

Os enviados das redes de notícias locais logo apareceram, assim como duas patrulhas de polícia. Um solitário cliente sentado numa mesa na janela do Burger King contemplava a cena. Quando foi chegando a hora do rush, motoristas buzinaram para demonstrar seu apoio.

No fim da manhã, os grevistas buscaram ampliar o movimento reunindo-se diante de um McDonald’s no centro de Durham, depois diante de um Little Caesar em uma estrada de oito pistas na cidade de Raleigh. Seu número cresceu a olhos vistos. Apinhados na beira da estrada, eles agitavam cartazes enquanto os filhos brincavam sob as árvores raquíticas que sobrevivem nessa zona periurbana. Caminhoneiros disparavam as buzinas como forma de solidariedade. Ouviram-se também alguns insultos, lançados por motoristas de picape ao passar.

A última etapa do dia aconteceu no KFC de Raleigh. Eram 16 horas; o calor do verão não fez amainar o ardor dos participantes do protesto, cujo número se elevava para 150. A eles se juntou o reverendo William Barber II, um líder local da Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês), que organiza reuniões semanais para denunciar a política repressiva do novo governador republicano Patrick McCrory, responsável por quase mil prisões de manifestantes desde que tomou posse em janeiro de 2013.

Com sua silhueta de colosso ligeiramente encurvada pela artrose e sua potente voz de baixo que intimida o barulho da cidade, o reverendo Barber discursou diante da multidão aglutinada em frente ao KFC. Pouco importa, disse ele, o número de horas de trabalho acumuladas: jamais um funcionário do setor chega a uma renda suficiente. O que os grevistas reclamam, acrescenta, é o direito de “dispor do fruto de seu trabalho”. A expressão não foi escolhida ao acaso: ela aparecia entre as reivindicações defendidas pelos afro-americanos nos estados do sul após o fim da escravidão. Explícita, a alusão assume todo sentido quando o orador emenda: “Vim aqui para lhes dizer que esse fruto está corrompido. O fruto está corrompido quando vocês trabalham num KFC e mal conseguem pagar o frango que preparam. O fruto está corrompido quando o trabalho de vocês consiste em alimentar outras pessoas, mas não lhes permite alimentar os próprios filhos”.

Muitas coisas foram escritas sobre o movimento social inédito que varre o setor de comida rápida nos Estados Unidos há mais de um ano, da Pensilvânia ao estado de Nova York, de Rhode Island à Carolina do Sul, e que culminou, em 5 de dezembro de 2013, em uma greve nacional em mais de cem cidades do país. Mas aquilo a que se assistiu naquele dia na Carolina do Norte não era uma greve no sentido tradicional da palavra. Em outros estados, as greves, apoiadas pelo poderoso Sindicato dos Empregados do Setor de Serviços (Seiu, na sigla em inglês), foram suficientemente significativas para levar ao fechamento de numerosos estabelecimentos. Nada do tipo foi visto em Durham e Raleigh, onde a luta se limitou a protestos coletivos esporádicos. Ali, poucos empregados pararam de trabalhar. E nenhum sindicato lhes deu força: o único apoio organizado veio de um coletivo de defesa dos moradores, a Action NC.

Também não é de surpreender que os trabalhadores do setor encontrados naquele dia na Carolina do Norte pareçam ignorar totalmente práticas de organização operária. Como reconheceu uma grevista, pouco à vontade em seus sapatos de salto alto, o conflito os pegou de surpresa. Ninguém estava preparado para o desafio físico que um piquete de greve representa. Ninguém, igualmente, pensou seriamente em dissuadir os consumidores de atravessar as portas do estabelecimento. E, quando o calor se tornou sufocante, alguns grevistas não hesitaram em retornar a seu local de trabalho para pedir uma bebida. Além disso, a maioria não imaginava nem por um segundo que sua ação poderia atrair a cólera de seu empregador – uma ingenuidade problemática, mas lógica num estado em que os direitos sindicais são, por assim dizer, inexistentes. De fato, a Carolina do Norte tem a menor taxa de sindicalização do país.

Mão de obra adulta e diplomada

De seu lado, as queixas eram perfeitamente consistentes. De vestido preto e crucifixo no pescoço, Willietta Dukes enfileira empregos em franquias de fast-food. Ela se declara devotada ao trabalho e preocupada em satisfazer o cliente. Mas, depois de ter passado dezesseis anos banhando-se em óleo de fritura e criando os dois filhos, ela ainda não tem os meios para conseguir um lugar para morar. É o filho mais velho que a abriga em seu quarto de hóspedes. Durante esse tempo, diz ela, seus empregadores se felicitaram ruidosamente pelos ganhos que alcançaram. Um dia, o gerente da equipe lhe confiou sua técnica de redução do estresse: de noite, em casa, entregar-se a um banho quente. “Mas eu não tenho nem casa!”, suspira. Recentemente, sua direção fez chegar até ela um comunicado – entregue pelo FedEx – colocando-a em alerta contra a malignidade dos sindicatos...

Lucia Garcia levou o filho de 6 anos ao piquete grevista do Burger King. Ela trabalha num McDonald’s de periferia onde a boa sorte lhe atribui US$ 7,95 por hora – 70 centavos acima do salário mínimo. Apesar desse privilégio e do fato de seu marido também trabalhar, ela e a família só não passam fome graças às cestas de alimentação da igreja − o cúmulo para alguém que serve hambúrgueres o dia inteiro. “É triste”, deixa escapar, “porque isso faz minhas filhas passar vergonha.”

Ninguém mais ignora a política salarial em vigor no setor de fast-food, que emprega 13 milhões de pessoas nos Estados Unidos. Todos conhecem o argumento utilizado para justificar essa política: os empregados são sobretudo jovens sem diploma, não têm família para sustentar e vivem esse primeiro emprego como uma chance para chegar a uma condição mais favorável. Trabalhar em um fast-food seria, em suma, uma espécie de serviço prestado à nação, uma versão do serviço militar.

Contudo, a condição dos empregados desse setor na Carolina do Norte demonstra a fraqueza desse conto infantil. Com frequência, são adultos em idade madura e ainda por cima pais e mães de família. Pelo menos um grevista entre os interrogados em Raleigh possuía um diploma universitário. Um trabalho é um trabalho e, nesses tempos de penúria, as empresas que fornecem alimentação de péssima qualidade, mas a preços acessíveis, constituem para muitos o único ganha-pão disponível, independentemente da idade ou da qualificação.

Os que retomam os elementos de linguagem do patronato da indústria de fast-food não têm a mínima ideia do esforço que este precisou despender para manter os salários num nível tão baixo. As condições salariais impostas ao pessoal foram elaboradas com um cuidado não menos meticuloso que as receitas de hambúrgueres ou as tampas dos copos. Elas decorrem de uma engenharia destinada a tornar os trabalhadores tão intercambiáveis quanto os frascos de maionese.

Em seu livro Fast-food nation,1 o jornalista Eric Schlosser descreve uma corrida maníaca para a padronização. Os alimentos chegam congelados ao restaurante antes de serem cozidos por máquinas infalíveis cuja utilização não requer nenhuma qualificação particular. “Empregos deliberadamente ‘desqualificados’ podem então ser ocupados por uma mão de obra de baixo custo”, escreve o jornalista. “A dependência em relação ao trabalhador ou à trabalhadora é grandemente atenuada pela facilidade com a qual ele ou ela podem ser substituídos.”

Nesse sentido, a designação de “restaurante” se revela inapropriada: as próprias empresas preferem a expressão “sistema alimentar”. E nem é preciso dizer que, em tal sistema, os sindicatos não são bem-vindos. Segundo Schlosser, o McDonald’s abrigava nos anos 1960 e 1970 um “comando volante” de funcionários superiores encarregados de abafar qualquer veleidade de sindicalização nos quatro cantos do país. Mais recentemente, em 2009, a Associação Nacional de Restaurantes (NRA, na sigla em inglês) realizou uma campanha estrondosa contra um projeto de lei que previa facilitar a criação de sindicatos nas empresas. Os chefes do hambúrguer mantêm assim um exército de temíveis lobistas, entre os quais figura na primeira fila Richard Berman, o fundador do Centro para a Liberdade do Consumidor, que inunda os meios de comunicação com discursos antissindicais e pregações em favor do direito inalienável de se empanturrar de comida nociva para a saúde.

De maneira geral, os americanos adoram os empresários que padronizam sua alimentação. Seu imaginário coletivo está impregnado da celebração dos grandes patriotas da formatação alimentar: o pioneiro do hambúrguer a 15 centavos, o inventor da falsa gastronomia mexicana, o gênio da pizzacozida em 30 segundos, o construtor de sanduíches de quatro andares etc. Tantos gloriosos benfeitores adulados pelos meios de comunicação, cujas memórias são disputadas nas livrarias e aos quais os candidatos à eleição presidencial não deixam jamais de prestar homenagem. Alguns deles, aliás, até concorreram à Casa Branca...

E depois há a tropa de pequenos patrões um pouco menos heroicos, chamados franqueados, que colocam sua ambição a serviço de uma marca e de um sistema concebidos por outra pessoa. Sem dúvida, jamais conhecerão a glória de um Harland Sanders, o fundador do império KFC; no entanto, também brilham por seu individualismo e seu senso de iniciativa, devotando-se sem descanso a qualquer novo conceito de pizza estilo esquimó ou de doce coberto de glacê ao gosto havaiano. Também a esses os Estados Unidos amam igualmente. Afinal, eles não seriam também “nossos vizinhos”, como sublinhou um editorialista da Fox News exasperado com o movimento de greve no setor de alimentação rápida? Como não reconhecer que eles “trabalharam duro a vida inteira e arriscaram as próprias posses” a fim de fazer prosperar o sonho americano, como lembrou alguns dias depois outro comentarista da mesma rede?

Franquias nas mãos de especuladores

Esses mitos representam uma arma poderosa. Mitt Romney lembrou-se disso durante a campanha eleitoral de 2012. Em discurso pronunciado em Chicago, o candidato republicano à Casa Branca exaltou o “espírito empreendedor” de James John Liautaud, fundador da cadeia Jimmy John’s Gourmet Sandwiches. Ele detalhou em seguida que os grandes homens com essa força moral “não esperam nada do Estado”, porque preferem “contar com eles próprios e dizer a si mesmos: ‘O que posso fazer para me tornar melhor? O que posso fazer para realizar os projetos que construo para mim mesmo e para minha família?’”.

Se os adeptos do progresso pessoal pelo sistema alimentar “não esperam nada do Estado”, este, em contrapartida, conta enormemente com eles. Prova disso são as estradas, os recolhimentos de dejetos e os empréstimos com taxa diferenciada que ele coloca graciosamente à disposição deles. Some-se a isso uma subvenção disfarçada. Na Carolina do Norte, assim como no resto do país, muitos assalariados do setor de fast-food – ou talvez a maior parte deles – recebem do poder público um vale-alimentação ou outras formas de doação em espécie. Quando os trabalhadores afirmam que não podem sobreviver com US$ 7,25 por hora, não há nada de exagero nisso: eles não estão efetivamente em condições de sobreviver com o salário mínimo, muito menos de “realizar” qualquer projeto que seja. Em suma, o governo utiliza o dinheiro do contribuinte para impedi-los de morrer de fome e para confortar os empregadores no desfrute dos lucros assim liberados.

Sabemos como funcionam os gigantes do setor: eles acumulam benefícios fabulosos, distribuem alimento de má qualidade e gratificam seus tenentes com bônus suntuosos. Além disso, eles pertencem cada vez mais a fundos de pensão ou a grupos de especuladores, aqueles mesmos que provocaram a crise sem fim graças à qual tantos trabalhadores não têm agora outra escolha senão batalhar por um emprego descartável em suas barracas de fritas.

O caso do Burger King ilustra perfeitamente esse mecanismo. O ex-número dois norte-americano do hambúrguer não passa hoje em dia de um brinquedo nas mãos dos banqueiros. Adquirida em 1997 pela Diageo, uma multinacional do álcool, a empresa foi revendida em 2002 para um consórcio financeiro que incluía o Goldman Sachs e o Bain Capital, o fundo de investimento criado por Romney. Em 2010, ela passou para o controle do fundo americano-brasileiro 3G Capital, que a precipitou numa decadência da qual ainda encontra dificuldade para se recuperar. Um longo e doloroso conflito com seus funcionários só pode lhe fazer bem.

Exemplos similares abundam. A cadeia de frango frito Bojangles de início atiçou a cobiça do Falfurrias Capital Partners, antes de ser engolida pelo fundo de investimento Advent International. O Sun Capital Partners possui as redes Friendly’s, Captain D’s, Johnny Rockets e Boston Market. O Fog Cutter Capital Group e o Consumer Capital Partners compraram respectivamente o Fatburger e o Smashburger. Quanto ao Roark Capital, proprietário do Arby’s, do Cinnabon, do Carvel e do Moe’s Southwest Grill, sua gana pelas franquias o conduziu logicamente a ter também uma companhia de coleta de dejetos, a Waste Pro.

Mesmo os franqueados que têm o simpático fast-food na esquina da rua não são mais totalmente simples “vizinhos”. Também entre eles o canto de sereia de Wall Street foi mais importante que o amor pelo cheiro de óleo queimado. O maior franqueado do Burger King é uma companhia comercial domiciliada em Syracuse, no estado de Nova York, que detém nada menos que 566 estabelecimentos. Seu presidente embolsou perto de US$ 2 milhões em 2011, incluídas as ações. Outro operador do Burger King, o Strategic Restaurants, caiu nas mãos do fundo de investimento Cerberus Capital Management, que coleciona participações em cerca de trezentas empresas do mundo inteiro. A Pizza Hut, por seu lado, cedeu sua principal franquia para a Merril Lynch, que em seguida a revendeu para o fundo Olympus Growth Fund V. Durante esse tempo, os acionistas do Valor Equity pegaram para si uma fatia do Little Caesar e da Dunkin Donuts por meio de sua filial Sizzling Platter.

Tanto no nível das marcas como no das franquias, o patronato do setor de fast-food da Carolina do Norte não disse uma palavra sobre a greve do ano passado. Por uma razão simples: admitir o descontentamento de sua mão de obra prejudicaria a imagem de um setor desejoso de aparecer como um artesão da felicidade familiar. Nada abala mais a reputação de um restaurante do que uma funcionária enraivecida postada na entrada queixando-se de não poder vacinar o filho de 6 meses por falta de condições financeiras.

Muda, a filial no entanto não deixou de enviar à frente de batalha seus cães de guarda. A greve mal acabara de eclodir quando o Instituto das Políticas de Emprego, um dos grupos de pressão dirigidos por Berman, comprou uma página inteira do Wall Street Journal. Acima da fotografia de um robô de cozinha japonês, uma mensagem publicitária proclamava que a ação dos grevistas não era “um combate contra a administração, mas um combate contra a tecnologia”. A mensagem subentendida não escapou aos trabalhadores: se eles insistissem, seria facilmente possível dispensá-los instalando autômatos em todos os fast-foods do país.

“Nós acreditamos nas pessoas”

Berman não está errado. Os jornalistas foram substituídos por blogueiros, os operários por robôs, os professores universitários por assistentes e por cursos pela internet. Por que o deus da eficácia pararia se a coisa está indo tão bem? Seria uma boa ideia se os líderes políticos se inserissem na lista...

Na Carolina do Norte, o setor de comida rápida deu nascimento a uma história lendária. A Boddie-Noell foi a primeira empresa a ter investido ali na abertura de um Hardee’s, nome de uma rede que vende hambúrgueres baratos copiados dos do McDonald’s. Ao longo dos anos, ela se tornou a maior franquia da marca nos Estados Unidos. Estranhamente, ela não foi comprada por um fundo de pensão e nunca ameaçou substituir seus funcionários por robôs. É um negócio familiar cujo lema – “Nós acreditamos nas pessoas” – parece ser levado a sério. Ela se orgulha de ter colocado em prática um serviço de aconselhamento encarregado de “fornecer apoio aos empregados que experimentam problemas pessoais ou profissionais”, os quais, pelo jeito, não desapareceram, já que vários funcionários da empresa se juntaram ao piquete de greve do Burger King.

A Boddie-Noell é também proprietária de uma plantação. Situado nos arredores de Nashville (Tennessee), o terreno de Rose Hill é enfeitado por uma casa-grande construída no final do século XVIII pelos ancestrais da família Boddie. Os altos e baixos que a plantação conheceu em sua história ilustram as vicissitudes do capitalismo norte-americano.

A família Boddie vendeu a Rose Hill no auge da depressão dos anos 1930, que não poupou o 1% mais rico. Ela pôde recomprar seu bem em 1979 graças às receitas do Hardee’s. Foi, portanto, a intercessão miraculosa do setor de comida rápida que permitiu aos herdeiros recuperar seu paraíso perdido. Hoje, a casa-grande se transformou em centro de conferências. Ela acolhe também festas de casamento para adeptos do folclore sulista.

Uma alameda de pés de mirtilo em flor conduz o visitante até um portal de ferro trabalhado que contém os brasões da dinastia Boddie. Mais longe, uma feérica mansão senhorial de paredes brancas imaculadas e um pórtico impecavelmente azul sustentado por quatro colunas majestosas. Tocamos a campainha, mas não há nenhum movimento. Rose Hill parece totalmente deserta. Ver essa morada suntuosa assim desabitada nesses dias de greve faz surgir outra visão, a de um mundo no qual os trabalhadores estarão mortos. Eles continuarão sem dúvida a mostrar um rosto sorridente nos fôlderes de suas companhias, mas a tecnologia e o mercado os terão tornado definitivamente intercambiáveis, cada um carregando uma bandeja prateada cheia de aperitivos fritos. 

BOX:



Colocar a culpa nos pobres 

Quanto Washington gasta para assegurar a sobrevivência dos trabalhadores e garantir ao mesmo tempo a competitividade do hambúrguer? Segundo o Projeto de Lei Nacional sobre o Emprego (Nelp, na sigla em inglês), ONG que defende os direitos dos assalariados modestos, os programas de assistência aos empregados do setor de fast-food alcançariam a cifra de US$ 7 bilhões por ano. Tal subvenção para o patronato pode chocar em um país que viu tantos trabalhadores afundarem no pântano da pobreza ao longo dos cinco últimos anos. A inquietação dos norte-americanos a esse respeito demora, contudo, a encontrar uma tradução política. A maioria democrata no Senado e os que rodeiam o presidente Barack Obama com certeza anunciaram que apoiavam a ideia de um aumento do salário mínimo para US$ 10 a hora, mas sua pusilanimidade e a obstrução dos republicanos ainda bloqueiam qualquer avanço.

A direita apavora-se com a ideia de que a crise atual provoque turbulências políticas semelhantes àquelas que marcaram a Grande Depressão dos anos 1930. Por esse motivo, ela se empenha obstinadamente em incriminar os pobres e em fazê-los suportar o custo da recessão. Aos olhos dos conservadores, a existência de trabalhadores tão mal pagos que não conseguem assegurar sua sobrevivência sem as ajudas do governo não significa de forma alguma que eles deveriam receber um salário melhor ou exercer seus direitos sindicais, mas, ao contrário, que é preciso suprimir... as ajudas do governo.

Em outubro, os republicanos fizeram passar na Câmara dos Representantes – onde são majoritários – um texto que limita drasticamente os programas de ajuda-alimentação. Talvez eles imaginem que, fatiando os últimos dispositivos de assistência, incitarão os trabalhadores a contar mais “com eles mesmos”. (T.F.)

Thomas Frank
Jornalista, autor de Pourquoi les pauvres votent à droite. Comment les conservateurs ont gagné le coeur des Etats-Unis (et celui des autres pays riches) [Por que os pobres votam na direita. Como os conservadores ganharam o coração dos Estados Unidos (e o dos outros países ricos), Agone, Marselha, 2008. Acaba de publicar Pity the billionaire: the hard-times swindle and the unlikely comeback of the right [Pobre bilionário: o embuste dos tempos difíceis e o improvável retorno da direita], Metropolitan Books, Nova York, 2012.

Ilustração: Alves

1 Eric Schlosser, Fast-food nation: the dark side of the all-American meal (O país do fast-food: o lado obscuro de uma refeição tipicamente norte-americana), Houghton Mifflin, Boston, 2001.
Le Monde Diplomatique Brasil

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Diáspora: descubra como os judeus se espalharam pelo mundo


Eles se distribuíram por mais de 100 países e ainda assim conseguiram manter vivos seus valores e tradições

Texto Eduardo Szklarz | Ilustrações Marcos Rufino

Os judeus são o único povo que nasceu com o dever divino de habitar uma região do planeta: Canaã (Israel). No entanto, ao longo de seus 4 mil anos de história, eles se tornaram a nação mais cosmopolita do mundo. As comunidades judaicas hoje se espalham em mais de 100 países - do México à Inglaterra, do Cazaquistão à África do Sul, de Cuba ao Japão. Com exceção de Israel, os judeus têm vivido como minorias em todos esses lugares.

"A história judaica é marcada por sucessivas dispersões e diásporas dentro de diásporas", diz Luis S. Krausz, professor de Literatura Hebraica e Judaica na Universidade de São Paulo (USP). "Essa história começa com a destruição do Templo de Salomão pelo rei Nabucodonosor, no século 6 a.C., quando os judeus foram levados ao cativeiro na Babilônia. E continua até o século 20, com a dispersão e o genocídio dos judeus da Europa."

Tantas travessias produziram uma diversidade de grupos judaicos que cristalizaram costumes, idiomas e culinárias dos lugares onde viveram. E também contribuíram para enriquecer as culturas locais. Nesta reportagem, vamos viajar pelos momentos mais importantes da saga judaica através das fronteiras.


Babilônia e Império Romano

Os judeus botaram o pé no mundo em 587 a.C., quando o rei babilônio Nabucodonosor invadiu o antigo reino de Judá (ao sul de Israel). O monarca arrasou Jerusalém e mandou parte de seus habitantes para a Babilônia, na Mesopotâmia (hoje Iraque). Mas o que havia sido um degredo imposto à força contribuiu para o florescimento do judaísmo. "Foi durante o exílio que se impôs pela primeira vez a todos os judeus a prática regular de sua religião", diz o historiador britânico Paul Johnson no livro História dos Judeus.

"Também foi reforçado o ritual da circuncisão, que os distinguia dos pagãos, e o costume do shabat (dia do descanso)", diz Johnson. Os escribas redigiram as tradições orais e compilaram os pergaminhos vindos do templo destruído. O calendário judaico se aprimorou com a astronomia babilônica e incluiu festas como o Pessach (Páscoa), que recorda a saída dos hebreus da escravidão no Egito. Apenas 50 anos depois, em 538 a.C., o rei persa Ciro permitiu a volta dos judeus a Jerusalém e a reconstrução do templo. "Muitos preferiram ficar na Babilônia, que permaneceu como um centro da cultura judaica por 1,5 mil anos", diz Johnson. Em 63 a.C., uma nova reviravolta. O general Pompeu invadiu a Judeia e a transformou em província do Império Romano. Terminava assim o reino dos Hasmoneus - o último país judeu independente que existiu até a criação do Israel moderno, em 1948.

A tensão culminou com uma rebelião. Em 70, o general romano Tito reprimiu os revoltosos, destruiu o segundo templo e mandou os judeus a uma nova diáspora, que alcançou a Ásia, a Europa e o norte da África. Mas ao contrário dos anos na Babilônia, o exílio nos domínios romanos marcou o início das perseguições. "Os romanos não toleravam o culto judaico a um Deus único nem costumes como o shabat", diz o historiador francês Gerald Messadié no livro História Geral do Antissemitismo. A situação piorou com a conversão do imperador Constantino ao cristianismo, no século 4. Em 325, o Concílio de Niceia acusou os judeus pela morte de Jesus, o que serviu de base para o mito medieval de que tinham poderes sobrenaturais e eram aliados do diabo. Nas terras da cristandade, os judeus foram proibidos de exercer funções públicas, ter empregados e se casar com não judeus. Qualquer semelhança com as Leis de Nuremberg, promulgadas em 1935 pelo nazismo, não é coincidência.

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Os sefaradim

No século 9, a comunidade judaica da Babilônia começou a declinar e muitos rumaram para outros cantos do globo. Parte foi para o norte da África, à região que hoje corresponde a Argélia, Marrocos, Sahara Ocidental e Mauritânia. Lá se assentaram nos domínios de duas tribos muçulmanas: os berberes, que eram exímios guerreiros; e os mouros, mais tolerantes, que se dedicavam ao comércio, ao artesanato e à ciência.

Como os exércitos mouros estavam em franca expansão pela Espanha, os judeus pegaram carona com eles - e ficaram conhecidos como sefaradim (de Sefarad, "Espanha" em hebraico). Produziram uma língua própria, o ladino, impregnando de vocábulos hebraicos o espanhol medieval. A união entre mouros, judeus e ciganos daria origem ao flamenco, que até hoje é tocado e bailado como um hino à liberdade.

Nos demais países muçulmanos, os judeus viviam como cidadãos de segunda classe. Podiam seguir suas crenças nos dhimmis (comunidades protegidas) desde que pagassem impostos. Seu status era superior ao de pagãos e escravos. "No mundo islâmico, os judeus desfrutaram de prosperidade nos séculos 10, 11 e 12. Houve explosões de violência contra eles, mas esporádicas e locais", diz o historiador britânico Nicholas de Lange em Povo Judeu. Alguns chegavam a ser ministros dos califas. O rabino Maomônides (1135-1204), um grande filósofo da Idade Média, foi médico dos sultões do Egito. "No século 13, quando o mundo muçulmano passou a sofrer pressões dos cristãos no oeste e dos mongóis no leste, a condição dos judeus piorou de forma dramática", diz Lange. "Os líderes islâmicos deram carta branca à intolerância religiosa.

" Pior: no século 15, Fernando de Aragão e Isabel de Castela (os reis católicos) se uniram para acabar com o domínio muçulmano no sul da Espanha. A Santa Inquisição queimava judeus como "hereges" e pilhava seus bens. Em 1492, os reis católicos derrotaram Granada, o último bastião mouro na Península Ibérica. E expulsaram os judeus que não aceitassem a conversão imediata à fé cristã. Os que quiseram praticar o judaísmo de forma aberta emigraram para o Império Otomano, que abrangia a Turquia, o norte da África e o Oriente Médio. "A maioria, cerca de 100 mil, optou pela solução mais fácil: fugir para Portugal", diz Lange. "Foi uma decisão equivocada. Cinco anos depois, o rei dom Manuel batizou os judeus à força."

Os convertidos, os "cristãos-novos", continuaram sendo alvo de suspeita dos inquisidores. Tanto que ficaram conhecidos como marranos ("porcos", em espanhol) ou anussim ("forçados", em hebraico). "Para muitos, a saída foi praticar o judaísmo secretamente, correndo risco de vida", diz o escritor americano-português Richard Zimler, autor de vários livros sobre o tema. Outros botaram o pé no mundo e se fixaram em todo o arco mediterrâneo, sul da França, Holanda, Inglaterra e norte da Alemanha.

Segundo Johnson, a diáspora sefaradim mobilizou judeus do mundo inteiro. A chegada de refugiados a uma cidade provocava a expulsão dos que lá viviam. "Muitos judeus converteram-se em vendedores ambulantes", diz. Vem dessa época a lenda antissemita do Judeu Errante, o sujeito que teria negado água a Jesus no trajeto até a crucificação e por isso havia sido condenado a uma vida sem rumo. O primeiro gueto da história, em Veneza, data de 1516. Outros "cristãos-novos" vieram para o Brasil, trabalhar em Minas Gerais ou nos engenhos de Pernambuco. Em 1636, fundaram no Recife a primeira sinagoga das Américas sob a bênção dos holandeses.

Os ashkenazim

A saga dos sefaradim foi simultânea à de outro importante grupo: os ashkenazim (do hebraico medieval Ashkenaz, "Alemanha"). Eles se assentaram entre a Alemanha e a França, ao longo do Vale do Reno, a partir do século 8, incentivados pelo imperador Carlos Magno. A maioria se dedicava ao artesanato, à fabricação de vinhos e ao comércio - conheciam como poucos as rotas para o Mediterrâneo e o Oriente Médio.

"No século 13, muitos ashkenazim foram para a Polônia atraídos pelas oportunidades econômicas", diz Lange. "Tinham em suas mãos a maior parte do comércio." A idade dourada dos ashkenazim acabou em 1648, ao serem alvo de uma rebelião dos cossacos, vindos da Rússia e da Ucrânia, que investiram contra os judeus, matando perto de 100 mil e dizimando 300 comunidades. O antissemitismo tornou a Europa um lugar perigoso. Judeus já haviam sido expulsos da Inglaterra em 1290 e da França em 1306.

"A ausência de um Estado fez com que construíssem sua identidade com base em parâmetros mais religiosos e étnicos do que nacionais ou territoriais", diz Krausz. Em geral, viviam como estrangeiros, apenas tolerados. Não podiam reivindicar os direitos dos outros cidadãos e pagavam impostos abusivos. Não tinham terras nem participavam de corporações de ofícios, que só aceitavam cristãos. "Restava-lhes o pequeno comércio e a lida com o dinheiro", diz Krausz. Os ashkenazim chegaram à Lituânia, Ucrânia, Moldávia e Rússia. Viviam num vilarejo semi-isolado, o shtetl. Assim como os sefaradim, criaram seu dialeto: o ídiche, que mescla alemão medieval com termos hebraicos e eslavos.

A emancipação

Quando os ventos da Revolução Francesa sopraram na Europa, os judeus puderam sair do gueto e conquistar a cidadania. Figuras como Albert Einstein e Sigmund Freud moldaram o pensamento do Ocidente. Mas, se por um lado o século 19 trouxe emancipação, também instigou o nacionalismo. Os modernos Estados-nação acusaram os judeus de não participar da cultura majoritária e, portanto, da identidade nacional.

A Rússia virou palco do pogrom - uma perseguição insuflada pelos czares. Algumas matanças acabaram com shtetls inteiros e motivaram levas de emigrantes para ir para os EUA. A partir de 1880, milhares de ashkenazim retornaram ao ponto de partida, a Palestina. A Inglaterra assumiu o controle da região após a Primeira Guerra e impôs restrições à imigração, apesar de defender um lar nacional para os judeus bem ali, onde Davi havia governado 3 mil anos antes. A imigração aumentou nos anos 30, com o fluxo de judeus que fugiam do nazismo.

Após a criação de Israel, em 1948, judeus foram expulsos de países árabes onde residiam havia séculos. No Egito, que tinha 65 mil judeus em 1937, restaram menos de 100. Na Líbia, nenhum. "Quando meu pai era menino na Polônia, as ruas eram cobertas de pichações dizendo: `Judeus, vão para a Palestina! Quando voltou, em visita à Europa 50 anos mais tarde, os muros estavam cobertos de pichações dizendo: `Judeus, saiam da Palestina!¿", recorda o escritor israelense Amós Oz no livro Contra o Fanatismo.

Os muitos judeus

Os sefaradim e ashkenazim são os principais grupos, mas há outros

Italianos

Vivem na península da Itália desde a destruição do segundo templo, no ano 70. A eles se juntaram sefaradim deportados da Espanha e de Portugal no século 15.

Norte da África

São descendentes dos judeus que se assentaram ali por volta do século 9. Também foram expulsos após a criação de Israel. Na Líbia, por exemplo, não restou um único judeu. No Egito, menos de 100.

Mizrahim

Viveram no Iraque, Síria, Líbano, Egito e outros do Oriente Médio desde a Antiguidade, muito antes da chegada dos sefaradim, com quem são confundidos. Sua fala e seus nomes são árabes. Os do Iraque descendem de cativos que foram levados à Babilônia no século 6 a.C. Foram expulsos após a Independência de Israel, em 1948.

Teimanim

Chegaram ao Iêmen provavelmente no tempo de Salomão. Falam árabe como os mizrahim, mas sua tez é morena-escura e possuem um folclore muito típico. Expulsos após a criação de Israel, restaram cerca de 200 no Iêmen.

Etíopes

Conhecidos como Beta Israel ou falashas, têm origem desconhecida. Teriam chegado lá nos tempos de Salomão ou se convertido ao judaísmo em algum momento posterior. Em vez de hebraico, usavam o ge¿ez ou o am¿hári como língua religiosa e eram observadores estritos do shabat e da kashrut (lei alimentar). Eram quase 40 mil, viviam em campos de refugiados e foram resgatados por Israel nos anos 80 e 90.

Indianos

O sincretismo do hinduísmo se combinou com a segregação do sistema de castas - que acabou protegendo-os. Os judeus da costa do Malabar viveram muito tempo separados do resto do mundo. Hoje são cerca de 5 mil.

Chineses

Se assentaram em vários locais do país na Idade Média e foram bem tolerados pelo confucionismo. A maior comunidade ficava em Kaifeng, mas foi perdendo suas tradições. Hoje são cerca de 2,5 mil em toda a China.

Saiba mais

Livros
Povo Judeu, Nicholas de Lange, Folio, 2007
Passagens: Literatura Judaico-Alemã entre Gueto e Metrópole, Luis S. Krausz, Edusp, 2012
Revista Aventuras na História

Riqueza 'oculta' dos milionários esconde desigualdade maior

Marcelo Justo
Da BBC Mundo



Concentração de renda está crescendo no mundo, apontam vários economistas

Muitas instituições, incluindo a ONU e o FMI, reconhecem que a desigualdade de renda é alta e vem aumentando no mundo. O tema ganhou especial atenção com o sucesso do novo livro do francês Thomas Piketty - O Capital no Século XXI. Alguns economistas apontam, porém, que a concentração de renda é ainda maior do que os dados oficiais revelam.

Segundo James S. Henry, professor do Centro de Investimento Internacional Sustentável na Universidade de Columbia, tantos os cálculos de Piketty como os dos organismos internacionais subestimam a verdadeira desigualdade mundial, pois não levam em conta o dinheiro oculto em paraísos fiscais.



"Há cerca US$ 21 trilhões escondidos em paraísos fiscais. Esta riqueza está nas mãos de uma pequena parte da elite e não entra nas medições", disse Henry à BBC Mundo.
Medindo a desigualdade

As estimativas de desigualdade são feitas fundamentalmente a partir de pesquisas domiciliares em que as pessoas informam livremente sua renda ou, no melhor dos casos, das declarações de impostos de renda.

Em 2006, a ONU constatou que o 1% mais rico do planeta possuía 39,9% da riqueza global. Em 2011, o instituto de pesquisa do banco Credit Suisse calculou que os 10% mais ricos tinham 84% tinham da renda global, enquanto a metade mais pobre apenas 1% .

O estudo de Henry sobre a riqueza oculta (The Price off shore revisited) mostra as limitações desta comparação, quando somente os dados visíveis são levados em conta.

O economista estima que um terço de riqueza financeira privada e metade do dinheiro em paraísos fiscais está na mão de 91 mil pessoas, o que representa apenas 0,001% da população mundial.

"Isso nos permite calcular também que cerca de 8,4 milhões de pessoas, ou seja, 0,14% da população, têm 51% da riqueza global", disse à BBC Mundo.


América Latina é região mais desigual do mundo, calcula Henry

O estudo de Henry se baseia em fontes oficias nacionais, como os bancos centrais, além de dados de FMI e Banco Mundial, para analisar 139 países. América Latina é a região com maior desigualdade do mundo, estima ele.

Os dez com maior fuga de capitais são China, Rússia, México, Arábia Saudita, Malásia, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Venezuela, Catar e Nigéria.
Queda neutralizada

O impacto concreto no cálculo da desigualdade é claramente visível em um estudo específico sobre a Argentina, que analisou a fuga de capitais entre 2002 e 2012. Ele aponta uma elevação do coeficiente de Gini de 0,42 para 0,49 uma vez que são registrados no cálculo do índice os recursos enviados para paraísos. O coeficiente de Gini é uma fora de medir a desigualdade – quanto mais perto de 1, maior a concentração de renda.

A estimativa dos autores é de que haja US$ 400 bilhões de argentinos em paraísos fiscais, o equivalente a 15 vezes as reservas internacionais do Banco Central.

Um dos autores da pesquisa, o economista Jorge Gaggero, explicou à BBC o impacto econômico e social desse processo:

"Mas, mesmo se tomarmos um número mais conservador, de cerca de US$ 200 bilhões, vemos que a desigualdade salta de 0,42 para 0,48 no país. Esse aumento neutraliza todos os avanços de melhora da distribuição de renda devido ao crescimento econômico e às fortes políticas de sociais do período 2003-2010"
BBC BRASIL

Notícias Geografia Hoje


Número de brasileiros presos no exterior sobe 28% em dois anos


João Fellet
Da BBC Brasil em Brasília




Japão tem segunda maior população carcerária brasileira

Dados do Ministério de Relações Exteriores (Itamaraty) revelam que o número de brasileiros presos no exterior cresceu 28% desde 2011. O total de presidiários brasileiros em outros países passou de 2,5 mil, no fim daquele ano, para 3.209 ao término de 2013.

Em entrevista a jornalistas na quarta-feira, a diretora do Departamento Consular e Brasileiros no Exterior do Itamaraty, Luiza Lopes da Silva, disse que o aumento se deu principalmente em países vizinhos do Brasil.



Nessa região, o total de brasileiros presos cresceu 14% entre 2012 e 2013. O vizinho sul-americano com mais presidiários brasileiros é o Paraguai (314), seguido por Bolívia (127) e Guiana Francesa (108).

Silva cita, entre as hipóteses para o aumento, o maior rigor das autoridades nesses países e, nos casos da Guiana Francesa, Guiana e Suriname, o crescimento nas atividades de garimpo envolvendo brasileiros.

Apesar do crescimento, o número de brasileiros presos é ínfimo se comparado ao tamanho da comunidade nacional no exterior. Levando em conta a estimativa do Itamaraty de que 2,5 milhões de brasileiros vivam em outros países, a porcentagem de encarcerados é de 0,1%.

Nem todos os casos de brasileiros presos são de conhecimento do Itamaraty, segundo Silva. Em alguns países, como a Suíça, diplomatas estrangeiros só são comunicados da prisão de concidadãos se estes assim desejarem.

No entanto, ela diz que todos os casos comunicados ao Itamaraty passam a ser monitorados por diplomatas brasileiros. A eles cabe checar se estão sendo bem tratados e se precisam de gêneros de primeira necessidade.

"Quando identificamos queixas de maus tratos, fazemos gestões junto aos diretores das prisões ou, se preciso, elevamos o tom e pedimos para mudar de cela ou transferir de prisão, se a família do preso morar em outra cidade."

A diplomata diz que 70 missões (consulados ou embaixadas) do Brasil no exterior contam com assessores jurídicos, que assessoram os presos nesses locais.
Narcotráfico

Na América do Sul, 33% das prisões se devem ao tráfico de drogas. Nesses casos, diz Silva, os detidos geralmente não estão envolvidos somente com o narcotráfico, mas também com o contrabando de armas.

Na fronteira com o Paraguai, segundo a diplomata, muitos dos detidos têm extenso histórico criminal e pertencem a quadrilhas que atuam nos dois países.

O continente com o maior número de brasileiros presos, no entanto, é a Europa, com 1.108 detentos. Portugal, com 329 presos, lidera a lista, seguido por Espanha (246), Itália (190) e França (120).

Na Europa, 44% das prisões de brasileiros se devem ao tráfico de drogas.

"São normalmente 'mulas' do narcotráfico, arregimentadas no Brasil para levar drogas à Europa. Para elas, a prisão tem um componente dramático, porque estão longe da família e quaisquer conhecidos", diz Silva.

O país com maior número de brasileiros presos, porém, é os Estados Unidos, sede da maior comunidade nacional no exterior. Ao fim de 2013, 726 brasileiros estavam em prisões americanas – e, desses, apenas 2% por narcotráfico.

"Isso comprova que não existe uma rota de tráfico de drogas entre Brasil e Estados Unidos", diz Silva.

Lá algumas das principais causas para prisões são irregularidades migratórias, homicídios ou tentativas de homicídio, violência doméstica e crimes contra o patrimônio. Os delitos, segundo Silva, são característicos de residentes.
Delinquência juvenil

O país com a segunda maior população carcerária brasileira é o Japão (407), com cerca de um quarto das prisões relacionadas com o narcotráfico.

No Japão, diz Silva, há uma peculiaridade no caso das detenções de brasileiros. "Há um número enorme de casos de prisões por delinquência juvenil, algo que não identificamos em nenhum outro país".

Um dos motivos identificados, diz ela, é a alta incidência de evasão escolar. "Muitas famílias vão ao Japão sem saber se vão ficar, e essa dúvida determina se crianças vão a escolas de língua japonesa ou a escolas brasileiras. Se vão a escola brasileira e pais resolvem ficar no Japão, as crianças serão um pequeno enclave brasileiro dentro do Japão e não terão oportunidade de se integrar", diz ela.

"Se forem para escola japonesa, os pais brasileiros dificilmente terão tempo ou condições de ajudá-las com a integração na escola e com o idioma."

Como os brasileiros no Japão em geral são operários, que enfrentam duras rotinas de trabalho, não conseguem dar o suporte necessário para que os filhos tenham bom desempenho escolar. Com isso, diz Silva, muitos abandonam a escola e passam a integrar pequenas gangues que cometem furtos.

Silva diz que o Itamaraty está em contato com autoridades locais para manter as crianças nas escolas.

A diplomata afirma ainda que, embora o Brasil mantenha acordos para a transferência de presos com dez países (entre os quais Argentina, Bolívia, Espanha, Paraguai, Portugal e Grã-Bretanha), "a incidência de transferências é menor do que imaginaríamos".

Isso ocorre, diz ela, porque muitos brasileiros preferem cumprir pena no exterior – ou porque suas vidas estão estruturadas naqueles países ou por temer punições e humilhações ao regressar ao Brasil.

Além disso, afirma Silva, os processos para a transferência de presos são lentos e burocráticos, e nem todos os crimes – entre os quais os hediondos – são passíveis de transferência.
BBC BRASIL

Notícias Geografia Hoje

Acordo com China sinaliza 'guinada a leste' da Rússia


Jonathan Marcus
Analista diplomático da BBC


Governo russo busca mais presença no Oriente em meio a tensões com potências ocidentais

A China é o parceiro comercial mais importante da Rússia: cerca de dois terços das importações chinesas do país são petróleo ou gás natural. Um novo acordo bilionário de exportação de petróleo e gás, selado nesta quarta-feira entre os dois países, reforça a importância desta relação.

É um acordo que vinha sendo forjado há muito tempo, com os chineses hesitantes sobre os custos. Mas os valores contam apenas parte da história.



O acordo acontece em um momento em que as tensões entre a Rússia e o Ocidente aumentaram, principalmente por causa da crise na Ucrânia.

E o problema não é só a Ucrânia: há diferenças fundamentais entre os dois lados a respeito da Síria e sobre a direção para a qual o presidente Vladimir Putin está conduzindo o país.

De fato, em alguns momentos Putin parece estar posicionando a Rússia como um polo alternativo em relação ao que ele parece considerar valores decadentes do Ocidente.

Portanto, o acordo entre a estatal russa Gazprom e a chinesa Corporação Nacional de Petróleo pode simbolizar um momento importante de transição, quando, tanto em termos econômicos quanto geopolíticos, o olhar da Rússia começa a se voltar mais para o Oriente do que para o Ocidente.

Mas a "guinada oriental" da Rússia também tem seus problemas. Mesmo que o país se considere uma potência "eurasiática" em termos geográficos, Pequim é claramente o ator em ascensão.

O papel da Rússia é de um importante fornecedor de energia - o país também vende quantidades significativas de petróleo e gás para o Japão e a Coreia do Sul -, o que lhe permite uma participação importante na região.
Exportação de energia


Entenda o acordo

Nesta quarta-feira, o presidente russo Vladimir Putin assinou um acordo que prevê 30 anos de fornecimento de gás natural para a China.

O acordo, entre a estatal russa Gazprom e a Corporação Nacional de Petróleo da China (CNPC, na sigla em inglês), foi negociado durante dez anos.

A Rússia vem tentando encontrar mercados alternativos para o seu gás natural, diante da possibilidade de sanções europeias por causa da crise na Ucrânia.

O valor oficial do acordo não foi divulgado, mas acredita-se que seja de mais de US$ 400 bilhões (R$ 884 bilhões).

O novo contrato deve garantir o envio de cerca de 38 bilhões de metros cúbicos de gás por ano para a China, a partir de 2018.

Mas isso também pode ser encarado de maneira diferente: uma tendência que enfatiza o papel crucial das exportações energéticas nas finanças russas - uma dependência que pode facilmente se tornar tanto uma fraqueza quando uma força.

De fato, o tempo que foi necessário para que Moscou chegasse a esse acordo com Pequim pode mostrar com quem está o real poder de negociação.

Em nível estratégico, a Rússia parece estar reforçando seus laços militares com Pequim. Exercícios navais conjuntos estão sendo realizados neste mês.

Mas dada a miríade de tensões na região causadas pela escalada marítima da China e sua crescente disputa em questões regionais, uma aliança mais próxima com Pequim pode ser pouco interessante, já que pode dificultar o avanço nas relações com outros atores regionais, como o Japão.

O momento em que esse acordo foi feito reforça inevitavelmente seu significado geopolítico, mas ainda é muito cedo para delinear as verdadeiras consequências da crise ucraniana. Para começar, não sabemos exatamente como ela vai terminar.

Moscou pode ter desistido de uma intervenção militar em grande escala, mas é difícil enxergar qualquer mudança na visão de longo prazo de Putin para uma Ucrânia enfraquecida como um Estado-tampão entre a Rússia e o Ocidente.

Diferentes afirmações estão sendo feitas no momento: que a era pós-Guerra Fria chegou ao fim; que os países europeus certamente tentarão reduzir significativamente a dependência da energia; que a missão principal da Otan foi reafirmada e que a aliança militar ocidental teve sua vida útil estendida. Uma mudança de foco da política russa em direção ao Oriente pode ser parte disso.

Todas essas afirmações podem ser verdadeiras, mas ainda é cedo para dizer. A Rússia continua sendo, em parte, uma potência europeia, ansiosa por salvaguardar os direitos das minorias em uma variedade de países na região que o país considerava seu "exterior próximo" ou seu quintal. Isso, também, não deverá mudar.
BBC BRASIL

Notícias Geografia Hoje

Brics aumentam participação em PIB global, mas estão longe dos desenvolvidos, diz OCDE

Daniela Fernandes
De Paris para a BBC Brasil




Para OCDE os emergentes ainda 'tem um longo caminho' para atingir nível de renda dos países ricos

Um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), com base em dados do Banco Mundial, mostra que os países dos Brics aumentaram sua participação no PIB global, mas ainda estão longe de atingir o nível de renda por habitante das economias desenvolvidas.

"Os emergentes ainda têm um longo caminho a percorrer para atingir o nível de renda por habitante dos países ricos", disse à BBC Brasil Francette Koechlin, responsável da unidade de poder de compra da direção de estatísticas da OCDE.

O estudo leva em conta a paridade do poder de compra (PPP, na sigla em inglês) em nível mundial. Ela é considerada mais pertinente para fazer comparações internacionais da atividade econômica, segundo a OCDE, por excluir dos cálculos as taxas de câmbio, eliminando dessa forma as diferenças de preços entre os países.

"O tamanho da economia dos emergentes é cada vez maior em relação ao PIB mundial, mas quando levamos em conta a renda por habitante, baseada no poder de compra, vemos que há uma enorme diferença entre os países da OCDE (desenvolvidos) e os emergentes", diz Koechlin.

O PIB por habitante nos países da OCDE, levando-se em conta a paridade do poder de compra, representa duas vezes e meia a média mundial desse indicador.

Segundo os cálculos, que fixam a paridade do poder de compra igual a 100, o PIB por habitante nos países da OCDE atinge o índice de 266. Na China, segunda maior economia mundial, o índice de PIB por habitante é de apenas 75.

No Brasil, ele está levemente acima da média mundial, com 109 pontos. A Índia, com 35, a África do Sul (90) e a Indonésia (63), que também tiveram crescimento significativo de suas economias nos últimos anos, estão abaixo da média mundial em relação ao PIB por habitante.
Consumo por habitante

Outro indicador importante do estudo é o nível de "consumo individual efetivo", que segundo a OCDE representa uma melhor referência para comparações internacionais sobre o "bem-estar material" dos lares.

"Os dados sobre o consumo indicam se as pessoas têm um nível de vida razoável em relação ao PIB do país", ressalta Koechlin.

Também nesse critério, os emergentes continuam bem abaixo dos países ricos.

Nos Estados Unidos, primeira economia mundial, o índice de consumo individual efetivo por habitante é quatro vezes maior do que a média mundial.

Na China, segunda maior economia do planeta, esse índice de consumo individual representa apenas a metade da média mundial.

"O consumo individual efetivo por habitante nas grandes economias emergentes mostra variações importantes", afirma a OCDE.

Enquanto a China representa a metade e a Índia apenas cerca de um terço da média mundial de consumo, no Brasil e na Rússia os indicadores sobre o consumo efetivo por habitante estão ligeiramente acima da pontuação média.

Considerando-se a base de comparação igual a 100, o Brasil atinge 115 e, a Rússia, 175.

Na OCDE, o índice de consumo por habitante é de 295 e, nos Estados Unidos, de 432.
BBC BRASIL

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Notícias Geografia Hoje


Conheça os principais investimentos chineses na América Latina

Marcelo Justo 
BBC Mundo


Mineradora Las Bambas, no Peru, foi adquirida por consórcio chinês por US$ 5,8 bilhões.



Nada mais simbólico sobre a presença da China na América Latina do que a recente aquisição da mina Las Bambas, no Peru.

O consórcio chinês MMG LTD, liderado pela estatal Minmetals Corp, adquiriu a mina de cobre da companhia suíça Glencore Xstrata PLC por US$ 5,8 bilhões.



O Brasil também está na lista dos países latino-americanos que mais recebem investimentos do país asiático. No ano passado, um consórcio composto pela Petrobras, a francesa Total, a anglo-holandesa Shell, e as chinesas CNPC e Cnooc ganhou os direitos para explorar a bacia de Libra, maior reserva petrolífera brasileira.

O desembarque chinês na região tem se caracterizado pelo deslocamento ou aquisição de empresas ocidentais por meio de grandes investimentos de empresas ou consórcios estatais.

Esta estratégia vem sendo possível por meio de um sistema de liberação de fundos do banco estatal chinês, que permite às empresas acesso a grandes somas e, aos governos da região, financiar projetos sociais, como habitação, ou em infraestrutura, como estradas, transportes, entre outros.

Segundo o Instituto de Governança Econômica Global (Gegi, na sigla em inglês), da Universidade de Boston, a China concedeu US$102 bilhões em empréstimos à América Latina entre 2005 e 2013.

"Com a entrada da China na Organização Mundial do Comércio, em 2001, o comércio cresceu muito e isso levou, naturalmente, a um boom nos investimentos", afirma à BBC Mundo Amos Irwin, da Gegi.

"Em vez de comprar o cobre de uma empresa na América Latina, a China decidiu adquiri-la ou ganhar uma participação majoritária para ter mais controle", acrescenta.

A estratégia chinesa é uma complexa integração entre seu setor financeiro e produtivo.

"Em relação aos montantes, os empréstimos para a indústria petroleira e para outros propósitos garantidos pelos dividendos da commodity são mais importantes do que as aquisições", afirma Irwin.

No reino dos grandes investimentos do gigante asiático, a estrela é o petróleo. Três companhias chinesas, Sinopec, CNPC e Cnooc, disputam o conjunto dos investimentos neste setor.

Abaixo, os cinco maiores investimentos chineses na região.
1. Venezuela

Venezuela é o principal destino dos investimentos chineses na América Latina

Em 19 de setembro do ano passado, o ministro do Petróleo venezuelano, Rafael Ramírez, anunciou um acordo com a China National Petroleum Corporation (CNPC) para obter investimentos de US$ 28 bilhões em um novo projeto na Faixa Petrolífera de Orinoco.

A CNPC é a companhia mãe da Petrochina, segunda maior petroleira do mundo em termos de capital.

A este acordo se somou outro de US$ 14 bilhões anunciado pelo mesmo ministro com a estatal China Petroleum & Chemical Corporation (Sinopec).

A Sinopec também já foi protagonista de outros grandes investimentos chineses na região.
2. Brasil

Em outubro de 2010, a Sinopec, maior refinaria chinesa, adquiriu 40% da espanhola Repsol no Brasil por US$ 7,1 bilhões.

Em 2011, expandiu suas operações no país com a aquisição por mais de US$ 5 bilhões de 30% das operações da petroleira portuguesa GALP.

As duas operações são uma clara indicação da presença da Sinopec no Brasil e da estratégia chinesa de adquirir parcialmente ou de fazer uma fusão com companhias já em atuação.

E esta estratégia não se limita ao Brasil. Dois meses depois da aquisição parcial da Repsol, a Sinopec adquiriu na Argentina a americana Occidental Petroleum por mais de US$ 2,4 bilhões.

No ano passado, as chinesas CNPC e CNOOC fizeram parte do consórcio vencedor do leilão para a exploração da bacia de Libra, maior reserva de petróleo do Brasil.
3. Argentina

A petroleira China National Offshore Oil Corporation (Cnooc) se tornou a segunda maior petroleira na Argentina, atrás apenas da estatal YPF, por meio de uma série de aquisições parciais multimilionárias de diferentes companhias.

Seu maior investimento foi em março de 2010, quando comprou 50% da petroleira argentina Bridas por US$ 3,1 bilhões.

China aproveitou crise internacional para investir no pré-sal brasileiro

Em novembro do mesmo ano, a Bridas, já de maioria chinesa, adquiriu 60% da Pan American Energy por US$ 7 bilhões.

E em fevereiro do ano seguinte, a Pan American Energy adquiriu 100% dos ativos da Esso Argentina por mais de US$ 800 milhões.

A nacionalização da YPF em 2012, que pôs em pé de guerra vários países ocidentais, não perturbou a China, que, em janeiro do ano passado, se associou à estatal argentina para a exploração de petróleo de xisto na gigantesca reserva de Vaca Muerta.
4. Peru

Depois do setor energético – petróleo e gás –, a mineração é a área que mais capta investimentos chineses na região.

Com a aquisição pelo consórcio MMG LTD das minas de cobre Las Bambas, a maior em valor na história peruana, a China elevou seus investimentos em projetos de mineração na região para US$ 19 bilhões.
Outros investimentos

Em termos de valores, os empréstimos superam qualquer investimento direto.

Segundo a Gegi, a Venezuela recebeu cerca de US$ 50 bilhões em empréstimos garantidos por fornecimento de petróleo. Se a isto se somar o investimento direto, a Venezuela é o primeiro destino de investimentos chineses na América Latina.

Exemplos destes empréstimos são o fundo de investimento bilateral de US$ 17 bilhões, criado em 2007 com prioridade para investimentos agrícolas, ou os US$ 4 bilhões concedidos em 2011 pelo Banco da China para a construção de casas.

No caso do Brasil, a Petrobras recebeu, em 2009, um empréstimo de US$ 10 bilhões para o desenvolvimento da produção de petróleo offshore.

Em novembro de 2007, a Petrobras anunciou a descoberta do campo de Tupi, com reservas potenciais de 8 bilhões de barris de petróleo que poderiam começar a ser exploradas a partir de 2020.

A descoberta do pré-sal foi classificada como a mais importante em 30 anos, mas exigia grandes investimentos em um momento em que os mercados financeiros globais estavam secos pela crise do crédito.

O mau momento se acentuou um ano depois, com a queda do banco Lehman Brothers e a consequente crise financeira internacional.

A China soube aproveitar deste momento para financiar investimentos da Petrobras por meio de um empréstimo do China Development Bank Corp.

Mas os investimentos chineses não ocorrem necessariamente dentro do território latino-americano.






"Se a economia chinesa continuar crescendo, continuará exigindo um enorme fluxo de recursos, tanto para o consumo interno quanto para a exportação"



Gegi Amos Irwin

Exemplo disso são os investimentos em refinarias de petróleo.

Em 27 de abril de 2012 foi inaugurada a pedra fundamental da refinaria Jie Yang, na província chinesa de Guagdong, empreendimento no qual a estatal venezuelana PDVSA está associada à China National Petroleum Corporation (CNPC). Juntas, pretendem construir outras duas refinarias em território chinês por um custo aproximado de US$ 16 bilhões.

O objetivo destas refinarias é processar petróleo venezuelano para uso doméstico chinês.

O investimento em transportes é outro ponto forte da expansão do gigante asiático.

De acordo com o rastreador global de investimentos chineses da Heritage Foundation, a China investiu na Venezuela mais de US$ 8 bilhões em transporte, enquanto na Argentina a soma gira em torno dos US$ 3 bilhões.

Apesar de o crescimento dos investimentos chineses ter diminuído nos últimos dois anos (abaixo de 7,4% no ano passado), nada indica que o fluxo de recursos vai parar.

"Se a economia chinesa continuar crescendo, continuará exigindo um enorme fluxo de recursos, tanto para o consumo interno quanto para a exportação", afirma Irwin.

"Assim, continuará forte a demanda por matérias-primas e a pressão interna para que esses recursos sejam adquiridos diretamente", acrescentou.
BBC BRASIL

terça-feira, 20 de maio de 2014

A terceirização do trabalho



O termo terceirização surgiu originalmente na linguagem gerencial se referindo à transferência de parte do processo de produção de bens e serviços internos de uma empresa para outras unidades empresariais especializadas. A empresa terceirizada (trabalhadores subcontratados) poderia atuar tanto no ambiente interno como fora da firma contratante.

Por conta disso, a terceirização logo foi associada a formas de emprego precário, pois a mão de obra era geralmente subcontratada em condições precárias e com relações de trabalho piores que as dos empregados diretamente contratados. O resultado foi a segmentação crescente do mercado de trabalho e o aparecimento de novas hierarquias entre empregados expostos aos mesmos espaços laborais e com o exercício de atividades idênticas.

Atualmente, a terceirização reflete mudanças muito mais amplas, como a globalização dos processos produtivos, a competição entre economias e a reorganização flexível da produção, em que subcontratação de empresas e trabalhadores pode ocorrer no mesmo município, no mesmo estado, no mesmo país ou em diferentes países. A centralidade na subcontratação da mão de obra nas agendas de empresas, sindicatos e do governo a evolução das próprias relações de trabalho revela o quanto a terceirização e sua regulação são questões importantes para serem discutidas.
Revista Nova Escola

Categorias hierárquicas dos centros urbanos brasileiros


- Grande metrópole nacional: cidade de São Paulo. Com 20 milhões de habitantes, encontra-se no alto da hierarquia. Conecta a rede urbana do Brasil à rede de metrópoles mundiais.
- Metrópoles nacionais: Rio de Janeiro e Brasília. Essas cidades estão abaixo apenas de São Paulo. O Rio exerce forte influência econômica e cultural sobre quase todo o país. Já Brasília possui influência administrativa e de gestão pública.
- Metrópoles: encontram-se em um terceiro nível na hierarquia urbana nacional. São cidades cuja população varia entre 1,6 e 5,1 milhões de habitantes. Têm economia diversificada e abrigam sedes de importantes empresas e órgãos públicos.
- Capitais regionais: centros urbanos que abrigam entre 250 mil e 955 mil habitantes. Exercem forte influência regional.
- Centros sub-regionais: cidades entre 71 mil e 195 mil habitantes. Influenciam fortemente os municípios em seu entorno.
- Centros locais: centros urbanos com até 70 mil habitantes que exercem alguma influência sobre os município limítrofes.
Revista Nova Escola

Geografia e a Arte

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