terça-feira, 4 de junho de 2013

Notícias Geografia Hoje


3 mil cidades jogam lixo em lugar errado

Giovana Girardi - O Estado de S.Paulo


Faltando pouco mais de um ano para o fim do prazo dado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos para o fim dos lixões no Brasil, 3 mil cidades (54% do total), incluindo as capitais Belém e Brasília, ainda enviam resíduos para destinos inadequados. São quase 24 milhões de toneladas despejadas em condições impróprias por ano, o equivalente a 168 estádios do Maracanã lotados de lixo.



Os dados são do ano passado e fazem parte do Panorama dos Resíduos Sólidos produzido anualmente pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza e Resíduos Especiais (Abrelpe).

A 10.ª edição do relatório, que será divulgada hoje, mostra que o cenário apresentou alguma melhora ao longo da década, mas muito lentamente, o que indica que vai ser impossível cumprir a legislação na data prevista. Em agosto de 2014, municípios em condições irregulares podem ser enquadrados na Lei de Crimes Ambientais.

Em 2003, primeiro ano do levantamento, do total de resíduos coletados no País, 59,51% iam para lixões ou aterros sem tratamento de chorume e controle de gases e apenas 40,49% seguiam para aterros sanitários. Em 2012, a proporção se inverteu: 58% tiveram destino adequado e 42%, inadequado.

O problema é que o quadro tem se mantido constante desde 2011. "Pela proximidade do prazo estabelecido pela lei (em 2010), esperávamos ver um avanço, mas a situação se estagnou. Por outro lado, há uma tendência de aumento, ano a ano, do volume de resíduos produzidos pelos brasileiros", afirma Carlos Silva Filho, diretor executivo da Abrelpe.

Geração de resíduos. A produção per capita subiu de 381,6 kg por ano em 2011 para 383 kg por ano no ano passado. Ao longo dos dez anos de levantamento, a geração de resíduos do País cresceu 21%. "Não por coincidência, o PIB per capita também variou 20,8% nesse período. Enquanto a população só cresceu 9,65%. Mais riqueza traz mais consumo de embalagem e também mais desperdício de alimento."

Como vem ocorrendo nos últimos anos, o Estado de São Paulo liderou a geração de resíduos. No ano passado, cada habitante produziu 1,393 kg/dia, contra 1,228 kg/dia no País.
Jornal O Estado de S. Paulo

Os céticos do clima já ganharam


A humanidade decidiu bocejar e deixar que os perigos reais e imediatos das mudanças climáticas se acumulem. Foi esse o argumento que apresentei em minha coluna da semana passada. Nada que apareceu nas respostas à coluna enfraqueceu minha conclusão. Quando muito, as reações a reforçaram.

A julgar pela inação do mundo, os céticos climáticos já ganharam. Esse fato torna ainda mais surpreendente o sentimento que eles manifestam de terem queixas não atendidas. Para o restante de nós, a interrogação que fica é se ainda há algo que possa ser feito, e, se sim, o que é.

Ao analisar esta questão, uma pessoa racional certamente deve reconhecer o grau de consenso existente entre os cientistas climáticos quanto à hipótese do aquecimento provocado pelo homem.

Uma análise dos resumos de 11.944 artigos científicos revistos por pares, publicados entre 1991 e 2011 e redigidos por 29.083 autores, conclui que 98,4% dos autores que adotaram uma posição confirmaram o aquecimento global provocado pelo homem (antropogênico), 1,2% o rejeitaram e 0,4% se disseram incertos. Análises alternativas dos dados renderam proporções semelhantes.

Uma resposta possível consiste em insistir que todos esses cientistas se equivocaram. Isso é concebível, é claro. Cientistas já se equivocaram no passado. Mas rejeitar este ramo da ciência unicamente porque suas conclusões são tão incômodas é irracional, embora seja compreensível.

Isto nos conduz a uma segunda linha de ataque: insistir que esses cientistas foram corrompidos pelo dinheiro e a fama. A este argumento eu respondo: será mesmo? É plausível que uma geração inteira de cientistas tenha inventado e defendido um logro evidente para obter ganhos materiais (modestos), ciente de que a fraude será descoberta?

É mais plausível que os cientistas que rejeitam a visão mais comum o façam por justamente esses motivos, já que interesses poderosos se opõem ao consenso climático, e os acadêmicos do lado deles (os céticos) do debate são em número muito menor.

Infelizmente, por mais racional possa ser buscar reduzir o risco de resultados catastróficos, não é isso o que está acontecendo agora, nem parece provável que aconteça no futuro previsível.

Os dados sobre a queima de combustíveis fósseis desde meados do século 18 indicam um aumento regular nas emissões anuais de dióxido de carbono. É verdade que esses dados apontam para uma desaceleração no aumento das emissões anuais nas décadas de 1980 e 1990. Mas essa desaceleração foi invertida na década de 2000, quando a queima de carvão pela China aumentou (ver gráfico). Hoje, 30% do CO2 presente na atmosfera é diretamente devido à humanidade.

O que está por trás desse crescimento recente nas emissões está muito claro: o crescimento econômico de emparelhamento. A China foi responsável por 24% das emissões globais totais em 2009, contra 17% dos Estados Unidos e 8% da zona do euro. Mas cada chinês emite apenas um terço do volume emitido por um americano e menos de 4/5 do que é emitido por cada residente da zona do euro.

A China é uma economia emergente relativamente perdulária, em termos de suas emissões por unidade de produção. Mesmo assim, ela emite menos per capita que os países de alta renda, porque sua população ainda é relativamente pobre. Seus líderes consideram, justificadamente, que não existe razão moral para aceitarem um teto de emissões para cada indivíduo chinês que seja muito mais baixo que o nível ao qual os americanos consideram que têm direito.

À medida que os países emergentes se desenvolvem, as emissões per capita vão tender a subir em direção aos níveis presentes nos países de alta renda, com isso elevando a média global. É por essa razão que as emissões globais per capita subiram 16% entre 2000 e 2009, período marcado por crescimento acelerado nas economias emergentes.

Portanto, esqueça o discurso: não apenas os estoques de CO2 na atmosfera, mas até mesmo os fluxos de CO2 estão piorando. Os céticos convencidos de que o melhor a fazer é não fazer nada podem parar de reclamar: eles já ganharam.

E como ficamos nós, os outros? As chances de que a humanidade alcance a redução de emissões necessária para manter as concentrações de CO2 abaixo de 450 partes por milhão, com isso reduzindo em muito os riscos de uma elevação superior a 2ºC na temperatura global, são de quase zero. A redução de 25%-40% nas emissões dos países de alta renda até 2020, que seria necessária para conduzir o mundo a esse caminho, não vai acontecer.

Mas isso não quer dizer, de maneira alguma, que a inação deva continuar. A não ser que se concretize o cenário mais apocalíptico, a humanidade ainda pode reduzir as emissões e comprar tempo para sua sobrevivência. O que fazer, então, nesta situação tenebrosa? Seguem oito possibilidades.

Primeira: implementar impostos de carbono. Cobrar impostos sobre coisas negativas é sempre um bom começo. No contexto atual, as emissões de CO2 constituem uma coisa negativa.

Impostos são a maneira mais simples de deslocar incentivos. Como a receita tributária beneficiaria cada governo, ela poderia ser utilizada de modo pontual para reduzir outros impostos --sobre o emprego, por exemplo. As complexas questões de distribuição global poderiam ser ignoradas. Seria melhor se fosse possível os governos se comprometerem com uma tabela tributária crescente de longo prazo, proporcionando a investidores algum grau de previsibilidade do custo do carbono.

Segunda: optar pela energia nuclear. É graças a ela que a França é uma economia que gera tão pouco carbono. É um modelo ao qual outros países deveriam aderir, e não do qual deveriam fugir.

Terceira: impor padrões realmente rígidos de emissões a automóveis, eletrodomésticos e outros tipos de máquinas. A inovação cresceria em resposta a um misto de padrões de preços e regulamentação, como já aconteceu tantas vezes no passado. Se não nos atrevermos a perguntar, não saberemos do que as empresas são capazes em termos de inovação.

Quarta possibilidade: criar um regime global seguro de comércio de combustíveis de carbono mais baixo. Essa seria uma maneira de persuadir a China a afastar-se do consumo do carvão.

Quinta: desenvolver maneiras de financiar a transferência das melhores tecnologias possível para a criação e, ainda mais importante, a economia de energia em todo o planeta.

Sexta: deixar que os governos invistam em pesquisas e inovações em estágio inicial, adotando um misto de financiamento de pesquisas universitárias e apoio a parcerias público-privadas.

Sétima: investir na adaptação aos efeitos das mudanças climáticas. Este ponto certamente terá que ser foco de assistência ao desenvolvimento no futuro. Essa adaptação pode incluir deslocamentos populacionais em grande escala.

Finalmente: estudar a geoengenharia --a manipulação em grande escala do planeta para reverter as mudanças climáticas--, por mais tenebrosa essa ideia possa ser.

Nada disso será o suficiente para eliminar os riscos de mudanças climáticas gravemente adversas. Mas parece ser o melhor que podemos fazer agora, em vista das pressões econômicas.

A tentativa de afastar nossas escolhas daquelas que agora estão alimentando o crescimento constante das emissões fracassou. E vai continuar a fracassar, por enquanto. As razões disso são profundamente enraizadas. É provável que isso só mude diante da ameaça de mais desastres iminentes, e, até isso acontecer, é muito possível que já seja tarde demais. Trata-se de uma verdade deprimente, e é muito possível que seja um fracasso que condene a todos nós.

Tradução de CLARA ALLAIN

É comentarista chefe de Economia no jornal britânico "Financial Times". É membro honorário do Instituto de Política Econômica de Oxford e professor honorário da Universidade de Nottingham. Participa do Fórum de Davos desde 1999 e do Conselho Internacional de Mídia desde 2006. É doutor em letras pela Universidade de Nottingham e doutor em economia pela London School of Economics (LSE)
Folha de S. Paulo

Agricultura moderna e urbanização levam à perda da biodiversidade do solo

JIM ROBBINS
DO "NEW YORK TIMES"
Poucas coisas são mais vitais do que a saúde da terra. Nosso abastecimento alimentar começa lá. As plantas selvagens precisam de solo saudável para crescer bem. Os herbívoros, para que possam comer as folhas, sementes e frutos das plantas. Por fim, os predadores, para que possam comer os bichos que comem as plantas.

Um solo saudável evita doenças humanas e também contém a cura para outras enfermidades. A maioria dos antibióticos vem de lá. Os cientistas agora procuram na terra uma nova classe de remédios para enfrentar doenças resistentes a antibióticos.

Jon Hrusa/Epa
Lavoura em Moçambique; más práticas agrícolas arruinaram cerca de metade do solo superficial na África


O solo supostamente desempenha um papel importante, mas pouco compreendido, na difusão do cólera, da meningite fúngica e de outros agentes infecciosos que passam parte do seu ciclo de vida na terra.

Novas tecnologias garantiram saltos na nossa compreensão sobre a ecologia dos solos, ao permitir que os cientistas estudem os genes de micróbios da terra e acompanhem minúsculas quantidades de carbono e nitrogênio em sua passagem por esse ecossistema.

Mas, à medida que os cientistas aprendem mais, eles percebem como sabem pouco.

Na última década, os cientistas descobriram que o "oceano de terra" do planeta é um dos quatro maiores reservatórios de biodiversidade. Ele contém quase um terço de todos os organismos vivos, segundo o Centro de Pesquisas Conjuntas da União Europeia, mas apenas cerca de 1% dos seus micro-organismos já foi identificado. As relações entre essa miríade de espécies ainda é mal compreendida.

Cientistas criaram recentemente a Iniciativa Global de Biodiversidade do Solo para avaliar o que se sabe sobre a vida subterrânea, para identificar onde ela está em perigo e para determinar a saúde dos serviços ecossistêmicos essenciais que o solo fornece.

Uma colherada de terra pode conter bilhões de micróbios (divididos entre 5.000 tipos diferentes), assim como milhares de espécies de fungos e protozoários, além de nematódeos, ácaros e algumas espécies de cupim.

"Há uma pululante organização embaixo do chão, uma fábrica com terra, animais e micróbios, cada um com seu próprio papel", disse a bióloga Diana Wall, da Universidade Estadual do Colorado, a presidente científica da iniciativa.

O ecossistema do solo é altamente evoluído e sofisticado. Ele processa o lixo orgânico, transformando-o em terra. Filtra e limpa grande parte da água que bebemos e do ar que respiramos, ao reter poeiras e agentes patogênicos. Desempenha importante papel na quantidade de dióxido de carbono na atmosfera, pois, com toda a sua matéria orgânica, é o segundo maior depósito de carbono do planeta, só atrás dos oceanos.

O uso de arados, a erosão e outros fatores liberam carbono na forma de CO2, exacerbando a mudança climática.

Um estudo de 2003 na revista "Ecosystems" estimou que a biodiversidade de quase 5% do solo dos EUA estava "sob risco de perda substancial ou completa extinção devido à agricultura e à urbanização". Essa foi provavelmente uma estimativa conservadora, já que o solo do planeta era na época mais inexplorado do que hoje e as técnicas do estudo eram bem menos desenvolvidas.

Há numerosas ameaças à vida no solo. A agricultura moderna é uma das maiores, pois priva a terra da matéria orgânica que a alimenta, resseca o chão e o contamina com pesticidas, herbicidas e nitrogênio sintético.

A impermeabilização em áreas urbanas também destrói a vida da terra, assim como a poluição e as máquinas pesadas. Uma ameaça já antiga, como a chuva ácida, continua afetando a vida subterrânea, pois deixa o solo mais ácido.

O problema é global. Em quase metade da África, por exemplo, o uso intensivo para lavouras e pastagens destruiu a camada superior do solo e causou desertificação.

O aquecimento global irá contribuir para as ameaças à biodiversidade do solo. A segurança alimentar é uma grande preocupação. O que irá acontecer com as lavouras à medida que o planeta se aquecer? Ligeiras alterações de temperatura e umidade podem ter impactos profundos, mudando a composição da vida no solo e os tipos de plantas que poderão crescer.

Algumas plantas devem gradualmente migrar para climas mais frios, mas outras podem não ser capazes de se adaptar em novos solos. "O mundo acima do chão e o mundo abaixo dele estão muito estreitamente ligados", disse Wall.

Os cientistas também estão descobrindo que um ecossistema saudável no solo pode ajudar a sustentar as plantas naturalmente, sem insumos químicos. "Quanto maior é a diversidade do solo, menos doenças surgem nas plantas", disse Eric Nelson, que estuda a ecologia do solo e das doenças na Universidade Cornell, no Estado de Nova York. Os insetos também são refreados por plantas que crescem em terra saudável, segundo ele.

O que agricultores e jardineiros podem fazer para proteger seus solos? Wall sugere não lavrar a terra, deixando que a vegetação morta se decomponha, em vez de revolver o solo com o arado a cada ano. Evitar produtos químicos sintéticos é importante. Agregar adubo, especialmente adubo de minhoca, pode contribuir para fortalecer os ecossistemas da terra.

O tema está começando a atrair a atenção merecida. Wall acaba de receber o Prêmio Tyler de Realização Ambiental, com uma dotação de US$ 200 mil, que ela diz pretender usar em pesquisas. "É a hora do show para a biodiversidade do solo", disse ela.
Folha de S. Paulo

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