quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Recifes de corais

Oceanos mais quentes estimulam o crescimento de algumas espécies
David Biello
©Rich Carey/shutterstock

Uma das maiores tragédias naturais dos últimos anos é a deterioração da Grande Barreira de Corais da Austrália, uma enorme estrutura de corais na costa leste do continente, que abriga uma profusão de vida selvagem. Além da poluição e da pesca excessiva, a maior estrutura natural do mundo sofre com a elevação da temperatura dos oceanos. Entretanto, talvez menos conhecidos e afastados da costa oeste australiana, existem alguns recifes enormes no sudeste do Oceano Índico. Corais maciços do gênero Porites afloram à superfície e uma nova pesquisa publicada na Science sugere que os corais localizados em águas mais frias, mais distantes ao sul, se desenvolvem melhor, graças ao aquecimento da temperatura do oceano.

“Onde vemos maior aquecimento, há uma resposta acentuada”, avalia o biólogo marinho Timothy Cooper, do Australian Institute of Marine Science. “Até o momento, são as mudanças de temperatura que produzem impacto dominante no crescimento dos corais, como evidenciado pelas crescentes taxas de calcificação em nossos locais mais ao sul.”

As descobertas sugerem que as mudanças de temperatura desempenham um papel maior no destino de corais, pelo menos a curto prazo, do que qualquer acidificação do oceano, onde a água do mar absorve níveis crescentes de dióxido de carbono da atmosfera, tornando-a mais ácida.

Corais, pólipos microscópicos, formam recifes extraindo o cálcio dos arredores e o usam para criar minúsculas conchas-casas para si, que podem se acumular ao longo dos séculos em estruturas maciças. Este processo, conhecido como calcificação, é sensível à temperatura e à acidez, que podem dificultar o crescimento. Além disso, os próprios corais são sensíveis à temperatura, e as demasiado elevadas podem levar a eventos de branqueamento que podem matar um recife.

Cooper e seus colegas perfuraram recifes de Porites em seis locais, abrangendo cerca de 1.000 km de norte a sul da costa oeste da Austrália. Eles extraíram 27 amostras de núcleos. Cada um revelou um registro da densidade anual das casas à base de cálcio do coral Porites. Comparando a velocidade anual de calcificação do coral com a densidade média de 1900 a 2010, Cooper e seus colegas revelaram quando e onde ocorreu alguma alteração anormal. Então, pesquisadores compararam esse registro com os dados mensais de temperatura no mar, para tentar entender se ela levou a um impacto e, em caso afirmativo, qual foi.

Os estudiosos descobriram que os Porites no extremo sul da costa oeste da Austrália produziram casas cada vez mais espessas nas últimas décadas, conforme as água mais frias do oceano se aqueceram. Mais ao norte, o inverso é verdadeiro: Porites em águas já quentes, subtropicais e tropicais, sofrem quando o oceano se aquece demais. “Onde houve pouco aquecimento, houve pouca mudança na calcificação”, relata Cooper. “Até agora, são as mudanças de temperatura que produzem impacto dominante no crescimento dos corais, como evidenciado pelas crescentes taxas de calcificação em nossas localidades mais ao sul.” Os núcleos sugerem que a acidificação crescente do oceano provocou, até agora, menos impacto sobre corais que a temperatura. No final, no entanto, espera-se que a acidificação acabe prejudicando o crescimento de corais, não importando a temperatura da água. “A acidificação dos oceanos será cada vez mais um fator limitante para o crescimento dos recifes tropicais”, lamenta Cooper.

Porém, pode existir uma falha neste estudo: os registros mensais de temperatura usados. Os corais reagem à temperatura na escala de dias ou semanas, daí os eventos de branqueamento na Grande Barreira de Corais ou em outras partes do mundo, que podem “retardar o crescimento da colônia por anos”, alerta o biólogo marinho John Bruno, da University of North Carolina, em Chapel Hill, que também estuda corais, mas que não se envolveu nesta pesquisa. “Infelizmente, essa informação [sobre temperatura] não existe.” Dados muito específicos sobre mudanças locais de temperatura seriam necessários para entender melhor como a temperatura, o aumento da acidez e o crescimento de corais interagem, embora esteja cada vez mais claro que impactos de oceanos mais quentes determinarão o futuro dos corais.

Também está claro que tanto os impactos do aumento das emissões humanas de CO2, aquecimento global, quanto a acidificação dos oceanos, estão dificultando a vida os recifes, incluindo o declínio rápido de crescimento do Porites na Grande Barreira de Corais. E não existe solução fácil: o trabalho de Bruno mostra que mesmo reservas marinhas protegidas, essencialmente parques marinhos, não conseguem proteger os recifes de problemas globais como mudanças climáticas. Como Cooper acrescenta: “Alterações como esta, com quantidade relativamente modesta de aquecimento global até agora (em comparação com o que está previsto para as próximas décadas), é motivo de preocupação.”
Scientific American Brasil

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