segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Como funciona a grilagem de terras

Luís Indriunas
A grilagem de terra é um crime grave praticado ainda em grande escala no interior do Brasil, principalmente na Amazônia. Os grileiros, nome dado a esses criminosos, são alguns dos principais responsáveis pelo desmatamento das florestas tropicais.

A grilagem nada mais é que a apropriação indevida de terras públicas, através da falsificação de documentos. Várias são os interesses para a existência dessa prática: especulação imobiliária, venda de recursos naturais do local (principalmente madeira), lavagem de dinheiro e até captação de recursos financeiros.

Por que grilagem?

O termo grilagem vem de um antigo macete dos falsificadores. Para dar aspecto de velho aos documentos criados por eles, os falsários deixavam os papéis em gavetas com insetos como o grilo. Com a ação dos animais, os papéis ganhavam a coloração amarelada com aspecto de gastos.

Um estudo feito pelo governo federal em 1999 para a Comissão Parlamentar de Inquérito da Grilagem apontava 100 milhões de hectares de terras griladas, a maioria no Pará. A princípio, estes números podem ter diminuído um pouco já que grandes fraudes foram anuladas, mas um levantamento de 2006, feito por institutos de pesquisas e organizações não-governamentais, mostraram que 30 milhões de hectares ainda eram grilados no Pará, o que equivale a 23% do território paraense. A razão para Estados como Amazonas e Pará serem os grandes alvos dos grileiros é o grande número de terras públicas. Só no Pará, as terras pertencentes aos governos federal e estadual representam cerca de 70% da área, entre assentamentos, reservas indígenas, unidades de conservação e áreas militares.


Uma teia de corrupção com fraudes em cartórios, conivência de funcionários públicos, compra de terras de posseiros cria essa equação. Além disso, segundo um levantamento do Ministério do Meio Ambiente, 45% do território amazônico não têm titulação ou destinação. Aliás, é bom lembrar que grileiro não é a mesma coisa que posseiro. O primeiro normalmente tem poderio econômico, circula nos corredores do poder e não vive na terra. O posseiro é aquele pequeno agricultor que toma posse da terra para sobrevivência.
A grilagem de terra conta hoje também com a ajuda da tecnologia, seja com o GPS, que ajuda na localização das terras, seja com a própria internet, onde são vendidos lotes enormes de terra sem nenhuma comprovação documental definitiva.
http://ambiente.hsw.uol.com.br

Os efeitos da chuva ácida

As florestas contam com a capacidade de tamponamento de seu solo para se protegerem da chuva ácida. As águas ácidas tiram as toxinas do solo, como o alumínio. As árvores absorvem as substâncias venenosas, e os escoamentos seguem para lagos, rios e canais. A chuva ácida também dissolve os minerais e os nutrientes úteis, como cálcio, magnésio e potássio, antes de as árvores absorvê-los. A chuva ácida raramente mata uma floresta totalmente, porém, ela retarda seu crescimento através de anos de degradação do solo. A perda de nutrientes e a exposição às toxinas aumentam as chances de as árvores caírem durante tempestades ou morrerem no inverno.

Mesmo as árvores em solos bem tamponados podem enfraquecer com a forte neblina ácida. As florestas de alta elevação penetram nas nuvens ácidas, que tiram das folhas os nutrientes e acabam com a capacidade das árvores de resistirem ao frio. Os picos descobertos das montanhas apalachianas revelam o efeito venenoso da chuva ácida nas florestas de alta elevação.


Fotógrafo: Michael Drager | Agência: Dreamstime.com
A chuva ácida pode corroer rocha e metal. Ela acelerou o
processo natural de desgaste do rosto desse anjo em rocha.

Materiais e acabamentos
A chuva ácida possui a terrível capacidade de destruir rocha e metal, os materiais mais duráveis. Construções antigas, monumentos e lápides carregam sinais leves de corrosão ácida e deterioração. A deposição ácida acelera o desgaste natural causado pela chuva, sol, neve e vento.

A chuva ácida também estraga a pintura de automóveis. A indústria automotiva considera a deposição ácida um tipo de precipitação ambiental corrosiva, além da seiva de árvores, pólen e excrementos de pássaros. As marcações ácidas deixam formas corrosivas e irregulares em superfícies horizontais. Pintar novamente é a única forma de reparar o acabamento de um carro desfigurado pela chuva ácida.


Fotógrafo: Socrates­ | Agência: Dreamstime.com
Chuva ácida e o Taj Mahal

Chuva ácida arruina alguns dos monumentos culturais mais belos do mundo. A redução das emissões, no entanto, ajudou a diminuir o índice de prejuízos na América do Norte e na Europa. O Taj Mahal na Índia também não teve sorte. O mausoléu construído pelo imperador Mughal Shah Jahan para sua querida esposa Mumtaz Mahal está perdendo seu brilho e tornando-se uma sombra pálida. Os cientistas responsabilizam a poluição das fundições locais e de uma refinaria de petróleo próxima.

Saúde
Já que a chuva ácida pode matar animais aquáticos, enfraquecer árvores e decompor rochas, é como se ela pudesse também queimar seres humanos. Mas ela não afeta as pessoas da mesma forma que o faz com peixes ou plantas. A chuva ácida parece uma chuva comum - não há perigo em nadar em um lago ácido. Mas os particulados de nitrato e sulfato da deposição seca podem causar asma, bronquite e problemas cardíacos. O NOx na deposição ácida também reage com os VOCs (compostos orgânicos voláteis) para formarem o ozônio no nível do solo. O ozônio, ou poluição, agrava e debilita o sistema respiratório.

Como funciona a chuva ácida


Introdução
Se você andar pelas montanhas apalachianas, verá marcas de árvores enfraquecidas e mortas. Se morar na cidade, verá construções de pedra deterioradas, riscos no capô do carro ou grades e estátuas metálicas corroídas. Você pode observar os efeitos da chuva ácida praticamente em todo lugar, mas com a atenção do público e da mídia voltada para a ameaça do aquecimento global, a chuva ácida foi deixada de lado. O castigo do céu parece um problema do século XX - uma questão tratada nas décadas de 80 e 90 pela legislação.
A chuva ácida ocorre com mais freqüência no Hemisfério Norte - a parte mais industrializada e poluída do globo. Os ventos podem soprar os gases das chaminés altas e carregar os poluentes para longe, atravessando estados e fronteiras nacionais no processo. A chuva ácida pode não ter a mesma abrangência global que os gases de estufa, mas é um problema transfronteira, conseqüentemente, internacional.

As emissões de dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio reagem com
o vapor da água na atmosfera para criar os ácidos nítrico e sulfúrico


A chuva ácida, também conhecida como deposição ácida, é provocada por emissões de dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de nitrogênio (NOx) de usinas de energia, carros e fábricas. Fontes naturais, como vulcões, incêndios florestais e relâmpagos também contribuem para a poluição feita pelo homem. SO2 e NOx tornam-se ácidos quando entram na atmosfera e reagem com o vapor d'água. Os ácidos nítrico e sulfúrico resultantes podem cair como deposições secas ou úmidas. A deposição úmida é a precipitação: chuva ácida, neve, granizo ou neblina. A deposição seca cai como particulados ácidos ou gases.

Chuva ácida volta a preocupar cientistas


Desta vez, o problema está nas emissões de óxidos de nitrogênio em países da Europa e nos Estados Unidos

Maria Fernanda Ziegler

Um problema antigo volta a preocupar cientistas no Primeiro Mundo. A chuva ácida voltou a ser detectada na Europa e nos Estados Unidos, só que desta vez ela está sendo provocada por substâncias diferentes. Diferentes tipos de óxidos de nitrogênio liberados na atmosfera por termoelétricas, fertilizantes agrícolas e veículos automotivos quando combinados com a água da chuva produzem ácido nítrico (HNO3), que provoca desequilíbrios no solo, chegando a matar plantas, peixes e insetos, se firmando como um grave risco ambiental. A substância também contribui para o aumento no solo de minerais tóxicos como o alumínio, que quando carregado pelo curso dos rios é altamente tóxico para espécies aquáticas.

De acordo com William Schlesinger, presidente do Cary Institute, que estuda o retorno da chuva ácida, o ácido nítrico pode ser tão prejudicial para o meio ambiente quanto o óxido de enxofre foi na década de 70. Os óxidos de nitrogênio também eram emitidos naquela época, mas agora sua emissão está maior. “Conforme as emissões de dióxido de enxofre (SO2) foram caindo, há 30 anos, as de óxidos de nitrogênio foram crescendo na atmosfera”, disse ao iG Schlesinger. Outra diferença é que os óxidos de nitrogênio se dispersam na atmosfera com um pouco mais de facilidade que os de enxofre, de acordo com o professor.

Dados da agência americana de proteção ambiental (EPA) afirmam que as emissões de dióxido de enxofre diminuíram quase que 70% de 1990 a 2008. Já as emissões de dióxido de nitrogênio diminuíram apenas 35% no mesmo período. O composto começa a substituir o ácido sulfúrico como novo vilão do meio ambiente.

Na Europa, muitos países também não conseguiram atingir as metas de poluição do ar por nitrogênio acordadas no Protocolo de Gotemburgo, de 1999, sobre a diminuição de emissões atmosféricas.

Questão antiga
Há 30 anos a chuva ácida, junto com o buraco da camada de ozônio, era o principal problema ambiental do mundo. Os primeiros registros de danos na vegetação e saúde provocados por emissões de termoelétrica datam de 1661 na Inglaterra e França.

A maior tragédia com chuva ácida aconteceu na cidade de Londres em dezembro de 1952, quando condições da atmosfera impediram a dispersão de poeira presente no ar. Cerca de quatro mil pessoas morreram ao respirar ar que continha alta quantidade de enxofre, presente na atmosfera por conta da queima de carvão.

Na década de 60, estudos norte-americanos já mostravam que a água da chuva estava de 100 a 1000 vezes mais ácida no leste americano devido as emissões de óxidos de enxofre e também de nitrogênio por conta de termoelétricas.

De acordo com a professora Adalgiza Fornaro, do Instituto de Química da USP, o fenômeno da chuva ácida continua a existir em diferentes regiões do planeta. “No Brasil temos pouca emissão de enxofre em comparação com os outros países, pois 70% de nossa energia provêm de hidrelétrica”, disse. Em relação aos óxidos de nitrogênio, a professora afirma que também não temos a mesma tendência que os países desenvolvidos. “Para a gente não é tão forte quanto lá”, disse.

Dados do estudo Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, apresentados pelo IBGE na quarta-feira, mostram que, na maior parte das regiões metropolitanas do país, a concentração de poluentes do ar está estável ou em declínio, e isto inclui gases como o dióxido de enxofre e os óxidos de nitrogênio.

No País, uma das piores tragédias relacionadas à chuva ácida aconteceu em Cubatão entre 1984 e 1985, quando a concentração de sulfato atingiu níveis muito altos nas águas das chuvas. Ainda assim, tecnicamente elas não foram consideradas como chuvas ácidas, pois o pH da água estava alto, o que fez com que ela ficasse alcalina. A causa da concentração de ácidos de enxofre em Cubatão se deu por causa da emissão de indústrias da região.

Estudos analisam emissões de óxidos de nitrogênio


Duas pesquisas publicadas hoje analisam a influência do gás poluente nas grandes cidades e na química dos oceanos

Alessandro Greco

Os óxidos de nitrogênio são um dos gases mais nocivos à saúde humana e ao ambiente, causando de irritação nos olhos à destruição da camada de ozônio, passando pela chuva ácida. Emitidos, por exemplo, por motores de automóveis, a presença desses óxidos em megacidades alcançou níveis preocupantes mas os inventários delas ainda são imprecisos.

Um estudo publicado nesta quinta-feira (22) na revista Science desenvolveu um método para capturar ao mesmo tempo a concentração e o tempo de vida dos óxidos de nitrogênio com base em dados de satélite e padrões dos ventos em megacidades como Madri, Los Angeles, Tóquio, Moscou, Riad e Cingapura.

“Um inventário preciso dessas emissões é pré-requisito para a modelagem e entendimento da química da atmosfera. Os inventários feitos de baixo para cima [não por satélites] são baseados em estatísticas nacionais. Ou seja: é difícil conseguir uma consistência global com eles e as incertezas ainda são altas”, afirmou ao iG Steffen Beirle, do Instituto Max Planck, na Alemanha. E completou: “Vamos debater nossas descobertas com aqueles que fazem os inventários de emissões globais e ver como nossos resultados podem ser usados para atualizá-los”.

O trabalho foi feito em locais que estão razoavelmente isolados de complexos industriais e de outras cidades, uma forma de simplificar a análise das emissões. Atualmente os pesquisadores estão trabalhando na modificação da metodologia para que ela possa ser aplicada a todo tipo de cidade.

Outro estudo publicado na mesma edição da Science descobriu que as emissões de nitrogênio estão mudando a química do Oceano Pacífico. O pesquisador Tae-Wook Kim, da Universidade de Ciência e Tecnologia da Coréia, e colegas analisaram duas bases de dados com concentrações de nitrato e fosfato nos mares ao redor da Coréia e do Japão nos últimos 30 anos. O grupo constatou que a quantidade de nitrato aumentou muito em relação ao fósforo, fruto da deposição dos óxidos de nitrogênio, no leste da China e na Coréia do Sul.

A descoberta confirma suspeitas que vem sendo levantadas há quase 30 anos de que a deposição de nitrogênio no mar modifica a química dos oceanos. Segundo os cientistas caso este padrão de aumento do nitrato continue, a vida marinha da região pode ser afetada pela falta de fosfato.

Temperatura da água no Ártico é a mais quente em 2 mil anos

Estudo calcula que houve aumento de 1,94 ºC na temperatura da água, o que altera a circulação oceânica em todo o mundo

A água do Ártico está mais quente que em qualquer período dos últimos dois mil anos. Pesquisadores de universidades da Alemanha, Noruega e Estados Unidos analisaram sedimentos no estreito de Fram, no oceano Ártico e o resultado do estudo sugere que o rápido aquecimento do Ártico está vinculado à intensificação da transferência de calor para todo o Atlântico Norte, podendo também ter consequências no hemisfério Sul.

O estudo mostrou que a água do estreito de Fram, entre a Groenlândia e o arquipélago norueguês Svalbard aqueceram cerca de 1,94 º C no último século. Hoje, a temperatura da água da região está cerca de 1,38 ºC mais quente do que durante o último episódio de aquecimento, que aconteceu na Idade Média, entre 900 e 1300, e aqueceu o Atlântico Norte, afetando o clima na Europa setentrional e norte da América do Norte.

O aumento da temperatura neste ponto tem consequências no fluxo de correntes marinhas de outras partes do planeta. “O recorde da temperatura da água nesta área influencia na circulação oceânica como um todo”, disse ao iG Evguenia Kandino do Instituto de Ciências Marinhas Leibniz, da Alemanha, que participou do estudo.

O que acontece
Robert Spielhagen, autor do artigo publicado nesta edição do periódico científico Science, explica que o fluxo crescente de calor atrasa o congelamento da água do mar, o que resulta no afinamento da cobertura de gelo marinho. “Isto terá uma influência fundamental sobre a circulação atmosférica em grande escala e em torno do Ártico e pode até mesmo influenciar o clima no hemisfério sul”, disse.

De acordo com o estudo, a diminuição acelerada da cobertura de gelo ártico e o aquecimento do oceano e da atmosfera na região estão, em parte, relacionados com uma maior transferência de calor do Atlântico.

Spielhagen afirma o recorde de temperatura deve estar ligado à ação do homem, visto que não há temperatura semelhante a de agora nos últimos 2000 mil anos.

“As razões e mecanismos para o aquecimento são múltiplas, mas em geral eles estão relacionados ao excesso de calor no sistema oceano-atmosfera por causa do efeito estufa. O aumento da energia térmica deste sistema pode fortalecer ambos os sistemas de circulação oceânica e atmosférica”, disse.

Como foi feito
Os pesquisadores conseguiram os dados a partir da análise de sedimentos de protozoários chamados foraminíferos, que vivem em uma temperatura específica nas profundezas do oceano. Suas conchas se depositam no fundo do mar e forma camadas conforme o tempo. A partir de um cálculo que levou em conta a quantidade de conchas e análise química de sua composição, os pesquisadores conseguiram obter um registro confiável das temperaturas dos últimos 2 mil anos.
A água do Ártico está mais quente que em qualquer período dos últimos dois mil anos. Pesquisadores de universidades da Alemanha, Noruega e Estados Unidos analisaram sedimentos no estreito de Fram, no oceano Ártico e o resultado do estudo sugere que o rápido aquecimento do Ártico está vinculado à intensificação da transferência de calor para todo o Atlântico Norte, podendo também ter consequências no hemisfério Sul.

O estudo mostrou que a água do estreito de Fram, entre a Groenlândia e o arquipélago norueguês Svalbard aqueceram cerca de 1,94 º C no último século. Hoje, a temperatura da água da região está cerca de 1,38 ºC mais quente do que durante o último episódio de aquecimento, que aconteceu na Idade Média, entre 900 e 1300, e aqueceu o Atlântico Norte, afetando o clima na Europa setentrional e norte da América do Norte.

O aumento da temperatura neste ponto tem consequências no fluxo de correntes marinhas de outras partes do planeta. “O recorde da temperatura da água nesta área influencia na circulação oceânica como um todo”, disse ao iG Evguenia Kandino do Instituto de Ciências Marinhas Leibniz, da Alemanha, que participou do estudo.

O que acontece
Robert Spielhagen, autor do artigo publicado nesta edição do periódico científico Science, explica que o fluxo crescente de calor atrasa o congelamento da água do mar, o que resulta no afinamento da cobertura de gelo marinho. “Isto terá uma influência fundamental sobre a circulação atmosférica em grande escala e em torno do Ártico e pode até mesmo influenciar o clima no hemisfério sul”, disse.

De acordo com o estudo, a diminuição acelerada da cobertura de gelo ártico e o aquecimento do oceano e da atmosfera na região estão, em parte, relacionados com uma maior transferência de calor do Atlântico.

Spielhagen afirma o recorde de temperatura deve estar ligado à ação do homem, visto que não há temperatura semelhante a de agora nos últimos 2000 mil anos.

“As razões e mecanismos para o aquecimento são múltiplas, mas em geral eles estão relacionados ao excesso de calor no sistema oceano-atmosfera por causa do efeito estufa. O aumento da energia térmica deste sistema pode fortalecer ambos os sistemas de circulação oceânica e atmosférica”, disse.

Como foi feito
Os pesquisadores conseguiram os dados a partir da análise de sedimentos de protozoários chamados foraminíferos, que vivem em uma temperatura específica nas profundezas do oceano. Suas conchas se depositam no fundo do mar e forma camadas conforme o tempo. A partir de um cálculo que levou em conta a quantidade de conchas e análise química de sua composição, os pesquisadores conseguiram obter um registro confiável das temperaturas dos últimos 2 mil anos.

Água doce no Ártico pode alterar clima na Europa


Cientistas afirmam que derretimento polar pode mudar padrões das correntes marinhas e da circulação atmosférica

EFE
A crescente massa de água doce procedente do gelo derretido no oceano Ártico é uma incógnita de consequências imprevisíveis em futuros cenários climáticos, segundo pesquisadores de dez países europeus.

A massa de água, que em 2009 tinha um volume equivalente a duas vezes o Lago Vitória na África (o segundo maior do mundo) e cujo tamanho aumenta, poderia se precipitar bruscamente no oceano Atlântico caso mudem os padrões atmosféricos atuais.

Esta é uma das conclusões do projeto Clamer, feito por 17 institutos de 10 países europeus e que consiste em reunir e sintetizar mais de 300 pesquisas financiadas pela União Europeia nos últimos 13 anos sobre a mudança climática e seus efeitos sobre os oceanos e mares europeus.

O relatório completo, que teve algumas conclusões reveladas nesta terça-feira em uma nota divulgada à imprensa pelo Instituto Marinho de Flandres, será apresentado em uma conferência internacional na Academia Real Flamenga da Bélgica nos próximos dias 14 e 15 de setembro em Bruxelas.

Durante os últimos 12 anos, os ventos que circulam no sentido horário no Ártico contiveram, sobretudo na região da bacia canadense, uma massa de água relativamente doce proveniente da corrente excepcionalmente elevada dos rios (canadenses e siberianos) e do gelo marinho derretido, explicou a oceanógrafa holandesa Laura de Steur.

Quando este padrão mudar, a água fria penetrará no oceano Atlântico e interferirá no sistema de correntes marinhas (circulação termohalina) que transmite calor em direção ao norte, modera o clima na Europa e leva nutrientes essenciais para a vida marinha.

O que acontecerá então é "difícil de prever", afirma De Steur, embora a cientista descarte como "absurdo hollywoodiano" o cenário de "catástrofe congelada" descrito em 2004 no filme "O Dia Depois de Amanhã".

"As eras do gelo ocorrem em períodos geológicos de dezenas de milhares de anos", assinala De Steur na nota, apesar de admitir que "pode haver grandes mudanças regionais se a circulação do oceano mudar".

Um aumento no fluxo de água doce na superfície do Atlântico Norte pode levar a um significativo enfraquecimento ou um completo colapso na circulação termohalina, visto que provocaria a diluição da água salina e a perda de densidade.

A circulação ocorre por diferenças de densidade, com as massas mais densas tendendo a afundar e as menos densas, a ascender.

Segundo Detlef Quadfasel, do centro climático da Universidade de Hamburgo, as mudanças nestas correntes podem ser abruptas - uma década ou duas -, mas espera-se que sejam mais gradativas.

A maioria dos modelos climáticos prediz para o final deste século um enfraquecimento da ordem de 20% neste fenômeno natural fundamental para o clima e a vida marinha.

"As mudanças nestes parâmetros físicos podem alterar totalmente as condições de vida e a distribuição de muitas espécies" em todas as profundidades, destaca na nota o cientista alemão Thomas Neumann.

No entanto, os cientistas afirmam que o aumento de temperaturas devido à acumulação de gases do efeito estufa na atmosfera pode compensar em parte o efeito de esfriamento que uma redução destas correntes submarinas causaria na Europa.

A mudança climática produzirá outras alterações nos oceanos, segundo os especialistas europeus, como o aumento do nível de água, que será mais quente e ácida, e uma maior proliferação de tempestades.

Mudança climática destrói costas do Ártico

Erosões de até dez metros por anos estão afetando populações locais e prejudicando a sobrevivência de plantas e animais
Foto: EFE

O aquecimento global está descongelando parte da camada de gelo permanente dos níveis superficiais do solo
O aquecimento global está devorando as costas do Ártico, onde erosões de até 10 metros ao ano estão afetando comunidades e ameaçando a sobrevivência de espécies de plantas e animais locais.

Esta é a principal conclusão de um duplo estudo publicado neste domingo (17) por um consórcio de 30 cientistas de 10 países que analisou a situação de 100 mil quilômetros de costa, equivalente as fronteiras terrestres dos oito países que fazem fronteira ao norte com o oceano Ártico.

"Parece que a erosão do litoral do Ártico está acelerando de forma dramática. O corte médio é de meio metro ao ano, mas em algumas zonas chega a ser de 10 metros ao ano", diz à Agência Efe Volker Rachold, investigador do Instituto Alfred Wegener de Potsdam, na Alemanha.

As áreas mais afetadas são, segundo o relatório científico, o mar de Laptev e o leste da Sibéria, ambos na Rússia, e o mar de Beaufort, que faz fronteira com as costas do Canadá e Alasca, nos EUA.

O estudo alerta que, como as costas do Ártico representam um terço do total do litoral do planeta, "a erosão pode chegar a afetar áreas enormes no futuro".

Tal retrocesso do litoral é consequência, sem dúvida, do aquecimento global, um problema que se agrava no Círculo Polar Ártico, onde os incrementos dobram o aumento térmico meio global, explica o investigador alemão.

O processo climatológico está descongelando parte do permafrost litorâneo, a camada de gelo permanente dos níveis superficiais do solo própria das regiões muito frias.

"Vemos rápidas mudanças em uma situação que permaneceu estável durante milênios", denuncia o estudo, o primeiro de caráter compreensivo que analisa as consequências físicas (geológicas e químicas), ecológicas e humanas da erosão do litoral árticas.

Seu impacto é "substancial" para os ecossistemas árticos litorâneos e para a população humana assentada nessas regiões, aponta o documento "Estado do litoral Ártica 2010", de 170 páginas e disponível na internet.

Os mais afetados pelas mudanças são os animais selvagens que habitam nessas regiões, especialmente os extensos rebanhos de renas, e os frágeis ecossistemas dos lagos de água doce próximos à costa.

O homem também se vê afetado por este grave processo erosivo, mas dada a pouca população no litoral mais setentrional do planeta, o estudo retrata mais como incentivo que como vítima neste problema meio ambiental.

domingo, 25 de setembro de 2011

Novo estudo confirma aceleração do derretimento do Ártico

Foto: Getty Images

De acordo com estudo, diminuição do gelo marinho contribui para aceleração do derretimento do Ártico
O Ártico está derretendo mais rápido que o esperado e pode aumentar o nível do mar em 1,5 metro, de acordo com um estudo do Programa de Avaliação e Monitoramento do Ártico (AMAP, da sigla em inglês), que contém os dados mais abrangentes dobre as alterações climáticas no Ártico. Estudos anteriores indicavam uma elevação de até 59 cm no nível do mar.

O relatório completo será entregue para ministros dos oito países do Ártico na próxima semana, mas um resumo incluindo os principais resultados foi obtido pela Associated Press nesta terça-feira (3).

O resumo destaca que as temperaturas do Ártico nos últimos seis anos foram as mais elevadas desde que as medições começaram em 1880 e que mecanismos de feedback apontam para o início de uma aceleração do aquecimento do clima.

Um dos mecanismos envolve a maior absorção de calor pelo oceano quando não está coberto por gelo. O gelo reflete a energia do sol, ao contrário do oceano que é mais escuro e absorve esta energia. Este efeito foi antecipado por cientistas "mas a evidência clara só foi observada no Ártico nos últimos cinco anos", afirmou o estudo da AMAP.

O relatório também contesta algumas das previsões feitas, em 2007, pelo Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC/ONU). A cobertura de gelo do mar no Ártico, por exemplo, está encolhendo mais rápido que o projetado pelo painel da ONU. O nível de cobertura de gelo no verão tem sido igual ou próximo do recorde a cada ano desde 2001, disse o relatório, prevendo que o oceano Ártico estará praticamente livre de gelo durante o verão em 30 ou 40 anos.

De acordo com a avaliação da AMAP, o painel da ONU foi muito conservador ao estimar quanto o nível do mar vai subir - um dos aspectos mais vigiada do aquecimento global por causa do impacto potencialmente catastrófico sobre as cidades costeiras e países-ilha.

O derretimento das geleiras e calotas polares do Ártico, incluindo o gelo da Groenlândia, está projetado para elevar o nível global do mar de 90 a 160 cm até 2100, de acordo com a AMAP.

Isto é mais que a projeção feita pelo IPCC, em 2007, cuja elevação seria entre 19 e 59 cm, e que não considerava a dinâmica das calotas polares no Ártico e na Antártida.

“As mudanças observadas nos últimos 10 anos no gelo marinho do Oceano Ártico, na massa de gelo da Groenlândia e nas calotas polares são dramáticas e representam uma alteração óbvia nos padrões de longo prazo”, afirmou o estudo da AMAP.

A principal função da organização é assessorar as nações ao redor do Ártico - EUA, Canadá, Rússia, Dinamarca, Noruega, Suécia, Islândia e Finlândia - sobre as ameaças ao ambiente ártico.

O relatório da AMAP afirmou que o derretimento de geleiras e camadas de gelo em todo o mundo tem se tornado o maior responsável pelo aumento do nível do mar. Sozinha, a Groenlândia corresponde por mais de 40% dos 3,1 milímetros de elevação do nível do mar observado anualmente entre 2003 e 2008. A perda de massa de gelo da Groenlândia, que cobre uma área do tamanho do México, aumentou de 50 gigatoneladas entre 1995-2000 para mais de 200 gigatonelas entre 2004-2008.

Cientistas ainda estão debatendo quanto da mudança observada no Ártico se deve às variações naturais e quanto ao aquecimento causado pela emissão de dióxido de carbono e outros gases causadores do efeito estufa. A AMAP projetou que a média das temperaturas de inverno e outono no Ártico vai subir de 3 a 6º C até 2080, mesmo que as emissões de gases com efeito de estufa sejam menores que na década passada.

As conclusões do relatório serão discutidas por alguns dos cientistas que ajudaram a compilar o estudo em uma conferência que começa quarta-feira (4) na capital dinamarquesa, Copenhague.

(Com informações da AP)

Degelo do Ártico abre duas rotas navegáveis

Pela segunda vez na história, a abertura pode servir de atalho para a navegação entre a ásia e a Europa
Foto: Getty Images

Pela segunda vez, desgelo no Ártico abre duas rotas navegáveis
A cobertura de gelo marinho do oceano Ártico registrou níveis mínimos, segundo os dados divulgados nesta sexta-feira pela Agência Espacial Europeia (ESA), que revelam que pela segunda vez na história se abriu para navegação a Passagem do Noroeste, que se soma à Rota do Mar do Norte.

A abertura dessa passagem "pode ser um atalho para a navegação entre a Europa e a Ásia", embora "possam surgir reivindicações de soberania e a possibilidade de que espécies marinhas migrem através do Oceano", de acordo com os cientistas da ESA.

É a segunda vez que ambas as passagens se abrem no Ártico desde que começaram as observações científicas com satélites na década de 1970, da mesma forma que ocorreu pela primeira vez em 2008. Isto indica que "a velocidade com que o degelo é produzido se acelerou" e avança para níveis históricos, segundo os especialistas da ESA.

"Estamos em uma nova etapa, com muito menos gelo do que antes do verão", explica o pesquisador do Instituto Meteorológico Dinamarquês Toudal Pedresen, que afirma que nos últimos cinco verões foram observadas "as menores coberturas geladas nunca antes registradas".

Os cientistas temem que em poucas semanas o recorde de perda de gelo de 2007 seja batido, quando no mesmo oceano se abriu pela primeira vez uma passagem navegável e foram contabilizados apenas 4,2 milhões de quilômetros quadrados de água gelada, metade do início dos anos 1980.

Em 2007, aconteceu uma série de "condições meteorológicas incomuns", como a chegada de ventos quentes à região central do Ártico, provocando um "forte degelo".

"O clima não se comportou da mesma forma este ano, mas a adiantada abertura das vias de navegação sugere que poderíamos estar a ponto de bater um novo recorde de perda de gelo", acrescentam os cientistas da Agência Espacial Europeia.

Notícias Geografia Hoje


Putin diz que rota comercial pelo Ártico vai concorrer com Suez
REUTERS

O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, previu nesta quinta-feira que a rota de navegação pelo Ártico ao longo da costa norte do país vai em breve rivalizar com o Canal do Suez como um forma rápida de ligação comercial entre a Europa e a Ásia.

A Rússia deseja retomar a linha de navegação da era soviética diante da queda recorde nos níveis de gelo no polo, o que pode acelerar as entregas de energia para a China e aumentar os negócios de transporte marítimo de cargas de empresas como a estatal Sovkomflot.

Autoridades em um fórum sobre o Ártico na cidade portuária de Arkhangelsk disseram que a Rússia precisa desenvolver sua infraestrutura para prevenir vazamentos de óleo, melhorar os portos e construir mais navios quebra-gelos para concretizar a visão de Putin.

"A rota mais curta entre os maiores mercados da Europa e a região da Ásia-Pacífico passa pelo Ártico. Essa rota é quase um terço mais curta do que a tradicional pelo sul", disse Putin aos participantes do fórum, incluindo o presidente da Islândia, Olafur Grimsson.

Os altos preços da energia, estimulados pela demanda chinesa e de outros mercados emergentes, estão ajudando a aumentar o interesse na rota de navegação pelo norte da Rússia, que reduz em 7.400 quilômetros (4.000 milhas náuticas) o caminho feito pelo Canal do Suez, no Oriente Médio.

"Quero destacar a importância da rota mar do Norte como uma artéria de transporte internacional que vai concorrer com as linhas de comércio tradicionais em taxas de serviço, segurança e qualidade", disse Putin.

"Governos e companhias privadas que escolherem as rotas de comércio do Ártico irão sem dúvida obter vantagens econômicas."

Com cientistas ao redor do mundo prevendo que as mudanças climáticas podem representar verões sem gelo no Ártico em uma década, a Sovkomflot e outras empresas aumentaram os testes com embarcações de carga na região polar, apesar de seus altos custos.

O Ártico foi atravessado no período recorde de oito dias no mês passado pelo navio cargueiro STI Heritage, de propriedade da Scorpio Tankers Inc., após partir dos Estados Unidos para a Tailândia.

Em agosto, um supercargueiro, o Vladimir Tikhonov, transportando 120 mil toneladas de gás natural condensado, tornou-se a maior embarcação de seu tipo a atravessar a passagem.

"Não tenho dúvida de que isso é só o começo", disse Putin sobre as viagens pioneiras.

A Rússia pretende vender uma participação de 25% na estatal de navios Sovkomflot, mas adiou a venda devido ao momento de crise na economia mundial.

A também russa Novatek, que vê a passagem pelo Ártico como parte de um projeto ambicioso para o envio de gás natural liquefeito a partir da península Yamal, estima que a rota vai reduzir de 10 a 15% os custos de transporte.

Em outro marco do interesse crescente, a Rosatomflot, que envia seus navios quebra-gelo atômicos para quebrar camadas de gelo de até dois metros, recebeu 15 pedidos de escolta em viagens pelo Ártico em 2011, ante apenas quatro em todo o ano de 2010.

Para atender à demanda, Putin disse que a Rússia vai investir 38 bilhões de rublos (US$ 1,2 bilhão) até 2014 para aumentar sua frota de quebra-gelos e planeja construir mais três até 2020.
Jornal A Folha de S. Paulo

sábado, 24 de setembro de 2011

O fim dos oceanos


Pescamos demais. Poluímos demais. Navegamos demais. E nem fazemos idéia do estrago que causamos nos mares
Por Claudia Carmello

Você nunca brincou de colocar uma concha no ouvido e ficar curtindo o barulho do mar, as ondas, a calmaria? Hoje seria bem mais realista colocar seu iPod no ouvido – e no volume máximo. Isso, sim, se aproxima do som que o oceano produz para boa parte das criaturas que vivem dentro dele. Um navio de carga emite, pelo estouro das bolhas que seus propulsores criam na água, ruídos de 150 a 195 decibéis. É mais do que uma britadeira (120 decibéis) ou um iPod no talo (114 decibéis). Imagine então o barulho produzido por 100 mil cargueiros que cruzam os mares durante o ano inteiro!

Qual o problema disso? É que os animais marinhos usam a audição para quase tudo – para encontrar o lugar de procriação, o parceiro sexual, a comida. E o mar virou uma linha cruzada dos diabos. Cientistas concluíram que a baleia-azul está ficando surda – escuta a distâncias até 90% menores do que antes. Já a orca está precisando gritar – produzir cantos mais longos para se fazer ouvir. Outras baleias aparecem mortas nas praias após testes militares com sonares caça-submarinos – seus 235 decibéis causam hemorragia nos ouvidos e nos olhos dos animais.

Os oceanos são 70% da superfície do planeta. Em volume, representam muito mais que isso. E sempre o vimos como uma vastidão infinita e onipotente. Mas não poderíamos estar mais enganados. Segundo a ONU, os mares estão em ruínas porque pescamos demais, produzimos lixo, gases do efeito estufa e esgoto demais e bagunçamos os ecossistemas. Pior: nem fazemos idéia do que está acontecendo lá embaixo em conseqüência disso. Ultimamente, aprendemos a pensar que o oceano está trasbordando de tanta água. Mas está acontecendo o contrário: ele está esvaziando, perdendo vida.

A PRÓXIMA FRONTEIRA
Conhecemos melhor o solo da Lua do que o fundo do mar, dizem os ecologistas. Nossa última fronteira são as águas profundas: entre 200 e 7 mil metros submarinos. Elas são 90% do volume dos oceanos e podem abrigar até 100 milhões de espécies – mais do que em todo o resto do planeta. A essa profundidade, não há luz para sustentar o fitoplâncton. Portanto, só animais e bactérias circulam. Até os 1 000 metros ainda há um lusco-fusco. Abaixo disso, a escuridão é total. Faz frio, de até 3oC.

SERES MUITO ESTRANHOS

As criaturas monstrengas das profundezas têm dentes ou olhos desproporcionais, protuberâncias que brilham no escuro, dimensões assustadoras – um tipo de água-viva chega a 40 metros de comprimento (algo como 13 andares)! Normalmente, esses seres vivem de restos caídos das águas de cima. Vivem muito tempo e deslocam-se e reproduzem-se com mais lentidão que os de superfície – por isso suas populações sofrem muito mais impacto com a sobrepesca.

Já comemos animais dessas profundezas. Por exemplo, o feioso olho-de-vidro, que nada a até 1 800 metros de profundidade, vive 150 anos e não procria antes dos 30 – por isso pescá-lo comercialmente
é tão pouco sustentável.

AS FAZENDAS MARINHAS
Uma solução encontrada para amenizar o declínio dos estoques de pesca é a aqüicultura, as fazendas marinhas. São hoje o setor da indústria alimentícia que mais cresce no mundo. Bem manejadas, as fazendas marinhas podem até aliviar a pressão sobre o oceano. Delas já saem 30% dos frutos do mar que comemos – salmão, truta, bacalhau, camarão.

No Brasil, os criadores de camarão desmatam e poluem imensas áreas de mangues preservados. Criadouros de salmão do Canadá sofreram uma explosão de parasitas que infestou o mar aberto e
as populações selvagens.

PARA SABER MAIS
The Unnatural History of the Sea Callum Roberts, Island Press, 2007.
The End of the Line, de Charles Clover, University of California Press, 2007.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Catástrofe no mar de Aral

Vista aérea mostrando a seca que atinge o Mar de Aral

O mar de Aral, entre o Cazaquistão e o Uzbequistão, está morrendo.

Ele tinha uma área equivalente à dos estados do Rio de Janeiro e Alagoas juntos. Por séculos, foi um oásis no meio do deserto. Mas agora o mar de Aral, entre o Cazaquistão e o Uzbequistão, está morrendo. Simboliza o que poderá acontecer com os outros mananciais do planeta se o ritmo do uso irracional continuar como nos dias de hoje. Apesar do nome, o Aral é um grande lago que se tornou salgado. Antes da década de 1960, tinha 62.000 km2 de extensão. Hoje, já perdeu dois terços da sua área de superfície.


Em toda a bacia do Aral, existem mais de 5 mil lagos, a maior parte na região dos rios Amu Daria e Sir Daria. Sua morte foi prevista há quase 50 anos, quando o então governo soviético desviou dois rios que o alimentavam para irrigar plantios de algodão. Os agrotóxicos poluíram 15% das águas, também castigadas pelos efeitos das barragens de 45 usinas hidrelétricas. A floresta que cercava suas margens praticamente acabou. Cerca de 80% das espécies de animais desapareceram.

Com a erosão e a retirada exagerada de água, o Aral recebe anualmente 60 milhões de toneladas de sal carregadas pelos rios, matando peixes e, por conseqüência, a indústria pesqueira que sustentava a economia local. O sal e os pesticidas agrícolas se infiltraram no solo. Contaminaram lençóis freáticos, tornaram impossível a lavoura e elevaram a níveis epidêmicos doenças como o câncer. O Aral pode desaparecer se nada for feito para modernizar os sistemas de irrigação e adotar práticas ambientais menos agressivas.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Frágil império - Grande Barreira de Coral

Minúsculos pólipos criaram uma obra-prima da natureza: a Grande Barreira de Coral. Mas esse paraíso azul corre perigo.
Por Jennifer S. Holland
Foto de David Doubilet


Largas faixas de coral, visíveis ao largo da costa leste da Austrália, assinalam o limite entre a plataforma continental e as águas mais profundas.

Pouco abaixo da superfície do mar de Coral, onde fica a Grande Barreira, os dentes dos peixes-palhaço roem as pedras, as garras dos caranguejos estalam em disputas por locais de refúgio e uma garoupa de 275 quilos se anuncia com um baque impetuoso ao fazer pulsar sua bexiga natatória. Tubarões passam como relâmpagos. Braços de anêmonas se agitam e minúsculos peixes parecem saracotear. Tudo o que não consegue se agarrar a algo rígido é arrastado e revirado a cada onda do oceano.

A diversidade do recife explica em parte por que essa barreira de coral foi batizada de grande. Ela abriga nada menos que 5 mil tipos de molusco, 1,8 mil espécies de peixe, 125 variedades de tubarão, além de incontáveis organismos microscópicos. Porém, o mais fascinante de tudo isso - e o que fez do lugar um Patrimônio da Humanidade - é a vasta extensão de corais, desde o Acropora cervicornis, que mais parece uma flor, até matacões recobertos de pardacentos corais nodosos, tão semelhantes ao couro quanto uma sela de montaria. Os corais moles se sobrepõem aos duros, as algas e as esponjas definem o colorido das rochas e todas as fendas servem de lar para algum tipo de animal. Não há biodiversidade equivalente em nenhuma outra parte do mundo.

O tempo, as marés e um planeta em constante mutação deram origem à Grande Barreira há milhões de anos. Agora, porém, todos os fatores que contribuem para o crescimento do recife estão se alterando em um ritmo jamais registrado.

Descoberta pelo Ocidente
Os europeus tiveram as primeiras notícias da Grande Barreira de Coral por intermédio do capitão James Cook, um explorador britânico que a descobriu por acaso. Em um crepúsculo de 1770, ao ouvir o som de madeira chocando-se contra rochas, Cook não fazia ideia de que seu barco havia topado com a maior estrutura viva do planeta: mais de 26 mil quilômetros quadrados de faixas e ilhotas de coral que aparecem e somem de forma sinuosa por 2,3 mil quilômetros.

Cook explorava as águas ao largo do atual estado australiano de Queensland quando seu navio, o HMS Endeavour, acabou preso no labirinto de recifes. Logo abaixo da superfície, torres aguçadas de coral penetraram o casco da embarcação e interromperam o seu avanço. Enquanto o madeirame se rompia e permitia a entrada da água do mar, a tripulação reuniu-se no convés, "com semblantes que exprimiam o horror diante da nossa situação", conforme Cook anotaria mais tarde em seu diário. O capitão e seus homens, porém, conseguiram chegar até a foz de um rio, onde puderam reparar a embarcação.

Na época em que os europeus se chocaram contra as rochas, a região já vinha sendo ocupada há milênios. Em termos culturais, a barreira de coral era um elemento crucial da paisagem para os povos aborígines e os habitantes das ilhas do estreito de Torres, que ao longo de incontáveis gerações a haviam explorado com canoas e ali pescado e compartilhado mitos sobre as suas criaturas. Décadas após o encontro de Cook com o monstro submerso, o cartógrafo inglês Matthew Flinders - que também enfrentou contratempos ao enveredar por entre os recifes - batizou a formação, inspirado em suas dimensões, de a Grande Barreira de Coral. Se os blocos principais desse recife fossem retirados do mar e postos a secar, as rochas cobririam uma área equivalente à do estado de Sergipe.

Expansão e erosão
O imenso recife deve sua existência a organismos que não são maiores do que um grão de arroz. Os pólipos, os elementos básicos do coral, são animais que vivem em colônias e abrigam algas simbióticas em suas células. Como essas algas são capazes de fotossíntese - ou seja, usam a luz para gerar energia -, cada pólipo tem condições de segregar uma "casa" de carbonato de cálcio, ou calcário. À medida que cada uma dessas casas se sobrepõe a outras, a colônia se expande tal qual uma cidade; criaturas marinhas logo se agarram à estrutura e proliferam, ajudando a consolidar essa estrutura.

Ao largo do litoral leste da Austrália, as condições são bastante favoráveis para essa formação. Os corais crescem sobretudo em águas rasas, límpidas e agitadas, com muita luz para assegurar a fotossíntese. Após milhões de gerações de pólipos, o resultado é um recife que não se mostra como algo definido, e sim como uma mescla de contornos, dimensões e formas de vida, cada qual determinada pelo ponto do oceano em que se encontra - o quão próxima está da costa, por exemplo - e também por outras forças, como a intensidade das ondas. Quando nos aproximamos do mar aberto, até um ponto em que há pouca luz e as águas são profundas, já não encontramos mais nenhum recife.

"Em toda a extensão da Grande Barreira, são os corais que determinam os padrões de vida", diz Charlie Veron, cientista do Instituto Australiano de Ciências Marinhas. Com mais de 400 espécies, "os corais constituem o hábitat de tudo o que vive aqui". A temperatura adequada, a transparência da água e as correntes oceânicas permitem aos corais lamelados, por exemplo, aumentar seu diâmetro em até 30 centímetros por ano. Por outro lado, o recife sofre constante erosão, sendo desgastado pelas ondas, pela composição química do oceano e pelos organismos que ingerem calcário. Essa tendência de desaparecimento é bem mais lenta que o constante acúmulo; mesmo assim, até 90% da rocha se dissipa e forma areia. Por isso, a fina camada de vida que recobre o recife, aquela visão que se descortina para o mergulhador, está em modificação permanente.

As camadas inferiores são recentes, em termos geológicos, com menos de 10 mil anos de idade. Já a verdadeira origem do recife é bem mais antiga. Há 25 milhões de anos, de acordo com Veron, na época em que a massa terrestre de Queensland avançou para as águas tropicais devido à movimentação da placa tectônica indo-australiana, larvas de coral começaram a pegar carona em correntes do Indo-Pacífico que rumavam para o sul, aderindo a estruturas fixas sempre que possível. Pouco a pouco surgiram colônias rochosas, que se expandiram pelo leito oceânico repleto de uma fauna marinha diversificada.

O avanço das pedras
Desde a época em que os recifes se consolidaram pela primeira vez, começaram e terminaram as eras glaciais, as placas tectônicas foram aos poucos avançando e as condições oceânicas e atmosféricas sofreram violentas flutuações. Com isso, os recifes passaram por inúmeros estados - de expansão e contração, sendo desfigurados e reocupados de acordo com os caprichos da natureza. "A história da Grande Barreira", diz Veron, "é um catálogo de desastres" provocados pelo caos planetário. Mas o recife sempre conseguiu se restabelecer.

As mudanças no clima mundial parecem ter um efeito devastador nos recifes. O aumento das temperaturas e a maior exposição aos raios ultravioleta solares causam uma reação de estresse nos corais conhecida como "branqueamento" - as algas coloridas em suas células tornam-se tóxicas e são expelidas, conferindo aos animais hospedeiros uma cor de esqueleto. Em seguida, ervas marinhas carnudas sufocam o que restou.

O aquecimento também está vinculado a um declínio, que se prolonga por seis décadas, no fitoplâncton oceânico - os organismos microscópicos responsáveis pela absorção dos gases do efeito estufa e que são a base da cadeia alimentar nos mares. Os peixes de recifes são igualmente afetados pela água mais quente - por vezes adotando um comportamento agressivo diante de predadores e presas. Alterações no nível do mar, tanto para cima como para baixo, têm impacto calamitoso: nas áreas rasas, com os corais expostos demais aos raios solares, ou, pelo contrário, ao ampliar sua distância da superfície, em profundidades nas quais recebem pouca luz.

Uma preocupação imediata é a de que as maciças inundações ocorridas na Austrália no início deste ano tenham lançado sedimentos e água impregnada de toxinas nos recifes próximos a Queensland. Serão necessários anos para se estimar o dano causado à fauna marinha, mas é possível que ocorram extinções desastrosas.

Além de tudo isso, há o teste crucial do ácido. Em todo o planeta, os ecossistemas coralinos foram muito afetados durante as cinco extinções em massa já registradas, a primeira das quais há 400 milhões de anos. Os gases de efeito estufa aumentaram no decorrer dos milênios e, ao que tudo indica, a liberação maciça de dióxido de carbono nos períodos de maior atividade vulcânica foi um fator importante no aniquilamento dos corais, sobretudo na mais recente extinção, 65 milhões de anos atrás. Naquela época, os oceanos absorveram da atmosfera quantidade cada vez maior de gases estufa, o que causou aumento na acidez da água. O pH mais baixo (ácido) prejudicou a capacidade de os animais marinhos moldarem conchas e esqueletos de calcário.

Em alguns oceanos, o fenômeno está voltando a ocorrer. Os animais mais vulneráveis à ação corrosiva do ácido são os corais ramificados de crescimento rápido e as indispensáveis algas excretoras de cálcio que contribuem para a amalgamação do recife. Quanto mais frágil a estrutura, maior é a chance de ela se romper sob a força de ondas, doenças, poluentes e outros fatores.

Em épocas passadas, muitos corais se adaptaram às alterações na acidez dos oceanos. "Mas há uma diferença: houve longos intervalos entre uma e outra ocorrência, com milhões de anos para que os corais se adaptassem", diz Veron. O grande temor do cientista é que, com as emissões sem precedentes de CO2, enxofre e nitrogênio devido às atividades humanas, acrescidas pelo aumento na liberação de metano ocasionada pelo derretimento do gelo no planeta, boa parte da Grande Barreira acabe despojada de sua fauna no prazo de 50 anos. O que vai sobrar? "Esqueletos de coral recobertos de muco de algas", diz ele.

Passo a passo
Claro que os 2 milhões de turistas que visitam a formação natural a cada ano ainda não se decepcionam. Para quem souber para onde olhar, contudo, os danos são evidentes. O recife exibe uma cicatriz de 3 quilômetros de comprimento, provocada pela colisão de um navio carvoeiro chinês em abril do ano passado. Outros encalhes de barcos e vazamentos de petróleo macularam o hábitat, assim como o escoamento de nutrientes de áreas agrícolas.

No entanto, os australianos não estão dispostos a ficar parados enquanto os recifes se desintegram. Como disse o capitão do barco que me levou a uma área de mergulho, "sem a Grande Barreira, não há nada aqui além de água salgada". Os visitantes conduzidos de barco até as bordas da Grande Barreira injetam mais de 1 bilhão de dólares por ano na economia australiana.

Na visão dos cientistas, o desafio é manter o recife saudável a despeito das mudanças aceleradas. "Para se reparar o motor de um carro, é preciso saber como ele funciona", comenta o biólogo marinho Terry Hughes, da Universidade James Cook. "E o mesmo se aplica aos recifes." Uma das prioridades é avaliar o impacto total da pesca excessiva. Por ser uma atividade tradicional, a pesca comercial continuou a ser realizada mesmo depois que, em 1975, os 344,4 mil quilômetros quadrados de hábitat foram transformados em reserva oceânica. Em 2004, dado o alarmante volume de retirada de peixes, o governo australiano proibiu todo o tipo de pesca em um terço dessa área. A recuperação biológica mostrou-se mais vigorosa e rápida que a prevista; no prazo de dois anos após a proibição, a quantidade de trutas-de-coral, por exemplo, dobrou nos recifes.

Outro interesse dos pesquisadores é descobrir o que torna algumas espécies de coral mais resistentes durante as épocas de mudança. "Sabemos que há recifes que passam por condições mais estressantes que outros", diz o especialista Peter Mumby, da Universidade de Queensland. "Com base em dados acumulados durante décadas sobre a temperatura do mar, hoje temos meios de traçar um mapa dos corais mais aclimatados ao calor e concentrar ali esforços de conservação." Mumby explica que o entendimento de como os corais se recuperam de episódios de branqueamento - e a capacidade de prever onde haverá crescimento de novos pólipos - pode ser muito útil na definição de futuras reservas. Até mesmo o incisivo Veron admite que a sobrevivência dos corais é viável no longo prazo caso as ameaças contra os recifes sejam contidas - logo.

A natureza conta com as próprias defesas. Muitos dos construtores de recife evoluem por meio da hibridação - na qual há a mescla de genes de espécies distintas. No recife, cerca de um terço dos corais se reproduz por meio de uma desova anual em massa. Durante esses eventos, até 35 espécies diferentes em um trecho do recife liberam ao mesmo tempo pacotes de ovos e de esperma, o que significa que milhões de gametas de pais geneticamente distintos se misturam em uma sopa na superfície do oceano. "São oportunidades excepcionais para a geração de híbridos", explica a bióloga marinha Bette Willis. Sobretudo agora, com as mudanças no clima e na composição química dos oceanos, acrescenta ela, a hibridação pode oferecer uma via expressa para adaptação e resistência contra doenças.

Na realidade, uma das lições é que, apesar das ameaças preocupantes da atualidade, a Grande Barreira de Coral não vai se desintegrar com facilidade. Afinal, ela conseguiu resistir e sobreviver a outras mudanças catastróficas. Além disso, a enorme variedade de fauna marinha está ali à disposição para ajudar a manter a integridade dos recifes. Em 2007, os cientistas constataram que nos locais em que prosperam os peixes herbívoros o mesmo se dá com os corais, sobretudo em águas poluídas com excesso de nutrientes. "Quando se eliminam os herbívoros, as ervas marinhas substituem os corais", diz Hughes.

Quem visita os recifes logo nota o trabalho vital realizado pelos peixes. Sob a luz mosqueada de uma tarde na extremidade norte da Grande Barreira, as muralhas de coral elevam-se sobre uma espécie rara de peixe-morcego, com máscara negra e longas barbatanas, que mordisca fiapos de sargaço. E um cardume de peixes-papagaio - com dentes unidos em forma de lâmina, como se fossem um alicate - ataca com vontade tapetes de algas que se instalaram nas rochas.

National Geographic Brasil

Biodiversidade, água, energia. Quando cuidaremos das nossas torres?



Washington Novaes
Na manhã de 11 de setembro de 2001 o autor destas linhas estava em Tefé, no Amazonas, preparando-se para embarcar no porto rumo à Reserva de Mamirauá, lá pelas bandas dos Rios Japurá e Solimões, onde seriam gravadas cenas para um documentário da TV Cultura de São Paulo chamado Biodiversidade: Primeiro Mundo é Aqui. Sentado na calçada em frente a um hotel, olhava enquanto a equipe carregava numa van os equipamentos de gravação. Até que o porteiro do hotel, correndo e batendo uma mão na outra, veio dizer, esbaforido: “Um avião derrubou o maior prédio de Nova York. Está lá, na televisão”. De fato, estava, deixando-nos todos perplexos. Mas era preciso partir. As “voadeiras” que nos levariam pararam, entretanto, num posto flutuante de combustíveis e lá havia uma televisão que mostrava um segundo avião derrubando uma segunda torre. Porém não tínhamos como esperar uma explicação, seguimos adiante. Nos cinco dias seguintes, como em Mamirauá não havia televisão nem telefone, ficamos, todos a circundar a reserva, a ver só água e florestas, sem nenhuma notícia, imaginando: será a terceira guerra mundial? Só no fim do quinto dia, num posto flutuante do Ibama, pudemos ver um noticiário de TV e entender o que acontecera.

Já se sabia, nesse 2011, que o Brasil detinha entre 15% e 20% da biodiversidade mundial e que essa é a maior riqueza real, concreta, do planeta (medicamentos, alimentos, materiais). Já se lutava, em várias frentes, por uma política de conservação efetiva para o bioma. Passados dez anos, o cálculo que se faz é de que 18% da floresta já tenha desaparecido e que se chegar a 20% pode haver “uma inflexão”, como tem advertido o conceituado biólogo Thomas Lovejoy (Folha de S.Paulo, 14/8): poderá haver mudanças fortes no regime de chuvas, afetando também Mato Grosso, o sul do País, até a Argentina. Experiente, Lovejoy diz que não nos devemos preocupar com ameaças do exterior, porque o mais grave já está aqui: “A pior forma de biopirataria é a destruição da floresta”.

Muitas vozes se somam à dele. O professor Paulo Moutinho, da Universidade Federal do Pará, lembra que “as florestas tropicais são o ar-condicionado do planeta” (Eco 21, julho 2011). O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos alerta que “a miséria está transformando a Amazônia numa das principais rotas do tráfico internacional de armas e drogas” (Estado, 1.º/9). O próprio secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, se diz “muito preocupado” com o desmatamento, que “diz respeito a todos os países, é uma questão global”, até porque responde por 20% das emissões de gases que intensificam mudanças climáticas. E espera que esse seja um dos temas centrais da Rio+20 (Estado, 18/6). Só que o desmatamento voltou a crescer: 1.435 quilômetros quadrados de agosto de 2010 a maio de 2011 (mais 24%) e 6.081 km2 de florestas degradadas no mesmo período (mais 363%) – principalmente ao longo das principais rodovias, 65% em áreas privadas, 24% em assentamentos. Uma progressão que leva o prudente Financial Times (31/8) a dizer que “a Amazônia é um teste político para a presidente Dilma”.

Resta saber em que termos. A própria presidente autorizou a redução da área de parques e reservas para permitir discutíveis obras de hidrelétricas na região – que nem sequer terão como principal mercado os Estados do bioma: só 3,2% da energia de Belo Monte será consumida pelos paraenses e 4,1% pela Amazônia; 70% ficará para concessionárias de São Paulo e Minas, 14% para a Bahia (Diário do Pará, 31/8). Isto é, irá para linhões de transmissão, uma rede que já perde 17% e, segundo o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica, precisaria ser praticamente toda trocada; foi implantada para resistir a ventos de até 80 quilômetros por hora e hoje enfrenta o dobro (Geodireito, 2/9).

E não é só. As pastagens respondem pela ocupação de 62% das áreas de desmatamento medidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Estado, 3/9). Mas o novo relatório sobre o Código Florestal, em discussão no Congresso Nacional, continua a abrir o facilitário para desmatadores, inclusive de reservas legais obrigatórias e áreas de proteção permanente – além de transferir para governos estaduais poder para legislar na área, facilitando as pressões locais de agropecuaristas e políticos.

E tudo isso vai agravar a situação da Amazônia. Exatamente na hora em que novo estudo sobre a biodiversidade mundial aponta que ela tem mais que o dobro das espécies até agora apontadas (8,7 milhões, pelo menos, quando se contabilizavam 3,1 milhões). Se a Amazônia tem um terço da biodiversidade brasileira e esta corresponde a pelo menos 15% da biodiversidade planetária, a Amazônia terá quase 500 mil espécies. Quanto vale isso, lembrando, segundo Lovejoy, que só o comércio mundial de medicamentos derivados de plantas movimenta pelo menos US$ 250 bilhões anuais – e o Brasil nem sequer participa dele, porque não destina verbas suficientes para pesquisas, como recomenda a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência?

Não bastasse, num momento em que o mundo agoniza com a chamada crise da água, cientistas descobrem a quatro quilômetros de profundidade, sob o Rio Amazonas, outro rio, que corre de oeste para leste em 6 mil quilômetros e desemboca perto da foz do grande rio (Estado, 25/8). Seu fluxo, de 3 mil metros cúbicos por segundo, é maior que o do Rio São Francisco. Em pouco mais de 20 minutos poderia abastecer com 350 litros (consumo diário) cada um dos 11,4 milhões de paulistanos. E isso num país que já tem quase 13% de toda a água superficial do planeta, fora a dos aquíferos subterrâneos.

Biodiversidade, água, energia. Quando passaremos a dar prioridade em nosso pensamento político e na estratégia a fatores como esses, principalmente quando as sucessivas crises financeiras mundiais indicam que o mundo terá de valorizar recursos concretos, em lugar de papéis?

Washington Novaes é jornalista.

Artigo originalmente publicado em O Estado de S. Paulo.

EcoDebate, 12/09/2011

Até 25% da Amazônia pode ficar sem proteção legal



Agostinho Vieira
Até 25% da Amazônia pode ficar sem proteção legal

A mudança em uma expressão no projeto do novo Código Florestal pode deixar 25% da Amazônia sem proteção legal. O alerta é de uma equipe coordenada pelo Museu da Amazônia (Musa) e pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Os cientistas solicitam que as áreas sujeitas a inundações da Amazônia e do Pantanal sejam tratadas por uma legislação específica. Em agosto, o grupo entregou um pedido de emenda no Projeto de Lei 30/2011, que trata da revisão do Código Florestal.

- A mudança no termo ‘margem média dos rios’, contida no artigo 4º da nova lei, pode deixar até 400 mil km² de floresta sem proteção - diz Ennio Candotti, diretor do Musa e vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SPBC). “Ao todo, uma área de 1 milhão de hectares fica vulnerável em todo o país”.

- A lei, como está, pode até ser aplicada sem problemas em rios menores, mas não cabe aos grandes rios, principalmente na Amazônia - explica Candotti. “Nossos rios têm uma variação de até 20 metros em sua profundidade entre os períodos de estiagem e cheia, e essa vazão de curso ‘médio’ previsto na lei praticamente não existe na região”.

Novas redefinições indicam que 25% da Amazônia seriam áreas úmidas e podem também ser afetadas caso o PL 30 não seja modificado. “Novos estudos revelaram que a área sujeita a inundação na Amazônia é muito maior”, diz Maria Teresa Piedade, pesquisadora do Inpa. “Só as áreas inundáveis já correspondem a 7% da floresta, sem contar outras categorias de áreas úmidas que ficaram desprotegidas”, explica.

São consideradas “áreas úmidas”, segundo o estudo, aquelas alagadas ao longo de grandes rios de diferentes qualidades de água, como águas pretas, claras, brancas; áreas alagáveis nos interflúvios, entre dois cursos de água, como campinaranas, campos úmidos, veredas e brejos; e áreas úmidas dos estuários, como mangues, banhados e lagoas costeiras.

O pedido de mudança foi encaminhado aos senadores das quatro Comissões – Agricultura, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente e Justiça – que avaliam o projeto de lei. A Academia Brasileira de Ciências, o SBPC e o governo do Amazonas também receberam a solicitação. “Outra questão é que a lei atual também contraria outras legislações, como a que estabelece o que é patrimônio da União”, conclui Candotti do Musa.
Os relatórios das comissões devem ser votados até o final de setembro. Após a apresentação desses relatórios, o novo formato do Código Florestal vai ser analisado pelo Senado Federal e, se aprovado, levado à sanção da presidente Dilma Rousseff.

Segundo a assessoria de imprensa do senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB/SC), ele não considera que exista inconsistência jurídica no PL 30, como levantou o Musa. Sobre as possíveis emendas, o senador afirma que só vai se posicionar após o relatório final das outras comissões. Luiz Henrique é responsável pelo projeto de lei em três das quatro comissões onde o projeto passa por adequações até sua votação. Apenas a comissão de meio ambiente possui outro relator, o senador Jorge Viana (PT/AC).

Uma comissão técnica do Ministério do Meio Ambiente (MMA) também defende uma legislação própria para Amazônia e o Pantanal. “Essas áreas são consideradas com Patrimônio Nacional pela Constituição Federal, e precisam ser tratados por uma legislação jurídica específica como acontece com a Mata Atlântica”, diz João de Deus, diretor de florestas do MMA, que integra a comissão ministerial responsável por avaliar o PL 30.

“Hoje se considerarmos a lei como está, sem as alterações que vão ser votadas, já existe uma interpretação subjetiva: são consideradas, para tratar as áreas de proteção, as margens dos rios a partir das cheias sazonais, ou seja, as cheias anuais. Isso é algo impossível de ser fiscalizado, pois exige uma leitura anual do que precisa ser preservado”, conclui João de Deus.

Na próxima terça-feira (13), a ministra do Meio Ambiente, Isabela Teixeira, vai se reunir com o senador Luiz Henrique para debater a proposta do novo código. A posição atual do ministério é que a lei vá para votação sem brechas legais ou contradições com a Constituição. No dia 14, a Comissão de Constituição e Justiça deve votar o primeiro relatório de Luiz Henrique. (Fonte/ Globo Natureza)
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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Perfil do solo: horizontes


Chama-se de perfildo solo a seção vertical que, partindo da superfície, aprofunda-se até onde chega a ação do intemperismo, mostrando, na maioria das vezes, uma série de camadas dispostas horizontalmente (horizontes), paralelas à superfície do terreno, que possuem propriedades resultantes dos efeitos combinados dos processos de formação do solo (pedogênese).

A natureza e o número de horizontes variam de acordo com os diferentes tipos de solo. Os solos geralmente não possuem todos esses horizontes bem caracterizados, entretanto, pelo menos possuem parte deles.

Horizonte O: camada orgânica superficial. É constituído por detritos vegetais e substâncias húmicas acumuladas na superfície, ou seja, em ambientes onde a água não se acumula (ocorre drenagem). É bem visível em áreas de floresta e distingui-se pela coloração escura e pelo conteúdo em matéria orgânica (cerca 20%).
Horizonte A: camada mineral superficial adjacente à camada O ou H. É o horizonte onde ocorre grande atividade biológica o que lhe confere coloração escurecida pela presença de matéria orgânica. Existem diferentes tipos de horizontes A, dependendo de seus ambientes de formação. Esta camada apresenta maior quantidade de matéria orgânica que os horizontes subjacentes B e C.
Horizonte E ou B: camada mineral situada mais abaixo do horizonte A. Apresenta menor quantidade de matéria orgânica, e acúmulo de compostos de ferro e argilo minerais. Ocorre concentração de minerais resistentes, como quartzo em pequenas partículas (areia e silte). Éo horizonte de máximo acúmulo, com bom desenvolvimento estrutural.
Horizonte C: camada mineral de material inconsolidado, ou seja, por ser relativamente pouco afetado por processos pedogenéticos, o solo pode ou não ter se formado, apresentando-se sem ou com pouca expressão de propriedades identificadoras de qualquer outro horizonte principal.
Horizonte R: camada mineral de material consolidado, que constitui substrato rochoso contínuo ou praticamente contínuo, a não ser pelas poucas e estreitas fendas que pode apresentar (rocha).
A presença dos vários tipos de horizontes mencionados está subordinada às condições que regulam a formação e evolução do solo. Como as condições variam de acordo com as circunstâncias do ambientes (material de origem, vegetação, clima, relevo, tempo) o tipo e número de horizontes de um perfil de solo são diferentes.

Geografia e a Arte

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