sábado, 30 de abril de 2011

Como a radiação pode ameaçar a saúde?

À medida que aumentam as preocupações quanto aos vazamentos de radiação em Fukushima, é possível saber quais serão as sequelas desse desastre?
iStockphoto/thad
EXPOSTOS: exposição temporária a níveis de radiação muitas vezes acima dos limites de segurança não é necessariamente perigosa.
Por Nina Bai
A crise na usina nuclear Daiichi despertou preocupações sobre os efeitos para a saúde da exposição à radiação. O que é um nível “perigoso” de radiação? Como a radiação prejudica a saúde? Quais são as consequências de radiação aguda e em baixa dosagem?
“Não estamos nem perto dos níveis que as pessoas deveriam se preocupar”, esclarece Susan M. Langhorst, física e encarregada de segurança de radiação na Washington University, em Saint Louis.

De acordo com Abel Gonzalez, vice-presidente da Comissão Internacional de Proteção Radiológica que estudou o desastre de 1986 em Chernobyl, na melhor das hipóteses as informações atuais vindas do Japão sobre níves de vazamento de radiação são incompletas.


Níveis de radiação:

Em média, as pessoas são expostas a um nível de 2 a 3 millisieverts de radiação por ano, proveniente de uma combinação de radiação cósmica, emissões de materiais de construção e substâncias radiativas naturais no ambiente.

A Comissão Regulatória Nuclear dos Estados Unidos recomenda que o público em geral limite sua exposição a menos de 1 millisievert adicional por ano. Para pacientes submetidos à radiação médica não há limite rígido de exposição – é responsabilidade de profissionais médicos pesar riscos e benefícios da radiação usada em diagnósticos e tratamentos. Por exemplo, uma única sessão de tomografia computadorizada pode expor o paciente a mais de 1 millisievert.

A doença da radiação (ou síndrome aguda de radiação) manifesta-se depois de uma dose de 3 sieverts – 3 mil vezes a dose recomendada para o público em geral por ano. Os primeiros sintomas são: náuseas, vômitos e diarréia. Esses sintomas começam a aparecer num prazo de minutos ou dias, informam os Centros para Controle de Doenças dos Estados Unidos. Um período de enfermidade séria, que inclui perda de apetite, fadiga, febre, problemas gastrintestinais e, possivelmente, convulsões ou coma, pode vir em seguida e durar de horas a meses.

Tipos de radiação:

O que é preocupante na situação atual é a radiação por ionização, produzida por isótopos pesados em decaimento espontâneo, tais como iodo 131 e césio 137. Esse tipo de radiação tem energia suficiente para ionizar átomos (criando carga positiva ao suprimir elétrons), o que lhes dá o potencial químico para reagir de forma deletéria com átomos e moléculas de tecidos vivos.

A radiação por ionização pode ter diferentes formas: nas radiações por raios gama e raios-X, átomos liberam partículas energéticas leves com potência suficiente para penetrar o corpo. As radiações por partículas alfa e beta têm energia mais baixa e podem ser bloqueadas por uma simples folha de papel. Se o material radiativo entra no corpo por ingestão ou inalação, no entanto, são precisamente as radiações alfa e beta com energia mais baixa que tornam-se mais perigosas. Isso porque uma grande porção de radiação por raios gama e X vai passar diretamente através do corpo sem interagir com o tecido, já radiações alfa e beta, incapazes de penetrar tecido, gastarão toda sua energia ao colidir com átomos do corpo e provavelmente causarão maior estrago.


Na situação de Fukushima, os isótopos radiativos detectados, iodo 131 e césio 137, emitem radiação tanto gama quanto beta. Esses elementos são subprodutos da reação por fissão que gera eletricidade nas usinas nucleares.

O governo japonês retirou 180 mil pessoas dentro de um raio de 20 km do complexo Daiichi. Porta-vozes do governo apelam para que as pessoas num raio de 30 km da usina fiquem dentro de casa, fechem todas as janelas, troquem de roupa e lavem a pele exposta após sair nas ruas.

Tempo de exposição:

Uma dose muito alta de radiação recebida em minutos pode ser mais nociva que a mesma dosagem acumulada durante algum tempo. De acordo com a Associação Nuclear Mundial, uma dose única de 1 sievert provavelmente causará doença da radiação temporária e contagem mais baixa de células brancas, mas não seria fatal. Uma dose de 5 sieverts provavelmente mataria metade das pessoas expostas durante 1 mês. No nível de 10 sieverts, a morte ocorre em algumas semanas.

Lições de Chernobyl:
De acordo com Gonzalez, alguns dos trabalhadores de Chernobyl receberam vários sieverts de radiação, e muitos estavam trabalhando “basicamente nus” devido ao calor, o que permitiu a absorção de pó contaminado através da pele. Já os trabalhadores japoneses estão muito bem equipados e protegidos contra doses diretas.

A Tokyo Electric Power Co. (Tepco), proprietária da usina, retirou a maioria de seus funcionários, mas 50 permanecem no local para bombear água do mar a fim de resfriar os reatores e prevenir mais explosões. Provavelmente esses trabalhadores estão se expondo a altos níveis de radiação e correndo sérios riscos à saúde. “Como medida de precaução, limitaria a exposição dos trabalhadores a 0,1 sievert, e faria rodízio entre eles”, diz Gonzalez. Os trabalhadores teriam de usar detectores pessoais que calculariam tanto o nível quanto a dose total de radiação, e eles disparariam alarmes quando as doses máximas fossem atingidas. “Se a dosagem dos trabalhadores começar a se aproximar de 1 sievert, então a situação se torna séria”, completa.
Milhares de crianças que ficaram doentes após o desastre de Chernobyl não foram atingidas por radiação direta, mas sim por beber leite contaminado com iodo 131. O isótopo, liberado pela explosão de Chernobyl, tinha contaminado a grama em que o gado pastava, e a substância radiativa ficou acumulada no leite das vacas. Pais, sem saber do perigo, serviram leite contaminado às crianças. “Certamente isso não acontecerá no Japão”, afirma Gonzalez.

Quando se trata de exposição à radiação, profissionais que frequentemente trabalham com materiais radiativos, seja em hospitais ou em usinas nucleares, seguem o princípio de “nível razoavelmente atingível”. Os limites de exposição à radiação são estabelecidos bem abaixo dos níveis sabidamente capazes de induzir a doença da radiação.


Scientific American Brasil

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