domingo, 27 de março de 2011

Mercosul completa 20 anos e destaca alto nível de maturidade em integração


Assunção, 26 mar (EFE).- O Mercado Comum do Sul (Mercosul), integrado pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, considerou neste sábado ter alcançado um elevado nível de maturidade em matéria de integração, ao completar 20 anos.
"Consolidamos relações de confiança mútua, aprofundamos nossos canais de diálogo político e estreitamos nossos laços de cooperação", destaca a carta emitida pela Chancelaria do Paraguai, país que exerce a Presidência semestral do Mercosul.
O texto foi referendado pelos chanceleres Jorge Lara Castro, do Paraguai; Héctor Timerman, da Argentina; Antonio Patriota, do Brasil, e Luis Almagro, do Uruguai.
Os chefes diplomatas consideraram que o Mercosul, quarto bloco econômico do mundo e cujo tratado constitutivo foi referendado no dia 26 de março de 1991 em Assunção, "é a demonstração da capacidade conjunta dos quatro países de sobrepor as diferenças do passado, uma agenda compartilhada".
No âmbito econômico, "os avanços são particularmente eloquentes", destacaram os chanceleres, que resenharam que o comércio entre os parceiros regionais se elevou de US$ 4,5 bilhões em 1991 a US$ 45 bilhões em 2010.
"Se avançou em temas sensíveis como a eliminação da dupla cobrança da tarifa externa, o código alfandegário, disciplinas comerciais comuns, cujos acordos em outras épocas pareciam muito distantes", indicaram.
Também, ressaltaram que o Mercosul "é uma potência energética em expansão e corresponde ao território agrícola mais produtivo do mundo", que, segundo seus membros, atraiu recentemente a aliados "geograficamente distantes como a Austrália, Emirados Árabes Unidos, Turquia, Palestina, Síria e Nova Zelândia".
No âmbito social, indicaram que estão "determinados a caminhar em direção a um verdadeiro estatuto da cidadania do bloco".
"Dessa forma, ao completar 20 anos, nosso processo de integração alcança um nível mais elevado de maturidade", sublinharam.
O grupo argumentou que o exemplo "contundente dessa maturidade é o Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul (Focem)", que procura reduzir as assimetrias econômicas constante denunciadas pelo Paraguai e Uruguai, os sócios menores do grupo.
O chanceler paraguaio destacou na véspera durante um seminário internacional que o pacto ainda não avançou na livre circulação de bens e serviços nem o desarmamento das barreiras tarifárias entre seus parceiros.
Os membros do grupo, que nos primeiros anos de sua criação já contava com a Bolívia e Chile como países associados e aos que se uniram neste tempo Colômbia, Equador e Peru, seguem sem concretizar o pedido de adesão plena da Venezuela.
O ingresso desse país caribenho, aprovado pelos Governos dos quatro parceiros em 2006, passou a prova nos Congressos da Argentina, Brasil e Uruguai, mas no Senado paraguaio persiste uma forte rejeição à forma de Governo do presidente Hugo Chávez.
O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, deve participar neste sábado junto ao vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, em um ato de celebração do aniversário do Mercosul na comunidade indígena Jaguatí, em Amambay, ao nordeste de Assunção, na fronteira com o Brasil. EFE http://br.noticias.yahoo.com

Notícias Geografia Hoje


Bird: América Latina pode ser parte da solução contra alta dos alimentos
Por Diptendu Dutta | AFP
A América Latina, com 28% da superfície potencialmente cultivável do planeta, pode ser parte da solução para o problema da alta de preços dos alimentos, segundo um relatório do Banco Mundial ao qual teve acesso a AFP neste sábado.
"Dos 445,6 milhões de hectares de terra no mundo que poderão ser utilizados para uma expansão sustentável de áreas de cultivo, 123,3 milhões (28%) se encontram na América Latina", explica o informe.
Intitulado "Alta de preços dos alimentos: Respostas da América Latina e do Caribe a uma nova normalidade", o texto foi apresentado aos 30 ministros das Finanças da região reunidos em Calgary por ocasião da Assembleia Anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Apenas a África tem mais terra cultivável, 45% do total mundial, acrescenta o texto.
Os preços mundiais dos alimentos alcançaram um novo recorde em fevereiro pelo oitavo mês consecutivo, segundo cálculos da Organização de Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
A América Latina, em especial no istmo central, cujos países importam boa parte de seu consumo alimentício, também se vê afetada, advertiu o texto do Bird.
Mas, ao mesmo tempo, a região pode ser parte da solução, explicou em entrevista aos jornalistas a chefe do Banco Mundial para a América Latina, Pamela Cox.
"A América Latina não alcançou seus limites (de produção), pode fazer ainda muito para aumentar sua produção, têm muita água. Há um grande potencial para continuar alimentando o mundo", explicou.
Somente a Austrália e a Nova Zelândia superam a América Latina em recursos hidráulicos renováveis per capita, recorda o informe.
As principais potências exportadoras da região, Brasil, Argentina, Uruguai e México, têm um bom nível de desenvolvimento tecnológico, suficiente para dar um novo salto produtivo.
A América Latina representava em 2009 14% do total de exportações agrícolas do mundo, segundo cálculos do Bird.
O texto fala que 52% da soja que se vende no mundo é produzida na região, 44% da carne, 70% de batatas, 45% de café e 45% de açúcar.
Mas o setor também sofre com obstáculos para seu desenvolvimento, como sua falta de infraestrutura, a mediocridade de seus transportes e a baixa produtividade.
Isso também tem um impacto na hora de importar comida, como acontece na América Central.
Noventa e três por cento da população latino-americana vivem em países exportadores de alimentos, por isso podem se beneficiar do aumento dos preços.
"Mas a América Latina também é uma região muito urbana. 70% (da população) vive nas cidades, e essa gente também sofrerá o impacto do aumento de preços", explicou Cox.
Justo antes da crise financeira de 2008, um país como o Brasil aumentou em 8% o total das transferências de dinheiro aos mais pobres, um programa de luta contra a pobreza muito elogiado por instituições multilaterais.
Outra medida para paliar uma possível crise social seria eliminar tarifas à importação de alimentos. http://br.noticias.yahoo.com

Notícias Geografia Hoje


O maior lixão nuclear das Américas

O maior depósito de lixo nuclear do continente americano contém 200 milhões de litros de lama radioativa, subproduto da fabricação de bombas de plutônio. O local é seguro, segundo as autoridades, mas o acidente nuclear japonês fez ressurgir o medo entre os moradores locais.
Mais de vinte anos após seu fechamento, 12 mil pessoas ainda trabalham no lixão Hanford, simplesmente para garantir a limpeza da instalação que data da Segunda Guerra Mundial. Foi desta fábrica, situada no estado de Washington (noroeste dos Estados Unidos), que saiu a bomba lançada sobre Nagasaki em 1945.
Sessenta e cinco anos mais tarde, o local, que tem 15 vezes o tamanho de Paris, abriga abaixo da terra 177 contêineres de concreto cheios desta lama radioativa. Tom Carpenter, do movimento ambientalista Hanford Challenge, teme o impacto de uma catástrofe natural neste estado ameaçado por terremotos. Além disso, Handford dispõe também de uma usina nuclear em funcionamento.
Carpenter teme ainda que terroristas ou loucos coloquem as mãos nos dejetos: "Os governos não duram para sempre. Será que vai ter ainda alguém aqui em cem ou mil anos para garantir que os resíduos estejam fora de alcance, que ninguém vai entrar no local ou que os lençóis freáticos não serão contaminados?"
Nos anos 60, Hanford jogou seus dejetos diretamente na natureza: o poder público reconheceu que mais de 3,8 milhões de litros de lama tóxica havia vazado e que parte havia entrado no solo.
As autoridades, que já gastaram 100 bilhões de dólares para limpar o lixão, pretendem construir até 2019, ou seja, com 11 anos de atraso, uma nova fábrica que vai vitrificar a lama, aquecendo o material a 1.150 graus, e depois estocar pela eternidade.
"É como uma bomba-relógio. Cedo ou tarde vai acontecer alguma coisa", teme Walt Tamosaitis, engenheiro que trabalhou por 40 anos no local e afirma ter sido demitido ano passado por ter exprimido abertamente suas preocupações. "Seria terrível se os reservatórios rachassem. Não haveria como impedir isso".
O Departamento americano de Energia garante que a segurança na instalação avança, com obras para proteger o Colúmbia, rio que corre perto dali, e a demolição de duas usinas elétricas.
Mas em período de vacas magras, os ambientalistas temem que a limpeza do local pague a conta pelos cortes orçamentários debatidos no Congresso.
Tarde demais, de qualquer forma, para Gloria Wise, 67 anos, habitante da região que recebeu em 2005 uma indenização de mais de 300 mil dólares por causa de seu câncer de tireoide. A soma foi conseguida após Gloria ter processado duas grandes empresas, Dupont e General Electric, que operavam na fábrica de bombas atômicas.
"Tenho certeza de que a radioatividade entrou em nossos alimentos", contou, acrescentando que a família cultivava legumes no jardim. "Nos entregavam leite também, todos os dias, quando era criança. Nunca contavam tudo o que estava acontecendo..."
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Entenda a energia nuclear


Uma energia tão importante para alguns países vale os riscos que oferece para o mundo todo?.
Por Daniel Pavani
No mês de março de 2011, o que mais se ouviu falar nos noticiários foram os problemas nos reatores da usina nuclear de Fukushima Daiichi, no Japão, decorrentes do terremoto do dia 11. Mas o que nem todos sabem é como funciona uma usina deste tipo, de que forma combustíveis radioativos são utilizados para a produção de energia elétrica e quais os riscos para os seres humanos e o meio ambiente.
O processo de obtenção de energia elétrica nas usinas nucleares é feito por meio de reações nucleares controladas, que ocorrem dentro de um reator. Este tipo de obtenção de energia é utilizado em países que não possuem outros meios mais fáceis tão abundantes, como a energia hidrelétrica no Brasil. Além disso, reatores nucleares também estão presentes em submarinos, já que este tipo de energia é mais limpa e os combustíveis ocupam muito menos espaço – algo essencial em um submarino. (Este termo "mais limpa" será explicado mais adiante). A página do How Stuff Works, por exemplo, afirma que a energia nuclear "está na fronteira entre as maiores esperanças da humanidade e seus maiores medos com relação ao futuro".
Segundo dados de março de 2011 da Associação Mundial Nuclear, o mundo possui 443 reatores em operação e um total de quase 70 mil toneladas de Urânio. Entre os principais paí­ses que utilizam a energia nuclear estão os EUA (104 reatores ativos), França (58 reatores ativos), Japão (55 reatores ativos) e Rússia (32 reatores ativos). Um país que merece destaque é a China que, apesar de possui apenas 13 reatores atualmente em atividade, tem planos de construção de 50 e proposta para mais 110.
De acordo com números do Instituto de Energia Nuclear, somente em 2009, usinas nucleares foram responsáveis por 14% da produção de energia elétrica mundial. Os países que mais utilizam este tipo de energia foram a Lituânia (76,2%) e França (75,2%), seguidos por Eslováquia (53,5%), Bélgica (51,7%) e Ucrânia (48,6%). No Brasil, a energia elétrica produzida pelas usinas Angra I e Angra II representou apenas 3% do total nacional.
Como reações nucleares produzem eletricidade
Tudo bem, já deu pra entender como é importante a energia nuclear para alguns países do mundo, principalmente aqueles que não possuem um grande potencial hí­drico – como o Brasil – ou que pensam na substituição de fontes poluidoras da atmosfera, como as usinas termoelétricas, que queimam carvão ou combustíveis fósseis para a produção de energia elétrica. Mas como funcionam as usinas e reatores nucleares?
Basicamente, o processo de obtenção de energia elétrica nas usinas nucleares está dividido em duas etapas: a reação nuclear controlada e a movimentação de turbinas e geradores elétricos. De forma geral, os reatores nucleares fervem água para que o vapor mova uma turbina, a qual acionará um gerador e produzirá a energia elétrica.
A reação nuclear ocorre, claro, dentro dos reatores. Existem dois processos possíveis para a obtenção de energia: a fusão nuclear, em que dois mais núcleos se unem, ou a fissão, em que um núcleo maior se divide em dois ou mais núcleos. Ambos os processos liberam uma grande quantidade de energia, mas a fissão – e especificamente do isótopo urânio-235 – é a mais utilizada nas usinas do mundo. A reação é iniciada quando o U-235 é atingido por um nêutron, transformando-se momentaneamente em U-236. Por sua instabilidade, este isótopo sofre a fissão, gerando produtos (outros elementos radioativos) e energia. O processo é caracterizado por uma reação em cadeia, já que a fissão gera também mais nêutrons livres que, por sua vez, atingem outros átomos de U-235, dando continuidade exponencial à reação.
O site da Eletronuclear, a agência do governo que controla a energia nuclear no Brasil, apresenta uma concisa, mas clara, explicação sobre o funcionamento do reator nuclear. Dentro do reator, ocorrem dois processos: a reação nuclear e a geração de vapor. Varetas de combustí­vel radioativo são imergidas em água, onde ocorre a reação de fissão nuclear. Esta reação libera muita energia na forma de calor, o que serve para esquentar a água a grandes temperaturas, sem fervê-la, já que o sistema funciona sob uma pressão cerca de 157 vezes maior do que a atmosférica.
Em um circuito de água chamado de secundário, a água aquecida no reator troca calor com outra água, que não tem contato com as varetas de combustível. E é esta água que ferve e gera vapor. Depois disso, o vapor aciona uma turbina que, por sua vez, faz funcionar um gerador elétrico em um processo já comum de geração de energia elétrica. Esta separação entre os sistemas é muito importante, já que impede que a água em contato com o combustível não seja a mesma que sai do reator para mover a turbina, isolando a região radioativa.
O vapor não é perdido e passa por um condensador, resfriado com água do mar circulante. Quando se entende isso, fica mais fácil de compreender o motivo de muitos problemas atuais, como o fato das instalações de usinas nucleares tão próximas à costa, como as usinas de Angra dos Reis, no Brasil, ou em regiões muitas vezes sujeitas a terremotos, como no caso do Japão. Isso é feito estrategicamente, para que a água do mar possa ser utilizada para este resfriamento.
É necessário também controlar as reações nucleares e, para isso, são utilizadas barras de controle. Estas barras são feitas, em geral, de cádmio, um elemento químico que tem a capacidade de absorver nêutrons. Fazendo isso, é cada vez menor a quantidade de nêutrons disponíveis para dar seqüencia, caso necessário.
Outra etapa muito importante para o funcionamento da usina nuclear é o enriquecimento do urânio. Este elemento possui alguns isótopos, mas o que interessa para a produção de energia é o Urânio-235, ou seja, um átomo que possui 92 prótons (partículas de carga positiva e que o classifica como elemento Urânio) e 143 nêutrons, totalizando uma massa de 235. Entretanto, o urânio que é extraido das jazidas naturais como um dióxido (UO2) – possui uma quantidade predominante de outro isótopo (elementos de mesmo número de prótons, mas massas diferentes), o U-238, que representa mais de 99% em massa.
Assim, uma vez que o U-235 é o único isótopo fissável, ele deve ser isolado, o que é feito em um processo de centrifugação e que o Brasil já consegue fazer. Este processo é também fonte de grandes discussões, já que um tênue limite separa o enriquecimento para a produção de energia em reatores e para a produção de bombas de nêutrons, ou, mais popularmente, bombas atômicas.
Energia nuclear como energia limpa
O grandes defensores da energia nuclear se baseiam principalmente no fato de que ela pode ser considerada mais limpa que aquelas que utilizam a queima de combustíveis fôsseis, como as termoelétricas, por exemplo, e por não dependerem de regimes de chuva, como a energia produzida nas hidrelétricas. No entanto, diversos outros problemas podem ser apontados, sendo que o principal deles é o destino dos resíduos radioativos, produtos gerados nas reações nucleares.
Os resíduos radioativos devem ser armazenados em locais seguros a fim de que o decaimento radioativo possa agir. Este processo é inerente aos elementos radioativos e diminui a atividade dos elementos de forma exponencial, de acordo com sua meia-vida. A meia-vida de um elemento radioativo é o tempo necessário para que sua atividade seja diminuída em 50% da original. É aceito que cerca de 10 meias-vidas, tempo que varia muito de acordo com cada isótopo, são suficientes para que a atividade não ofereça mais riscos.
A página da World Nuclear Association indica alguns destinos para estes resíduos, como sua fixação em matrizes fixas e inertes, como concreto, por exemplo; armazenamento em containers inoxidáveis; e também colocação destes recipientes no fundo do oceano ou em rochas e estruturas geológicas estáveis. Porém, este é ainda um problema que gera muita discussão, principalmente no que se refere às questões políticas e ambientais internacionais.
Impactos ambientais são de muito interesse para este tema, já que a poluição radioativa é muito perigosa tanto para o homem quanto para o meio ambiente. Além disso, os impactos ambientais e ecológicos causados pelo aquecimento da água do mar nas regiões próximas às usinas também são bastante estudados por pesquisadores da Biologia Marinha e Oceanografia.
Não obstante, os acidentes talvez configurem o principal medo com relação às usinas nucleares e a questão nuclear voltou à tona no mês de março de 2011, frente aos acontecimentos no Japão, como terremoto do dia 11 e os danos à usina nuclear de Fukushima Daiichi, no nordeste do país. Até este ano, talvez o exemplo mais emblemático de acidente com uma usina nuclear fosse o de Chernobyl, na ex-União Soviética, hoje Ucrânia, em 1986.
Os impactos da explosão do reator soviético estão presentes por toda a região até hoje, tanto na população quanto no meio ambiente. Os impactos ambientais são tão grandes que os elementos radioativos liberados na atmosfera se tornaram inclusive marcadores cronológicos em sessões geológicas e em estudos oceanográficos no Hemisfério Norte, por exemplo.
A energia nuclear no Brasil
Por aqui, a energia nuclear é desenvolvida nas usinas Angra I e Angra II, no município de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Além disso, há ainda o projeto de construção de uma terceira usina: a Angra III. O Brasil já detém a tecnologia de enriquecimento do Urânio, fato essencial, já que até pouco tempo ele tinha de ser comprado de outros países.
Entretanto, a produção ainda é baixa, ainda que o potencial de Angra II, por exemplo, seja suficiente para abastecer uma região metropolitana do tamanho da de Curitiba, conta o site da Eletronuclear. Além disso, com a instalação de Angra III, que terá capacidade semelhante à de Angra II, o potencial energético deverá ser ainda maior.
O Prof. Dr. Rubens Figueira, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, defende o uso da energia nuclear no Brasil, não como uma substituta de outras fontes tão abundantes, mas sim devido à sua importância tecnológica e cientí­fica. Nos últimos anos, contou o pesquisador em entrevista via e-mail, o país adquiriu a tecnologia para o enriquecimento do Urânio, fator essencial para a produção de energia. Além disso, avanços em outras áreas também foram conquistados, como, por exemplo, no desenvolvimento de radiofármacos.
O Brasil está muito bem posicionado frente aos países desenvolvidos no que se refere à tecnologia do ciclo do combustível nuclear, o que é, na opinião do pesquisador, algo muito importante dos pontos de vista tanto científico quanto estratégico. Conhecer a energia nuclear é muito importante, porém, é também importante discutir sua real necessidade em um país como o Brasil, com um potencial hídrico tão grande.
Quanto aos resíduos produzidos nas usinas de Angra dos Reis, o Dr. Figueira conta que eles são armazenados nas dependências das próprias usinas, já que não existe ainda, no Brasil, um local mais apropriado para isso. Este é, segundo ele, um dos principais problemas para o desenvolvimento da energia nuclear no país. Este problema "deve ser discutido com a opinião pública para que ela entenda seus riscos e benefício", conta o pesquisador.
Os próximos passos, segundo o Dr. Figueira, devem ser a discussão das vantagens e desvantagens da tecnologia nuclear, sem radicalismo de nenhuma parte, ou seja, nem dos ambientalistas, nem dos pesquisadores, nem do governo. É preciso entender tudo o que a energia nuclear pode oferecer de bom e também todos os riscos intrínsecos, a fim de promover uma discussão direta, objetiva e consciente entre os governantes e a população.

sábado, 26 de março de 2011

Notícias Geografia Hoje


Em falta: mulheres e homens soltos

Município do interior paulista registra virada populacional

por Clara Becker

Três senhores aposentados conversam em um dos bancos da única praça de Balbinos, pequeno município na região de Bauru, no noroeste paulista. Cada um com a sua bengala ao alcance da mão, encostada. É uma tarde típica de janeiro, abafada e modorrenta. Indagados como anda a vida da cidade, eles respondem com um lamento amoroso. “Isso aqui era morar no céu sem estar morto”, descreve o primeiro. “É um paraíso, tinha que ter sido trancado a sete chaves”, garante o outro. “Quando chega a muierada de visita no fim de semana, aí danou-se”, acrescenta o terceiro.

Para eles, uma das conclusões mais alardeadas do Censo de 2010 é notícia indigesta: de todos os 5 565 municípios do país, Balbinos é o que registrou o maior salto populacional no decorrer da última década. Saltou de 1 313 habitantes para 3 932. Ou seja, cresceu quase 200%. Além disso, passou a ser a cidade brasileira com a maior concentração de homens: 88,2% do total da população local.

O motivo desse inchaço desenfreado está nos dois presídios masculinos de regime fechado inaugurados cinco anos atrás. Com capacidade prevista para abrigar 768 detentos em cada unidade, a lotação de ambas transbordou. Hoje os presos já são 2 687, enquanto os balbinenses livres somam 1 245 almas.

A cidade nunca teve hotel, nem nos saudosos tempos quando ali se plantava café. Quem quiser conhecer o paraíso de antanho precisa se hospedar em uma das quatro pensões adaptadas à nova clientela. A primeira pergunta dirigida ao visitante desavisado soa ininteligível: “Você quer uma P1 ou P2?” As pensões P1 são as que abrigam as mulheres dos presos da Penitenciária I,isto é, aqueles excluídos do Primeiro Comando da Capital, o PCC. Já as P2 abrigam as mulheres dos presos da Penitenciária II, membros do PCC. Por ordem expressa dos detentos, é prudente não misturar.

No rastro dos novos presídios, os potins de Balbinos passaram a assimilar o dialeto carcerário brasileiro. A notícia da transferência de um preso para outra penitenciária é comentada com um “hoje alguém vai de bonde” para tal lugar. “Visita” é mulher de preso que desembarca na cidade nos fins de semana e muierada é coletivo de visita. “Função” designa o crime que o preso cometeu, e não o emprego que ocupava. “Jacks” são estupradores, “pezinhos” são os pedófilos, “157”, assaltantes, “121”, homicidas, e é útil dar uma estudada nos números dos artigos do Código Penal para não se sentir perdido em uma conversa de bar.

Do lado direito da praça, onde os aposentados marcam ponto diariamente, fica a prefeitura municipal. “Quando eu chego a Brasília todo mundo já fala: ‘Olha aí o prefeito da cidade que tem mais preso do que solto”, queixa-se o peemedebista José Márcio Rigotto. Aos 49 anos e em seu primeiro mandato, Rigotto é filho da terra. “Alguém tem que defender a tese de que a penitenciária não foi boa para a cidade. Eu ficaria feliz se fossem duas universidades! Quem lucrou foram três ou quatro comerciantes. Balbinos é pequena, conservadora, todo mundo se conhece, não tinha estrutura para receber os presídios.”

Rigotto pensou em construir um condomínio que seria alugado para os agentes penitenciários vindos de fora, e cujo salário gira em torno de 2 500 reais por mês, mas como o complexo carcerário foi construído na porta da cidade, muitos foram morar nas cidades vizinhas, que têm melhor estrutura. “Não somos nem cidade-dormitório”, lamenta o prefeito. Quem acaba ficando por Balbinos são as famílias dos presos, que em geral não têm renda própria e dependem dos serviços públicos.

“Para elas, nossa cidade é um paraíso, com água, luz, saneamento e educação para todos”, arrola o burgomestre. “A creche onde caberiam quarenta crianças hoje está com 84. Servem-se contrafilé no almoço e pera de sobremesa. Na escola, come-se de frango para cima. Nos finais de semana, oito em cada dez crianças a desfrutar da piscina do clube são filhos de detentos – regalias que elas não encontram em parte alguma do Brasil.”

Rigotto soube por meio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Fiesp, que uma empresa de doces procurava uma cidade da região para se instalar. Ofereceu o terreno e a construção da fábrica, mas quando o dono foi informado da existência das P1 e P2, desistiu. “Ele morava no Horto Florestal, Zona Norte da capital, e seu argumento era irretorquível: ‘Agora que tiraram o Carandiru daqui eu não vou ficar ao lado de outra penitenciária.’”

Atualmente a produtora de alimentos Naturale é a única fábrica de Balbinos, mas ela não emprega familiares de detentos nem pessoas com antecedentes criminais.

No dia 27 de março passado, o município registrou o primeiro caso de homicídio em 56 anos de emancipação: o detento Charles de Clayton Gonçalves, 39 anos, matou a mulher, Valéria Aparecida Teodório da Silva, durante uma visita. No dia anterior, recebera uma carta do irmão dizendo que a esposa tinha se amasiado com outro. Quando Charles recebeu a mulher em sua cela, ela trazia o filho para ver o pai. Foi estrangulada enquanto o garoto jogava bola no pátio da carceragem.

À parte esse crime intragrades, o livro de ocorrências da cidade, com capa florida e páginas amareladas, é o mesmo desde 1975. A média anual de registros de ocorrências menores não chega a duas dúzias.

Entre os que não têm medo de virem a ocorrer rebeliões nos presídios da cidade está o balbinense José Airton Tecolo. Quando sai para jogar baralho numa cidade vizinha, deixa a televisão ligada, portão, porta e janelas abertos. Para ele, os negócios estão bombando. Airton, como é chamado, é dono da maior pousada de Balbinos, uma P2. Nos finais de semana hospeda oitenta senhoras do PCC, cortejadas por terem um poder aquisitivo maior do que as da P1. A diária custa 15 reais e as instalações foram adaptadas para atender às necessidades da nova clientela. Cozinhas são duas; fogões, oito. “Nos fins de semana isso aqui é uma muvuca. Elas passam o dia e a noite cozinhando para os maridos”, diz ele. Para armazenar os quitutes, investiu em dois freezers tamanho-família. Também instalou tomadas extras para a profusão de chapinhas e carregadores de celular. Sobretudo, colocou espelhos grandes no banheiro.

A julgar pelo seu empreendedorismo, Airton parece ter as chaves do paraíso nas mãos.
Revista piauí

Irlanda - O preço da felicidade, o custo da desgraça


Em texto exclusivo para a piauí, o escritor irlandês narra a trajetória de seu país, da pobreza à prosperidade e de volta à pobreza, em apenas quinze anos

por Colm Tóibín

Devia ser o verão de 1965, ou talvez um ano antes, e estávamos na praia na costa leste da Irlanda. Eu tinha 9 ou 10 anos. Minha mãe e meus irmãos provavelmente tinham ido nadar e isso significa que eu estava deitado no tapete escutando a conversa do meu pai com a irmã da minha mãe. A irmã da minha mãe gostava de discutir grandes assuntos como religião e política. Agora ela estava perguntando a meu pai, que era um membro ativo do partido do governo, o Fianna Fáil – que desde 1932 esteve quase sempre no poder – se ele apoiava todas as políticas e decisões de seus correligionários. Meu pai disse que sim, e isso me pareceu certo, pois nunca imaginara que ele pudesse pensar de outro modo. Eu sabia a opinião dele sobre o outro partido – o Fine Gael, principal partido oposicionista – que era a de que você podia cumprimentar seus membros quando cruzava com eles na rua, mas se alguma vez votasse neles sua mão direita gangrenaria e seria amputada.

O pai do meu pai era um nacionalista irlandês e tinha lutado contra os britânicos. Participou da rebelião de 1916, que, mesmo sendo derrotada, tornou-se o início do fim do domínio britânico na Irlanda. Em 1922, quando finalmente se retiraram, os ingleses decidiram dividir a Irlanda, ficando com o norte do país, que tinha uma população protestante maior e não queria se separar da Grã-Bretanha. E homens como meu avô eram totalmente contrários a esse arranjo. Meu avô e seus amigos queriam tudo ou nada, uma república formada por toda a ilha; os da outra facção, até ali seus camaradas na luta contra o domínio britânico, queriam aceitar a proposta britânica de uma Irlanda dividida. As duas facções, incluindo irmãos, travaram uma feroz guerra civil. Noventa anos depois, os dois principais partidos – Fianna Fáil e Fine Gael – descendem dessa guerra.

A política de ambos os lados era nacionalista, anti-imperialista e não propriamente de esquerda. O ideário não ia além da vaga noção de uma Irlanda autossuficiente. A guerra que travaram não foi uma guerra de classes. Assim, enquanto alguns ingleses partiram e perderam suas propriedades, a burguesia irlandesa não foi afetada pela independência. Os proprietários rurais mantiveram suas terras; os lojistas, suas lojas; os banqueiros, seus bancos. E a revolução irlandesa foi também comandada principalmente por católicos. O fim da guerra civil viu crescer, ao sul da fronteira, um Estado católico insular profundamente conservador e, ao norte, numa imagem especular, um estado protestante insular profundamente conservador. O partido do meu avô, Fianna Fáil, do qual meu tio também era membro, e no qual meu pai logo ingressaria, tomou o poder no sul em 1932; tornou-se ainda mais conservador e mais católico do que o outro partido, Fine Gael. O Partido Trabalhista continuou pequeno, sempre a terceira força; o movimento sindical também era conservador, e quase não tinha influência.

O problema para o novo Estado irlandês era como proporcionar trabalho à população. Os melhores empregos eram no funcionalismo público. Quase não havia indústria; a Irlanda era ainda um país basicamente agrícola. Dos anos 20 em diante muitos jovens emigraram para a Grã-Bretanha e Estados Unidos em busca de trabalho. Em 1939 Seán Lemass, que se tornaria primeiro-ministro vinte anos mais tarde, disse que os problemas econômicos da Irlanda tinham “criado uma situação em que o desaparecimento da raça era uma possibilidade que não podia ser ignorada”. O isolamento do país se acentuou ainda mais por causa da posição de neutralidade que assumiu durante a Segunda Guerra Mundial. Depois da guerra, enquanto a Europa era reconstruída com dinheiro do Plano Marshall, a Irlanda ficou, assim como a Espanha e Portugal, à margem da nova prosperidade.

Era, nos anos 50, um lugar atrasado, do qual era um alívio, quase um prazer, emigrar. Quatro em cada cinco crianças nascidas na Irlanda entre 1931 e 1941 emigraram. No final daquela década estava claro que era preciso fazer algo para modernizar o país. Em 1958 foi publicado o Primeiro Programa para a Expansão Econômica. A Irlanda tinha sido admitida no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional em 1957. A partir de 1958, o país se abriu para o investimento estrangeiro e para o capital externo, predominantemente americano.

A década de 60 foi, então, um tempo de mudanças na Irlanda. Não apenas o pensamento econômico se liberalizou, como também a influência da Igreja começou a declinar, sob pressão, por exemplo, do movimento feminista. O avanço da televisão e a suspensão da draconiana censura a livros contribuíram para a mudança. A Irlanda do Norte também começou a mudar com o avanço do movimento pelos direitos civis, que exigia maior igualdade para os católicos. Isso levou no norte à ascensão do IRA, que estava disposto a matar e mutilar pelo fim da divisão do país e pela derrubada do domínio britânico na região.

Meu pai morreu em 1967. Tinha apoiado integralmente a abertura da economia irlandesa, e eu muitas vezes me perguntei como ele teria reagido diante da violência na Irlanda do Norte. Homens da sua geração insistiam que queriam um único Estado na ilha, mas o que eles realmente queriam era estabilidade e progresso econômico ao sul da fronteira (a Irlanda foi declarada uma república em 1949). Assim, quando começou a década de 70, o sul decidiu ignorar a violência no norte e passou a olhar para fora. Queria ingressar na Comunidade Econômica Europeia ao mesmo tempo que a Grã-Bretanha. Depois de prolongadas negociações e de uma vitória esmagadora num referendo, a República da Irlanda entrou na CEE, como era então chamada, em 1973.

Foi aí que começou a verdadeira mudança. Os gastos públicos aumentaram em todas as áreas. A frequência escolar triplicou. A proibição da venda de anticoncepcionais foi declarada inconstitucional em 1973. O número de mulheres a integrar a força de trabalho duplicou em uma década. Com dinheiro europeu, novas estradas foram construídas, dando lugar a uma infraestrutura mais moderna.

Mas algumas coisas não mudaram. O político para o qual meu pai trabalhava em épocas de eleição tinha lutado na rebelião de 1916 e ainda era membro do Parlamento em 1969. Seu filho se tornou senador. Seu neto é, no momento, membro do Parlamento Europeu. Na Irlanda hoje, em 2011, o primeiro-ministro, o vice-primeiro-ministro, o ministro das Finanças e o líder da oposição, que se tornará o próximo primeiro-ministro, são todos filhos de políticos. Não tiveram que fazer quase nada, ou sequer pensar muito, antes de entrar na política. Era como se tivessem herdado dos pais os assentos no Parlamento e a filosofia política. Em outras áreas, como a carreira médica, a carreira jurídica ou a financeira, pouco mudou. Todos vêm de famílias da alta burguesia, estudaram em escolas de elite e nutrem o sentimento de que o poder lhes é devido, e isso nenhuma transformação social ou econômica parece abalar. Ao mesmo tempo em que a Irlanda mudava e cresciam as oportunidades, o país continuava curiosamente estagnado em termos sociais, e curiosamente conservador em termos políticos, com os dois partidos da guerra civil, ambos conservadores e convencionais, garantindo a estabilidade.

Era um pouco estranho viver aqui, um lugar que não teve Renascença, que quase não teve Reforma, nem Iluminismo, nem Revolução Industrial. Somente uma história de violência, pobreza e emigração. Um lugar governado até 1922 pelo Império Britânico, seguido de quatro décadas de estagnação cultural e econômica antes da integração ao império europeu, por assim dizer, em 1973. E, no entanto, havia também um surpreendente fascínio em torno da Irlanda, em especial de Dublin, onde o mundo da escrita – o poema, o romance, a peça de teatro, o artigo de jornal – era tratado com uma espécie de reverência e seriedade que só se encontra em sociedades nas quais faltam muitas outras coisas. Isso foi algo de que o governo se deu conta no final dos anos 60, compreendendo que a imagem da Irlanda era criada por escritores e cantores, e que essa imagem era tão importante quanto as políticas econômicas da Irlanda para atrair investimento estrangeiro. Subitamente, Yeats, Joyce e Beckett ficaram na moda, e a política governamental com relação à cultura se tornou esclarecida.

Foi Margaret Thatcher quem percebeu que, na verdade, a República da Irlanda não cobiçava territórios na Irlanda do Norte. Queríamos estabilidade ali, e o fim da violência, mais ainda do que queriam os britânicos. Então, a partir de 1985, e da assinatura do Acordo Anglo-Irlandês, os governos britânico e irlandês trabalharam juntos, e esse trabalho levou, uma década depois, ao fim da campanha do IRA no norte.

Nesse ínterim, a República da Irlanda se tornou uma economia aberta, dependendo cada vez menos da agricultura e cada vez mais do investimento estrangeiro. As multinacionais estavam satisfeitas conosco: nosso movimento sindical não era combativo; tínhamos uma mão de obra escolarizada e flexível; falávamos inglês; éramos membros da União Europeia; e nossa taxação sobre os seus lucros era mais baixa que a de qualquer outro país da UE.

Em 1984 comprei uma casa em Dublin. Foi difícil. Embora eu tivesse um emprego seguro, nenhum banco, em princípio, quis me dar um empréstimo. Notei o quanto os gerentes eram cautelosos, como se mostravam desconfiados diante de qualquer coisa fora do normal. A casa ficava numa área da cidade que na época não era considerada boa, e isso os deixava intrigados a meu respeito. Finalmente consegui o empréstimo. Os juros eram altos. Em dois anos o valor da casa tinha caído 20%. E então os preços começaram a subir, mas os gerentes de banco continuaram no caminho da prudência. Em 1997 quando decidi me mudar de novo, tive um bocado de dificuldade para conseguir um segundo empréstimo, embora tivesse quase terminado de pagar o primeiro.

No início do novo século, porém, com os preços das casas subindo por toda a Irlanda, descobri que os bancos irlandeses estavam jogando dinheiro na mão da gente. Os velhos gerentes tinham se aposentado; agora havia uma geração nova e impetuosa. Para meu espanto, consegui sem dificuldade um empréstimo para comprar uma casa na frente da praia. Quase não me fizeram perguntas. E houve ainda uma sugestão para que eu pegasse mais dinheiro emprestado para investir em novas propriedades; por pura preguiça não aceitei essa oferta.

A essa altura, a Irlanda estava integrada ao euro, introduzido em janeiro de 2002. Pelo fato de a moeda ser efetivamente controlada pela Alemanha, as taxas de juros estavam e permaneceriam baixas, assim como os índices de inflação. Fazer parte do euro me deixava orgulhoso. Me lembro que estava em Ibiza com amigos escoceses em 1º de janeiro de 2002 e usei meu cartão naquela manhã para sacar cédulas novinhas e me gabar de que a Irlanda, como membro do euro, era mais europeia que a Grã-Bretanha.

Se a gente não parasse para pensar, o euro parecia uma boa ideia. Oferecia estabilidade, e isso significava que a Europa poderia competir com os Estados Unidos, que o euro poderia se tornar uma moeda internacional mais poderosa que o dólar. Contribuía para o sentimento de que a Europa era agora um lugar sem barreiras, onde era possível ir de carro de Portugal até o leste da Alemanha e depois descer para a Itália sem trocar dinheiro e sem ser parado pela polícia em nenhuma fronteira.

O problema era que o euro era regulado pelo Banco Central Europeu, com sede em Frankfurt, mas cada Estado tinha sua própria política econômica, suas próprias forças e fraquezas. Ficou claro desde o começo que alguns países no sistema do euro – Alemanha, França, Holanda – tinham economias muito mais fortes do que outros – Irlanda, Espanha, Portugal, Grécia. Esperava-se que a regulação e a prosperidade crescente criassem aos poucos uma Europa mais equilibrada, e que o euro acelerasse esse processo.

No início, operaram-se maravilhas na Irlanda, com a ajuda de um aumento da atividade multinacional norte-americana. Atingimos pleno emprego. A todo momento eu via estatísticas demonstrando que a Irlanda tinha se tornado um país de sucesso, uma lição para o resto do mundo. Políticos, incluindo alguns dos maiores idiotas que a Irlanda já produziu, competiam entre si reivindicando o crédito pelo que ficaria conhecido como o Tigre Celta.

E naqueles mesmos anos outras mudanças estavam ocorrendo. Em 1988, a Corte Europeia de Direitos Humanos ordenou que o governo irlandês mudasse a lei contra o homossexualismo. Nos anos 90, a proibição do divórcio também foi retirada da Constituição. (A proibição do aborto, inserida nos anos 80, permaneceu.) E também teve início algo inimaginável. O Estado enfrentou a Igreja, que até então era todo-poderosa, sentindo-se acima da lei. Padres foram acusados, condenados e presos por abuso sexual de menores. No começo do novo século, apareceram muitos relatórios oficiais provando que o abuso e a violência selvagem cometidos por padres e membros das ordens religiosas contra aqueles sob sua guarda – frequentemente órfãos ou crianças pobres – tinham sido sistemáticos e encobertos com cuidado pelas autoridades eclesiásticas. As pessoas estavam furiosas com a Igreja. De repente, o poder da Igreja Católica na Irlanda virou coisa do passado.

Assim, à medida que a primeira década do século XXI avançava, as pessoas começaram a se perguntar se essa onda de prosperidade e secularização transformaria a Irlanda e afetaria, por exemplo, a literatura irlandesa, se nos faria produzir um tipo diferente de romance ou poema ou peça de teatro, se tornaria mais leve o nosso tom, ou mais comerciais as nossas obras. Já que tudo tinha se tornado comercial, por que não a cultura também?

Seria possível que a Irlanda fosse tão frágil que a chegada da prosperidade pudesse mudar fundamentalmente a sua cultura? Naqueles anos, eu fiquei à espreita dessa possibilidade. Vi como os novos-ricos se tornaram extravagantes e vulgares, e como o consumo ostensivo parecia adicionar uma aura de histeria à atmosfera do país. Mas isso era só na superfície, entre os poucos que podiam se dar ao luxo de ter helicópteros particulares ou motoristas. Para o resto do país, o dinheiro trouxe prazer e um certo conforto. Notei, ao viajar com frequência aos Estados Unidos, que os aviões estavam todos lotados, não de turistas americanos, nem de empresários irlandeses, mas de consumidores irlandeses com o bolso cheio de cartões de crédito na viagem de ida e sacolas cheias de compras reluzentes na viagem de volta. A maioria era gente irlandesa comum e notei o quanto eles se divertiam, como imediatamente, a exemplo dos imigrantes do passado, eles encontravam em Nova York um bar, um restaurante ou um hotelzinho, geralmente administrado por irlandeses, onde se sentiam à vontade.

Em casamentos e enterros, eu prestava atenção para ver se notava alguma diferença. As festas de casamento eram maiores, gastava-se mais, e a vida era melhor porque a maioria dos convidados morava na Irlanda, e não tinha que viajar da América ou da Grã-Bretanha ou da Austrália para estar presente. Mas os homens se encostavam no balcão do bar do mesmo jeito de sempre; a música continuava péssima, e os chapéus que algumas mulheres usavam talvez fossem mais caros, mas revelavam o mesmo mau gosto de sempre. As pessoas ficavam bêbadas do mesmo jeito. Isso ao menos não tinha mudado, ainda que agora bebessem mais vinho e menos Guinness.

Algumas das mudanças vinham de longa data. Desde o final dos anos 60, a frequência das missas semanais vinha caindo; continuou a cair. Desde o final da década de 60, os supermercados tinham mais produtos estrangeiros – mais massa, patês, azeite de oliva – e a dieta irlandesa continuava a se aproximar da dieta da França ou da Espanha. Nos enterros, especialmente na cidadezinha onde nasci e cresci, não parecia ter havido mudança alguma; as pessoas se comportavam nas pequenas comunidades exatamente da mesma maneira, com a mesma reverência pelo corpo, o mesmo zelo pelos parentes e amigos, a mesma seriedade diante da morte.

E ainda que as oportunidades de ganhar muito dinheiro aumentassem, a ideia de se tornar escritor, ator ou músico ainda merecia profundo respeito. Em 2006 fui indicado pelo governo para o Conselho das Artes e examinei todos os pedidos de subvenção. Era como se nada tivesse acontecido. Pequenas companhias teatrais ainda estavam sendo criadas, trabalhando não por dinheiro, nem sequer pela fama. Jovens músicos, tanto na música tradicional irlandesa quanto na clássica, continuavam a surgir. E o mais estranho, talvez, foi que a geração que chegou à idade adulta com essa nova prosperidade produziu um bom número de jovens escritores – Claire Keegan, Paul Murray, Kevin Barry, Clare Kilroy, Christian O’Reilly – que exploravam os mesmos temas de Joyce ou Beckett, Edna O’Brien e John Banville. Escreviam sobre famílias irlandesas e infância irlandesa, a escuridão e o isolamento da Irlanda. Usavam um idioma que haviam herdado; e escreviam principalmente para o seu próprio país e eram lidos avidamente.

Eu me perguntava então se o dinheiro que veio nos anos 90 e durou por uns quinze anos não teria servido apenas para tornar as pessoas mais felizes, dando a elas um pouco mais de segurança. Parecia que a prosperidade que chegou à Irlanda significava que pais e avós podiam ficar tranquilos sabendo que a nova geração permaneceria no país, encontraria trabalho, criaria raízes, e isso os deixava felizes. Além disso, neste país do norte com seus longos invernos e chuvosos verões, todos adoram viajar para o sul, e naqueles anos, nas manhãs de sábado, havia uma felicidade palpável no aeroporto, de onde famílias inteiras partiam para a Grécia, Portugal ou Espanha. Às vezes, porém, era tudo excessivo: os novos restaurantes, de preços abusivos e comida não muito boa, ficavam lotados todas as noites; as pessoas pareciam sentir prazer em atingir o limite de seus cartões de crédito; o preço das casas tornou-se tópico de intermináveis discussões; os irlandeses compravam apartamentos na Espanha e em Portugal sem se preocupar em aprender uma palavra da língua local.

Mas uma coisa fundamental não mudou. Entrando em qualquer bar de Dublin, via-se que continuavam as conversas e risadas, a sensação quase de performance, o modo caloroso e divertido como as pessoas se relacionavam umas com as outras – um clima muito diferente do comportamento frio num bar de Londres ou de Paris. Observando turistas irlandeses num aeroporto nos Estados Unidos ou na Grã-Bretanha, via-se nos seus rostos uma profunda desconfiança em relação às autoridades constituídas, uma espécie de retraimento, uma falta de segurança. A música que se ouvia naqueles anos, os poemas e romances escritos, as peças encenadas, tudo isso era feito com a mesma sensação de que a palavra era importante. Também na Irlanda daqueles anos o esporte permaneceu no centro das coisas, incluindo os dois esportes nacionais amadores: o hurling[1] e o futebol gaélico. Era possível assistir a uma partida, mesmo em Dublin, e ter a impressão de ter voltado aos anos 50.

Em outras palavras, o dinheiro era só dinheiro, e ao mesmo tempo em que as pessoas gastavam muito, e viviam sem prudência, elas também usufruíam dessa prosperidade, da segurança que ela trazia, das viagens ao exterior, das reuniões familiares, das roupas vistosas, das refeições em restaurantes, das casas de férias, do sentimento vertiginoso de que a vida nunca tinha sido melhor. Mas quem examinasse com cuidado aqueles anos descobriria facilmente que a nova riqueza na Irlanda era quase ilusória e não duraria.

Em 2006 fui convidado a debater essa relação entre o milagre econômico irlandês e a cultura irlandesa num simpósio nos Estados Unidos. Decidi observar primeiro a anatomia do milagre econômico, e algumas coisas que descobri me chocaram. Eis o que escrevi na época: “Um grande volume de atividade econômica na Irlanda está concentrado não no comércio ou na consolidação da produção, mas na construção civil. A Irlanda é, de acordo com o Bank of Ireland, a segunda nação mais rica do mundo, atrás do Japão. E, observa o banco, um aspecto crucial dessa riqueza é que é riqueza de primeira geração, criada nos últimos dez anos. Se analisarmos a riqueza da Irlanda, veremos que não é como a riqueza em outros lugares. Os irlandeses estão gastando e tomando empréstimos à vontade, mas não investem em áreas como pesquisa e desenvolvimento, que criariam mais prosperidade no futuro, mas em imóveis, que dependem dos preços do mercado imobiliário para manter seu valor.”

Os irlandeses estavam viajando muito, mas poucos iam para a Alemanha, e pouquíssimos chegaram a compreender que a Alemanha tinha mudado, e que essa mudança seria prejudicial para o futuro da Irlanda quando a economia irlandesa entrasse em dificuldades. Os alemães do Leste ingressaram na UE ao mesmo tempo em que se integraram à Alemanha Ocidental. Diferentemente dos húngaros, digamos, ou dos tchecos, entraram na UE sem pensar duas vezes. Concentraram-se unicamente nos benefícios que a reunificação traria para eles. A Alemanha, por sua vez, concentrou-se em fazer a reunificação funcionar. De uma hora para outra, a Alemanha Ocidental ganhou uma nova população, em boa parte qualificada, e isso significava que os salários baixariam ou ficariam estáveis. O governo alemão tomou o cuidado de não superaquecer a economia; os impostos continuaram elevados. Os bancos alemães, apesar das baixas taxas de juros, não franquearam seus cofres aos investidores alemães. Eles emprestaram a outros bancos.

Naqueles anos, por todo o continente, a outrora poderosa ideia de que a Europa era uma cultura única e deveria se tornar cada vez mais uma economia única estava murchando. Acreditava-se que a diluição da soberania nacional tinha ocorrido rápido demais, sem debate suficiente. Havia uma visão de que a Europa era um superestado, mas não uma democracia, que sua burocracia de salários excessivos não prestava contas a ninguém, e que cada Estado nacional tinha direitos e tradições que mereciam ser protegidos. Na Alemanha, disseminou-se a opinião de que não era mais tarefa dos países ricos ajudar os países pobres.

Em 2008, quando o governo americano permitiu que o banco de investimentos Lehman Brothers falisse, o Banco Central Europeu decidiu que isso não aconteceria com os seus bancos. Os riscos eram grandes demais. Na Irlanda, um banco em especial – o Anglo Irish Bank – vinha crescendo muito, especialmente na área de crédito imobiliário. E devido à frouxa regulamentação na Irlanda e, ao que parece, a uma regulamentação quase inexistente por parte da UE, o Anglo Irish estava arriscando demais. Não obstante, os seus diretores eram tratados como príncipes num país sem realeza. Escrevia-se sobre eles como se fossem lordes. Dizia-se que eram eles que tinham a capacidade de levar a Irlanda para o futuro, onde se veria livre da pobreza e da emigração, livre de seu passado de colônia.

Assim, quando os banqueiros procuraram o governo em setembro de 2008 para dizer que precisavam desesperadamente de ajuda estatal, o governo tinha dois motivos para ouvi-los. Primeiro, o Banco Central Europeu tinha deixado claro que nenhum banco deveria falir, e os políticos irlandeses não tinham experiência alguma em finanças internacionais ou interesse algum em desafiar uma organização tão venerável, sediada na Alemanha. Segundo, os políticos gostavam dos banqueiros e os admiravam, e não desconfiaram que as cifras que lhes eram apresentadas estavam completamente erradas. Não sabiam que, se o Estado irlandês salvasse do naufrágio os seus bancos, os custos representariam o dobro da receita anual com impostos. E inocentemente se dispuseram a garantir os bancos.

Nesse ínterim, a bolha imobiliária tinha estourado. A receita governamental em 2009 foi de 35 bilhões, enquanto os gastos foram de 55 bilhões. A Irlanda precisaria pedir dinheiro emprestado em 2010 e nos três ou quatro anos seguintes. O país estava vulnerável porque o custo de salvar os bancos era inimaginável; os políticos pareciam temer divulgar a cifra e os banqueiros obviamente também não a revelavam. (Os banqueiros agora tinham caído em desgraça. Segundo consta, nem em partida de golfe alguém queria ser visto ao lado deles.)

Num ataque especulativo ao euro, a Irlanda era o elo mais fraco. A Grécia já tinha sido salva do naufrágio, para grande consternação do contribuinte alemão. E logo, parecia, tanto a Espanha como Portugal iriam precisar de ajuda. Os bancos irlandeses estavam sobrevivendo com dinheiro do Banco Central Europeu; a Comissão Europeia também tinha um fundo para ajudar países necessitados, mas isso traria consigo o Fundo Monetário Internacional, como ocorrera na Grécia, e a ajuda só seria fornecida sob as mais severas condições. A chegada da Comissão e do FMI significaria que a Irlanda, poucos anos antes um dos países mais ricos do mundo, era agora uma economia moribunda.

Os políticos continuavam a se comportar como se fossem competentes. Estavam dia e noite no rádio e na televisão, exalando controle e uma estranha certeza de que ainda tinham legitimidade para comandar. Lentamente, a população despertou para o que estava acontecendo. A ira contra o Fianna Fáil, o partido de meu pai e meu avô, não é corriqueira. Quando a eleição vier, o partido será dizimado. Porque representavam, desde os anos 60, tanto o patriotismo como o pragmatismo, e porque fracassaram em ambos os campos. Eles se tornaram alvo fácil depois de cederem a soberania da Irlanda ao FMI, uma soberania pela qual lutaram os nossos antepassados.

Enquanto isso, a emigração recomeçou, e os jovens estão se mudando para a Grã-Bretanha, a Austrália e o Canadá. Estamos perdendo mais uma geração. Mas estamos também perplexos, com um misto de choque e vergonha. Como pudemos acreditar que um pequeno país como a Irlanda, com uma história de pobreza e fracasso, pudesse ser rico e permanecer rico? Por que compramos casas que custavam tão caro e agora valem tão pouco? Como confiamos que a Europa viria nos salvar, sem pensar que viria também nos punir por nossa insensatez? Como confiamos no Fianna Fáil, cujos ministros não sabem coisa alguma de economia, e entraram na política só por causa de suas famílias?

As noites escuras do inverno serão um bom momento para romancistas, dramaturgos e poetas. É fácil deixar a televisão e o rádio desligados. Já ouvimos o bastante; conhecemos as más notícias. No início dos anos 1890, quando a Irlanda também estava de
joelhos, e os padres e políticos também tinham feito o que há de pior, o poeta W. B. Yeats viu o futuro da Irlanda como cera mole, um lugar que podia ser moldado, no qual a vida da imaginação poderia vir a assumir o primeiro plano. Talvez isso seja possível de novo, talvez nossos romances, peças e poemas passem a importar mais, já que não há nada aqui, exceto preocupação, desespero e riso soturno. Essa abertura para a imaginação poderia parecer, em momentos de devaneio, uma coisa boa. Mas é um alto preço a pagar pelo que foi feito ao nosso país, ou pelo que o país fez a si mesmo. Embora o estrago, ao que me parece, esteja na superfície, e afetará apenas o nosso orgulho e o nosso bolso; o espírito das coisas aqui continua o mesmo, a cultura da Irlanda não mudou nos anos do boom e não mudará agora que temos diante de nós uma década de relativa pobreza.

[1] Hurling: literalmente, arremesso. Jogo tradicional irlandês semelhante ao hóquei (N.T.).
Revista piauí

terça-feira, 22 de março de 2011

Turquia: 187.000 mulheres dividem o marido com outra esposa

Mesmo proibida, tradição ainda impera entre ricos e pobres no país

AFP

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Na Turquia, país muçulmano laico que aspira a ingressar na União Europeia, 187 mil mulheres dividem o marido com uma segunda esposa através do casamento religioso, mesmo a poligamia sendo considerada ilegal, revelou um informe consultado pela AFP esta terça-feira (18).

Esta prática ocorre especialmente no sudeste do país, área pobre e com tradições feudais, povoada em sua maioria por curdos, mas também no oeste industrializado, destacou um estudo de dois demógrafos turcos da Universidade de Hacettepe. O informe foi apresentado na semana passada a uma comissão parlamentar sobre a igualdade de possibilidades para homens e mulheres.

A maioria dos homens toma uma segunda esposa quando a primeira não pode ter filhos ou se a primeira não tiver tido filho homem, destacou o estudo. Mais de sete milhões de mulheres, de uma população de 73 milhões de habitantes, teriam se casado por decisão dos pais, ou seja, através de um um casamento arranjado, e cerca de 5,5 milhões de mulheres se casaram antes da idade legal, que é de 18 anos, acrescentou o estudo.

Quatrocentas e cinquenta mil mulheres, a maioria no sudeste asiático, estão unidas aos seus maridos por meio de um casamento religioso, a princípio proibido na falta de um casamento civil, e não têm os direitos conferidos a uma esposa legítima. A Turquia multiplicou as reformas a favor das mulheres para reforçar suas chances de aderir um dia à UE. Mas na prática e na cultura ainda resta muito a fazer para reduzir as discriminações de que são vítimas as mulheres, segundo as organizações feministas.

http://www.istoe.com.br

domingo, 20 de março de 2011

Notícias Geografia Hoje

Governo Federal intervém em Jirau

A direção do consórcio da usina e o ministério decidiram que a primeira providência, depois do controle de segurança, é começar a reerguer os refeitórios e os alojamentos


A construtora retirou de Porto Velho seus 19 mil trabalhadores nas duas margens do Rio Madeira, paralisou tudo e não tem prazo para a retomada das obras

Brasília - Depois de ouvir a Camargo Corrêa e avaliar as informações do Ministério das Minas e Energia e dos relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o Planalto decidiu mobilizar um contingente da Força Nacional e da Policia Federal para assumir o controle dos canteiros da construtora na usina hidrelétrica de Jirau, em Rondônia. A presidente da República, Dilma Rousseff, acompanha a situação e pediu que a retirada e acomodação dos trabalhadores fossem feitas com segurança.

Usando pelo menos 300 ônibus, a construtora retirou para a capital, Porto Velho, seus 19 mil trabalhadores dos canteiros nas duas margens do Rio Madeira, paralisou tudo e não tem prazo para a retomada das obras. Ao todo, a empresa tem 22 mil trabalhadores envolvidos na construção da usina, uma da maiores obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e que forma o complexo hidrelétrico do Madeira junto com a usina de Santo Antônio.

Roberto Silva, gerente de Relações Sindicais e Trabalhistas da Camargo Corrêa, admitiu ao Estado que "a cidade não comporta tanta gente" e que a solução foi pagar transporte terrestre e aéreo para os trabalhadores que pedem para voltar ao estados de origem. A empresa estava usando prédios do Sesc e do Sesi para acomodar algumas centenas de operários.

Ontem, a direção do consórcio da usina, o grupo Energia Sustentável do Brasil (ESBR), e o ministério decidiram que a primeira providência, depois do controle na área de segurança, é começar a reerguer os refeitórios e os alojamentos, o que viabilizaria o retorno paulatino dos trabalhadores aos canteiros. Hoje, o governo estadual e a empresa devem divulgar medidas para provar que têm o controle da área, tanto assim reverter os pedidos de demissão que muitos trabalhadores estão fazendo.

Entenda o vocabulário atômico


Veja abaixo uma lista de palavras e expressões usadas no vocabulário atômico que pode ajudar a entender melhor a crise nuclear no Japão após terremoto e tsunami.

http://oglobo.globo.com

FUSÃO DO NÚCLEO: É uma avaria grave do núcleo do reator devido a um superaquecimento. A fusão do núcleo ocorre quando uma falha grave no sistema da central impede a refrigeração adequada. Sem esse resfriamento, os suportes que contêm o combustível nuclear se aquecem até chegar a um derretimento. Essa situação gera um perigo enorme, pois acarreta o risco de que o material radioativo (o combustível nuclear) seja expelido para a atmosfera. Além disso, a fusão deixa o reator instável.

REATOR NUCLEAR: Instalação em que se inicia, se mantém e se controla uma reação nuclear em cadeia. Existem dois tipos: o reator (nuclear) de água a pressão, que é um reator refrigerado com água natural a uma pressão superior à da saturação, para impedir a ebulição; e o reator de água em ebulição, resfriado com água natural que é levada a ferver no núcleo, em grande quantidade.

CONTENÇÃO: É a estrutura que envolve o núcleo, construído com paredes de concreto armado e aço.

VASO DE PRESSÃO: Recipiente que contém o núcleo de um reator nuclear, com cápsulas de combustível, refletor (que reduz o escapamento de nêutrons, aumentando a eficiência do reator), água radioativa e parte do refrigerador, entre outros.

VARETA DE COMBUSTÍVEL: Invólucro que contém as barras de combustível. É um recipiente hermético que abriga o combustível nuclear. Impede a saída dos produtos da fissão e garante a resistência mecânica que assegura a integridade do combustível. É localizada no interior do vaso de pressão.

BARRAS DE COMBUSTÍVEL: É o combustível nuclear disposto em forma de barra, formado por pastilhas; situada no interior da vareta.

FUSÃO NUCLEAR: Reação entre núcleos de átomos leves que resulta em formação de outro núcleo, mais pesado. O processo é acompanhado da emissão de partículas elementares e energia.

FISSÃO NUCLEAR: Reação nuclear na qual ocorre a ruptura de um núcleo pesado, geralmente originando dois fragmentos cujos tamanhos são da mesma ordem de magnitude. Nesse processo, executado rotineiramente em usinas nucleares, são emitidos nêutrons e é liberada grande quantidade de energia.

CIRCUITO DE REFRIGERAÇÃO EXTERNO: Circuito de água que se extrai de uma fonte natural, usado para condensar o vapor de água uma vez que esse movimentou a turbina (de forma semelhante à de qualquer outra central térmica de carvão, óleo combustível ou gás). A água, que nunca entra em contato com o combustível nuclear, é devolvida ao rio, à barragem ou ao mar, a uma temperatura superior à que foi extraída.

http://oglobo.globo.com

Veja como funciona o reator nuclear - Editoria de Arte

Notícias Geografia Hoje

usina nuclear de Fukushima
Chernobyl
Three Mile Island
Exemplo para o mundo

Heitor Scalambrini Costa em 18/03/2011
Quando se pensa em acidentes nucleares, logo vêm à mente as tragédias mais recentes de Three Mile Island, ocorrida na Pensilvânia – Estados Unidos em 1979, e de Chernobyl, na Ucrânia em 1986. Nos dois casos, os acidentes foram causados por falhas que provocaram um superaquecimento no reator, e vazamento de material radioativo para a atmosfera.

Agora estamos acompanhando um desastre nuclear provocado pelo terremoto de 9 graus de magnitude que atingiu o Japão em 11 de março, provocando um tsunami que devastou inúmeras províncias costeiras.

A central nuclear atingida de Fukushima Daiichi, situada a 250 km a nordeste de Tóquio, é composta por seis reatores BWR (Boiling Water Reactor) que geram conjuntamente 4.696 MW elétricos. O combustível dos reatores é o MOX (“combustível óxido misto” – mixed oxide, ou “combustível de plutônio”) novo combustível composto de urânio e de plutônio bem mais reativo que os combustíveis padrões. O plutônio, que não existe em estado natural, é veneno químico extremamente violento, e é para o Japão sua maior fonte de energia, resultante do reprocessamento dos resíduos nucleares produzidos pelas usinas existentes em seu território. Trata-se de uma das substâncias mais radiotóxicas e perigosas de que se tem notícia.

Segundo a Tokio Electric Power Company (TEPCO), empresa de energia responsável pela usina nuclear de Fukushima, três dos seis reatores da central nuclear estavam ativos no momento do terremoto. Os outros três, estavam fechados para manutenção. O reator 1 teve seu sistema de resfriamento danificado o que provocou aumento considerável da temperatura no núcleo do reator, e assim como já admitido pelos órgãos de segurança nuclear japonês, ocorreu o derretimento do reator, liberando material altamente tóxico para a atmosfera. Os reatores 2 e 3 também estão apresentando problemas em seus sistemas de resfriamento, e também podem se fundir, aumentando de maneira catastrófica o desastre nuclear ocorrido.

Convenhamos que a explosão em uma usina nuclear, vista praticamente em tempo real por todo mundo, não é algo que possa ocorrer. E mais do que isso, após o desastre, os responsáveis dizerem que não sabem os motivos. O fato de não ter explicações para uma explosão ocorrida em uma usina sob sua responsabilidade demonstra que a empresa perdeu o controle da situação. Devemos lembrar que a empresa TEPCO, que está no centro da crise nuclear, tem um passado de escândalos e uma trajetória cheia de tropeços em sua atuação nuclear.

As lições que devemos retirar deste lamentável e trágico episódio é que mesmo com os avanços tecnológicos no setor da segurança, os perigos ainda existem. Aqueles defensores das usinas nucleares que chegaram a afirmar que o risco é zero ou praticamente inexiste a possibilidade de ocorrências de falhas, e conseqüentemente desastres nas usinas, devem calçar as “sandálias da humildade”. Devem admitir que não podemos permitir quaisquer riscos ligado com as usinas nucleares, simplesmente pela grande catástrofe, econômica, ambiental e social que possíveis acidentes, ocorrendo, podem legar a toda humanidade.

Daí é preciso repetir que o Brasil/Nordeste não precisa de usinas nucleares. Os recursos naturais e renováveis disponíveis como Sol, vento, água, biomassa são suficientes para atender nossa demanda energética.

O autor é professor associado da Universidade Federal de Pernambuco (hscosta@ufpe.br)

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