domingo, 9 de janeiro de 2011

Cinco desafios à vida na Terra - 1

Biodiversidade

Sexta extinção em massa está a caminho

Equipe Planeta

Foto: Antonia Despaja
Espécies em perigo: poluição química dos rios e lagos é o maior responsável pela extinção em massa de espécies aquáticas.

O que têm em comum o pássaro dodô das Ilhas Maurício, os bovídeos auroques da Europa, o cervo da Córsega, a foca-monge das Antilhas e o tigre de Bali? Simples: todos pertencem ao passado. Todos desapareceram, estão extintos, como tantas outras espécies estão prestes a desaparecer. Não são muitos, se consideramos que até agora já foram identificadas 1,7 milhão de espécies e existem ainda entre cinco e cem milhões de outras espécies a serem descobertas. Apesar disso, existem razões para nos preocuparmos: tudo indica que estamos na véspera de uma catástrofe ecológica sem precedentes no planeta.

Já se fala de uma sexta extinção em massa similar às cinco que a precederam (com o desaparecimento de mais de 60% das espécies), respectivamente no final do período ordoviciano há 438 milhões de anos (MA), do devoniano (há 367 MA), do permiano (248 MA), do triássico (208 MA) e do cretáceo (65 MA). Todas elas resultantes de catástrofes geológicas maiores e inevitáveis, como vulcanismos, sismos, provável queda de meteorito gigante, etc. Só que, desta vez, a causa é diferente. Não existe nenhuma hecatombe natural em vista. A ameaça é uma outra: a ação do homem.
Estudos paleontológicos mostram que nossa espécie, de índole marcadamente caçadora e colonizadora, começou a produzir desgastes na superfície do planeta há 50 mil anos. Na Austrália, por exemplo, há 46 mil anos – apenas dez mil anos depois do início da colonização daquele continente pelos humanos –, a maioria dos gêneros de répteis, pássaros e mamíferos já tinha desaparecido! Ao longo da história, as ilhas, que são porções de terra fechadas e isoladas, foram sempre as maiores vítimas da presença humana. Como fariam as espécies naturais de cada ilha, que até então desconheciam inimigos naturais, para se defender dos humanos e seu séquito de animais domésticos predadores?

Desde então, em toda parte onde se instalou, e desejando estender seus territórios e incrementar suas atividades agrícolas e industriais, a sociedade humana provocou perturbações no meio ambiente a seu redor: desflorestamento, poluição do solo, da atmosfera, dos rios, dos lagos e oceanos. Somos hoje 6,5 bilhões de pessoas sobre a face do planeta (e seremos nove bilhões em 2050!) a engendrar continuamente a degradação dos habitats, a superexploração dos recursos, as invasões biológicas e o aquecimento global... Desgastes que levarão inexoravelmente a um novo fenômeno de extinção em massa.

Ao degradar os ecossistemas, o homem fragiliza as espécies. As populações ameaçadas não mais encontram condições para se restabelecer. Ao contrário, a superexploração dos recursos, a introdução de espécies exóticas e as mudanças climáticas brutais as empurra ainda mais rapidamente para a destruição. Segundo os especialistas, nos aproximamos rapidamente de um “ponto crítico” no qual a taxa de extinção será entre mil e dez mil vezes superior à taxa “normal” (uma espécie desaparecida a cada quatro anos). Hoje, no entanto, essa taxa já chega a uma espécie por dia!

Como se isso não bastasse, as zonas de forte biodiversidade são raras e muitas vezes pouco extensas. Vinte e cinco regiões que cobrem apenas 1,4% da superfície terrestre abrigam, sozinhas, mais da metade das espécies vegetais do planeta e um terço das espécies vertebradas terrestres. Elas estão na Província Florística da Califórnia, na América Central, no Cáucaso, Polinésia e Micronésia, Brasil, África Ocidental, Madagascar, Oeste da Índia e Sri Lanka, Indonésia e Sudoeste da Austrália.

O pior de tudo foi demonstrado há pouco pela AZE (Alliance for Zero Extinction,http://www.zeroextinction.org/). Essa organização ambientalista criou um mapa de 595 sítios contendo pelo menos uma espécie ameaçada de extinção iminente e calculou que, se em alguns desses sítios seria necessário investir mais de três milhões de euros por ano para restaurá-los, apenas 450 euros anuais bastariam para salvar alguns outros sítios. ”

Extinção: um fenômeno natural


O desaparecimento de espécies é um fenômeno natural, normal e inelutável. Basta dizer que mais de 99% das espécies que apareceram na Terra desde o surgimento da vida no planeta já desapareceram. Uma espécie desaparece após surgir e se desenvolver durante um a quatro milhões de anos. Significa, entre outras coisas, que o próprio homo sapiens – surgido há cerca de 200 mil anos – irá um dia desaparecer.

O que provoca esse perpétuo movimento de aparições e desaparecimentos de espécies em nosso planeta? A necessidade de se adaptar continuamente ao meio ambiente. Assim, embora hoje o mundo ainda esteja repleto de espécies, apenas as que conseguirem se adaptar às mudanças em curso – de origem natural ou humana – irão sobreviver.

Em si mesma, a extinção das espécies é um fenômeno natural. O que ocorre agora é que nós, humanos, interrompemos o processo normal das extinções, acelerando-o a um nível e a um ritmo que, brevemente, serão insustentáveis.

REVISTA PLANETA
EDIÇÃO 408

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