quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Inferno na terra


Inferno na terra
Há 65 milhões de anos, um asteróide colidiu com a Terra, pôs fim à era dos dinossauros e mudou os rumos da evolução. Assista agora à cobertura completa deum dos piores momentos do nosso planeta

por Texto Arthur Felipe Artero
A tragédia veio do espaço. Naquele dia, os répteis gigantes, mestres supremos do planeta Terra, foram dormir sem imaginar que seu mundo estava prestes a acabar. No céu, dias antes, um objeto grande e brilhante já fazia companhia à Lua e iluminava a noite. Numa fração de segundo, devastação sem precedentes, em escala planetária. Um impacto com poder superior à detonação de 100 milhões das mais fortes bombas atômicas já construídas. Era o início de uma das maiores extinções da história.

O episódio se deu 64,8 milhões de anos antes de os primeiros humanos modernos aparecerem no planeta, então ninguém viu o que aconteceu. Ele só pôde ser recontado graças a um trabalho de físicos, geólogos e paleontólogos de fazer inveja a Sherlock Holmes. A primeira prova do crime foi descoberta pelos cientistas americanos Luis e Walter Alvarez, em 1980. Eles verificaram que, onde quer que se cavasse no mundo, a camada de terra que correspondia à época dos dinossauros tinha grandes quantidades de irídio, um elemento incomum no planeta, mas típico de corpos celestes, como asteróides. Depois, a descoberta da cratera reforçou a tese. Juntando todo tipo de evidência, os cientistas conseguem hoje recontar em detalhes a tragédia e explicar como ela pôs fim a animais tão gigantescos e bem adaptados, que dominavam o mundo havia mais de 180 milhões de anos. Quem saiu ganhando foram os pequenos mamíferos, que depois viriam a dar origem a nós, seres humanos. A era dos dinossauros acabou nessa colisão. O mundo como é hoje nasceu naquele dia.

As vítimas
As espécies extintas pelo asteróide
O asteróide

Com 10 km de diâmetro, ele quando caiu se estendia até a altitude de cruzeiro de um avião. Não se sabe se era um asteróide (de pedra) ou um cometa (de gelo e poeira). No primeiro caso, sua origem provável seria entre Marte e Júpiter e cairia a cerca de 72 000 km/h. Um cometa, vindo da borda do sistema solar, seria até 4 vezes mais rápido.

Paquicefalossauro

Herbívoro de 4,5 metros de altura, com um crânio de até 25 centímetros de espessura. Ele provavelmente usava golpes de cabeça para atacar inimigos e se proteger.

Troodon

Carnívoro, ágil na corrida sobre duas patas e com visão muito aguçada. Em proporção ao porte, era o dino com o maior cérebro de todos os tempos.

Tiranossauro Rex

O mais conhecido dino carnívoro (mas não o maior), com até 6 metros de altura e 10 metros de comprimento. Apesar do porte, há controvérsias sobre sua agilidade e velocidade ao correr.

Mosassauro

Predador aquático que lembra os jacarés modernos (embora não seja um parente próximo).Os adultos tinham até 10 metros de comprimento.

Torossauro

Dinossauro herbívoro e quadrúpede, primo dos conhecidos triceratops. Media em torno de 7 metros de comprimento, 2,5 metros de altura e pesava de 4 a 8 toneladas.

Deinonicossauro

Primo dos velociraptores (estrelas do filme Parque dos Dinossauros), chegava à altura de 2 metros. Atacava suas presas com as garras afiadas e caçava em bandos.


O impacto
A colisão, onde hoje é o golfo do México, gerou um calor de 24 000 oC (entre 4 e 5 vezes o da superfície do Sol), abriu uma cratera de 40 km de profundidade e jogou rochas com tanta força que algumas entraram na órbita da Terra.

As áreas atingidas

Terremotos

Os continentes na época tinham um formato muito diferente do de hoje. As Américas ainda eram separadas por um mar. Isso não impediu que o impacto fizesse a terra tremer intensamente em toda a região em vermelho.

Tsunami

A onda gigantesca inundou completamente a costa de onde hoje é o golfo do México. Mas, por conta da geografia da região, ela se espalhou pouco e causou menos estrago que o esperado. América do Sul e África saíram quase ilesas.

Vulcões

Um dos principais focos de vulcanismo foi o terreno onde hoje está a Índia, que na época ficava desconectada da Ásia e era uma ilha no meio do atual oceano Índico. Estava quase do outro lado do mundo em relação ao impacto.

Incêndios

As áreas em vermelho foram transformadas em um deserto desolado e estéril por contado calor do impacto. No resto do mundo (em laranja), incêndios causados por detritos que caíam fizeram grandes estragos.


As conseqüências
A colisão foi apenas ocomeço - o pior foram todas as tragédiasque ela desencadeou
Inundações

O impacto ocorreu em um mar raso, o que gerou ondas na água que se propagaram até a costa. Ali, elas viraram tsunamis com cerca de 1 km de altura – perto dessa, a recente tragédia na Ásia parece apenas uma pequena marola.

Vulcões

Na mesma época em que o rochedo despencou do espaço, houve uma série muito intensa de erupções vulcânicas espalhadas pelo mundo. Até hoje não se sabe se foram por coincidência ou causadas de alguma forma pela pancada cósmica.

Incêndios

A explosão jogou pedaços de rochas para todo lado e alguns detritos chegaram até a entrar em órbita. Uma hora eles caíram, se aqueceram na atmosfera e causaram incêndios em diversas florestas.


Os sobreviventes
Paleopsilopterus


Criatura arbórea, parente dos mais antigos primatas (que dariam origem ao homem), com cerca de 200 gramas. Tinha dieta rica em fibras, com nozes, sementes e animais invertebrados.

Palaeoryctes

Pequeno mamífero cavador, em alguns casos tinha peso ao redor de 2 gramas. Não se pode ser mamífero e muito menor do que isso. O tamanho ajudou as criaturas a sobreviverem ao impacto.

Carpolestes

Ave parente das atuais siriemas, viveu no Brasil (há fósseis dela no Rio de Janeiro). Como toda ave, é um dos animais mais próximos dos dinossauros a ter sobrevivido.

Ptilodus

É um roedor de médio porte. Foi um dos primeiros a ocupar a América do Norte depois que a região se recuperou do impacto cósmico.

Os dias seguintes
Os efeitos do impacto se prolongaram por séculos e acabaram com ainda mais espécies
Noite longa

A poeira levantada pelo impacto impediu a passagem dos raios solares por alguns meses. O planeta inteiro ficou às escuras e muito mais frio. Sem poder fazer fotossíntese, as plantas morreram, o que também acabou com os animais herbívoros e, por fim, com os carnívoros.

Aquecimento global

A combinação de tragédias jogou muito vapor d’água e gás carbônico na atmosfera. O vapor voltou ao chão na forma de chuva, limpando do ar a poeira que escureceu o planeta. Já o gás carbônico ficou por lá, causando efeito estufa e trazendo calor. Quem resistiu aos dias frios teve, em seguida, que se adaptar a um brutal processo de aquecimento global.

Chuva ácida

O impacto e a queda de meteoritos esquentaram a atmosfera. O calor fez com que moléculas de nitrogênio e de oxigênio, os componentes principais do ar, quebrassem e combinassem com o hidrogênio do vapor d’água para formar ácido nítrico. Chuvas torrenciais de ácido se seguiram, o que prejudicou a vida terrestre e poluiu os oceanos por décadas.


Os cadáveres
Os grandes animais mortos não só serviram de comida aos bichos menores como, passada a tragédia, abriram caminho para que estes se espalhassem.

Entre mortos e feridos
Depois de alguns séculos, o sol voltou a brilhar desimpedido, o aquecimento global foi amenizado quando as novas florestas absorveram o gás carbônico, a temperatura se estabilizou e a vida voltou a crescer no planeta. Claro, a despeito da recuperação, este mundo nunca mais seria o mesmo. Mais da metade das espécies terrestres havia sido extinta, acompanhada de um sem-número de espécies vegetais. A vida marinha também havia perdido 50% das suas espécies por conta da acidez dos oceanos. Quem mais sofreu foram os animais maiores. Pelo próprio tamanho, eles eram obrigados a existir em menor número (porque senão não sobraria comida para todos). E justamente por comerem muito, não conseguiram encontrar alimento suficiente quando a situação apertou. Sobraram então os mamíferos, na época pequenos e débeis, que puderam ocupar os espaços deixados e crescer. O legado dos dinossauros, no entanto, foi perpetuado até os dias de hoje. Seus herdeiros ainda vivem por aí, assombrando os humanos (especialmente quando estão gripados): são as aves. Elas já existiam havia 65 milhões de anos e quase foram extintas pelo impacto que matou seus primos maiores. Mas algumas espécies sobreviveram, como um lembrete discreto do dia em que os répteis gigantes dominavam a Terra. E são os descendentes delas que hoje estão aí pelo mundo.

Para saber mais
T. rex and the Crater of Doom - Walter Alvarez, 1998, Vintage Books (EUA)

The Dinosauria - www.ucmp.berkeley.edu/diapsids/dinosaur.html

Revista Superinteressante

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