domingo, 15 de novembro de 2009

Natureza pode absorver mais CO2 do que se imaginava

14/11/2009

O dióxido de carbono é o principal perpetrador da mudança climática e a maioria dos esforços para desacelerar o aquecimento global envolve a prevenção da produção de CO2 e auxiliar a absorção de CO2. Mas um novo estudo sugere que quanto mais CO2 produzirmos, mais a natureza absorve. Será que realmente precisamos de todas aquelas florestas tropicais?

Muitos cientistas agora se voltam para a tecnologia de captura e armazenamento de carbono como forma de afastar os piores efeitos da mudança climática. Com sua ajuda, o CO2 pode ser capturado antes de chegar à atmosfera -na usina elétrica a carvão, por exemplo. Os gases podem ser armazenados em depósitos de gás natural esgotados ou em rochas subterrâneas porosas. Eles podem ficar retidos por milhares de anos nas profundezas da Terra, poupando a atmosfera.

Apesar dessa tecnologia engenhosa ser um assunto popular para discussão, o fato da natureza já ter dominado essa mesma tarefa é frequentemente esquecido: as plantas, o solo e os oceanos -os chamados "ralos de carbono"- são todos excelentes absorvedores de gases do efeito estufa. "Quase 60% de nossas emissões são armazenadas nos oceanos ou no solo", disse Susan Trumbore, do Instituto Max Planck para Biogeoquímica em Jena, Alemanha, para a "Spiegel Online".

Muitos há muito pensam que esses ralos naturais de carbono em algum momento parariam de absorver o CO2 porque, entre outros motivos, águas mais quentes do oceano são incapazes de absorver tanto CO2 quanto as águas mais frias. Além disso, o derretimento do gelo permanente do Ártico ameaça liberar os gases do efeito estufa aprisionados lá. Numerosos estudos entre 1996 e 2006 indicaram que a eficiência dos ralos de carbono foi reduzida em todo o mundo. Mas agora, um estudo recém-publicado indica que o ecossistema pode absorver mais dos pecados da humanidade contra o clima do que se imaginava anteriormente.

Em um estudo publicado na revista "Geophysical Research Letters", Wolfgang Knorr, um cientista alemão da Universidade de Bristol, escreve que os percentuais de emissões de CO2 causadas pelo homem que chegam à atmosfera mais ou menos permaneceram constantes nos últimos 150 anos. Mesmo com a quantidade total de CO2 bombeada na atmosfera aumentando dramaticamente, a quantia aprisionada na atmosfera permanece em constantes 40%.

Quanto mais CO2 o homem produz, mais a natureza absorve
Em outras palavras, quanto maior o CO2 emitido pela atividade humana, mais, em termos absolutos, o mundo natural pode absorver. "É incrível como um sistema tão complexo pode fazer algo tão simples", disse Knorr à "Spiegel Online". De fato, sem esse mecanismo, disse Knorr, os efeitos do aquecimento global seriam muito mais aparentes do que são hoje. "O oceano e a atmosfera ajudam a prevenir a mudança climática de piorar", disse Wolfgang Lucht, do Instituto para Pesquisa do Impacto Climático de Potsdam (PIK), para a "Spiegel Online". Ele elogia a nova análise por sua metodologia rigorosa e por estudar um período mais longo do que estudos semelhantes fizeram anteriormente.

Para chegar a suas conclusões, Knorr recolheu dados de duas estações que medem o CO2 na atmosfera, uma no Havaí e uma na Antártida. Ele então comparou essas medições aos dados da análise de dois núcleos de gelo que vieram do gelo antártico. Ele comparou esses números à quantidade de emissões de CO2 produzidas pela queima de combustíveis fósseis, a manufatura de cimento e a destruição das florestas tropícais -e notou que, desde os anos 1850, as proporções permaneceram constantes.

Knorr não duvida que a quantidade total de CO2 na atmosfera aumentou substancialmente nos últimos 150 anos. Todavia, seus resultados foram surpreendentes e poderiam ingressar nas discussões no encontro de cúpula global sobre o clima no início de dezembro, em Copenhague. "Há várias pistas que sugerem que as estimativas de emissões, causadas pelo desmatamento das florestas tropicais, são altas demais", explicou o pesquisador. Lucht, o cientista do PIK, concorda, dizendo que nós simplesmente não sabemos quanta floresta foi destruída e quanto CO2 foi lançado na atmosfera em consequência do desmatamento.

Nós realmente precisamos de todas aquelas florestas?
Essa lacuna no conhecimento científico é vital. Os países em desenvolvimento há muito argumentam que a proteção das florestas deveria ser considerada uma medida de proteção climática -e exigem que o mundo industrializado os compense generosamente por seus problemas. Mas a falta de informação sólida sobre isso faz com que os países ricos odeiem entregar o dinheiro.

Ainda assim, Knorr é rápido em soar um alerta. "A capacidade das florestas tropicais de absorver CO2 é o menor de seus benefícios", ele diz, mencionando a rica biodiversidade encontrada nessas áreas. As florestas precisam ser protegidas, ele insiste, mesmo se o valor delas como ralos de carbono for menor do que antes estimado.

Para o próprio Knorr, sua pesquisa não muda nada no que se refere aos riscos apresentados pela mudança climática. "Até o momento, nada mudou, mas isso não significa que não mudará no futuro", ele diz. Trumbore, o cientista de Jena, concorda, dizendo: "A quantidade de CO2 na atmosfera está aumentando mais rapidamente do que nunca, porque estamos usando mais e mais combustíveis fósseis".

E Lucht do PIK também concorda que o estudo de Knorr muda pouco. "Ao longo do tempo, ficará óbvio que os ralos de carbono se tornarão menos eficientes. Em 2040, pelo menos, os dados ficarão mais claros. Mas àquela altura", ele alerta, "será tarde demais para fazer algo".

Tradução: George El Khouri Andolfato

Der Spiegel

Nenhum comentário:

Geografia e a Arte

Geografia e a Arte
Currais Novos