quarta-feira, 15 de julho de 2009

Floresta que sangra


Floresta que sangra
No Acre, a violenta disputa por seringais atravessou o século XX, mas resultou na primeira reserva extrativista do Brasil
Mauro William Barbosa de Almeida

Matar as seringueiras é como matar a própria mãe. Era o que dizia Chico Ginú, um dos principais líderes sindicais do Alto Juruá, no oeste do Acre. Se a exploração de borracha continuasse no ritmo em que vinha sendo realizada, “de que os filhos e netos viveriam no futuro?”

Em plena ditadura militar, os trabalhadores estavam dispostos a contestar a forma de produção vigente em nome da preservação da floresta. Não que lutar fosse uma novidade para eles. Havia quase um século que a região era palco de intensas disputas e conflitos.

Em 1898, a região do Rio Tejo já estava toda ocupada por seringueiros, e o missionário Parissier relatava o clima de violência que reinava no lugar: “Numa terra onde nenhuma polícia é possível e a lei do mais forte é absoluta, o caboclo nunca entra na floresta, nem sai de sua casa, sem seu rifle (...). Quando investem contra o patrão, cercam o barracão, matam quem puderem e tocam fogo no barracão. Isso foi o que aconteceu com o Seu Bonifácio (...) que escapou por um milagre, mas perdeu de um só golpe 300 mil francos, o equivalente a 30 toneladas de borracha”.

Bonifácio, que comandava a exploração dos seringais da área, era genro do comandante do vapor Contreiras, da empresa Melo & Cia., que desde 1897 visitava a região vindo de Belém, sempre trazendo mercadorias e novos seringueiros. A produção crescia movida pelo aumento da demanda mundial de borracha. Migrantes nordestinos eram recrutados em Belém, atraídos pela alta produtividade das seringueiras dos altos rios Purus e Juruá, num período em que os seringais mais acessíveis estavam depredados pela exploração desenfreada. A borracha dos altos rios era também a de melhor qualidade, o que se refletia na cotação da borracha “Acre Fina”, a mais alta no mercado internacional. (...)


Revista de Historia da Biblioteca Nacional

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