sábado, 30 de agosto de 2008

Tibete e o conflito com a China


da Folha Online

Os protestos ocorridos no Tibete na sexta-feira (14) ocorreram como parte de manifestações iniciadas na segunda-feira (10) para marcar o 49º aniversário do levante de Lhasa, que levou o dalai-lama ao exílio.

O Tibete foi alvo de investidas militares da China entre 1949 (ano em que Mao Tsé-tung comandou a Revolução Chinesa e chegou ao poder no país) e 1950. O que então era uma região independente foi ocupada pelo governo comunista. A ação militar deixou, segundo o site da organização Itim (Organização Internacional para a Independência do Tibete), 10 mil mortos. Em 1950, o 14º dalai-lama, Tenzin Gyatso (líder ao mesmo tempo religioso e político, que tinha apenas 15 anos) teve de assumir o poder político no país.

Em 1951, uma delegação tibetana assinou com o governo chinês o documento conhecido como Acordo dos 17 Pontos, pelo qual a China pretendia adotar "medidas para a liberação do Tibete".


Em 1954, o dalai-lama foi a Pequim para realizar conversações de paz com Mao e outros líderes chineses. Em 1956, durante uma visita à Índia, ele teve uma série de reuniões com o primeiro-ministro Jawaharlal Nehru sobre a deterioração da situação no Tibete.

Os esforços para se chegar a uma solução pacífica foram frustrados pela política brutal da China contra o Tibete. Os movimentos de resistência contra a ocupação chinesa começaram a ganhar força.

No dia 10 de março de 1959, o general chinês Chiang Chin-wu convidou o dalai-lama para uma apresentação de dança no acampamento militar da China em Lhasa. O convite foi depois reiterado, mas com a ressalva de que o Dalai-lama não deveria ser acompanhado por soldados tibetanos e nem por guarda-costas.

Quando o convite se tornou público, uma multidão de tibetanos se reuniu em torno do palácio Norbulingka (a residência de verão do líder tibetano) para pedir ao dalai-lama que não comparecesse ao evento.

Em 17 de março do mesmo ano, o dalai-lama foi instruído a deixar o país: ele conseguiu chegar à fronteira com a Índia três semanas depois, e foram escoltados por soldados indianos até a cidade de Bomdila. O governo indiano já havia oferecido asilo para o dalai-lama e seus seguidores.

História

Segundo o escritório norte-americano do governo no exílio, o Tibete existe como uma região unificada desde o século 7. As fronteiras da região foram firmadas em um acordo formal de paz com a China entre os anos 821 e 823.

No século 13, quando o líder mongol Genghis Khan estendeu seu domínio da China até a Europa, os líderes tibetanos tiveram que firmar um acordo para manterem uma certa autonomia: eles prometeram lealdade em troca de proteção. O órgão do governo no exílio informa ainda que, mesmo com as conquistas tanto de Genghis Khan como de seu filho, Kublai Khan --que estabeleceu a dinastia Yuan (1279-1368) após conquistar a China--, o território tibetano nunca foi anexado à China.

O laço político com o governo Yuan foi rompido em 1350, antes da China recuperar sua independência, e não manteve laços com o governo da dinastia Ming (1386-1644).

O dalai-lama estabeleceu então uma ligação religiosa com os imperadores da dinastia Qing (1644-1911), tornando-se guia espiritual do imperador chinês, aceitando proteção em troca --mas, segundo o órgão, sem que isso afetasse a independência do Tibete.

A ligação com os imperadores dessa dinastia já era inoperante à época da breve incursão britânica em Lhasa --após o que foi assinada a Convenção de Lhasa em 1904.

Mesmo já sem influência, o governo chinês continuou a afirmar sua autoridade sobre o Tibete: em 1910 o Exército imperial chinês ocupou a capital tibetana, mas, após a revolução em 1911 e a derrubada do império, o exército chinês se rendeu às forças tibetanas e foram repatriados. O dalai-lama então reafirmou a independência do país.

Entre 1911 e 1950, o Tibete conseguiu manter o status de país independente --durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o Tibete permaneceu neutro, apesar das pressões de EUA, Reino Unido e China para permitir a passagem de matérias-primas pela região.

Região autônoma

Em 1963, ganhou status de Região Autônoma. Em 1989, a causa da independência do Tibete ganhou força no Ocidente após o massacre de manifestantes pelo Exército chinês na praça da Paz Celestial e a entrega do Nobel da Paz ao dalai-lama.

Desde o final dos anos 1990, a China tenta legitimar sua presença no Tibete por meio do crescimento econômico --a partir de 1999, a economia local cresceu 12% ao ano. O governo chinês também tenta dominar o país através da presença de chineses da etnia majoritária han e do controle da sucessão religiosa.

Tibete no exílio

Segundo o site do escritório da Administração Central do Tibete (o governo tibetano no exílio) em Nova York, cerca de 120 mil tibetanos vivem exilados. A maior concentração fica na Índia, com 85 mil tibetanos. Os dados constam da Pesquisa Demográfica do Tibete, feita em 1998.

O governo no exílio é dividido em três poderes --Executivo, Legislativo e Judiciário.




O Dalai-lama, líder espiritual tibetano
O órgão principal do Executivo é chamado de Kashag (Gabinete). O executivo-chefe do órgão é eleito de forma direta pelos tibetanos exilados para um mandato de cinco anos. O eleito, ou a eleita, escolhe os demais membros do Kashag e submete os nomes dos escolhidos à aprovação pela Assembléia dos Representantes do Povo Tibetano.

O Legislativo tem como órgão principal o Parlamento Tibetano no Exílio, que é composto por 46 membros; destes; 43 são eleitos de forma direta pela população no exílio e outros três são escolhidos pelo Dalai-lama. Cada representante tem um mandato de cinco anos.

A principal instância do Judiciário é a Comissão Suprema Tibetana de Justiça, comandada pelo comissário-chefe de Justiça e outros dois comissários. Os três são nomeados pelo dalai-lama, e os nomes são apresentados à Assembléia para aprovação.

O governo no exílio é baseado em Dharamshala (norte da Índia) e tem representações em Nova Déli (Índia), Nova York (EUA), Genebra (Suíça), Tóquio (Japão), Londres (Reino Unido), Canberra (Austrália), Paris (França), Moscou (Rússia), Pretória (África do Sul) e Taipé (Taiwan).

Pontos de vista

O site do Itim vê a "liberação" do Tibete do ponto de vista da China e do próprio Tibete. Na visão chinesa, o Tibete foi liberado de sua condição feudal de servidão, vivendo em condições de extrema pobreza. Desde 1959, a China alega, segundo a organização, que os tibetanos passaram a ter liberdade e direitos, e que hoje desfrutam de crescimento econômico e progresso social.

Na visão tibetana, no entanto, fome e privações graves nunca ocorreram no Tibete; a "liberação", por sua vez, teria resultado na morte de 1,2 milhão de pessoas e na destruição de 6.000 monastérios e centros culturais. O ex-secretário do Partido Comunista, Hu Yaobang, chegou mesmo a admitir em 1980, segundo o Itim, que os padrões de vida dos tibetanos haviam declinado desde 1959 e que a presença chinesa na região era um obstáculo ao desenvolvimento.

Fontes: The Office of Tibet, New York, Central Tibetan Administration, International Tibet Independence Movement

Conflito separatista na Caxemira


O controle pela Caxemira --região montanhosa em disputa pelo Paquistão e a Índia-- já provocou guerras entre os dois países e há quase seis décadas separatistas entram em confronto com agentes de segurança indianos em plena cordilheira do Himalaia pelo controle da área, que é considerada uma passagem estratégica à parte sul do continente asiático.

O conflito chegou a adquirir novos contornos nos últimos anos, com a demonstração de poderio atômico feito por ambos os países: a rivalidade levou a uma corrida armamentista que culminou com a entrada de Índia e Paquistão, em 1998, no clube dos detentores de armas nucleares. Ambos desenvolveram ao máximo sua infra-estrutura militar. Desde então, as hostilidades na Caxemira passaram a ser acompanhadas com mais atenção pela comunidade internacional.

Mas, em abril deste ano, o presidente paquistanês, Pervez Musharraf, e o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, prometeram buscar um "acordo final" sobre a disputada região da Caxemira de maneira "sincera e frutífera". As negociações foram iniciadas em 2004, e por enquanto, ainda não há uma resolução final sobre o conflito.

Grande parte da população da região da Caxemira é muçulmana e quer a anexação ao Paquistão, o que a Índia nega. Atualmente, dois terços do território estão sob domínio indiano e o restante sob controle do Paquistão e da China.

Britânicos

A disputa sobre a Caxemira começou em 1947, com a saída dos britânicos da Índia. Uma minoria muçulmana, que ocupava a região norte do território indiano, resolveu se separar, dando origem ao Paquistão. A partir da independência, os paquistaneses começaram a reclamar também pelo controle da Caxemira.

A primeira guerra entre os dois países pelo controle da Caxemira ocorreu entre os anos de 1948 e 1949, com mais de 1 milhão de mortos. Na tentativa de terminar com o conflito, no mesmo ano que marcou o fim da primeira guerra, a ONU (Organização das Nações Unidas) traçou uma linha de armistício que dividiu a região em duas áreas. Em 1962, a China também invadiu a Caxemira, ocupando uma pequena parte do território. Em 1965, a disputa contínua acabou provocando uma segunda guerra entre a Índia e o Paquistão

Com o aparecimento de diversos grupos extremistas islâmicos que realizaram diversos ataques na parte indiana da Caxemira. Os enfrentamentos costumam se intensificar nos meses de verão. Nessa época, com o derretimento da neve em porções da cordilheira do Himalaia, os separatistas islâmicos têm mais facilidade para se infiltrar na Caxemira indiana, vindos de solo paquistanês.

Tipos de chuvas


as chuvas podem ser divididas em:
As convectivas são precipitações formadas pela ascensão das massas de ar quente da superfície, carregadas de vapor d'água. Ao subir o ar sofre resfriamento provocando a condensação do vapor de água presente e, consequentemente, a precipitação. São características deste tipo de precipitação a curta duração, alta intensidade, freqüentes descargas elétricas e abrangência de pequenas áreas. Ex. as chuvas torrenciais na amazônia,
As chuvas orográficas são normalmente provocadas pelo deslocamento de camadas de ar úmido para cima devido a existência de elevação natural do terreno por longas extensões. Caracterizam-se pela longa duração e baixa intensidade, abrangendo grandes áreas por várias horas continuamente e sem descargas elétricas.
As chuvas frontais originam-se do deslocamento de frentes frias ou quentes contra frentes contrárias termicamente, são mais fortes que as orográficas abrangendo, porém, como aquelas, grandes áreas, precipitando-se intermitentemente com breves intervalos de estiagem e com presença de violentas descargas elétricas. Ex. encontro da mTa(massa Tropical atlântica) com a mPa(massa Polar atlântica)

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Causas da Fome



Causas naturais:
Clima;
Seca;
Inundações;
Terremotos;
As pragas de insetos e as enfermidades das plantas.
Causas humanas:
Instabilidade política;
Ineficácia e má administração dos recursos humanos;
A guerra;
Os conflitos civis;
O difícil acesso aos meios de produção pelos trabalhadores rurais, pelos sem-terras ou pela população em geral;
As invasões;
Deficiente planificação agrícola;
A injusta e antidemocrática estrutura fundiária, marcada pela concentração da propriedade das terras nas mãos de poucos;
O contraste na concentração da renda e da terra num mundo subdesenvolvido;
A destruição deliberada das colheitas;
A influência das transnacionais de alimentos na produção agrícola e nos hábitos alimentares das populações de Terceiro Mundo;
A utilização da "diplomacia dos alimentos" como arma nas relações entre os países;
A relação entre a dívida externa do Terceiro Mundo e a deteriorização cada vez mais elevada do seu nível alimentar;
A relação entre cultura e alimentação.
Causas da fome crônica e desnutrição
Pobreza;
Distribuição ineficiente dos alimentos;
Reforma agrária precária;
Crescimento desproporcional da população em relação à capacidade de sustentação;
Conseqüências da fome
As conseqüências imediatas da fome são a perda de peso nos adultos e o aparecimento de problemas no desenvolvimento das crianças. A desnutrição, principalmente devido a falta de alimentos energéticos e proteínas, aumentam nas populações afetadas e faz crescer a taxa de mortalidade, em parte, pela fome e, também, pela perda da capacidade de combater as infecções.
www.webciencia.com
No Brasil, ainda temos como causa da fome:
Desperdício na colheita, no transporte e na distribuição dos alimentos;
Legislação brasileira não favorece a doação de alimentos;
prioridade para o mercado externo em detrimento da produção interna;
Baixa qualificação da mão-de-obra que dificulta a inserção do trabalhador ao mercado de trabalho e a renda;
Grande número de atravessadores causando grande aumento no preço dos alimentos e dificultando o acesso as classes menos favorecidas;
Baixos salários;
Aumento da taxa de desemprego;
Falta de uma política governamental séria de combate a fome;

Polos Econômicos do Estado do Rio de Janeiro



Pólos e Setores Econômicos
Diversidade Econômica e Competitividade
O Rio de Janeiro é um estado multivocacionado e de grandes potencialidades econômicas. Suas vantagens locacionais favorecem o desenvolvimento, espontâneo ou induzido, de pólos e setores econômicos, com os conseqüentes benefícios da economia de aglomeração.

Petróleo, Indústria Naval e Offshore.
- Capital Brasileira do Petróleo, o estado possui as duas maiores bacias petrolíferas offshore do país, é sede da ANP, agência nacional reguladora do setor e da Petrobras, maior companhia do ramo na América do Sul e líder mundial, com tecnologia própria, na extração de petróleo em águas profundas.
- No Rio, se localiza uma das mais importantes refinarias (REDUC) e as maiores fábricas de lubrificante do país, além de 34 multinacionais petrolíferas.
- Se o Estado do Rio de Janeiro fosse membro da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), estaria em 8ª lugar no ranking de produção petrolífera.
- Com reservas equivalentes a 18 bilhões de barris, e maior produtor de gás do país (540 milhões de m3/mês), o Estado do Rio de Janeiro produz 83% do petróleo brasileiro, equivalente a 1,3 milhão de barris/dia.
- Na indústria naval, uma das atividades econômicas mais antigas do Brasil - onde o Rio é pioneiro, o estado detém mais de 85% da capacidade nacional instalada, contemplando unidades de pequeno, médio e grande porte, inovando na construção de grandes plataformas de petróleo e em sofisticadas embarcações de apoio offshore.
- Existem 19 estaleiros em plena atividade, gerando cerca de 25 mil empregos diretos, distribuídos na Região Metropolitana e, desta forma, aqui estão sediados os principais grupos nacionais e internacionais do setor no país.
- Apenas a PETROBRAS, investiu em 2004 mais de US$ 2 bilhões na construção de quatro plataformas na Bacia de Campos, além da Chevron e da Texaco, que investiram US$ 1 bilhão também nesta área.

Telecomunicações e Tecnologia da Informação.
- Referência internacional na produção e exportação de software - cerca de 40% da produção nacional. É o único Estado do Brasil com operações internacionais estruturadas nesta área e terceiro na produção de hardware.
- Segundo mercado nacional em tecnologia da informação, com mais de 8.500 empresas, possui o mais avançado programa de inclusão digital, onde se destaca a pequena cidade de Piraí, premiada internacionalmente pelo seu projeto “Piraí Digital”.
- O Pólo de Telecomunicações se localiza na região metropolitana do estado, assim como o de Tecnologia da Informação, que também está presente na Região Serrana.

Cine, Vídeo e TV (Audiovisual).
Foi no Estado do Rio de Janeiro, mais precisamente na capital, que, no final do século XIX, foram realizadas as primeiras sessões de cinema do País. Desde então, foram iniciados vários ciclos de produção, os quais acabaram inserindo a produção cinematográfica do Rio de Janeiro na vanguarda do cinema experimental mundial e na liderança do cinema nacional. Das 20 maiores bilheterias do cinema brasileiro, 19 títulos são do Rio. Ou seja, por tradição ou vocação é uma cidade cinematográfica por excelência em um estado que é uma fonte inesgotável de criatividade.
A Rede Globo, a quarta maior rede de televisão aberta do mundo e a primeira da América Latina, tem sua sede na zona sul da capital e é a principal produtora e exportadora de telenovelas – em seus estúdios, o PROJAC - na zona oeste do Rio, grava em programação o equivalente a 1.300 filmes de longa-metragem/ano que são vendidos para 156 países. Recentemente, a TV Record, adquiriu o Parque Renato Aragão, em Vargem Grande, para instalar seu centro de produção de novelas. O Rio de Janeiro é o segundo mercado de TV a Cabo do país.

Metal-mecânico, Siderurgia e Automotivo.
- O Rio de Janeiro é o maior produtor de aço da América Latina e os novos investimentos, atraídos em 2004 e final de implantação prevista para 2007, triplicarão sua produção, de 7,3 milhões t/ano para 21,8 milhões t/ano.
- Na Região do Médio-Paraíba, uma das mais industrializadas do país, estão a Companhia Siderúrgica Nacional - CSN, a maior da América Latina e a Siderúrgica Barra Mansa que, tem projeto de uma nova usina, na Região Metropolitana temos a Gerdau-Cosigua, em Santa Cruz e a partir de 2006 estão previstas a implantação da CSA – Companhia Siderúrgica do Atlântico, uma nova usina da Gerdau e a ampliação da unidade existente, enquanto na Região da Costa Verde, a CSN implantará, também, uma nova unidade.
- Apenas no Pólo Siderúrgico (Região Metropolitana, Região do Médio-Paraíba e Costa Verde), estão sendo investidos, pelas diversas empresas que o compõe, quase US$ 6,8 bilhões.
- O Pólo Automotivo, com a Peugeot-Citröen, as empresas do tecnopólo e a Volkswagen Caminhões, é um dos mais modernos do mundo, exporta para os principais mercados e consolida a liderança tecnológica do país neste setor.
- Em 2004, o estado bateu seu próprio recorde na produção de veículos, a Volkswagen assumiu a liderança nacional na fabricação de caminhões com um investimento de US$ 35 milhões, duplicando sua produção. A Peugeot-Citröen investiu US$ 50 milhões para o lançamento de um novo modelo e a Michelin está ampliando sua produção de pneus, nas unidades do Rio de Janeiro e de Itatiaia, com investimento de quase US$ 100 milhões.

Petroquímico e Gás-Químico.
Dois grandes investimentos da indústria petroquímica brasileira que têm como insumo o gás natural e o petróleo extraídos na Bacia de Campos:
- a RioPolímeros, com investimento DE US$ 1 bilhão, que iniciou sua produção este ano viabilizando a implantação do Pólo Gás-Químico (empresas de transformação plástica - segunda geração da cadeia produtiva do setor); e
- a nova refinaria (unidade de produtos petroquímicos básicos) com investimento de US$ 6 bilhões.

Fruticultura Irrigada - Floricultura e Plantas Ornamentais – Rochas Ornamentais.
- Com uma área de 15.152,60 Km2 e uma baixa densidade populacional, cerca de 69 hab/km2, as regiões Norte e Noroeste são as que apresentam maior potencial agropecuário no território fluminense.
- No setor de fruticultura irrigada, mais concentrado na região Norte do estado, a área e condições de plantio são semelhantes às do Chile. Com os incentivos do governo estadual, a produção de frutas na região viabilizou a implantação de 3 fábricas de processamento, que exportam para vários países europeus.
- A produção de coco do estado já ocupa espaço importante na pauta de produtos de exportação. Além de se destacarem nas atividades agro-canavieira, sucro-alcooleira, criação de gado leiteiro e de corte, as Regiões Norte e Noroeste possuem importantes recursos minerais como argila, calcário, granito, mármore e pedras ornamentais.
- O Pólo de Fruticultura Irrigada se localiza na região norte, o de Floricultura na Região Serrana, de Rochas Ornamentais na Região Noroeste e o de Plantas Ornamentais se concentra na Zona Oeste da capital.

Pólo de Bebidas.
- Revitalização do segmento de bebidas destiladas, com a implantação da Pernoud Ricard no Pólo Industrial de Resende;
- Consolidação de sua posição de maior produtor de cerveja do país, com a atração e ampliação de unidades de importantes maracás nacionais e internacionais: Lokal, Itaipava, Devassa, Cintra, Schincariol, Ambev, Meyerfreund.

Farmacêutico e Biotecnológico.
- O Pólo de Biotecnologia e a Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ, além de diversas instituições acadêmicas, de ciência e pesquisas de referência internacional qualificam o estado como um dos principais centros de conhecimento da América Latina.
- Mais de US$ 130 milhões estão sendo investidos por empresas estrangeiras – Rambaxy, Servier, Biotech, Roche - em sua implantação ou ampliação, no tradicional Pólo Farmacêutico do Rio, localizado na zona oeste da capital.
- Destaca-se também a indústria de cosméticos, uma das mais importantes para o país.

Cimento.
- Em função da localização de enormes jazidas de calcário na Região Serrana, no município de Cantagalo, três grandes indústrias, Votorantim, Lafarge e Holcim, se implantaram de forma a aproveitar a enorme vantagem logística de produzirem o cimento diretamente a partir de sua principal matéria-prima.
- A Riocim, está investindo US$ 18 milhões para implantar, a partir de 2006, uma fábrica de cimento no Distrito Industrial de Santa Cruz, Zona Oeste da capital.

Mangue


Localização e Caracterização



O Brasil tem uma das maiores extensões de manguezais do mundo. Estes ocorrem ao longo do litoral Sudeste-Sul brasileiro, margeando estuários, lagunas e enseadas, desde o Cabo Orange no Amapá até o Município de Laguna, em Santa Catarina. Os mangues abrangem uma superfície total de mais de 10.000 km², a grande maioria na Costa Norte. O Estado de São Paulo tem mais de 240 km² de manguezal.

O mangue é um ecossistema particular, que se estabelece nas regiões tropicais de todo o globo. Origina-se a partir do encontro das águas doce e salgada, formando a água salobra. Este ambiente apresenta água com salinidade variável, sendo exclusivo das regiões costeiras.

No Brasil, os mangues são protegidos por legislação federal, devido à importância que representam para o ambiente marinho. São fundamentais para a procriação e o crescimento dos filhotes de vários animais, como rota migratória de aves e alimentação de peixes. Além disso, colaboram para o enriquecimento das águas marinhas com sais nutrientes e matéria orgânica.

No passado, a extensão dos manguezais brasileiros era muito maior: muitos portos, indústrias, loteamentos e rodovias costeiras foram desenvolvidos em áreas de manguezal, ocorrendo uma degradação do seu estado natural.

É uma pena que esse tão importante ecossistema sofra intensa exploração pelo homem, que retira mariscos, ostras e peixes em quantidades elevadas. Derrubam-se árvores para a extração do ranino, da casca e para fazer carvão. O mangue é alvo da especulação imobiliária, que aterra suas áreas para a construção de casas, marinas e indústrias. Suas águas são alvo de esgotos domésticos e industriais.

Os manguezais fornecem uma rica alimentação protéica para a população litorânea brasileira: a pesca artesanal de peixes, camarões, caranguejos e moluscos, que são para os moradores do litoral a principal fonte de subsistência.

O manguezal foi sempre considerado um ambiente pouco atrativo e menosprezado, embora sua importância econômica e social seja muito grande. No passado, estas manifestações de aversão eram justificadas, pois a presença do mangue estava intimamente associada à febre amarela e à malária. Embora estas enfermidades já tenham sido controladas, a atitude negativa em relação a este ecossistema perdura em expressões populares em que a palavra mangue, infelizmente, adquiriu o sentido de desordem, sujeira ou local suspeito. A destruição gratuita, a poluição doméstica e química das águas, derramamentos de petróleo e aterros mal planejados são os grandes inimigos do manguezal.

Nos manguezais, as condições físicas e químicas existentes são muito variáveis, o que limita os seres vivos que ali habitam e freqüentam. Os solos são formados a partir do depósito de siltes (mineral encontrado em alguns tipos de solos), areia e material coloidal trazidos pelos rios, ou seja, um material de origem mineral ou orgânica que se transforma quando encontra a água salgada.

Estes solos são muito moles e ricos em matéria orgânica em decomposição. Em decorrência, são pobres em oxigênio, que é totalmente retirado por bactérias que o utilizam para decompor a materia orgânica. Como o oxigênio está sempre em falta nos solos do mangue, as bactérias se utilizam também do enxofre para processar a decomposição.

O fator mais importante e limitante na distribuição dos manguezais é a temperatura. Um fato interessante de se observar é a altura das árvores. Na região Norte, elas podem alcançar até trinta metros. Na região Sul, dificilmente ultrapassam um metro. Quanto mais próximas do Equador, maiores. As plantas se propagam a partir das plantas filhas, chamadas de propágulos, que se desenvolvem ligadas à planta mãe. Esses propágulos soltam-se e se dispersam pela água, até atingirem um local favorável ao seu desenvolvimento. As plantas típicas do mangue se originaram na região do Oceano Índico e se espalharam a partir daí para todos os manguezais do mundo.



Fauna e Flora

Fauna

Os manguezais são conhecidos como berçários, porque existe uma série de animais que se reproduzem nestes locais. Ali, os filhotes também são criados. Os camarões se reproduzem no mar, na região da plataforma continental. Suas larvas migram para as regiões dos manguezais, onde se alimentam e crescem antes de retornarem ao mar. Uma grande variedade de peixes costuma entrar no mangue para se reproduzir e se alimentar, como os robalos e as tainhas. Muitas aves utilizam esse ambiente para procriar. Podem ser espécies que habitam os mangues ou aves migratórias, que usam os manguezais para se alimentar e descansar. São guarás, colhereiros, garças, socós e martins-pescadores.

Ao contrário de outras florestas, os manguezais não são muito ricos em espécies, porém se destacam pela grande abundância das populações que neles vivem. Por isso, podem ser considerados um dos mais produtivos ambientes naturais do Brasil.

Devido à riqueza de matéria orgânica disponível, uma grande variedade de seres vegetais e animais irão utilizá-la: centenas de diferentes tipos de minúsculos seres, denominados plâncton. A fração vegetal do plâncton, denominada fitoplâncton, retira os sais nutrientes da água e, através da fotossíntese, cresce e se multiplica. Agora, a porção animal do plâncton, o zoo-plâncton, alimenta-se das microalgas do fitoplâncton e de matéria orgânica em suspensão. Larvas de camarões, caranguejos e siris filtram a água e retiram microalgas e matéria orgânica. Pequenos peixes filtradores, como a manjuba, também se alimentam desse rico caldo orgânico. A partir das microalgas, se estabelece uma complexa teia alimentar.

Quanto à fauna, destacam-se as várias espécies de caranguejos, formando enormes populações nos fundos lodosos. Nos troncos submersos, vários animais filtradores, tais como as ostras, alimentam-se de partículas suspensas na água. Os caranguejos em sua maioria são ativos na maré baixa, enquanto os moluscos alimentam-se durante a maré alta. Uma grande variedade de peixes penetra nos manguezais na maré alta. Muitos dos peixes que constituem o estoque pesqueiro das águas costeiras dependem das fontes alimentares do manguezal, pelo menos na fase jovem. Diversas espécies de aves comedoras de peixes e de invertebrados marinhos nidificam nas árvores do manguezal. Alimentam-se especialmente na maré baixa, quando os fundos lodosos estão expostos.



Flora

Possui vegetação típica, que apresenta uma série de adaptações às condições existentes nos manguezais. Esta vegetação é tão especializada que se pode verificar a ocorrência de determinadas espécies de plantas nos manguezais de todo o mundo, como é o caso da Rizhophora mangle, conhecida vulgarmente no Brasil como mangue vermelho. Associadas ao mangue vermelho, destacam-se a presença da Laguncularia racemosa e Avicennia schaueriana.



Valoração e Problemas nos Manguezais

De acordo com Schaeffer-Novelli, os manguezais se desenvolvem em regiões costeiras protegidas banhadas pelas marés, e suas maiores estruturas são observadas em áreas onde o relevo topográfico é suave e ocorrem grandes amplitudes de maré. São encontrados em latitudes entre os Trópicos de Câncer e Capricórnio (zonas tropicais e subtropicais), tanto nas Américas como na África, Ásia e Oceania.

No Brasil, os mangues são protegidos por legislação federal, devido à importância que representam para o ambiente marinho. São fundamentais para a procriação e o crescimento dos filhotes de vários animais, como rota migratória de aves e alimentação de peixes. Além disso, colaboram para o enriquecimento das águas marinhas com sais nutrientes e matéria orgânica.

Os manguezais possuem elevada produtividade biológica, pois neste ecossistema encontram-se representantes do elo da cadeia alimentar. As folhas que caem das árvores se misturam com o sedimento e os excrementos dos animais, vertebrados e invertebrados, formando compostos orgânicos de vital importância paras as bactérias, fungos e protozoários. Os próximos níveis da cadeia alimentar são constituídos por integrantes do plâncton, dos bentos e do necton, como crustáceos, moluscos, peixes, aves e até pelo homem, no topo da pirâmide.

Os manguezais estão entre os principais responsáveis pela manutenção de boa parte das atividades pesqueiras das regiões tropicais. Servem de refúgio natural para a reprodução e desenvolvimento (berçário), assim como local para alimentação e proteção para crustáceos, moluscos e peixes de valor comercial. Além destas funções, os manguezais ainda contribuem para a sobrevivência de aves, répteis e mamíferos, muitos deles integrando as listas de espécies ameaçadas ou em risco de extinção.

Devido à grande importância econômica dos manguezais, estes ambientes são degradados diariamente pela ação e ocupação do homem. Essa ocupação desordenada deve-se principalmente ao fato desses locais apresentarem condições favoráveis à instalação de empreendimentos os quais normalmente visam atender interesses particulares.

Entre as condições favoráveis, destaca-se, segundo Schaeffer-Novelli (1995):

1 - Oferta quase ilimitada de água, insumo importante para indústria, como a siderúrgica, a petroquímica e as centrais nucleares.
2 - Possibilidade de fácil despejo de rejeitos sanitários, industriais, agrícolas e/ou de mineração.
3 - Proximidade de portos, que facilitam a importação de matéria prima para a transformação e a exportação de produtos, diminuindo custos de carga e transporte.
4 - Pressão do mercado imobiliário.
5 - Construção de marinas.

As áreas de manguezais, devido as várias atividades, sofrem grandes impactos, causados pelas populações caboclas que vivem no litoral, que desenvolvem atividades como a pesca e a coleta de siris, caranguejos e sururus, contribuindo significativamente para o sustento destas populações. Estas comunidades litorâneas também costumam se alimentar de aves costeiras (inclusive aves ameaçadas de extinção), primatas, assim como de alguns répteis tais como lagartos e tartarugas, e de seus respectivos ovos.

A flora também tem sido explorada: as árvores do manguezal são utilizadas para obtenção de madeira para construção de barcos, casas, cercados, armadilhas de pesca, além de servirem para produção de combustível na forma de carvão.

Segundo Rodrigues Teixeira, além da exploração da fauna e da flora , o solo do manguezal também é explorado: a argila é utilizada por olarias para produção de telhas e tijolos de cerâmica. Essa retirada de sedimentos argilosos poderá no futuro comprometer a estrutura do fundo dos canais afetando também a fauna associada a este sedimento.

O processo de exploração do turismo tem como conseqüência a expansão imobiliária em áreas de manguezal. Estes empreendimentos podem no entanto levar ao aterro dos manguezais assim como a extinção da fauna e da flora de maneira irreversível.

Com a grande degradação e vital importância que os manguezais apresentam, é de extrema urgência que haja uma legislação mais rígida em relação a exploração dos recursos naturais visando técnicas sustentáveis. No nível federal estão incluídos no artigo 2 do Código Florestal e no Decreto Federal 750/1993 de tombamento da Floresta Atlântica, como ecossistema associado. Em alguns casos são considerados como preservação permanente com isso havendo uma maior conservação deste ecossistema.

Existem também inúmeros projetos de recuperação de manguezais que antes serviam como entulho de lixo ou até mesmo aqueles que sofreram aterro por empreendimentos imobiliários. Há também programas de conservação de fauna e flora que geram fluxos de energias que subisidiam a cadeia alimentar e dão suporte aos recursos pesqueiros, assim sendo de extrema importância para a manutenção destes ecossistemas.

O Ibama executa o projeto "Dinâmica Ambiental do Sistema Coralíno de Abrolhos", que visa identificar as fontes de impacto sobre os ambientes costeiros (manguezais e matas de restinga) e sobre o sistema coralíno de Abrolhos a fim de minimizar esses impactos e definir porções representativas destes ambientes para a preservação em unidades de conservação.

Assim como o Ibama várias outras instituições, universidades e afins, realizam projetos de ecologia/biologia e recuperação dos manguezais, muitos deste projetos são realizados por acadêmicos de graduação, mestrado e/ou doutorado.

Globalização - características marcantes


Adoção de medidas neoliberais - abertura e desregulamentação da economia, privatizações (passagem do patrimônio público á iniciativa privada), contenção dos gastos públicos, etc.
Grandes avanços tecnológicos propiciando o surgimento de novos setores industriais - Biotecnologia, biogenética, informatica, aeroespacial, telecomunicações, comunicações, Química fina, eletro-eletrônicos, etc.
Formação de Blocos Econômicos - Nafta (EUA, Canadá e México), Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), União Européia (27 países - sendo os últimos Romênia e Bulgária do leste europeu), APEC,etc.
Existêcia de Cidades Globais - se caracterizam pela eficiência em sua infra-estrutura, além da existência de Bolsas de Valores, Sede de Empresas Transnacionais, organismos internacionais, enfim são os nós do sistema capitalista - ex. Nova Iorque,Londres, Paris, Frankfort, Tóquio, etc.
Existência de grandes centros produtores de tecnologia de ponta(Tecnopólos) - Vale do Silício (Informática - EUA), Bangalore (informática - India).....São José dos Campos e Campinas (Brasil)
Maior eficiência nos transpotes para circulação de mercadorias e pessoas, facilitando as trocas comerciais, integração dos mercados e mobilidade populacional.
A substituição do fordismo pelo Toyotismo no processo produtivo
Fim do Welfare State (estado de bem estar social - estado protetor)
Incentivo ao uso de Fontes alternativas de energia - biomassa, geotermica, eólica, solar, etc.
Descentralização industrial visando aumentar competitividade e diminuir os custos de produção
Aumento do protencionismo - sendo uma contradição ao neoliberalismo pregado pelos países desenvolvidos aos países periféricos
Aumento da taxa desemprego estrutural e conjuntural
Agravamento das desigualdades sociais
Acesso de uma parcela maior da população a bens sofisticados
Crescimento do Terceiro Setor com o fim do Welfare State
Tentativa de padronização do consumo e da produção cultural apesar de movimentos de resistências

sábado, 16 de agosto de 2008

A cartilha é idêntica

por Alexandre de Freitas Barbosa

Você conhece um país do Hemisfério Sul que cresce bem abaixo da média das nações em desenvolvimento? Que adota uma política econômica ortodoxa, mas a compensa com uma postura externa ativa? Que critica o excesso de poder dos países desenvolvidos, mas exerce a liderança no espaço regional por meio de investimentos de multinacionais?

É uma nação com níveis de desigualdade social e racial alarmantes, comandada por um partido que se auto-intitula de esquerda. E cujo governo, apesar de apoiado pelos movimentos sociais, mantém vigorosos laços com o empresariado nacional conservador e a finança global. Apesar das semelhanças com o Brasil, esse é cenário que se apresenta a quem visita a África do Sul, mais de dez anos depois do fim do apartheid.

Também lá, depois de ter lutado contra a ditadura, a elite partidária se converteu ao status quo e prega a necessidade de respeito aos contratos, enquanto é flagrada em negociatas e negócios escusos. Ainda assim, recebe apoio dos segmentos mais excluídos, que vêem, nos últimos anos, o nível de renda aumentar marginalmente, depois de décadas de autoritarismo político e econômico.

Entre 1999 e 2004, o número de beneficiários dos programas de transferência de renda saltou de 2,6 milhões para 7 milhões. Essa mesma elite não consegue acionar mudanças substantivas nos níveis de desemprego e pobreza e acredita que a economia só dará resultados se forem seguidos os preceitos de Wall Street, Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional.

Mais recentemente, rachaduras no partido dominante, a proximidade das eleições e um pouco de sensatez fizeram com que se admitisse um papel mais ativo do Estado na economia. Um rápido percurso pelos indicadores da África do Sul mostra que a transição do regime político esteve carregada de continuidade no plano das relações sociais e raciais. A começar pelo mercado de trabalho.

Segundo a definição oficial, a taxa de desemprego chegou a 25,5% em 2006. O porcentual, contudo, oculta um quadro mais grave. A taxa expandida de desemprego, que engloba trabalhadores que desistiram de procurar vagas, situa-se em torno de 37%. A informalidade representa 30% da população ocupada, se incluídos os empregados domésticos, que perfazem 7% do total de trabalhadores, tal como no Brasil.

Enquanto 60% da força de trabalho transita entre a inatividade, o emprego instável e a situação de desemprego, cerca de metade da população encontrase abaixo da linha oficial de pobreza. Ao olhar do visitante, a realidade pode ser percebida em um dia de céu limpo e azul, quando o verde do parque, em frente ao pomposo Parktonian Hotel, em Johannesburgo, serve de colchão para dezenas de negros esparramados, que sonham com outros mundos.

A segregação fica patente quando se comparam negros com brancos. Com a democracia, algumas mudanças concretas ocorreram, como a redação de uma Constituição nas 11 línguas oficiais do país. Os princípios podem ser lidos no edifício onde hoje fica a Corte Suprema e antes fora uma prisão que alojou Gandhi e Mandela. Uma parte da prisão foi demolida e os tijolos serviram de alicerce para o novo órgão do Poder Judiciário.

O outro lado da história passa pelo nome de Thabo Mbeki. O atual presidente da República Sul-Africana, e também do ANC (Congresso Nacional Africano), principal partido do país e que encabeça a coalizão de poder, construiu uma trajetória de forma cautelosa, mas com a imposição de metas ambiciosas.

Filho de Govan Mbeki – líder à esquerda de Mandela, marxista e fundador do brço armado do partido –, seguiu a carreira política como protegido do outro grande líder, Oliver Tambo, que se tornou presidente do partido no exterior, quando o mesmo foi banido pelo regime do apartheid. Com conhecimento de economia, obtido em Sussex, e pragmatismo de social-democrata europeu, Mbeki iniciou a sua trajetória “dormindo com o inimigo”.

Reunia-se a portas fechadas com os barões do empresariado branco e com o grande capital internacional no fim dos anos 80, justamente quando os movimentos populares colocavam uma pá de cal nas pretensões de continuidade do regime pró-apartheid. Daí seria um pulo até a nomeação a vicepresidente do partido, em 1993, e a vicepresidente da República em 1994. Conseguira apoio do partido e de segmentos da esquerda, para depois colocar os anseios de nacionalização e de redistribuição de renda “para debaixo do tapete".

Convenceria Mandela da necessidade de um plano de ajuste estrutural, estilo Consenso de Washington. O diagnóstico parecia simples. Em um contexto pós-Guerra Fria, optou-se por um modelo econômico baseado na atração de capital externo, redução das tarifas comerciais, contenção de gasto público, moderação salarial e elevação do investimento em infra-estrutura, por meio da privatização.

No lançamento do plano, em 1996, e enfrentando as críticas da esquerda, em tom de menosprezo, Mbeki diria bombasticamente “apenas me chamem de thatcherista”, como relata o jornalista e cientista político William Gumede. A maior preocupação de Mandela e Mbeki era garantir a confiança do capital internacional, que poderia pôr em risco a transição para uma democracia multirracial.

Ironicamente, o rand sul-africano sofreria fortes desvalorizações em 1996 e 1998. A economia não cresceu e as taxas de desemprego dispararam. O capitalismo sul-africano reciclou-se, de mãos dadas com a elite ex-apartheid, e ampliou a exclusão social. Manteve-se o que a esquerda chama de “capitalismo colonial e racial".

Eleito presidente em 1999 e reeleito em 2004, Mbeki lançou, em 2006, um plano de aceleração e participação no crescimento (Asgisa), que prevê maior investimento público em infra- estrutura e habitação, apesar de as taxas de juro continuarem elevadas e de a moeda se valorizar de forma permanente, mantendo a inflação controlada.

A diferença com o Brasil é que a África tem déficit comercial, especialmente com os países desenvolvidos, e chegou a um saldo negativo nas transações correntes de 5% no ano passado. A meta para 2014 é reduzir o desemprego pela metade. Detalhe importante: 11% da população é portadora do vírus HIV, o que explica a expectativa de vida de apenas 47 anos.

O indicador faz com que o país se situe na posição de número 121 no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). No plano internacional, o governo da ANC tem exercido um papel de protagonismo. Além de negociador nas crises políticas, lançou o Nepad (Nova Parceria para o Desenvolvimento da África), que nos termos pouco cautelosos da sua diplomacia levaria a uma Renascença africana.

O programa possui um viés africanista, mas também compra muito do discurso de boa governança, importado do Ocidente, quando conclama os países do continente a resolver seus próprios problemas, antes de exigir a contrapartida das potências. Das cem maiores empresas multinacionais dos países em desenvolvimento, três são brasileiras e nove, sul-africanas.

Do total do capital produtivo do Continente Africano no exterior, 70% provém do país. Os investimentos externos vão desde o setor de mineração, papel e indústria química, até telecomunicações, imprensa, comércio e transportes. Ainda que cerca de 90% se dirijam para a Europa e para os Estados Unidos, o restante que fica no continente é suficiente para colocar a África do Sul como maior investidor externo de pequenos países da região.

Um setor moderno e globalizado aproveita-se de relações de trabalho precárias internamente, enquanto assume posições vantajosas num continente fragmentado. Para tanto, encontra apoio do governo democrático, que permite a ascensão de alguns segmentos da classe média negra e distribui benefícios sociais aos “perdedores”. Procura assim sanar a sua dívida com o passado, mas a conta- gotas.

A democracia multirracial, ao se curvar de forma irrestrita ao mercado, perde boa parte do potencial utópico e transformador, tornando-se quando muito um slogan para consumo externo. Mas a história vive de contradições, e na África do Sul parece ter apenas começado.
carta escola
Ao grande professor que tive na UFRJ....Joel Rufino dos Santos(escreveu)....uso suas explicações até hoje em sala...grande alma

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Um mundo que se racha


por Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa
A hegemonia moral dos EUA teria durado mais, não fosse a tentativa inepta de eternizá-la pela força bruta As tensões no planeta começam a aumentar, as divisões a se aprofundar, a Terra a se esgotar

Há um vídeo na internet que brinca com a quantidade de coisas que parecem imemoriais para muitos jovens, mas são menos velhas, às vezes bem menos, que o candidato republicano nos EUA, John McCain. Incluem, entre outras, Branca de Neve e os Sete Anões, super-heróis, a Disneylândia, refrigerante em lata, franquias de fast-food, a ponte Golden Gate, a Força Aérea dos EUA, a ONU, Casablanca, o Pentágono, o radar e a boneca Barbie. A lista de coisas hoje rotineiras que são mais recentes que a CartaCapital é obviamente muito menor, mas já dá para a garotada imaginar que era outro mundo. Não havia DVD, Pokémon, Euro, Google, Viagra, Titanic, Yahoo!, bolivarianismo, Internet Explorer, Harry Potter, lanchonetes de wraps, bebidas energéticas, carros bicombustíveis, fundamentalismo islâmico, Protocolo de Kyoto, câmeras digitais ou desenho animado por computação gráfica. A ascensão e queda da Enron, das pontocom e da “nova economia” ainda estavam por vir. Os EUA não tinham rivais ou inimigos que valessem a pena mencionar, o dólar era a moeda forte, o petróleo era barato e o crescimento da Ásia fora dos quatro Tigres tradicionais – incluindo Hong Kong, que ainda era colônia britânica – ainda era novidade. A matéria internacional da primeira CartaCapital, de agosto de 1994, “O capital é vermelho”, iniciava pelo Vietnã uma série de reportagens de Pepe Escobar sobre os Tigres Asiáticos: “Para um povo que forjou guerrilheiros capazes de passar semanas em túneis à base de rações minimalistas e despachou a mais poderosa armada da história depois de tomar na cabeça 1,2 milhão de toneladas de bombas, desmantelar alegremente o comunismo é barbada”. Seis meses depois passava pela China, torcendo o nariz para “a hidra de infortúnios que inferniza os homens de negócio ocidentais” e um tanto cético quanto às suas perspectivas: “O objetivo oficial superotimista é chegar ao ano 2000 com uma renda per capita de 800 dólares, alcançada pela Nicarágua em 1985”. Chegou na virada do milênio a 840 dólares e hoje passa de 2.400, enquanto o país centro-americano ainda não chegou aos 1.000. “Não há sequer uma mísera estrada ligando a capital, Pequim, à principal cidade industrial, Xangai.” Hoje, a China tem a segunda rede de vias expressas do mundo, depois dos EUA. “As locomotivas ainda são a vapor.’’ Hoje, a velocidade máxima dos expressos chineses subiu de 120 para 250 quilômetros por hora – sem contar o pioneiro maglev que liga o centro de Xangai ao aeroporto, no qual os trens literalmente voam a até 430 quilômetros horários. Na busca de modelos, olhava-se para trás e para os lados mais que para a frente, mas ao menos se notava o fenômeno econômico mais importante da economia e da geopolítica global, o despertar da Ásia. Não era feito tão insignificante. Os debates sobre a eleição presidencial e o futuro do Plano Real monopolizavam as atenções. Em 1994, todos falavam da tal da globalização, mas a maioria das redações enxugava a cobertura internacional: só as brigas de Charles e Diana tinham chance de chegar à capa ou à primeira página. O consenso era de Washington. Todo o continente era neoliberal, não havia esquerda no poder fora de Cuba, América Latina e Mercosul ainda eram abstrações. Mesmo na CartaCapital, o colapso do México passou em branco, apesar de repercutir em todo o continente. O Brasil da mídia continuava de costas para os vizinhos. Houve uma reportagem isolada sobre a Argentina de Menem em 1995, mas os vizinhos só receberam atenção mais sistemática quando a revista se tornou quinzenal, no ano seguinte, a começar por uma reportagem de Gianni Carta na Colômbia. Essa matéria, em particular, quase poderia ser tomada por atual por um leitor distraído quanto a nomes e datas. Guerrilha, narcotráfico e corrupção no governo colombiano continuam entre nossos assuntos de todos os dias. Mas em quase tudo o mais a realidade mudou, principalmente na geopolítica. Em 1994, os EUA e o dólar não enfrentavam desafios dignos de nota. Sua hegemonia era indiscutível. A Rússia se desintegrava, com as forças armadas desmanteladas. A União Européia era uma recém-nascida de viabilidade duvidosa. A China era mais um dos muitos países periféricos onde as transnacionais estadunidenses exploravam mão-de-obra barata e sua conversão ao neoliberalismo sem restrições parecia questão de tempo. A Opep estava desarticulada e o Irã se dispunha à liberalização econômica e a chegar a um acordo sobre a questão nuclear. Os bombardeios da Otan enquadravam a ex-Iugoslávia na nova ordem e, com os acordos de Oslo, a paz entre Israel e palestinos pareceu mais próxima do que jamais fora – talvez mais do que jamais voltará a ser. Alguns países obscuros da África e Ásia Central, como o Afeganistão, seguiam cada vez mais caóticos, mas e daí? Na opinião de especialistas em política internacional como Thomas Friedman, o mundo podia erguer uma “barreira corta-fogo” em torno deles e esquecer que existiam. Isso não podia durar para sempre, mas talvez tivesse durado mais se os EUA tivessem sido mais hábeis, levassem menos a sério o próprio triunfalismo e aplicassem mais atenção e inteligência (nos dois sentidos da palavra) às inevitáveis reações a seus excessos. O Projeto para um Novo Século Americano – tentativa demasiado explícita de prevenir um Século Asiático – e sua desastrada aplicação após os atentados de 11 de setembro de 2001 anteciparam o fim da hegemonia moral de Washington sobre o mundo e até mesmo sobre a América Latina, coisa quase impensável em 1994. No Iraque, os EUA começaram por descobrir que nem todos os governos do Ocidente estavam dispostos a dar crédito a quaisquer histórias que seu governo quisesse inventar, nem a apoiá-lo em quaisquer arbitrariedades sem ganhar nada em troca. Com o passar do tempo, verificaram, também, que seu imenso poder militar não bastava para impor seus valores, sua ordem e sua agenda ao povo de um país periférico de médio porte ou sequer para garantir o objetivo primário da invasão, ou seja, o controle do petróleo iraquiano. No balanço geral, os EUA ainda são a maior potência econômica e militar, mas o termo “hiperpotência” já começa a soar datado. Governos de países como Nicarágua, Bolívia, Equador, Venezuela, Irã e Coréia do Norte desafiam abertamente suas imposições, a América do Sul recobra autonomia e o mundo volta gradualmente a ser multilateral em muitos aspectos. A Rússia reconstrói seu poderio militar, o dólar despenca ante o euro e mesmo ante moedas de países periféricos – e sem conseguir restabelecer o equilíbrio da balança comercial estadunidense –, o PIB da China continua a caminho de superar o dos EUA em futuro previsível e não muito distante. Por outro lado, os desafiantes continuam capengas. A União Européia foi muito bem-sucedida em dar credibilidade ao euro – em relação ao qual muitos, dentro e fora da Europa, eram céticos –, mas em pouca coisa mais. Não tem estratégia política ou militar, sua diplomacia é frágil e míope e não consegue apoio popular para se consolidar como federação ou mesmo para aprovar uma constituição. Seus cidadãos mostram cada vez mais medo do futuro e dos estrangeiros. Em relação ao que se podia esperar dela em 1994, a União Européia tem sido, em grande parte, uma decepção. A recuperação da Rússia não deixa de ser surpreendente, considerando o estado em que se encontrava há 14 anos, a caminho do completo desaparecimento como nação. Mas ainda está muito longe de voltar a ser uma potência de primeira classe. A relativa prosperidade econômica se baseia em exportação de matérias-primas revalorizadas. A indústria continua incapaz de se modernizar e atualizar, muito menos de criar tecnologia – fora, talvez, do setor bélico, se é que não está raspando o tacho dos projetos da era soviética. A nova coesão não é dada pela reconstrução de instituições sólidas e de um consenso em torno de interesses nacionais, mas por um centralismo autoritário a meio caminho entre o dos czares e o de uma república de bananas, imposto a empresários piratas incapazes de ver mais que seu interesse privado a curto prazo. A China, considerados todos os aspectos, é o desafio mais consistente, em uma escala que ninguém, com a possível exceção dos próprios chineses, teria imaginado em 1994. Com uma direção autoritária, mas que até agora se mostrou hábil e coesa, começa a se projetar como potência global. Consolida investimentos e alianças em países periféricos tidos, há 14 anos, como reserva de caça dos EUA. Compra fatias substanciais dos abalados bancos de investimento do Ocidente. Já é o segundo país do mundo (depois dos EUA) em publicação de artigos científicos e gastos com pesquisa e desenvolvimento, superando Japão, Reino Unido e Alemanha. Na surdina, vai construindo um poderio militar mais do que respeitável, sem cometer os exageros que quebraram a União Soviética nos anos 80 e hoje fazem das contas públicas dos EUA um abismo sem fundo. Gasta menos, proporcionalmente ao PIB, que a França, o Reino Unido ou a Suécia, mas mantém o maior contingente ativo do mundo e recursos de ponta. Sua política de “dissuasão mínima” – manter o poderio militar no mínimo que baste para dissuadir qualquer rival, inclusive EUA e Rússia, de atacá-la – tem sido mantida com sucesso, mas, caso deseje, logo terá meios para adotar uma postura mais agressiva sem sacrificar a base civil da economia. A China foi o primeiro país a demonstrar capacidade de abater um satélite em órbita. Sua capacidade em guerra cibernética também preocupa seriamente o Pentágono, que, em setembro de 2007, revelou que os hackers militares chineses invadiam repetidamente seus computadores e os de seus aliados europeus, chegaram a paralisar a rede do Colégio Naval e tinham planos para desabilitar a frota estadunidense de porta-aviões em caso de guerra. O limite de Pequim está, ao que parece, em poder manter o povo razoavelmente satisfeito, apesar do caráter autoritário do regime e, talvez mais importante, das injustiças e enormes disparidades entre regiões, classes e etnias que o desenvolvimento capitalista tem criado. Como no Brasil da ditadura militar, essa capacidade tem dependido, até agora, de sustentar o crescimento em ritmo acelerado. A China, como os tubarões, corre o risco de morrer sufocada se parar de nadar. Uma desaceleração prolongada, para não falar de recessão, poderia ter implodido o sistema chinês, como pareceu possível durante os protestos de Tiananmen, em meados de 1989, ano de crescimento “baixo” (4,1%) e inflação alta (25%, depois de 18,5% em 1988). Aparentemente por receio desse risco, os governos chineses, até Jiang Zemin, ignoraram tudo que parecesse empecilho ao máximo de crescimento a curto prazo, inclusive o ambiente, apontando para o risco de um colapso ambiental vir a ser muito pior – não só para a China, como para todo o mundo – do que a temida desaceleração econômica. Com o agravamento do problema, incluindo a desertificação do norte, o dessecamento do rio Amarelo, escassez e contaminação da água potável e a morte ambiental do outrora turístico lago Taihu, o governo de Hu Jintao parece, desde 2003, tomar certa consciência do problema e representar certa inflexão nesse aspecto. Além de se esforçar por aplicar mais estritamente os regulamentos ambientais, quis criar um pioneiro “PIB verde”, debitando do crescimento econômico o valor da degradação ambiental. Engavetou o índice em 2007, depois que os cálculos indicaram que esse critério reduziria o espetacular crescimento de 10% ao ano para praticamente zero. O governo atual também tem dado mais atenção à questão social: restaurou a educação gratuita, trocou impostos rurais por subsídios, criou um seguro-saúde para o campo e novas leis trabalhistas para a cidade. Desde janeiro deste ano, voltou a exigir contratos de trabalho assinados, salário mínimo, benefícios trabalhistas e indenização por demissão sem justa causa e está preparando uma nova lei sindical. Prepara-se a transição da dependência das exportações para o consumo interno e do uso extensivo de recursos naturais e mão-de-obra barata para o desenvolvimento intensivo, focado em ciência, tecnologia, aumento de produtividade e qualificação da mão-de-obra, e também podem tornar a sociedade mais tolerante para com uma eventual redução do ritmo do crescimento. Eventual, não. Inevitável, sejamos sinceros. Em 1994, o aquecimento global era uma possibilidade pouco discutida fora dos meios especializados. Em 2008, é uma certeza amplamente atestada, somada ao arrepiante pressentimento de que pode ser tarde demais para contê-lo. A escassez de petróleo e matérias-primas – e suas conseqüências inflacionárias em todo o mundo – parece neste momento o problema mais urgente da economia global, mas se fosse miraculosamente resolvido, a deterioração do ecossistema mundial seria ainda mais rápida. Se com o petróleo a 130 dólares o mundo já sufoca em gás carbônico, o que seria com os 5 dólares que The Economist previa nos anos 90? A humanidade precisa ter o máximo cuidado com o que deseja neste momento. O esgotamento dos materiais não renováveis e aos limites físicos das terras disponíveis para a produção dos renováveis está fazendo do mercado global de matérias-primas um leilão entre os desenvolvidos e os chamados emergentes no qual os lances não param de subir, com o risco de fazer os menos emergentes e nada emergentes, submergirem em uma miséria cada vez mais profunda, alimentando – e não só no mundo muçulmano – revoltas, ressentimentos e fundamentalismos tão terríveis que farão os atentados da Al-Qaeda parecerem travessuras de criança pequena.

Dada a improbabilidade de os ricos aceitarem reduzir seu consumo e a impossibilidade de pobres abrirem mão do crescimento econômico, as perspectivas, neste momento, não parecem nada brilhantes.


Não havendo acordo para redistribuir os recursos naturais e racionar os direitos à emissão de gases e poluição, crescerá a tentação de impor interesses pela força.

Pouco a pouco, mas em ritmo que tende a acelerar, o mundo está tomando consciência de que o atual modelo de consumo e crescimento não tem futuro, sem conseguir conceber outro no lugar. Neste caso, não haverá século americano nem chinês. Há que ter esperança de, em algum momento não muito distante, o mundo altere a rota que tem seguido nas últimas décadas, mas nos últimos 14 anos só fez acelerar a corrida para o abismo. carta escola - edição 28

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Nós como falsos vilões


Os países europeus têm aumentado suas emissões de CO2. E o Brasil, injustamente, vem sendo cobrado como grande poluidor.


Qual a contribuição do Brasil para o efeito estufa com suas emissões de gás carbônico (CO2) de combustível fóssil na atmosfera terrestre? O Brasil é acusado na mídia de ser um dos grandes emissores de CO2. Até como quarto emissor mundial de CO2 somos colocados, sem que se explique o que está sendo comparado, com base em quais dados e com que critérios. Considerando-se quatro indicadores homogêneos de comparação: o valor absoluto das emissões de CO2 e os valores relativos por habitante, por quilômetro quadrado e por riqueza produzida, o Brasil está entre os que menos contribuem com esse fenômeno, segundo os dados de 2005 da agência federal norte-americana Energy Information Administration e do Balanço Energético Nacional.

Em termos absolutos de emissões totais de CO2 de origem fóssil, o mundo emitia 28,193 bilhões de toneladas em 2005. Os EUA respondiam por 21% das emissões mundiais, totalizando 5,957 bilhões de toneladas. Eram seguidos pela China, com 5,323 bilhões (19%). Depois vinha a Rússia, com 1,696 bilhão (6%), o Japão com 1,230 bilhão (4,4%) e a Índia com 1,166 bilhão (4%). Juntos, estes cinco países representavam em 2005 cerca de 55% das emissões planetárias. O Brasil estava em 18º lugar, com 360 milhões de toneladas (1,3%), bem atrás de Alemanha, Canadá, Inglaterra, Coréia do Sul, Itália, África do Sul, França, Austrália, México e outros países. Para o Brasil ser o quarto emissor mundial, logo após a Rússia, teríamos de multiplicar por quatro nossas emissões anuais, algo inimaginável, mesmo agregando nossas emissões de origem não fóssil. E, ainda nesta hipótese, deveríamos também agregar esse tipo de emissões às contas de todos os outros países para poder compará-las emissões adequadamente.

Emissões por habitante


Os Estados Unidos da América também são líderes da emissão de CO2 por habitante/ano: mais de 20 toneladas. Só perdem para alguns países produtores de petróleo, como o Catar (62 toneladas por habitante/ano) ou os Emirados Árabes (33 toneladas). A Austrália, com 20 toneladas anuais por habitante, quase empata com os americanos, é seguida pelo Canadá (19 t), a Rússia (12 t) e a Alemanha (10 t). A média da Europa é de 8 t/CO2/habitante/ano. Com 16,4 toneladas, a Holanda é uma das campeãs européias das emissões.

À exceção de Alemanha e Dinamarca, os países europeus têm aumentado suas emissões de CO2 nos últimos dez anos. Alguns, como a Espanha, tiveram aumentos superiores a 50%. E todos são signatários do Protocolo de Kyoto! A Europa está construindo enormes gasodutos vindos da Rússia. Com isso, a curto prazo o consumo de gás aumentará cerca de 50% no continente europeu. As emissões de países membros da União Européia são o dobro da média mundial, que é de 4,4 t/CO2/habitante/ano.

A China, tratada como grande emissora de CO2 devido ao uso crescente de carvão mineral e derivados de petróleo, com 4 t/CO2/hab/ano ainda é um emissor per capita menor que a média mundial. A emissão total de CO2 da China ultrapassou os EUA em 2007, mas é bom lembrar que ela cuida, sozinha, de 20% da população do planeta.

A América Latina apresenta uma média de emissões de CO2 de 3,1 toneladas por habitante, com destaque para Venezuela (6 t), Chile (4,4 t), México (3,8 t) e Argentina (3,7 t). E o Brasil? Cada brasileiro emite 1,9 tonelada de CO2 por ano. Não basta plantar apenas duas ou três árvores por pessoa para retirar esse carbono da atmosfera. Mas emitimos 12 vezes menos do que os americanos, quatro vezes menos do que os europeus e menos da metade da média mundial. E ainda menos do que os latino-americanos (3,1 t), do que a Ásia e a Oceania (2,87 t) e o Oriente Médio (7,9 t).


Emissões por km2

A estimativa das emissões de CO2 por quilômetro quadrado também é muito favorável ao Brasil. Aqui, as emissões são da ordem de 42 toneladas de CO2/km2/ano, enquanto no Canadá são de 69 toneladas, na China, de 555 toneladas, nos EUA, de 710 toneladas, na Alemanha, de 2.365 t, no Japão 3.25 6 t e, na Holanda, de espantosos 6.493 t/CO2/km2/ano!

Emissões para gerar riquezas

O quociente entre o total de toneladas de gás carbônico (CO2) emitidas por um país e seu Produto Interno Bruto (PIB) dá uma medida da eficiência energética e ambiental das economias nacionais na geração de riquezas. Grosso modo, quanto mais eficiente o país, menor o número. Dada a variação da cotação do dólar entre países, o PIB foi calculado em razão do poder de compra das moedas nacionais, o chamado Purchasing Power Parities (PPP).

Os campeões de emissões de CO2 para gerar riquezas são China (0,63) e Holanda (0,62), esta com destaque nos três quesitos (emissões por habitante, por área e por unidade de PIB), seguidas pelo Canadá, com 0,61. A média mundial é 0,49 e a da Europa, 0,39. O uso intensivo de energia nuclear e a boa eficiência geram índices mais baixos em países com alta performance energética, como Japão (0,36) e França (0,26).

O Brasil, com um quociente de 0,24, é mais eficiente do que todos citados anteriormente, do que a média da América Latina (0,32) e muito distante de Bolívia (0,40), Venezuela (0,80), Antilhas Holandesas (3,34) e Suriname (5,10)!

Réu ou vítima?

O que explica o excelente desempenho do Brasil é sua matriz energética, com uma das maiores porcentagens de energia renovável do planeta: 46,4%, ante uma média mundial de 13,9% (leia o artigo “Pouco Sustentáveis”, sobre nossa matriz energética, publicado na edição 25, no site www.cartanaescola.com.br). A agricultura brasileira garante 28,5% dessa energia renovável. Existe, porém, uma injustificável vitimização do País neste tema, cultivada inclusive pela mídia brasileira e em salas de aula, aqui e no exterior. Um tratamento bem diferente do dispensado à Holanda, por exemplo, que, apesar de tão ameaçada pelo aumento do nível dos oceanos, usa e abusa dos combustíveis fósseis.

Portanto, mesmo que o excepcional desempenho do Brasil não seja uma licença para aumentar de forma irresponsável as emissões de CO2, neste tema estamos mais para vítimas do que para réus.
Evaristo Eduardo de Miranda - Carta escola edição 28

Petróleo e Alimentos


Uma das questões mais importantes, de tantas que assombram os economistas, é entender o fantástico aumento dos preços do petróleo, dos metais e dos alimentos, que produz uma inflação planetária. O petróleo é o mais ubíquo dos fatores de produção e seus preços (e dos derivados) são custos em todo o sistema produtivo, particularmente na produção agrícola. Por isso, a elevação dos preços do petróleo e dos alimentos, que a rigor é uma mudança de preços relativos, tem um poder desestabilizador capaz de alterar o equilíbrio econômico e social da sociedade.


Uma tentativa de organizar o pensamento em torno dessas questões é apresentada no gráfico, no qual se busca esclarecer a estreita ligação entre os preços do petróleo e dos alimentos. A oferta de energia é a soma da energia não renovável (petróleo, gás natural, carvão mineral e urânio) com a renovável (hidráulica, etanol, biocombustível, lenha, carvão vegetal e eólica). A demanda de energia é gerada pelo crescimento da renda per capita, pelo crescimento da população e por sua concentração urbana. Elas determinam o preço da energia (PE). Este, por sua vez, cria as condições para o desenvolvimento da energia não renovável, estimulando a pesquisa de novas energias que aumentem a oferta e promovendo a economia de energia que reduz a demanda.

O preço da energia influencia diretamente os custos agrícolas, por meio do preço do combustível para mover o equipamento agrícola, o transporte e o uso de fertilizantes. O preço agrícola (PA) é determinado: 1. Pela demanda agrícola, determinada pelos mesmos fatores que controlam a demanda de energia. 2. Pela oferta agrícola, surgida da produtividade da terra (fertilizantes, pesquisa genética e tecnológica), pela produtividade da mão-de-obra (educação, saúde e capital) e pela disponibilidade de água e de terra.

Há ainda duas ligações importantes: 1. A demanda de energia exerce, certamente, alguma influência sobre as mudanças climáticas, o que condiciona a disponibilidade de água. Por exemplo: uma parte importante das dificuldades da oferta de alimentos atual deve-se a problemas climáticos na Austrália, Nova Zelândia, EUA, Canadá, Ucrânia e Eurolândia, o que ajudou a reduzir os estoques. 2. No resto do mundo, a demanda de energia renovável desvia a oferta agrícola para biocombustíveis. A exceção é o Brasil.

O conhecimento dessas múltiplas e complicadas ligações talvez seja útil para colocar o problema da inflação planetária em uma perspectiva mais adequada. O importante, entretanto, é reconhecer que ela é, basicamente, resultado de um desequilíbrio físico entre a oferta e a procura, particularmente no caso do petróleo, que não teve investimento nos últimos anos e foi consumida toda a capacidade ociosa do setor.

O produto cujos preços cresceram por uma mudança estrutural no seu uso é o milho, em razão da desesperada busca de autonomia energética pelos EUA. Eles produzem pouco menos que 40% da produção mundial (300 milhões de toneladas na safra 2007/08, enquanto o Brasil produz 57 milhões) e usam quase 30% para produzir etanol. Restam para o mercado de milho apenas 219 milhões de toneladas. A oferta mundial de milho, nos últimos cinco anos, tem crescido à taxa de 2,8% ao ano, enquanto a demanda aumenta cerca de 3,8%.

Sem o uso do milho para etanol, a oferta mundial para o mercado cresceria pouco mais de 4% ao ano. Nos EUA, a produção de “milho-livre” disponível para o mercado tem decrescido 1% ao ano desde a safra 2002/2003, com graves conseqüências sobre os preços dos seus derivados. Lá, entre julho de 2006 e julho de 2008, o preço do milho subiu 200%. O mesmo, mas em menor escala, tem ocorrido na Europa, com a produção do biodiesel de colza, trigo e beterraba. Certamente, não é isso que ocorre no Brasil, como os europeus têm afirmado. (carta capital - Delfim Neto)
08-08-2008

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Entenda o conflito separatista na Geórgia e a relação russa



TBILISI -
A Ossétia do Sul, palco hoje de confrontos entre tropas separatistas e georgianas, é um território no sul do Cáucaso que oficialmente faz parte da Geórgia e limita ao norte com a Ossétia do Norte, república pertencente à Federação Russa. Depois da queda da União Soviética, em 1991, a Geórgia votou pela restauração da independência que havia brevemente experimentado durante a Revolução Bolchevique.

No entanto, a postura nacionalista refletiu em problemas com a região norte da fronteira da Geórgia, habitada pelos ossetas - um grupo étnico distinto natural das planícies russas, ao sul do rio Don.

A Ossétia do Sul fica do lado georgiano da fronteira, enquanto a Ossétia do Norte fica em território russo. Apesar disso, os laços entre as duas regiões permaneceram fortes e o movimento pela independência osseta foi estimulado pelas dificuldades enfrentadas na época dos czares, no período comunista até atualmente.

Quando a Geórgia se separou da União Soviética, o governo nacionalista proibiu o partido político da Ossétia do Sul, o que levou os ossetas a boicotarem a política georgiana e realizarem suas próprias eleições - pleito que foi considerado ilegal pela Geórgia. Os conflitos entre os separatistas e as forças georgianas começaram nesta época, mas o Exército da Geórgia não exterminou os rebeldes ossetas por medo
de uma intervenção russa.

A Ossétia do Sul proclamou sua independência em 1992, mas sua autonomia não foi reconhecida pela comunidade internacional. A região quer ser agregada à Federação Russa, assim como a Ossétia do Norte. A situação está frágil desde 1990 e se agravou ainda mais há quatro anos, quando os georgianos começaram a realizar operações policiais e de combate ao contrabando na região.

As autoridades da Ossétia do Sul convocaram para 2006 um plebiscito de independência. Tbilisi não reconheceu a validade da consulta popular, embora 99% da população local tenha votado a favor da independência.

Duas semanas depois de o Kosovo ter declarado de forma unilateral sua independência, o Parlamento da Ossétia do Sul pediu à ONU, à União Européia (UE), à pós-soviética Comunidade dos Estados Independentes (CEI) e à Rússia que reconhecessem sua independência.

Rússia X Geórgia

A tensões entre os dois países começaram antes mesmo do colapso da União Soviética, quando o nacionalismo na Geórgia começou a se tornar uma poderosa força política. Houve um momento crucial em abril de 1989, quando os militares soviéticos usaram a força para reprimir manifestações pró-independência, matando 19 pessoas. Desde então, Moscou - seja como capital da União Soviética ou da Rússia - tem sido vista por muitos georgianos como inimiga da independência da Geórgia.

A Rússia tem sido muito crítica de "revoluções" populares como a da Geórgia, que foi bem-sucedida graças ao apoio que os ativistas receberam do Ocidente. Quaisquer que sejam as diferenças entre os dois países, a Rússia abriga uma comunidade de pelo menos 1 milhão de georgianos, e muitas famílias na Geórgia, uma nação com 5 milhões de habitantes, dependem do dinheiro que os parentes enviam para casa.

Durante o conflito na região separatista da Abkhásia, que começou em 1992, ano seguinte à independência da Geórgia, foram divulgados vários relatos confiáveis de que as forças russas ajudaram os separatistas. No entanto, é mais provável que esta política tenha sido coordenada por comandantes militares em terreno do que pelo Kremlin.

Muitos georgianos suspeitam que os pacifistas russos enviados à Abkhásia e à outra região separatista da Geórgia, a Ossétia do Sul, são ferramentas para preservar a influência russa na região. Mas, se eles parecem ameaçadores para os georgianos, da perspectiva dos habitantes da Abecásia e da Ossétia do Sul, eles são uma garantia essencial contra uma possível agressão por parte da Geórgia.

Os georgianos culpam o ex-chefe de segurança da Geórgia Igor Giorgadze por pelo menos duas tentativas de assassinato contra o ex-presidente Eduard Shevardnadze (1992-2003). Giorgadze foi para a Rússia em meados da década de 1990 e fundou um partido político georgiano pró-Rússia em 2003. Vários militantes do partido foram presos em setembro de 2006, acusados de planejar um golpe contra o presidente Mikhail Saakashvili.Quando um oleoduto que levava gás russo à Geórgia explodiu em janeiro de 2006, o presidente Saakashvili acusou a Rússia de "sabotagem". A Rússia classificou essa acusação de "histeria".

A Geórgia sempre manteve a Rússia à distância. Por outro lado, também cortejava a Otan, os Estados Unidos e outras potências ocidentais. Os georgeanos foram um dos fundadores do grupo des países GUAM (Geórgia, Ucrânia, Azerbaijão e Moldávia), criado como parte dos esforços para contrapor a influência da Rússia na região. Também participaram dos esforços apoiados pelo ocidente para criar um "corredor" de energia do Cáucaso ao Mar Cáspio, contornando o território russo.

A Rússia acusou algumas vezes a Geórgia de apoiar os rebeldes chechenos, e sabe-se que os rebeldes recebiam suprimentos e reforços pelo território da Geórgia. Sabe-se também que os rebeldes se refugiaram no desfiladeiro de Pankisi, do lado georgiano da fronteira, onde há uma comunidade étnica chechena.

O auge das tensões foi em 2002, com a Rússia ameaçando lançar ataques contra os rebeldes. A Geórgia, então, tomou medidas para estabelecer a ordem em Pankisi e concordou em unir as patrulhas da fronteira. O Exército russo continua a conduzir operações contra os rebeldes chechenos, incluindo ataques aéreos na região montanhosa da fronteira, e o governo de Moscou ainda é freqüentemente acusado de violar o espaço aéreo georgiano.

www.estadao.com.br

domingo, 10 de agosto de 2008

Metrópoles - Reinvenção do Rio



A região metropolitana do Rio de Janeiro vive um momento extremamente positivo. Nível de atividade, emprego formal e salários reais estão crescendo, de forma consistente, pelo menos desde 2005. O boom imobiliário se percebe em todo lado, da Barra da Tijuca a Nova Iguaçu. E grandes investimentos anunciados nos últimos anos estão só começando: a Companhia Siderúrgica do Atlântico e a duplicação da planta da Gerdau, ambas na zona oeste, o Complexo Petroquímico em São Gonçalo e Itaboraí, o Arco Metropolitano, a urbanização de favelas no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento, a terceira fase do programa Favela-Bairro, a fábrica de semicondutores no Parque Tecnológico do Fundão, etc. Por fim, temos um governo estadual normal, com técnicos competentes ocupando postos-chave, saneando as contas, dialogando e fazendo parcerias com outras instâncias de governo e a iniciativa privada, recuperando, assim, a capacidade de investimento do Estado e no Estado.
Tudo isso é muito bom, mas não basta para o Rio sair do buraco em que se enfiou nas últimas décadas. É preciso ir além.


Por quase meio século, o Rio foi um saco de pancadas: a transferência da capital para Brasília, a malograda fusão, a desindustrialização precoce (anterior à abertura dos anos 1990), a migração do setor financeiro para São Paulo e a privatização (que pode ter sido boa para o País, mas causou um estrago no mercado de trabalho carioca) fizeram a metrópole perder, uma a uma, suas vocações originais.


Mergulhamos numa profunda crise de identidade: as razões que fizeram com que milhões de pessoas se instalassem aqui ao longo do século passado simplesmente deixaram de existir. Alguns números para ilustrar o argumento: ao longo de 60 anos, de 1920 a 1980, a população da região metropolitana cresceu a um ritmo anual médio de 3,2%, ao passo que o PIB crescia a uma taxa anual média de 7%. De 1980 a 2005, a metrópole do Rio se tornou flácida. É bem verdade que o crescimento demográfico foi consideravelmente reduzido, passando para pouco mais de 1% ao ano, mas a freada do desenvolvimento foi muito mais brusca: o crescimento do PIB foi de 0,5% ao ano.


Ou seja, a recuperação atual se dá após um quarto de século de redução do PIB per capita. Uma geração inteira em que a desigualdade permaneceu em patamares estratosféricos e a mobilidade, cimento social de meados do século 20, estancou. O estrago só não foi maior graças a um extraordinário amortecedor: quase 30% da renda que circula na região metropolitana provém de aposentadorias e pensões. O diabo é que essas transferências são regressivas; quase a metade dos chefes das famílias cariocas mais ricas (1% com maior renda domiciliar per capita) são aposentados. A lanterna está na popa.


Os jovens se viram encurralados. Os investimentos em educação dos mais pobres deixaram de se traduzir em boas oportunidades de trabalho, gerando ceticismo e ressentimento, estimulando comportamentos irresponsáveis - como atestam os alarmantes indicadores de vulnerabilidade à violência e gravidez precoce nessas camadas. E a violência afugentou atividades econômicas necessárias para gerar oportunidades de trabalho, num crescente círculo vicioso.


O imenso subúrbio carioca, que os bacanas da zona sul teimam em ignorar, virou um cemitério industrial. Vilas operárias e parques proletários se favelizaram. O desrespeito aos direitos de propriedade, aliás, fez com que as favelas se espalhassem por todo lado.


A complacência generalizada com as várias formas de informalidade (outrora válvula de escape frente à incompetência do Estado) fez com que esta degenerasse, a ponto de se transformar num obstáculo à retomada do desenvolvimento econômico.


Somados ao agravamento de problemas típicos de nossas metrópoles (como o caos no transporte), esses fatores acabrunharam as perspectivas de se tirar pleno proveito das principais vantagens comparativas da cidade: as belezas naturais e sua capacidade singular de fazer festa e celebrar a vida.


É importante que se saiba que os novos setores dinâmicos não serão capazes, por si só, de gerar oportunidades para a grande maioria dos hoje marginalizados no mundo do trabalho e que os governos, por mais competentes que sejam, não dispõem de políticas apropriadas para enfrentar os problemas da região metropolitana. É necessário inovar - nas estratégias de desenvolvimento e nos meios para implementá-las. De Milão a Rosário, passando por Barcelona, Dublin e Nova York, a reinvenção das metrópoles passa pela inovação institucional.


É preciso recuperar a capacidade de formular cenários de futuro desejável. Qual é o lugar do Rio no mundo globalizado do século 21? Faz sentido pensar nele separadamente de São Paulo? Apesar de suas particularidades, São Paulo não está em situação tão diferente assim da do Rio; nossa crise é, sobretudo, metropolitana. Não seria o caso de superar rivalidades para explorar as complementaridades evidentes entre nossas duas principais metrópoles?


Com apoio da Associação Comercial do Rio, da Emplasa, do Instituto Fernando Henrique Cardoso e da Light, o IETS desenhou os contornos daquela que seria a "Megalópole Brasileira". Ela reúne 232 municípios de 3 Estados, de Campos a Campinas, passando por Juiz de Fora. Representa 0,97% do território nacional, 22,6% da população e 35% do PIB. Entre seus ativos estão 303 estabelecimentos de ensino superior, 670 mil universitários, 25 mil doutores, 76 médicos por 100 mil habitantes (ante 1,2 da média nacional), 9 portos, mais da metade dos passageiros aéreos do Brasil, mais de 4 mil hotéis, indústria aeronáutica, agência aeroespacial, a produção de 90% do petróleo do País e 100% da energia nuclear.


Nada mau, não? Só que é preciso que esse território se reconheça enquanto tal e tenha instituições capazes de formular e implementar políticas públicas voltadas ao seu desenvolvimento. Instituições estas que não vão brotar em Brasília. Elas só podem acontecer por iniciativa do setor privado e da sociedade, dos que estão convencidos de que têm a ganhar com esse jogo. Devem ser capazes de captar recursos de longo prazo: do BNDES, de agências multilaterais, do próprio setor privado e, por que não, uma parte desses royalties do petróleo hoje tão disputados.


Arranjos assim, com outras geometrias e parcerias, deveriam ser pensados para outros temas, como a despoluição da Baía de Guanabara e a transformação do Rio na "capital mundial da energia" (ou da música), etc. Esses arranjos são necessários, seja para atacar problemas que a metrópole enfrenta na sua complexidade, seja para explorar potencialidades, perpassando ciclos políticos e reunindo todas as forças disponíveis.


* André Urani, economista do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), é autor do livro Trilhas para o Rio (Editora Campus-Elsevier), lançado em julho
www.estadao.com.br

Megacidades - século XXI



"Na tarde chuvosa de domingo, um homem com água até o joelho tenta arrastar uma enorme tora de madeira na Lagoa de Lagos, destino de esgoto e lixo da megalópole nigeriana. Ao seu redor, palafitas, canoas e lixões exalando fumaça compõem o cenário do Okobaba Timber Center. Entreposto a céu aberto para onde convergem as toras do interior do país, o Timber Center domina a vista das congestionadas pontes que ligam continente e ilhas. Em seu esforço quase sobre-humano - e aparentemente inútil -, o homem pequeno no grande cenário da lagoa encarna a luta pela sobrevivência nessa cidade singular. Se Lagos tivesse comparação, a imagem mais próxima seria a de um formigueiro humano. Em geral carregando alguma coisa, seus 15 milhões de habitantes movem-se incessantemente, disputando o espaço exíguo, roubado da água pelos aterros, na densidade de 4.193 habitantes por quilômetro quadrado.
Apesar de 40% de sua área estar coberta pela lagoa, rios e pântanos - o que lhe valeu o nome, dado pelos portugueses -, água tratada e encanada chega, segundo dados oficiais, a apenas 6,39 milhões de pessoas (42,6% da população). Embora a Nigéria seja o sétimo maior produtor entre os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e goze de notável potencial hidrelétrico, a eletricidade funciona algumas horas por dia. A demanda é de 6 mil megawatts e a oferta, de 1 mil. Pelo menos metade da atividade econômica é informal. Daí o leva-e-traz incessante: de galões de água, de querosene para iluminar e cozinhar e de todo tipo de produtos vendidos na rua, nos colossais engarrafamentos da cidade de 1 milhão de veículos e praticamente nenhum semáforo (os poucos existentes vivem desligados).
É uma cidade 24 horas, talvez não no mesmo sentido que Tóquio e Nova York. Parte dos vendedores ambulantes dorme de dia nas favelas e nos baixos das pontes para suprir de noite os trabalhadores diurnos. Ao anoitecer, barracas de suya - um popular espetinho de carne, lingüiça ou peixe - dividem com sapateiros e lavadores de carros as calçadas, liberadas pelo fechamento das lojas e escritórios. Sem espaço para todos, a cidade se duplica. Nos caóticos cruzamentos sem sinalização, homens sem pernas movem-se com destreza sobre carrinhos de rolimã, com uma vara nas mãos, ameaçando golpear os carros e motos que se atrevem a negar passagem aos seus "clientes" - motoristas que lhes pagam com notas de 20 nairas (o equivalente a R$ 0,26). Na ausência de virtualmente todos os serviços públicos, os homens fazem as vezes até de semáforos.
Outra ocupação característica é a de "area boy" - termo assimilado pelo "pidgin English", a incompreensível língua franca que permeia os 374 idiomas identificados na Nigéria. Geralmente desarmados, mas vociferantes, numerosos e ameaçadores, esses "donos do lugar" conseguem, literalmente no grito, intimidar vendedores ambulantes a dar-lhes uma porcentagem de seu ganho e transeuntes brancos desavisados a pagar-lhes uma espécie de pedágio - que dividirão depois com policiais, que assistem a tudo impassíveis. " www.estadao.com.br
São consideradas megacidades as cidades com mais de 10 milhões de habitantes, apresentando graves problemas nos paises subdesenvolvidos onde deficiência em infr-estrutura e falta de capitais agravam a situação de pobreza e exclusão social de seus habitantes. Problemas comuns nas megacidades localizadas em países subdesenvolvidos:
* Miséria e fome
* Crescimento do desemprego e subemprego
* favelização
* aumento dos índices de violência
* segregação espacial
* Crescimento de atividades ilegais
* crise no sistema de saúde e eduacação pública
* caos no trânsito
* deficiência na rede de água tratada e esgotos, etc.

Industrias - novos padrões locacionais



* eficiente infra-estrutura viária e comunicações
* existência de mão-de-obra qualificada
* incestivos fiscais
* grandes centros de pesquisas e universidades
Na atualidade os tecnopólos são fundamentais para formação de mão-de-obra qualificada e aplicações tecnológicas no setor de produção. Exemplos: Vale do Silício (informática- EUA),Bangalore (informática - India), etc.
No Brasil, os dois tecnopólos mais importantes são São José dos campos e Campinas

Geografia e a Arte

Geografia e a Arte
Currais Novos